sábado, 30 de abril de 2011

Quem Sou Eu?

O pensamento-eu é a fonte de todos os pensamentos.

A mente só vai se dissolver através da autoinvestigação "Quem sou eu?". O pensamento "Quem sou eu?" destruirá todos os outros pensamentos e depois destruirá a si mesmo também. Se outros pensamentos surgirem, devemos perguntar a quem esses pensamentos ocorrem, sem tentar completá-los. Que importa quantos pensamentos surgem? Na medida em que cada pensamento surgir, devemos estar vigilantes e perguntar para quem ele ocorre. A resposta será "para mim".

Se você perguntar "quem sou eu?", a mente então voltará à sua Fonte. O pensamento que surgiu também desaparecerá. À medida que você praticar dessa forma mais e mais, o poder da mente de permanecer em sua Fonte aumentará.

O Atiyoga do Dzogchen

Com o Atiyoga alcançamos a culminância dos caminhos da realização: o Dzogchen - “a Perfeição Total” - cujo caminho característico, baseado no conhecimento da auto-liberação, não demanda qualquer outra transformação. De facto, quando entendemos o princípio da auto-liberação, reconhecemos que nem mesmo o método transformador do tantra é o caminho final. O ponto fundamental da prática do Dzogchen, chamado de tregchöd, o “relaxamento das tensões”, é repousar no estado da contemplação, enquanto que o caminho de permanecer neste estado é chamado chogshag, “deixando como está”.

A meta do Dzogchen é o redespertar do indivíduo para o estado primordial de iluminação que é encontrado naturalmente em todos os seres.

(A Natureza da Mente)
Namasté

sexta-feira, 29 de abril de 2011

A Percepção da Beleza

Meditação é a atenção em que existe um estado de consciência, sem escolha, do movimento de todas as coisas – o grasnido dos corvos, o serrote elétrico, cortando a madeira, a agitação das folhas, o riacho barulhento, o menino gritando, os sentimentos, os motivos, os contraditórios pensamentos, e, indo mais para o fundo, a percepção da consciência total. Nesta atenção deixa de existir o tempo, como o dia de ontem, que tem continuidade no dia de amanhã, as distorções e movimentos da consciência aquietam-se e silenciam. Neste silêncio, há um imenso e incomparável movimento; movimento imperceptível, que constitui a essência do sagrado, da morte e da vida. Impossível é segui-lo, pois não deixa vestígio algum e é estático e silencioso, ele é a essência de todo movimento.

O fluxo exterior e interior da existência forma um único movimento. Com a compreensão do mundo exterior inicia-se o movimento interior, mas não em oposição ou em contradição entre si. Cessando o conflito, o cérebro, ainda que altamente sensível e alerta, aquieta-se. Somente então torna-se válido o movimento interior.

Deste movimento surge uma generosidade e uma compaixão que não resultam da razão ou do auto-sacrifício intencional.

A força e a beleza da flor estão em sua total vulnerabilidade. Os ambiciosos desconhecem o belo. A beleza está na percepção da essência de todas as coisas.

O pensamento é matéria e pode ser transformado em qualquer coisa, bela ou feia.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Amor Beleza e Morte

Krishnamurti

Será que podemos investigar, a fundo e com seriedade, se é possível ficar com o problema sem fugir dele? Suponhamos que perca meu filho e, sofrendo com isso um grande choque, experimentando uma dor imensa, descubra que sou um ser humano extremamente solitário. Não consigo encarar nem suportar a situação e, por isso, fujo dela. Há inúmeras formas de fuga - religiosas, mundanas ou filosóficas. Mas será que posso permanecer com o que aconteceu, com essa coisa chamada sofrimento, sem procurar, de modo algum, fugir da dor, da angústia, da solidão, da aflição, do abalo? Será que podemos observar um problema, observá-lo apenas, sem procurar resolvê-lo, olhar para ele como se fosse uma jóia preciosa, de fino acabamento? Para uma coisa bonita olhamos sem parar, sem qualquer desejo de fugir dela; sua beleza nos atrai tanto e tanto prazer nos proporciona que ficamos olhando para ela o tempo todo. Se, da mesma forma, pudermos observar nosso sofrimento, sem um movimento sequer de julgamento ou fuga, ficar com a tristeza... nesse caso, a própria ação de ficar com o fato nos liberta completamente daquilo que produziu a dor. Voltaremos a isso depois.

Desejamos também considerar o que é a beleza - não a beleza de uma pessoa nem de quadros e estátuas de museus, nem os mais remotos esforços do homem para transmitir seus sentimentos através da pedra, da pintura ou de um poema, mas indagar a nós mesmos o que é a beleza. Talvez a beleza seja a verdade. Talvez seja o amor. Sem compreendermos a natureza e a profundidade dessa coisa extraordinária que é a beleza, jamais chegaremos ao que é sagrado. Examinemos, portanto, a questão da beleza.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Aprender a Morrer

Pergunta: Quando considero minha verdadeira natureza, fico no "EU SOU", invade-me um sentimento de amor sem causa. Esse sentimento é correto ou ainda é uma ilusão?

S. Ranjit: É o êxtase do Ser. Você sente a presença do "EU SOU". Você se esquece de tudo, dos conceitos e da ilusão. É um estado não-condicional. Essa felicidade aparece quando você se esquece do objeto, mas na felicidade ainda há um pequeno toque do eu. Afinal, é ainda um conceito. Quando você se cansa do mundo externo, você quer ficar só, para estar consigo mesmo. É a vivência de um estado mais elevado, mas ainda faz parte da mente. O Ser não sente prazer nem desprazer. O completo esquecimento da ilusão significa que nada é, nada existe. Ela ainda está aí, mas para você ela não tem realidade. É a isso que se chama de Constatação, ou Auto-Conhecimento. É a constatação do Ser sem o eu.

Se alguém o chama, você diz "Estou aqui", mas antes de dizer "Estou aqui", você estava. A ilusão não pode colar mais alguma coisa na Realidade. Não pode colar algo extraordinário na Realidade, porque a Realidade está na própria base de tudo que existe. Tudo que existe, tudo que você vê, os objetos da sua percepção, tudo se deve à Realidade. A ignorância e o conhecimento não existem. Então, como é que você poderá expressá-los?

terça-feira, 26 de abril de 2011

Naturalidade - Vacuidade

"Momento após momento, cada um emerge do nada. Esta é a verdadeira alegria da vida."

Há um grande mal-entendido sobre o que seja naturalidade. A maioria das pessoas que vem a nós, acredita em certa liberdade ou naturalidade, mas a concepção que elas têm nós denominamos de jinem ken gedo ou "naturalidade herética". Jinem ken gedo significa que não há necessidade de ser formal - uma espécie de "deixar o policiamento de lado" ou "ficar à vontade". Naturalidade é isso para a maior parte das pessoas. Mas essa não é a naturalidade à qual nos referimos. É um pouco difícil de explicar, mas penso que naturalidade é um certo sentimento de ser independente de tudo, ou alguma atividade que não se baseia em coisa alguma. Naturalidade é algo que emerge do nada, como uma semente ou planta brotando do solo. A semente não tem a menor idéia de ser uma determinada planta, mas tem forma própria e está em perfeita harmonia com o solo, com o ambiente. Com o decorrer do tempo, à medida que cresce, expressa sua natureza. Nada existe sem forma e cor; tudo tem alguma forma e cor. E ambas estão em perfeita harmonia com os outros seres, sem problema. Eis o que queremos dizer por naturalidade.

Para uma planta ou uma pedra, ser natural não é problema. Mas, para nós, há algum problema; de fato, um grande problema. Ser natural é algo pelo qual temos que trabalhar. Quando o que você faz emerge do nada, você experimenta um sentimento inteiramente novo. Por exemplo: naturalidade é comer quando se está com fome. Você se sente natural ao fazê-lo. Mas, quando se tem expectativas demais, comer algo não é natural. Você não tem um sentimento novo. Você não o aprecia.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O que é o Zen?

Zazen - Meditação

O Zen não é decididamente um sistema fundado na lógica e na análise. É algo antípoda da lógica e do modo dualístico de pensar. Pode haver um elemento intelectual no Zen, pois ele é a mente total onde encontramos muitas grandes coisas. Mas a mente não é um composto, que deva ser dividido em tantas faculdades, nada deixando após a dissecação. O Zen nada tem a ensinar, no que diz respeito à análise intelectual, nem impõe qualquer conjunto de doutrinas aos seus seguidores. A esse respeito, o Zen é caótico, se assim o quiserem chamar. Seus adeptos podem formular conjuntos de doutrinas, formulando-os porém por sua conta e para benefício próprio, e não do Zen. Portanto, não há, no Zen, livros sagrados ou assertivas dogmáticas, nem qualquer fórmula simbólica através da qual se obtenha um acesso à sua significação. Se me perguntassem o que ensina o Zen, responderia que ele nada ensina. Qualquer ensinamento que exista no Zen vem mediante nossa própria mente. Ensinamo-nos a nós mesmos. O Zen meramente aponta o caminho. A menos que consideremos este apontar como um ensinamento, nada há no Zen propositadamente estabelecido como doutrinas cardeais ou filosofia fundamental.

domingo, 24 de abril de 2011

"Bhagavad-gita Como Ele É"

S. Maharaj Prabhupada

Mas o que é o Bhagavad-gita especificamente? O propósito do Bhagavad-gita é liberar a humanidade da ignorância da existência material. Entre tantos seres humanos que sofrem, há poucos que realmente inquirem sobre sua posição, sobre o que são, por que foram colocados nesta situação complicada e assim por diante. A menos que a pessoa desperte para essa posição de questionar seu sofrimento, a menos que realize que não quer sofrer e em vez disso realizar uma solução para todos seus sofrimentos, não pode ser considerada um ser humano perfeito. Humanidade começa quando esse tipo de questionamento desperta dentro da mente.

A consciência suprema é similar ao ser vivo da seguinte maneira: ambas consciências do Senhor e dos seres vivos são transcendentais. Não é que a consciência é gerada pela associação com a matéria. Essa é uma idéia errada. A teoria de que a consciência se desenvolve sob certas circunstâncias da combinação material não é aceita pelo Bhagavad-gita.

Quando estamos contaminados pela matéria, somos considerados condicionados. A consciência falsa se exibe com a falsa impressão de que sou um produto da natureza material. Isso se chama ego falso. A pessoa que está absorta no pensamento das concepções corpóreas não pode entender essa situação. O Bhagavad-gita foi falado para liberar a pessoa do conceito corpóreo de vida, e Arjuna se pôs nessa posição a fim de receber esta informação do Senhor. A pessoa tem que se livrar do conceito corpóreo de vida; essa é a atividade preliminar do transcendentalista. A pessoa que deseja ser livre, que quer ser liberada, deve primeiro aprender que não é este corpo material.

Ashtavakra Gita - desapego

Ashtavakra:

Enquanto um homem de inteligência pura pode alcançar a meta por mais casual instrução, outro pode buscar o conhecimento por toda sua vida e ainda permanece confuso.

Libertação é desgosto para os objetos dos sentidos. Escravidão é o amor dos sentidos. Este é o conhecimento. Agora, faça como quiser.

Esta consciência da verdade faz um homem eloquente, inteligente, enérgico, burro, estúpido e preguiçoso, por isso é evitado por aqueles cujo objectivo é o prazer.

Você não é o corpo, nem o seu corpo é o executor das ações ou o ceifador das suas consequências. Está eternamente na pura consciência a testemunha, não precisa de nada - por isso viva feliz.

O desejo e a raiva são objetos da mente, mas a mente não é sua, nem nunca foi. Está sem escolha, a própria consciência é imutável - assim viva feliz.

Reconhecendo-se em todos os seres, e todos os seres em si mesmo, seja feliz, livre do sentido de responsabilidade e sem preocupação com o 'eu'.

sábado, 23 de abril de 2011

Ser livre...

Visitante: Se eu sou livre, porque estou em um corpo?

Maharaj: Voce não está no corpo, o corpo está em você! A mente está em você. Acontecem a você. Existem porque os acha interessantes. A sua própria natureza tem a capacidade infinita de desfrutar. Está cheia de animação e afeto. Ela derrama seu brilho em tudo o que entra no seu foco de consciência, e não exclui nada. Não conhece nem o mal nem a feiúra; ela espera, confia, ama. Você não sabe quanto perde por não conhecer seu próprio ser real. Você não é nem o corpo nem a mente, nem o combustível nem o fogo. Eles aparecem e desaparecem segundo suas próprias leis.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A Presença Consciente

M = Maharaj   -   V = Visitante

M: Agora, diga-me, você está sentado diante de mim aqui e agora. O que exatamente pensa que ‘você’ é? 

V: Sou um ser humano do sexo masculino, quarenta e nove anos, com certas medidas físicas e certas esperanças e aspirações.

M: Qual sua imagem de si mesmo dez anos atrás? A mesma de agora? E quando você tinha dez anos de idade? E quando você era uma criança? E mesmo antes disto? Sua imagem de si mesmo não mudou o tempo todo?

V: Sim, o que considero como minha identidade mudou todo o tempo.

M: E, no entanto, não há alguma coisa, quando pensa sobre si mesmo – no fundo do coração –, que não mudou?

V: Sim, há, embora eu não possa especificar o que é exatamente.

M: Não seria o simples sentido de ser, o sentido de existir, o sentido de presença? Se você não estivesse consciente, seu corpo existiria para você? Haveria qualquer mundo para você? Teria, então, qualquer pergunta sobre Deus ou o Criador?

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O Presente da Águia

Cinco Proposições Explicativas

1 — O que percebemos como mundo são os comandos da Águia.

Dom Juan explicou que o mundo que percebemos não tem existência transcendental. Nossa familiaridade com ele nos leva a acreditar que o que percebemos é um mundo de objetos existentes como os percebemos, quando na verdade não há um mundo de objetos, mas sim um universo dos comandos da Águia.

Esses comandos representam a única realidade imutável. É uma realidade que engloba tudo o que existe, o perceptível e o não-perceptível, o conhecível e o não conhecível.

Os observadores que vêem as emanações da Águia chamam-nas de comandos por causa da sua força compulsória. Todas as criaturas vivas são compelidas a usar as emanações, e usam-nas sem nunca saberem o que elas significam. O homem padrão interpreta-as como realidade. E os observadores que vêem as emanações interpretam-nas como o regulamento.

Rumo À Meta Suprema

Até que o Amor e Devoção a Deus cresçam, não se pode ter consciência da natureza transitória e sem substância do mundo. O mundo é apenas um e não pode ser dividido em compartimentos, uma parte dada a Deus e outras partes cheias de desejos por fama, nome e objetos sensórios. Deus não pode ser realizado a menos que a mente inteira seja dada a Ele. A menos que se possa fazer isto, terá que se nascer repetidas vezes no mundo e sofrer misérias sem fim.

Para renunciar ao mundo não se necessitam tornar-se monge ou se retirar para a floresta. A verdadeira renúncia é da mente. Se você abandonar ao mundo mentalmente, será a mesma coisa permanecer no mundo ou ir à floresta. Se você for para a floresta, sem renunciar completamente ao seu apego mental pelos objetos mundanos, o mundo o seguirá até lá e o atormentará do mesmo modo; não há escapatória disto.

domingo, 17 de abril de 2011

A descoberta da Verdade

Aumente e alargue seus desejos, até que nada menos que a realidade possa preenchê-los. Não é o desejo que é errado, mas sua pequenez e estreiteza. Desejo é devoção. Por todos os meios seja devoto do real, o infinito, o coração eterno do ser. Sua aspiração de ser feliz está ali. Por quê? Por causa de seu Amor por si mesmo. De todas as maneiras, Ame a si mesmo - sabiamente. O que é errado é Amar a si mesmo de maneira estúpida, de tal maneira que faça você sofrer. Indulgência é a maneira estúpida, austeridade é a maneira sábia. Uma vez que você tenha passado por uma experiência, não passar por ela de novo é austeridade. Descartar o desnecessário é austeridade. Não antecipar prazer ou dor é austeridade. Ter as coisas sob controle o tempo todo também é austeridade. O desejo em si mesmo não é errado. São as escolhas que você faz que são erradas. Imaginar que alguma pequena coisa - comida, sexo, poder, fama - vai fazer você feliz, é decepcionar-se. Apenas algo vasto e profundo como o seu ser real pode fazê-lo verdadeira e permanentemente feliz.

Apenas se afaste de tudo que ocupa a mente; faça todo o trabalho que tiver de ser completado, mas evite novas obrigações; mantenha-se vazio, mantenha-se disponível, não resista ao que vier sem ser solicitado. No final, você alcançará um estado de desapego, de alegre não-dependência, uma liberdade e um bem-estar intensos, indescritíveis mas, mesmo assim, maravilhosamente Real.

Estes momentos de silêncio interior queimarão todos os obstáculos sem falhar. Não duvide da sua eficácia. Experimente.

sábado, 16 de abril de 2011

Aprofunde na percepção do "Eu Sou"

 Luzes de Nisargadatta Maharaj

Aprofunde na percepção do “Eu Sou” e você encontrará. Como se encontra algo que você ignora ou se esqueceu? Você o mantém em mente até se lembrar. A percepção de ser, do “Eu sou” é a primeira a emergir. Pergunte-se de onde ela vem ou apenas observe-a em silêncio. Quando a mente permanece no “Eu sou”, sem se mover, você entra em um estado que não pode ser verbalizado mas pode ser experienciado. Tudo o que você precisa fazer é tentar e tentar novamente.

Eu vejo o que você também poderia ver, aqui e agora, se não fosse o foco errôneo de sua atenção. Você não dá atenção ao Ser. Sua mente está sempre com coisas, pessoas e ideias, nunca com seu Eu. Traga seu Eu para o foco, torne-se consciente de sua própria existência. Veja como você funciona, observe os motivos e resultados de suas ações. Estude a prisão que você construiu ao redor de si mesmo, inadvertidamente.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Reúnem-se os pássaros (5)

A conferência dos pássaros - Farid Ud-Din Attar

Continuação: Pergunta do vigésimo pássaro

Outro pássaro disse à Poupa:

“Ó Chefe do Caminho, que deverei pedir ao Simurgh se chegar ao lugar em que ele mora? Já que o mundo será iluminado por ele, não saberei o que pedir. Se eu soubesse qual é a melhor coisa a pedir ao Simurgh em seu trono, minha mente estaria mais tranquila.”

A Poupa replicou:

“Idiota! Não sabes o que pedir? Pede o que mais desejas. Um homem deveria saber o que deseja pedir, embora o próprio Simurgh seja melhor do que qualquer coisa que possas desejar. Queres aprender com ele o que desejas pedir?”

Compreensão - liberdade de Percepção

Quando falamos da observação silenciosa, referimo-nos a um modo de escutar, uma forma de ver, a qual permite o observar em sua expressão direta e não qualificada. No processo da escuta, você pode descobrir que o observador está sempre julgando, criticando, comparando e avaliando. Este discernimento o leva por si só a uma posição na qual você não está envolvido no percebido. Então, uma sensação de espaço se abre entre sua observação e o observado, suscitando a compreensão de que o percebido surge em você, mas você não está limitado a qualquer coisa perceptível. O silêncio é nossa verdadeira natureza.

Então, o próprio pensamento é a raiz do problema?

Geralmente, conhecemos a nós mesmos nas percepções, nos estados. Nós apenas conhecemos a consciência de alguma coisa, a escuta de algo, etc. Nós não conhecemos a consciência pura sem um objeto.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Reúnem-se os pássaros (4)

A conferência dos pássaros - Farid Ud-Din Attar

Continuação: Bayazid e Tarmazi


Um doutor erudito, eixo do mundo abençoado com excelentes qualidades, referiu o seguinte:

“Uma noite, vi num sonho Bayazid e Tarmazi, que me pediram para ser seu chefe. Fiquei muito curioso por saber por que esses dois xeques eminentes me tratavam com tamanha deferência. Lembrei-me então de que, certa manhã, arranquei um suspiro das profundezas do coração e, quando o sopro subiu, fez girar o martelo da porta do santuário, de modo que esta se abriu para mim. Entrei, e todos os mestres espirituais e seus discípulos, falando sem palavras, perguntavam-me qualquer coisa — todos, exceto Bayazid Bistami, que desejava encontrar-se comigo mas não queria perguntar-me coisa alguma. Disse ele: ‘Quando ouvi o chamado do teu coração compreendi que não preciso de mais nada senão obedecer às tuas ordens e ser guiado pela tua vontade. Como não sou nada, quem sou eu para dizer o que desejo? Basta ao servo cumprir os desejos do amo’.

“Foi por isso que os xeques me trataram com respeito e me deram precedência. Quando caminha em obediência, o homem age de acordo com a palavra de Deus. Não é servo de Deus o que se gaba de o ser. O verdadeiro servo revela sua qualidade no tempo do ordálio. Sujeita-te, pois, a provações, para que possas conhecer-te.”

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Reúnem-se os pássaros (3)

A conferência dos pássaros - Farid Ud-Din Attar

Continuação: A história de Rabi’ah

Se bem fosse mulher, Rabi’ah era a coroa dos homens. De uma feita, levou oito anos numa peregrinação à Caaba medindo no chão a própria altura. Quando, afinal, chegou à porta do templo sagrado, pensou: “Agora, finalmente, executei minha tarefa”. No dia consagrado, quando ia entrar na Caaba, suas mulheres a desertaram. Em vista disso, Rabi’ah voltou sobre seus passos e disse:

“Ó Deus, possuidor da glória, durante oito anos medi o trajeto com a altura do meu corpo e, agora, quando o dia tão almejado surge em resposta às minhas preces, pondes espinhos em meu caminho!”

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Reúnem-se os pássaros (2)

A conferência dos pássaros - Farid Ud-Din Attar

Continuação: A história do xeque San’An

O xeque San’an era no seu tempo um santo homem que se aperfeiçoara em alto grau. Durante cinquenta anos permanecera em seu retiro, em companhia de quatrocentos discípulos, que trabalhavam dia e noite o próprio espírito.

domingo, 10 de abril de 2011

Reúnem-se os pássaros

A conferência dos pássaros - Farid Ud-Din Attar

Reúnem-se os pássaros

Benvinda sejas, ó Poupa! Ó tu, que foste guia do rei Salomão e o verdadeiro mensageiro do vale, que tiveste a boa fortuna de chegar aos confins do reino de Sabá! Tua fala gorjeada com Salomão foi deliciosa; por teres sido sua companheira granjeaste uma coroa de glória. Precisas pôr a ferros o demônio, o tentador e, feito isso, entrarás no palácio de Salomão.

Liberdade aqui e agora, já.

S. Papaji - Fim dos conceitos; nascimento e morte.

Fique quieto, não pense, não faça esforço algum. Para estar aprisionado é necessário algum esforço, mas não para ser livre. A Paz está além do pensamento e do esforço. Não pense e não faça nenhum esforço, porque isso apenas obscurecerá Aquilo, mas não o revelará. É por isso que permanecer em silêncio é a chave do oceano de amor e paz.

Essa quietude é a não mente; esse não-pensamento é a liberdade. Identifique-se com este Nada, esse Silêncio, mas tome cuidado para não fazer disso uma experiência, pois aí seria a mente aplicando-lhe um truque com a armadilha da dualidade.

sábado, 9 de abril de 2011

Farid Ud-Din Attar

A conferência dos pássaros - Farid Ud-Din Attar

A conferência dos pássaros (Mantiq ut-tair) foi escrita pelo poeta persa do século XII Farid ud-Din Attar, um dos maiores sufis de todos os tempos. Conquanto pouco se saiba, com certeza, a respeito da sua vida, parece que nasceu em 1120, perto de Nishapur, no noroeste da Pérsia. Durante quase quarenta anos viajou por muitos países, estudando em mosteiros e colecionando os escritos de sufis devotos, juntamente com lendas e histórias. Diz-se que possuía um conhecimento mais profundo das idéias sufistas do que qualquer outra pessoa do seu tempo. A tradução para o inglês de C. S. Nott baseia-se na conhecida edição francesa, em prosa, de Garcin de Tassy, a versão que melhor transmite “o sabor, o espírito e os ensinamentos do poema de Attar”.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Invocação a Deus...

A Conferência dos Pássaros - Farid Ud-Din Attar

Louvado seja o Santo Criador, que colocou o seu trono sobre as águas e fez todas as criaturas terrestres. Aos Céus concedeu o domínio e à Terra, a dependência; aos Céus deu o movimento e à Terra, o descanso uniforme.

Ergueu o firmamento acima da terra como uma tenda, sem colunas para sustentá-la. Em seis dias criou os sete planetas e com duas letras criou as nove cúpulas dos Céus.

No princípio, iluminou as estrelas para que, à noite, os Céus pudessem jogar triquetraque.

Dotou a rede do corpo de diversas propriedades e despejou poeira na cauda do pássaro da alma.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Ser uma Pessoa é estar adormecido

S. Nisargadatta Maharaj

Todos os três estados, vigília, sono e sonho, são sono para mim. Meu estado de vigília está/é além deles. Eu olho para vocês, e vocês todos parecem adormecidos, sonhando seus próprios mundos. Eu estou consciente, porque eu não imagino nada. Não é samadhi, o que é apenas um tipo de sono. É apenas um estado não afetado pela mente, livre do passado e do futuro. No seu caso, ele é distorcido pelo desejo e medo, por memórias e esperanças; no meu, ele é como é - normal. Ser uma pessoa é estar adormecido.

A totalidade disso é imaginação. Mesmo o espaço e o tempo são imaginados. Toda existência é imaginária.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O Karma ... + Pink Floyd - Time


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Karma

O Karma é apenas um armazém de energias não utilizadas, de desejos não realizados, e medos não compreendidos. O armazém está sendo continuamente alimentado com novos desejos e medos. Não precisa ser assim para sempre. Compreenda a causa raiz dos seus medos - o estranhamento de si mesmo; e dos desejos - a ânsia pelo Self, e seu Karma se dissolverá como um sonho.

Porta para O Infinito...


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Porta para o Infinito

A autoconfiança do guerreiro não é a autoconfiança do homem comum. O homem comum procura certeza nos olhos do observador e chama a isso autoconfiança. O guerreiro procura impecabilidade aos próprios olhos e chama a isso humildade. O homem comum está preso aos seus semelhantes, enquanto o guerreiro só está preso ao infinito.

Há muitas coisas que um guerreiro pode fazer, em determinado momento, que não poderia ter feito anos antes. Essas coisas não mudaram; o que mudou foi a idéia do guerreiro sobre si mesmo.

Uma Estranha Realidade...


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Uma estranha realidade

Um guerreiro sabe que é apenas um homem. Ele só lamenta que sua vida seja tão curta que ele não possa agarrar todas as coisas que gostaria. Mas, para ele, isso não é um problema: é só uma pena.

Sentir-se importante faz a pessoa tornar-se pesada, desajeitada e vaidosa. Para ser um guerreiro, é preciso ser leve e fluido.

Quando são vistos como campos de energia, os seres humanos aparecem como fibras de luz, como teias brancas de aranha, fios muito finos que circulam da cabeça aos pés. Assim, aos olhos do vidente, um homem parece um ovo de fibras circulantes. E seus braços e pernas são como espinhos luminosos que explodem em todas as direções.

terça-feira, 5 de abril de 2011

(HD) - Quem Somos Nós ? 08 / 12


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Está na natureza da manifestação que o bom e o mau sigam um ao outro em medidas iguais. O verdadeiro refúgio está apenas no imanifesto.

Os gurus com estilo próprio falam em amadurecimento e esforço, em méritos e conquistas, em destino e graça; tudo isso são meras formações mentais, projeções de uma mente viciada. Ao invés de ajudar, elas obstruem.

Está na natureza da consciência sobreviver aos seus veículos. É como o fogo. Ele queima o combustível, mas não a si mesmo. Assim como o fogo pode sobreviver a uma montanha de combustível, da mesma maneira, a consciência sobrevive a inumeráveis corpos.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

(HD) - Quem Somos Nós ? 07 / 12


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Essas coisas, matéria e espírito, são uma coisa só, ou duas, ou três. Sob investigação, as três se tornam duas,e as duas se tornam uma. Veja o exemplo da face-espelho-imagem. Qualquer um dos dois pressupõe o terceiro, que une os dois. Na sadhana (prática) você vê os três como dois, até que você compreenda os dois como um.

(S.Nisargadatta Maharaj)

O Fogo Interior

C. Castañeda - (D. J. Matus) - Extratos

Não há totalidade sem tristeza e saudade, pois sem elas não há sobriedade nem bondade. A sabedoria sem bondade e o conhecimento sem sobriedade são inúteis.

A auto-importância é o maior inimigo do homem. O que o enfraquece é sentir-se ofendido pelos atos e omissões de seus semelhantes. A auto-importância exige que se passe a maior parte da vida ofendido por alguma coisa ou por alguém.

Para seguir a senda do conhecimento é preciso ter muita imaginação. No caminho do conhecimento nada é tão claro quanto gostaríamos que fosse.

O Poder do Silêncio

C. Castañeda - (D.Juan Matus)- Excertos

Não é que, à medida que o tempo passa, o guerreiro aprenda xamanismo; antes, o que ele aprende enquanto o tempo passa é economizar energia. Esta energia vai capacitá- lo a manipular alguns campos de energia que são normalmente inacessíveis a ele. Xamanismo é um estado de consciência, a capacidade de usar campos de energia que não são empregados para perceber o mundo cotidiano que conhecemos.

Há no universo uma força incomensurável e indescritível que os xamãs chamam intento, e absolutamente tudo o que existe em todo o cosmo é ligado ao intento por uma conexão. Os xamãs estão interessados em discutir, compreender e usar essa conexão. Estão especialmente interessadas em limpá-la dos efeitos paralisantes que resultam das preocupações comuns com a vida cotidiana. O xamanismo, neste nível, pode ser definido como um procedimento de limpeza da conexão com o intento.

domingo, 3 de abril de 2011

Vedanta - Citações

S. Nisargadatta Maharaj‏ - Eu sou um, mas apareço como muitos.

Você tem de desaprender tudo. Deus é o fim de todo desejo e conhecimento.

Seu próprio pequeno corpo também é cheio de mistérios e perigos e, mesmo assim, você não tem medo dele, porque você o toma como sendo seu. O que você não sabe é que o universo inteiro é o seu corpo, e você não precisa ter medo dele. Você pode dizer que você tem dois corpos: o pessoal e o universal. O pessoal vai e vem, o universal está sempre com você. Toda a criação é o seu corpo universal. Você está tão cego pelo que é pessoal, que você não vê o universal. A cegueira não terminará por si mesma - ela deve ser desfeita habilidosa e deliberadamente. Quando todas as ilusões são compreendidas e abandonadas, você alcança o estado perfeito e sem-erros, no qual todas as distinções entre o pessoal e o universal não existem mais.

sábado, 2 de abril de 2011

O que é Vedanta?

“Aquilo que permeia tudo, que nada transcende, e o qual, como o espaço universal à nossa volta, preenche completamente tudo, por dentro e por fora, esse Brahman Supremo não-dual – isso és Tu.” Shankara

A corrente filosófica na qual o pensamento de Nisargadatta Maharaj se insere é acadêmicamente conhecida como Vedanta Advaita.

Para essa corrente filosófica, o conhecimento fundamental é Atman é Brahman. Atman é o Self e Brahman significa a Alma universal ou Consciência Universal. Os Vedas falam da união mística como sendo a compreensão de que Atman é Brahman.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

A Subida ao Monte Carmelo XIII

S. João da Cruz - O estado da alma para entrar na noite do sentido

1. Resta agora dar alguns avisos sobre a maneira de saber e poder entrar nesta noite do sentido. Para isto devemos observar que a alma, ordinariamente, entra nesta noite sensitiva de duas maneiras, ativa e passiva. Ao que pode fazer e faz por si mesma para entrar, denominamos noite ativa e dela trataremos nos avisos seguintes. Na passiva, a alma nada faz e limita-se a consentir livremente no trabalho de Deus, sob o qual se há como paciente. Será na Noite Escura, quando nos referirmos aos principiantes, que trataremos dela. E como ali, com o favor divino, darei muitos avisos aos principiantes, a respeito das numerosas imperfeições em que costumam cair neste caminho, não me estenderei agora sobre este assunto. Aliás, não é aqui o lugar próprio para esses conselhos; agora queremos somente explicar por que se chama noite esta passagem, em que consiste e quais as suas partes. Todavia, no receio de ser muito resumido e de prejudicar o progresso das almas, não lhes dando imediatamente alguns avisos, indicar-lhes-ei aqui um meio breve que as poderá iniciar na prática desta noite dos apetites. E, no fim de cada uma das outras duas partes desta noite, das quais tratarei mais tarde com o auxílio do Senhor, usarei o mesmo método.

Upanishads - Mundaka

Swami Prabhavananda

OM . . .
Com nossos ouvidos, ouçamos o que é bom.
Com nossos olhos, contemplemos vossa integridade.
Tranquilos no corpo, possamos nós, que vos veneramos,
encontrar descanso.
OM . . . Paz - paz - paz.
[...]

    Como dois pássaros de plumagem dourada, inseparáveis companheiros, assim o Eu individual e o Eu imortal se empoleiram nos galhos da mesma árvore. O primeiro prova as frutas doces e amargas da árvore; o último, nada experimentando, observa calmamente.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Nothing Compares to you - Sinead O´connor [live]

Meditação e Vida Espiritual

S. Yatiswarananda - Renúncia e Desapego

A necessidade da renúncia

É realmente muito estranho que as pessoas sofram tanto e ainda assim não despertem, mas se prendam a todos os tipos de falsas identificações. O mundo inteiro está preso pelo desejo de riqueza e sexo. As pessoas fazem disto a meta de suas vidas e ao final sofrem. Identificando-se com nosso corpo e com os outros corpos nos prendemos em todos os tipos de envolvimentos emocionais e criamos sofrimento sem fim. É claro que há muitas pessoas que parecem gostar de tudo isto. Como na parábola de Sri Ramakrishna, o camelo come arbustos espinhosos que sangram a sua boca, mas continua a comê-los da mesma forma. Mas um aspirante espiritual não pode viver desta forma. Ele fixou para si mesmo um ideal elevado e por isso não pode perder-se em envolvimentos mundanos. Por isso começa a pensar profundamente sobre renúncia e desapego.

A Subida ao Monte Carmelo IX e X

S.J.da CRUZ - (A Subida ao Monte Carmelo)

CAPÍTULO IX - Diz como os apetites mancham a alma e prova com testemunhos e comparações da Sagrada Escritura.

1. O quarto dano que fazem os apetites à alma é que a sujam e mancham, segundo o ensinamento do Eclesiástico: «Quem tocar o piche ficará manchado dele» ( Ecli 13, 1 ). Ora, tocar o piche é satisfazer com qualquer criatura o apetite de sua vontade. Nessa passagem da Sagrada Escritura compara o Sábio as criaturas com o piche; porque entre a excelência da alma e o que há de mais perfeito nas outras criaturas é maior a diferença que entre o fúlgido diamante ou fino ouro e o piche. E assim como o ouro ou diamante se caísse, aquecido, no piche ficaria disforme e besuntado, porquanto o calor derrete e torna mais aderente o piche, assim a alma, dirigindo o ardor de seus apetites para qualquer criatura, dela recebe, pelo calor do mesmo apetite, máculas e impureza. Existe ainda entre a alma e as criaturas corpóreas diferença maior do que há entre o licor mais límpido e a água mais lodosa; esse licor, sem dúvida, se turvaria se fosse misturado com a lama; deste modo se mancha e suja a alma que se apega à criatura, pois nisto se faz semelhante à mesma criatura. Assim como ficaria desfigurado o rosto mais formoso, com manchas de tisne, a alma, igualmente, que é em si muito perfeita e acabada imagem de Deus, fica desfigurada pelos apetites desregrados que conserva.

quarta-feira, 30 de março de 2011

A Subida ao Monte Carmelo VII / VIII

S.João da CRUZ-(A Subida ao Monte Carmelo)

Capítulo VII - Como os apetites atormentam a alma. Prova-se também por comparações e textos da Sagrada Escritura.

1. Os apetites causam na alma o segundo efeito do dano positivo, que consiste em atormentá-la e afligi-la, tornando-a semelhante a uma pessoa carregada de grilhões, privada de qualquer repouso até a completa libertação. Destes tais diz David: «Laços de pecados, isto é, de apetites desregrados, me tingiram por todas as partes» ( Sl 118, 61 ). Do mesmo modo que se atormenta e aflige quem, despojado das vestes, se deita sobre espinhos e aguilhões, assim a alma sente os mesmos tormentos quando sobre os seus apetites se recosta; porque estes, como os espinhos, ferem, magoam e deixam dor. A esse propósito, disse também David: «Cercaram-me como abelhas; e se incendiaram como fogo em espinhos» ( SI 117, 12 ). Efetivamente, o fogo da angústia e da dor se aviva em meio dos espinhos dos apetites. Como o lavrador, desejoso da colheita, excita e atormenta o boi que está sob o jugo, assim a concupiscência(pleonexia, epithymia) aflige a alma que se sujeita ao jugo dos seus apetites para obter o que aspira. O desejo que tinha Dalila de conhecer o segredo da força de Sansão prova esta verdade. A Escritura diz que, preocupada e atormentada, desfaleceu quase até morrer: «Sua alma caiu num mortal desfalecimento» ( Jdt 16, 16 ).

terça-feira, 29 de março de 2011

Poesia . Se às vezes digo...

Se às vezes digo que as flores sorriem

Se às vezes digo que as flores sorriem
E se eu disser que os rios cantam,
Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
E cantos no correr dos rios...
É porque assim faço mais sentir aos homens falsos
A existência verdadeiramente real das flores e dos rios.
Porque escrevo para eles me lerem sacrifico-me às vezes
À sua estupidez de sentidos...
Não concordo comigo mas absolvo-me,
Porque só sou essa coisa séria, um intérprete da Natureza,
Porque há homens que não percebem a sua linguagem,
Por ela não ser linguagem nenhuma.

Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)

segunda-feira, 28 de março de 2011

A Subida ao Monte Carmelo VI

S.J.da CRUZ-(A Subida ao Monte Carmelo)

CAPITULO VI - Dos dois principais danos causados à alma pelos apetites: um privativo e outro positivo.

1. Será bom, para maior esclarecimento do que foi dito, explicarmos aqui o duplo prejuízo causado à alma por seus apetites. Primeiro, privam-na do espírito de Deus. Segundo, fatigam, atormentam, obscurecem, mancham e enfraquecem a alma em que vivem, segundo a palavra de Jeremias: «Dois males fez o meu povo: deixaram-me a mim, fonte de água viva, e cavaram para si cisternas, cisternas rotas, que não podem reter as águas» ( Jer 2, 13 ). Estes dois males — privativo e positivo — são causados por qualquer ato desordenado do apetite. Quanto ao primeiro, é evidente que, afeiçoando-se a alma à criatura, quanto mais tal apetite ocupar a alma, tanto menos capacidade terá ela para possuir a Deus. Explicamos no capítulo IV que dois contrários não podem existir num mesmo sujeito ao mesmo tempo. Ora, a afeição a Deus e à criatura são dois contrários: não podem, desse modo, existir em uma só vontade. Que relação existe entre a criatura e o Criador, entre o material e o espiritual, entre o visível e o invisível, entre o temporal e o eterno, entre o alimento celeste, puro e espiritual e o alimento grosseiro dos sentidos, entre a desnudez de Cristo e o apego a alguma coisa?

(HD) - Quem Somos Nós ?

Vá clicando no "Up next", no final de cada vídeo, para ver todos.

A Subida ao Monte Carmelo V

S.J.da CRUZ-(A Subida ao Monte Carmelo)

CAPÍTULO V - Continuação do mesmo assunto. Provas extraídas de autoridades e figuras da Sagrada Escritura para demonstrar quanto é necessário à alma ir a Deus por esta noite escura da mortificação do apetite em todas as coisas.


1. Pelo que ficou dito até agora, podemos conhecer, de algum modo, qual o abismo separando as criaturas do Criador, e como as almas, que em alguma destas põem sua afeição, se acham a essa mesma distância de Deus; pois, como dissemos, o amor produz igualdade e semelhança. Santo Agostinho compreendeu esta verdade quando disse ao Senhor em seus solilóquios: «Miserável que sou! Em que a minha pequenez e minha imperfeição poderão se comparar com a vossa retidão? Sois verdadeiramente bom, e eu mau; sois piedoso, e eu ímpio; sois santo, e eu miserável; sois justo, e eu injusto; sois luz, e eu cego; sois vida, e eu morte; sois remédio, e eu enfermo; sois suprema verdade, e eu tão somente vaidade».' Tudo isto diz o Santo.

A Subida ao Monte Carmelo IV

S.J.da CRUZ-(A Subida ao Monte Carmelo)

CAPÍTULO IV - Trata de quão necessário seja passar deveras a alma pela noite escura dos sentidos, que é a mortificação dos apetites, para chegar à união divina.

1. Para atingir este estado sublime de união com Deus, é indispensável à alma atravessar a noite escura da mortificação dos apetites, e da renúncia a todos os prazeres deste mundo. As afeições às criaturas são diante de Deus como profundas trevas, de tal modo que a alma, quando aí fica mergulhada, torna-se incapaz de ser iluminada e revestida da pura e singela claridade divina. A luz é incompatível com as trevas, como no-lo afirma S. João ao dizer que as trevas não puderam compreender a luz ( Jo 1, 5 ).

Galaxies...

domingo, 27 de março de 2011

A Subida ao Monte Carmelo II e III

S.J.da CRUZ-(A Subida ao Monte Carmelo)

CAPÍTULO II Explicação do que é a noite escura pela qual passa a alma para alcançar a união divina.

EM UMA NOITE ESCURA

1. A purificação que leva a alma à união com Deus pode receber a denominação de noite por três razões. A primeira, quanto ao ponto de partida, pois, renunciando a tudo o que possuía, a alma priva-se do apetite de todas as coisas do mundo, pela negação delas. Ora, isto, sem dúvida, constitui uma noite para todos os sentidos e todos os apetites do homem. A segunda razão, quanto à via a tomar para atingir o estado da união. Esta via é a fé, noite verdadeiramente escura para o entendimento. Enfim, a terceira razão se refere ao termo ao qual a alma se destina, — termo que é Deus, (ser incompreensível e infinitamente acima das nossas faculdades – NT: palavras tomadas da “edição príncipe”) e que, por isso mesmo, pode ser denominado uma noite escura para a alma nesta vida. Estas três noites hão de passar pela alma, ou melhor, por estas três noites há de passar a alma a fim de chegar à divina união.

A Subida ao Monte Carmelo I

S.J.da CRUZ-(A Subida ao Monte Carmelo)

CAPÍTULO I - Exposição da primeira canção. Trata das diferentes noites por que passam os espirituais, segundo as duas partes do homem, inferior e superior, e declara a canção seguinte:

Canção I
Em uma noite escura,
De amor em vivas ânsias inflamada,
Oh! ditosa ventura!
Saí sem ser notada,
Já minha casa estando sossegada.

O sétimo vale ou o Vale da Privação e da Morte

A Conferência dos Pássaros - Farid Ud-Din Attar

A Poupa continuou:
“O último de todos, o Vale da Privação e da Morte, é quase impossível descrever. A essência desse vale é o esquecimento, a mudez, a surdez e a confusão; as mil sombras que te cercam desaparecem num único raio do sol celestial. Quando o oceano da imensidade começa a arfar, o modelo à superfície perde a forma; e esse modelo não é mais que o mundo presente e o mundo por vir. Quem declara que não existe acumula grandes méritos. A gota que se torna parte do imenso oceano, mora lá para sempre e em paz. Nesse mar calmo, o homem a princípio só experimenta humilhação e destruição; mas quando emergir desse estado, compreendê-lo-á como criação, e muitos segredos lhe serão revelados.

Paz na Terra

Poesia - F. Pessoa

O Meu Olhar


O meu olhar é nítido como um girassol.
     Tenho o costume de andar pelas estradas
     Olhando para a direita e para a esquerda,
     E de vez em quando olhando para trás...
     E o que vejo a cada momento
     É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
     E eu sei dar por isso muito bem...
     Sei ter o pasmo essencial
     Que tem uma criança se, ao nascer,
     Reparasse que nascera deveras...
     Sinto-me nascido a cada momento
     Para a eterna novidade do Mundo...
     Creio no mundo como num malmequer,
     Porque o vejo.  Mas não penso nele
     Porque pensar é não compreender ...
     O Mundo não se fez para pensarmos nele
     (Pensar é estar doente dos olhos)                  
     Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
     Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
     Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
     Mas porque a amo, e amo-a por isso,
     Porque quem ama nunca sabe o que ama
     Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
     Amar é a eterna inocência,
     E a única inocência não pensar...


Alberto Caeiro (F. Pessoa)

sábado, 26 de março de 2011

O sexto vale ou o Vale do Espanto e da Perplexidade

A Conferência dos Pássaros - Farid Ud-Din Attar

Depois do Vale da Unidade vem o Vale do Espanto e da Perplexidade, onde o viajante é presa da tristeza e da melancolia. Ali os suspiros são espadas, e cada respiração é um amargo suspiro. A noite e o dia surgem ao mesmo tempo. Ali há fogo, e, sem embargo disso, o homem se sente deprimido e desalentado. Como, em sua perplexidade, prosseguirá no caminho? Mas quem alcançou a unidade se esquece de tudo e se esquece de si. Se lhe perguntarem: “És ou não és? Tens ou não tens o sentimento da existência? Estás no centro ou na periferia? És mortal ou imortal?”, ele responderá com certeza:

Pink Floyd The Darkside of the Moon

sexta-feira, 25 de março de 2011

O quinto vale ou o Vale da Unidade


A Conferência dos Pássaros - Farid Ud-Din Attar

A Poupa continuou:

“Cruzarás depois o Vale da Unidade, onde tudo é partido em pedaços e, em seguida, unificado. Aqui, todas as cabeças que se erguem saem da mesma gola. Embora te pareça ver muitos seres, na realidade só existe um — todos fazem um, completo na unidade. Além disso, o que vês como unidade não difere do que te parece uma soma. E como o Ser a que me refiro está além da unidade e da soma, cessa de pensar na eternidade como em antes e depois; e como essas duas eternidades desapareceram, deixa de falar nelas.
Quando tudo o que é visível estiver reduzido a nada, que sobrará para se contemplar?”

Quem Somos Nós? - Parte 01 de 12

O quarto vale ou o Vale da Independência e do Alheamento

A Conferência dos Pássaros-Farid Ud-Din Attar

A Poupa prosseguiu:

“Depois vem o vale onde não há nem o desejo de possuir nem a vontade de descobrir. Nesse estado da alma sopra um vento frio, tão violento que, num ápice, devasta um espaço imenso: os sete oceanos não são mais que uma lagoa, os sete planetas, mera centelha, os sete céus, um cadáver, os sete infernos, gelo quebrado. Além disso, há uma coisa surpreendente, que foge à razão: uma formiga tem a força de cem elefantes, e cem caravanas se destroem enquanto um corvo enche o papo.

O Segundo Vale ou o Vale do Amor

A Conferência dos Pássaros-Farid Ud-Din Attar


A Poupa continuou:

“O vale seguinte é o Vale do Amor. Para entrar nele é mister ser fogo flamejante — como o direi? O próprio homem precisa ser fogo. O rosto do amante há de estar inflamado, ardente e impetuoso como o fogo. O verdadeiro amor não conhece reflexões tardias; com o amor, o bem e o mal deixam de existir.

“Mas quanto a vós, negligentes e descuidados, este discurso não vos dirá nada, vossos dentes nem sequer o tocarão. Uma pessoa leal arrisca o dinheiro que tem à mão, arrisca a própria cabeça para estar unida ao amigo. Outras se contentam em prometer o que farão por ti amanhã. Se aquele que enveredar por este caminho não se empenhar total e completamente, nunca se livrará da tristeza e da melancolia que o acabrunham. Enquanto não atinge a meta, o falcão mostra-se agitado e aflito. Se for arremessado à praia pelas ondas, o peixe lutará por retornar à água.

quinta-feira, 24 de março de 2011

O terceiro vale ou o Vale da Compreensão

A Conferência dos Pássaros-Farid Ud-Din Attar

A Poupa continuou:

“Depois do vale de que vos falei vem outro — o Vale da Compreensão, sem começo nem fim. Nenhum caminho é igual a esse, e a distância que há de ser percorrida para atravessá-lo desafia qualquer cálculo.

Poesia - Fernando Pessoa - Afinal




Álvaro de Campos
 
Afinal
 
  Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.  
  Sentir tudo de todas as maneiras.  
  Sentir tudo excessivamente,  
  Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas  
  E toda a realidade é um excesso, uma violência,  
  Uma alucinação extraordinariamente nítida  
  Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,  
  O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas  
  Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos. 

A. Goswani - A Física da Alma (Anjos e bodhis.)

Anjos e bodhisattvas

     Anteriormente, apresentei a idéia de que os anjos pertencem ao reino transcendente dos arquétipos. São os anjos sem forma.
     Pessoas que renascem na forma sambhogakaya, que é uma metáfora para dizer que essas pessoas não se identificam mais com corpos encarnados, não precisam mais das mônadas quânticas para transmigrar propensões e tarefas inacabadas de uma vida para outra; elas cumpriram suas obrigações contratuais. Logo, suas mônadas quânticas desencarnadas tornaram-se acessíveis para todos nós, e podemos tomar emprestado seus corpos mental e vital, caso sejamos receptivos a seu serviço. Elas se tornam um tipo diferente de anjo, um anjo na forma de uma mônada quântica realizada (a forma sambhogakaya). (Para recentes perspectivas sobre anjos, ler Parisen, 1990.)

quarta-feira, 23 de março de 2011

S.J.da CRUZ-(A Subida ao Monte Carmelo)

CAPITULO XI - As necessidades de reprimir os apetites por mínimos que sejam, para chegar a alma à união divina.

1. O leitor parece-me estar há muito desejoso de saber se para atingir este alto estado de perfeição é preciso ter reprimido totalmente os apetites, grandes e pequenos, ou se é suficiente mortificar alguns sem se ocupar dos menos importantes. Parece extremamente difícil e árduo atingir a alma grau de desnudez tão completa e pureza tão grande, não tendo mais vontade nem afeição posta em coisa alguma.

A Resignação - (F.H,-J. Boehme)

FRANZ HARTMANN - (J.Boehme)

Perceber essa verdade; saber que uma personalidade limitada, sujeita às condições do tempo e do espaço, não pode abarcar a alegria e a sabedoria infinita, é evidenciar que todas as tentativas de adquirir a sabedoria divina, na medida em que se liga ao eu, não é bem sucedida. De fato, ninguém deve buscar o conhecimento espiritual com o propósito de render a si mesmo, mas deve procurar morrer com o Cristo, ou seja, tornar-se inteiramente um com a verdade; já não é ele quem vive, mas a verdade vive nele. Não se deve buscar o reconhecimento, a renovação ou a satisfação, mas orar para que seu conhecimento lhe seja arrancado de si, a menos que ele leve à glorificação de Deus nele. Em resumo, ele não deve desejar se tornar nada, mas deve ser o novo conhecimento, alegria, sabedoria e a glória. Boehme diz:

Pink Floyd Another Brick In The Wall (Legendado)

Bahgavad - Gita - Canto XV

Yoga do Alcance do Princípio Supremo

Fala Krishna:
1. Eterno é chamado o ashvattha, a figueira sagrada que tem suas raízes para cima e os ramos para baixo; suas folhas são os hinos védicos, Quem o conhece, conhece os Vedas.

2. Seus ramos se espalham para cima e para baixo, nutridos pelas três qualidades; suas folhas são os objectos dos sentidos. Suas raízes se estendem para baixo, os vínculos da acção no mundo dos mortais.

terça-feira, 22 de março de 2011

Franz Hartmann - (J.Boehme) O Homem, Terrestre e Celeste

O Homem, Terrestre e Celeste

"A virgem diz: Algo em ti me contraria. Eu te criei e te tirei do meio dos espinhos. Quando eras um animal selvagem, eu te configurei em minha própria imagem. Mas o animal selvagem está entre os espinhos: isso eu não vou tomar em meu peito. Você ainda vive com seu animal selvagem. Quando o mundo tomar esse animal, já que a ele pertence, então eu te tomarei. Assim, cada um irá tomar o que lhe pertence. Por que então amas tanto aquele animal selvagem que não te causa mais nada além de dor? Não podes carregá-lo contigo. Ele não te pertence, mas ao mundo.

Franz Hartmann - (J.Boehme) O Caminho

O Caminho

"Nem no céu, nem na terra; nem dentre as estrelas ou elementos, podemos encontrar algum caminho que nos leve ao repouso. Mal entramos na vida, e depois disso é o fim, quando nosso corpo nascerá de volta na terra e todas as nossas obras, trabalhos, ciências e glórias serão herdadas por outros, que também se incomodam por um tempo, com as mesmas coisas, e então nos seguem (para a morte). Isso ocorre desde o princípio do mundo até o seu fim. Durante nossa miséria nunca poderemos saber onde permanece nosso espírito quando o corpo cai e se torna cadáver, a menos que sejamos recém-nascidos, fora deste mundo; de modo que, embora vivamos neste mundo, em nosso corpo, habitamos na nossa alma e espírito em outra vida, nova, perfeita e eterna. Ali, um novo homem será encontrado em nosso espírito e alma, e ali deverá ele viver eternamente. Somente nesta nova forma aprenderemos a conhecer o que somos e onde está nossa verdadeira casa". (Principles, XXII 5).

Franz Hartmann - (J.Boehme) A Cruz

A Cruz

A cruz com a imagem de uma pessoa ali pregada morrendo, é o símbolo da regeneração e da iniciação. Este símbolo recorda ao verdadeiro seguidor de Cristo, que deve passar pela morte mística e regenerar-se no espírito antes de poder entrar na glória da vida eterna. A cruz representa a vida terrestre, e a coroa de espinhos os sofrimentos da alma dentro do corpo elementar, mas também a vitória do espírito sobre os elementos das trevas. O corpo está nu, indicando que o candidato à imortalidade deve despir-se de todo desejo das coisas terrestres. O corpo está pregado na cruz, o que simboliza a morte e a rendição da vontade-própria, e que não se deve pretender realizar qualquer coisa por seu poder próprio, mas meramente servir como instrumento no qual a vontade Divina é executada. Acima da cabeça estão inscritas as letras:

quinta-feira, 17 de março de 2011

Bahgavad - Gita - Canto X

Canto do Senhor

Das Manifestações de Deus no Universo

Fala Krishna:

Meu querido Arjuna, guerreiro de braços fortes, escute mais uma vez Minha palavra suprema. O que vou dizer agora é para seu benefício e dar-lhe-á grande alegria.

Nem os deuses nem os grandes rishis conhecem minha origem pois Eu sou o princípio absoluto dos deuses e dos grandes rishis.

Deva Premal - OM NAMO BHAGAVATE

B. Gita - Cant..VIII


O Canto do Senhor

10. Aquele que medita no eterno, no momento de sua morte, com a mente imóvel, fortalecida pela Yoga e com o alento vital (prâna) concentrado entre as sombrancelhas, dirige-se ao divino espírito supremo.

11. Vou revelar-te em breves palavras a mansão que os conhecedores dos Vedas chamam de indestrutível, em que entram aqueles que venceram a si mesmos e estão livres de paixões.

12. Fechadas todas as portas dos sentidos, a mente concentrada no coração, retendo na cabeça o alento vital, concentrado na Yoga,

13. pronunciando o monossílabo sagrado OM, e concentrado em Mim, quem deixa o Mundo desta forma, ao abandonar seu corpo encaminha-se à meta suprema.

14. Fácil é atingir a suprema perfeição quando o homem anda na minha presença, constantemente consciente de Mim, em todos os caminhos de sua vida e alheio a outros deuses.

15. Essas grandes almas, conscientes da sua união comigo, não tornarão a nascer para esta vida perecível de sofrimentos, mas vêm a mim, a eterna Beatitude.

quarta-feira, 16 de março de 2011

B. Gita - Cant.. III


Canto III - Yoga da Ação

Arjuna disse:

1. Por que queres me engajar nesta terrível batalha, se achas que a compreensão é superior ao trabalho,ó Keshava, ó Jnardana?

2. Minha mente está confusa com Tuas palavras dúbias; dize-me, pois, com clareza o que é melhor para mim.

O Supremo Senhor disse:

terça-feira, 15 de março de 2011

Poesia - F. Pessoa

Às Vezes

    Às vezes tenho idéias felizes, 
    Idéias subitamente felizes, em idéias 
    E nas palavras em que naturalmente se despegam... 
 
    Depois de escrever, leio... 
    Por que escrevi isto? 
    Onde fui buscar isto? 
    De onde me veio isto?  Isto é melhor do que eu... 
    Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta 
    Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...

Àlvaro de Campos (Fernando Pessoa)

domingo, 13 de março de 2011

Franz Hartmann - (JACOB BOEHME) Egoísmo

Egoísmo

“Meus escritos são para aqueles que desejam receber a verdade, num estado de mente simples e infantil, pois eles possuirão o reino de Deus. Escrevi unicamente para aqueles que buscam; para os astutos e espertos, nada tenho a dizer”. (Threefold Life, xv.65)

quinta-feira, 10 de março de 2011

O Profeta - Sobre a Morte


Depois Almitra falou e disse, Queriamos que falasses agora da Morte.


E ele respondeu:


Vós conheceis o segredo da morte.


Mas como o encontrareis a menos que o procureis no âmago do coração?


O mocho cujos olhos nocturnos são cegos para a claridade, não pode desvendar o mistério da luz.

terça-feira, 8 de março de 2011

Esp. Ecumê. Universal - Os 5 Agregados (+ em Páginas)

1 - Os Cinco Agregados

Anteriormente fizemos uma palestra onde afirmamos que tudo que existe na vida é uma ilusão, ou seja, alguma coisa que o ser humanizado vive achando que é verdade, mas não é. Também já conversamos sobre a Realidade do Universo, ou seja, sobre a emanação de Deus. Vimos a vida do espírito e como Deus vai criando o Universo a cada micro fração de tempo.

Hoje para encerrar este ciclo, juntaremos as duas coisas. Agora que já sabemos que Deus é quem cria e que os seres humanizados se iludem dando valores para as coisas, vamos descobrir de onde nascem e como se formam as ilusões.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Homeopatia


HOMEOPATIA: UMA RÁPIDA INTRODUÇÃO
A homeopatia é um tratamento médico que se aplica a toda e qualquer enfermidade. Antes, no entanto, de introduzir-se em sua linha de tratamento, convém inteirar-se de suas características. Conhecendo um pouco dessa especialidade médica, você irá assegurar maior certeza à sua escolha e poderá participar de seu tratamento de uma forma mais ativa.

domingo, 6 de março de 2011

DA FÍSICA QUÂNTICA À ESPIRITUALIDADE


A Morte da Matéria e do Materialismo
O primeiro grande feito da física quântica, com importante respaldo na moderna visão de mundo, foi a destituição da matéria como substrato último da complexidade universal. As conclusões, evidenciadas nas fórmulas de Erwin Schrödinger, demonstraram que a matéria não pode ser decomposta em partículas fixas e fundamentais. Sua base final é um processo dinâmico, destituído de forma ou qualquer vestidura material.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Em Busca de Deus - Um Bom Amigo

(18) A REDESCOBERTA DO CRISTIANISMO (Jan 2008)


Com atenção a textos do livro “Cristianismo Perdido”, de J. Needleman, professor de Religiões em Universidades dos EUA e pesquisador das origens do cristianismo.

O cristianismo dos primeiros séculos mostra que aquilo que as doutrinas cristãs pregam, hoje, quase nada tem a ver com o que Jesus pregou; que o que Jesus ensinou é o mesmo que, há séculos ou milênios, o misticismo oriental ensina, como se pode verificar por este e outros textos. Jesus ensinou o modo de se chegar a Deus, sem necessidade de qualquer intercessor ou intermediário, e numa total união com a divindade absoluta. Por isso disse: “Eu e o Pai somos um”. A interpretação feita pela doutrina cristã é, no dizer de sérios pesquisadores e mesmo sacerdotes, uma verdadeira “tragédia para a civilização ocidental”.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Poesia-Álvaro de Campos (F.P.)

Se te Queres

Se te queres matar, por que não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por atores de convenções e poses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fím?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Sobre as Crianças

Depois, uma mulher que trazia uma criança ao colo disse, Fala-nos das Crianças.

E ele respondeu:


Os vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da Vida que anseia por si mesma.
Eles vêm através de vós mas não de vós.
E embora estejam convosco não vos pertencem.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Poemas-A.Caeiro(F.P.)


" Alberto Caeiro (Fernando Pessoa) "

Se eu morrer muito novo, oiçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava.
Fui gentio como o sol e a água,
De uma religião universal que só os homens não têm.
Fui feliz porque não pedi coisa nenhuma,
Nem procurei achar nada,
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.

sábado, 22 de janeiro de 2011

A CONSCIÊNCIA DIVINA

Ralph Waldo Emerson, o maior filósofo e poeta da América do Norte, disse acertadamente: “O homem é como o frontispício de um templo em cujo interior reside toda a sabedoria e todo o bem. O que normalmente chamamos homem – o que come, bebe, planta, calcula -, não é o verdadeiro homem, senão um disfarce de si mesmo. Não é a ele a quem respeitamos, senão a alma da qual ele é simplesmente um instrumento; se a deixasse aparecer em suas ações, nos faria cair de joelhos em adoração”.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

POESIA DA AUTOREALIZAÇÃO:

Hubert Rohden - Da lagarta à borboleta

Quando a consciência do Infinito se torna maior do que a consciência do finito, estamos na iniciação e quando a consciência do Infinito se torna muito mais expandida do que a consciência do finito, então temos a autorealização.

Vamos usar a poesia da natureza para esclarecer melhor esta idéia da iniciação e autorealização. Vamos tomar, por exemplo, a Lagarta e a Borboleta.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Convicção da imortalidade e invencibilidade do Ego

Muitas pessoas aceitam a crença da imortalidade da alma, mas poucos sabem que ela pode ser demonstrada pela própria alma. Os Mestres Yogues ensinam esta lição ao Aspirante, da seguinte maneira: O Aspirante deve pôr-se no estado de meditação ou, ao menos, numa disposição pensativa de alma e, neste estado, deve esforçar-se por «imaginar» que está morto, isto é, tentar formar uma concepção mental de si como estando morto.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Religião: Essencial ou não essencial?

Toda religião pode dividir-se em duas partes: uma parte chamaremos de essencial e a outra não-essencial. As doutrinas, os dogmas, os ritos, as cerimônias e as mitologias de todos os credos religiosos organizados não são elementos essenciais. Não quer isto dizer que são inúteis; pelo contrário, o simples fato de sua existência prova que são necessários e ajudam em certas etapas ao progresso espiritual.

Tomás de Kempis

Todas as vezes que o homem deseja alguma coisa desordenadamente, torna-se logo inquieto. O soberbo e o avarento nunca sossegam; entretanto, o pobre e o humilde de espírito vivem em muita paz. O homem que não é perfeitamente mortificado facilmente é tentado e vencido, até em coisas pequenas e insignificantes. O homem espiritual, ainda um tanto carnal e propenso à sensualidade, só a muito custo poderá desprender-se de todos os desejos terrenos. Daí a sua frequente tristeza, quando delas se abstém, e fácil irritação, quando alguém o contraria.

Se, porém, alcança o que desejava, sente logo o remorso da consciência, porque obedeceu à sua paixão, que nada vale para alcançar a paz que almejava. Em resistir, pois, às paixões, se acha a verdadeira paz do coração, e não em segui-las. Não há, portanto, paz no coração do homem carnal, nem no do homem entregue às coisas exteriores, mas somente no daquele que é fervoroso e espiritual.

Não há melhor e mais útil estado que se conhecer perfeitamente e desprezar-se a si mesmo. Ter-se por nada e pensar sempre bem e favoravelmente dos outros, prova de grande sabedoria e perfeição.
Oh! Como passa depressa a glória do mundo!

O Despertar da Fé:

Método da Sabedoria. O objetivo desta disciplina é dar ao sujeito o hábito de aplicar a penetração adquirida por meio de disciplinas precedentes. Quando o sujeito se levanta, está em pé, anda, faz algo, detêm-se, deveria constantemente concentrar sua mente no ato e em sua execução, não em sua relação com o ato. O sujeito deveria pensar: isto é andar, isto é deter-se, isto é advertir; e não: ando, faço isto, é bom, é agradável, faço méritos, sou eu quem adverte quão maravilhoso é. Desde aí nascem pensamentos, sentimentos de júbilo ou de fracasso e desdita. Em vez de tudo isto, o sujeito deveria simplesmente praticar a concentração da mente no ato mesmo, entendendo-o como um meio conveniente para alcançar a tranquilidade mental, ensinamento, penetração e sabedoria; e deveria seguir a prática com fé, bom desejo e alegria. Depois de longa prática, as ataduras aos velhos hábitos se afrouxam até romper-se e em seu lugar aparecem confiança, satisfação, ensinamento e tranquilidade.
Na pura Dharmakaya não existe dualismo, nem sombra de diferenciação. Todos os seres sensíveis veriam, se fossem capazes de adverti-lo, que estão já no Nirvana. A pura Essência da mente é o Altíssimo Samadhi, é Projna Paramita, é a Altíssima Sabedoria Perfeita. (ASHVAGHOSHA)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Carlos Castañeda

"Um guerreiro deve focalizar sua atenção no elo entre ele e sua morte. Sem remorso nem tristeza nem preocupação, ele deve focalizar sua atenção no fato de que ele não tem tempo e deixar que seus atos fluam de acordo. Ele deve deixar que cada um de seus atos seja sua última batalha sobre a terra. Só nessas condições é que seus atos terão o devido poder. Senão eles serão, enquanto ele viver, os atos de um tolo."

Carlos Castañeda-1

Enquanto um homem acha que ele é a coisa mais importante no mundo, não pode apreciar de verdade o universo em volta de si. E como um cavalo com antolhos, só vê a si próprio separado de tudo o mais.

A morte é nossa eterna companheira. Está sempre à nossa esquerda, à distância de um braço atrás de nós. A morte é a única conselheira sábia que um guerreiro tem. Toda vez que ele sente que tudo está errado e que ele está prestes a ser aniquilado, pode virar-se para sua morte e perguntar se é assim mesmo. A morte lhe dirá que ele está errado; que nada realmente importa, além do toque dela. Sua morte dirá a ele: "Ainda não o toquei."

Em um mundo em que a morte é o caçador, não há tempo para remorsos ou dúvidas. Só há tempo para decisões. Não importa quais decisões. Nada pode ser mais ou menos sério do que qualquer outra coisa. Em um mundo em que a morte é o caçador, não há decisões pequenas ou grandes. Só há decisões que um guerreiro toma em face de sua morte inevitável.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

SRIMAD BHAGAVAD-GITA - (O Canto do Senhor)

O CAMINHO DA SABEDORIA REAL E DO MISTICISMO REAL
1 – Disse o BENDITO SENHOR:
A ti, Ó Arjuna, que não Me contrarias, revelarei este grande mistério do conhecimento e sua realização; conhecendo-o, te libertarás do mal.
2 – Este é o rei do conhecimento e do segredo; é a santidade suprema; é percebido diretamente, fácil de praticar, é a espiritualidade e é imperecedouro.
3 – Ó destruidor dos inimigos, as pessoas que carecem de fé nesta doutrina não chegam a Mim e retornam a este mundo mortal.
4 – Todo este mundo está interpenetrado por Mim em Meu estado não manifestado. Todos os seres estão em Mim, mas Eu não estou neles (como sou inconexo, não tenho nenhuma relação com eles).

5 – Nem os seres estão em Mim; observa Meu divino mistério. Ainda que seja o sustém e o protetor dos seres, no entanto, Meu Ser não está neles. (Como não tenho nenhum conceito de ego pessoal, não tenho apego a nada, como têm os seres encarnados.)

6 – Como o grande vento que se move por todas as partes está sempre no espaço, saiba que assim todos os seres estão em Mim.

SRIMAD BHAGAVAD-GITA

10 – O homem de renúncia dotado de sattva (serenidade), de compreensão firme e cujas dúvidas desapareceram, não se aborrece com o trabalho desagradável nem anseia ao agradável.


11 – O ser corpóreo não pode abandonar todas as ações, mas aquele que renuncia ao fruto da ação é considerado como homem de renúncia.


12 – Os frutos das ações são de três tipos: desagradáveis, agradáveis e uma mistura de ambos. Estes frutos se aderem, após a morte, a aquele que não os renunciou, mas não ao homem de renúncia.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O saber, antes e depois de Cristo

Os Upanishads, os textos de yoga, o sistema do samkhya, demonstram que os seres humanos daquela época, ainda que vivessem com menos artigos de luxo, tinham conceitos espirituais muito elevados. Alguns deles já sabiam que Deus é Universal, que Deus é Existência-Conhecimento-Bemaventurança Absoluta, que Deus é Pessoal e Impessoal; sabiam que o homem, pelo caminho do controle interno e externo pode gozar da Bemaventurança eterna pela misericórdia divina; sabiam que todo o sofrimento humano é devido a que o homem ignora sua própria natureza divina. De maneira que não podemos dizer que o homem, antes da era cristã, não necessitou nem teve a benção da presença das Encarnações. É ilógico, insensato e dogmático dizer que antes da aparição de Jesus Cristo a raça humana não recebia a graça divina e que com a Encarnação de Deus no corpo de Jesus se abriu, pela primeira vez, a porta da salvação. Salvação é ser consciente da eterna presença de Deus. Além disso, o hindu diz que, como todas as idéias e normas, as da Religião prosperam também, durante certo tempo e depois decaem, as pessoas afastadas de seu Ideal, se tornam egoístas e mesquinhas, se esquecem de amar a Deus e a seu próximo, vivem a vida puramente sensual, de luta e competição...

B. Gita - Krishnamurti

"O homem é feito pelas suas crenças.
Conforme aquilo em que crê, assim ele é."

BHAGAVAD-GITA

...

A compreensão do Amor.

... E essa mente - que é então a verdadeira mente religiosa - pode compreender a natureza da morte. Pois, sem a compreensão, não há compreensão do amor. A morte não é o fim da vida. Não é uma consequência de doença, senilidade ou acidente. A morte é uma coisa com que temos de viver todos os dias, morrendo para tudo o que conhecemos. Se não conhecerdes a morte, jamais conhecereis o amor.

O amor não é memória, também não é simbolo, imagem, ideia; não é o amor um ato social; o amor não é uma virtude. Havendo amor, há virtude; não se precisa lutar para se tornar virtuoso. Se não conheceis o amor, é porque ainda não compreendestes o que é morrer - morrer para vossa experiência, morrer para vossos prazeres, morrer para qualquer nemória oculta, inconsciente. É quando tudo trouxerdes à luz e morrerdes a cada minuto - para vossa casa, vossas lembranças, vossos prazeres morrerdes voluntária e facilmente, sem esforço, sabereis então o que é o amor.

(Krishnamurti)

http://dim-dim-universos.blogspot.com/2011/01/o-homem-e-feito-pelas-suas-crencas.html