C. Castañeda - (D.Juan Matus)- Excertos
Não é que, à medida que o tempo passa, o guerreiro aprenda xamanismo; antes, o que ele aprende enquanto o tempo passa é economizar energia. Esta energia vai capacitá- lo a manipular alguns campos de energia que são normalmente inacessíveis a ele. Xamanismo é um estado de consciência, a capacidade de usar campos de energia que não são empregados para perceber o mundo cotidiano que conhecemos.
Há no universo uma força incomensurável e indescritível que os xamãs chamam intento, e absolutamente tudo o que existe em todo o cosmo é ligado ao intento por uma conexão. Os xamãs estão interessados em discutir, compreender e usar essa conexão. Estão especialmente interessadas em limpá-la dos efeitos paralisantes que resultam das preocupações comuns com a vida cotidiana. O xamanismo, neste nível, pode ser definido como um procedimento de limpeza da conexão com o intento.
Os xamãs estão vitalmente interessados em seu passado, mas não com seu passado pessoal. Para os xamãs, seu passado é o que outros xamãs, em dias passados, conseguiram realizar. Eles consultam seu passado para obter um ponto de referência. Só os xamãs procuram de verdade um ponto de referência em seu passado. Para eles, estabelecer um ponto de referência significa uma oportunidade para examinar o intento. O homem comum também examina o passado. Mas ele examina o seu passado pessoal, por motivos pessoais. Ele se avalia em relação ao passado, seja o seu passado pessoal ou o conhecimento passado de seu tempo, com o objetivo de encontrar justificativas para seu comportamento presente ou futuro, ou de estabelecer um modelo para si mesmo.
O espírito manifesta-se ao guerreiro a cada momento. Entretanto, essa não é a verdade total. A verdade total é que o espírito revela-se para todos com a mesma intensidade e consistência, mas só os guerreiros estão sintonizados, de maneira consistente, com tais revelações.
Os guerreiros falam do xamanismo como um pássaro mágico, misterioso, que interrompeu seu vôo por um momento para dar esperança e propósito ao homem; os guerreiros vivem sob a asa desse pássaro, que eles chamam o pássaro da sabedoria, o pássaro da liberdade.
Para um guerreiro, o espírito é abstrato só porque ele o conhece sem palavras ou mesmo pensamentos. É abstrato porque ele não pode conceber o que o espírito é. Contudo, mesmo sem a menor possibilidade ou desejo de entendê-lo, o guerreiro o maneja. Reconhece-o, acena para ele, cativa-o, familiariza-se com ele e o expressa em seus atos.
A conexão do homem comum com o intento está praticamente morta, e os guerreiros começam com uma conexão que é inútil, porque não responde voluntariamente. Com o objetivo de revitalizar essa conexão, os guerreiros precisam de um propósito rigoroso e feroz — um estado especial da mente chamado intento inflexível
O poder do homem é incalculável; a morte existe somente porque a intentamos desde o momento de nosso nascimento. O intento da morte pode ser cancelado fazendo- se o ponto de aglutinação mudar de posição.
A arte da espreita consiste em aprender todas as astúcias de seu disfarce, e aprendê-las tão bem que ninguém saberá que você está disfarçado, Para isso, você precisa ser implacável, astuto, paciente e dócil. Ser implacável não significa ser grosseiro; ser astuto não significa ser cruel; ser paciente não significa ser negligente; e ser dócil não significa ser tolo.
Os guerreiros têm um propósito ulterior para seus atos, que não tem nada a ver com o ganho pessoal. O homem comum age apenas se há a oportunidade para o lucro. Os guerreiros não agem pelo lucro, mas pelo espírito. Os xamãs videntes dos tempos antigos, através do seu ver, notaram logo que qualquer comportamento incomum produzia um tremor no ponto de aglutinação. Em seguida, descobriram que se o comportamento incomum é praticado de maneira sistemática e dirigido com sabedoria, ele finalmente força o ponto de aglutinação a se mover.
O conhecimento silencioso nada mais é do que o contato direto com o intento.
O xamanismo é uma viagem de volta. O guerreiro retorna vitorioso ao espírito, depois de ter descido ao inferno. E do inferno, ele traz troféus. O entendimento é um desses troféus.
Como são espreitadores, os guerreiros entendem perfeitamente o comportamento humano. Entendem, por exemplo, que os seres humanos são criaturas de inventário. Conhecer as entradas e saídas de um inventário determinado é o que torna um homem um erudito ou um perito em seu campo.
Para que os mistérios do xamanismo se tornem disponíveis para alguém, o espírito deve descer sobre aquele que estiver interessado. O espírito permite que sua presença, por si mesma, mova o ponto de aglutinação do homem para uma posição específica. Este ponto determinado é conhecido pelos xamãs como o lugar da não-piedade.
Na realidade não há um procedimento envolvido no fazer o ponto de aglutinação se mover para o lugar da não-piedade. O espírito toca a pessoa e seu ponto de aglutinação se move. É simples assim.
Os guerreiros sabem que, quando o inventário de um homem comum falha, ou a pessoa amplia seu inventário ou seu mundo da auto-reflexão entra em colapso. A pessoa comum é capaz de incorporar novos itens ao seu inventário desde que os novos itens não contradigam a ordem subjacente do inventário. Mas se os novos itens contradizem essa ordem, a mente da pessoa entra em colapso. Os guerreiros contam com isso quando tentam quebrar o espelho da auto-reflexão.
Os guerreiros nunca poderão construir uma ponte para se juntar às pessoas do mundo. Mas se as pessoas desejarem isso, terão de fazer uma ponte para se juntar aos guerreiros.
O que precisamos fazer é permitir que a magia tome conta de nós para banir as dúvidas de nossas mentes. Quando as dúvidas são banidas, tudo é possível.
As possibilidades do homem são tão vastas e misteriosas que os guerreiros, em vez de pensar sobre elas, escolheram explorá-las, sem esperança de jamais chegar a entendê-las.
Tudo que os guerreiros fazem é feito como conseqüência de um movimento de seus pontos de aglutinação, e tais movimentos são determinados pela quantidade de energia que os guerreiros têm sob suas ordens.
Qualquer movimento do ponto de aglutinação significa um afastamento da preocupação excessiva com o eu individual. Os xamãs acreditam que é a posição do ponto de aglutinação que torna o homem moderno um egotista homicida, um ser totalmente envolvido com sua auto-imagem. Tendo perdido a esperança de voltar à fonte de tudo, o homem comum procura consolo em seu egoísmo.
O impulso do caminho do guerreiro é para derrubar a auto-importância. E tudo o que os guerreiros fazem é no sentido de alcançar essa meta.
Os xamãs arrancaram a máscara da auto-importância e descobriram que ela é a autopiedade disfarçada em outra coisa.
No mundo da vida cotidiana, palavras e decisões podem ser revertidas facilmente. A única coisa irrevogável no mundo cotidiano é a morte. No mundo dos xamãs, por outro lado, a morte normal pode sofrer uma contra-ordem, mas não a palavra do xamã. No mundo dos xamãs, as decisões não podem ser mudadas ou revisadas. Depois de tomadas, permanecem para sempre.
Uma das coisas mais dramáticas da condição humana é a conexão macabra entre a estupidez e a auto-reflexão. É a estupidez que força o homem comum a descartar qualquer coisa que não se ajuste com as expectativas de seu auto- reflexo. Por exemplo, como homens comuns, estamos cegos para o ponto mais crucial do conhecimento disponível para o ser humano: a existência do ponto de aglutinação e o fato de que ele pode se mover.
Para o homem racional, manter a fixação de sua auto-imagem assegura sua ignorância abissal. Ele ignora o fato de que o xamanismo não significa encantamentos e embromação, mas a liberdade para perceber, não só o mundo tomado sem discussão, mas tudo o mais que é humanamente possível realizar. Ele treme diante da possibilidade da liberdade. E a liberdade está ao alcance de suas mãos.
O dilema do homem é que ele intui suas fontes ocultas, mas não ousa utilizá-las. É por isso que os guerreiros dizem que o tormento do homem é o contraponto entre sua estupidez e sua ignorância. O homem precisa agora, mais do que nunca, aprender novas idéias que digam respeito exclusivamente ao seu mundo interno— as idéias dos xamãs, não idéias sociais, idéias pertinentes ao homem em face do desconhecido, em face de sua morte pessoal. Agora, mais do que qualquer outra coisa, ele precisa aprender os segredos do ponto de aglutinação.
O espírito só escuta quando quem fala o faz por gestos. E gestos não querem dizer sinais ou movimentos do corpo, mas atos de verdadeiro abandono, atos de liberação, de humor. Como um gesto para o espírito, os guerreiros expõem o melhor de si mesmos e silenciosamente o oferecem ao abstrato.
A arte de sonhar é a capacidade de utilizar nossos sonhos comuns e transformá-los numa consciência controlada por uma forma especial de atenção chamada a atenção sonhadora.
A arte da espreita é um conjunto de procedimentos e atitudes que possibilita a um guerreiro conseguir o melhor de qualquer situação concebível.
A recomendação para os guerreiros é não possuir quaisquer coisas materiais nas quais focalizem seu poder, mas focalizá-lo no espírito, no verdadeiro vôo para o desconhecido, não em trivialidades.
Qualquer um que queira seguir a senda do guerreiro tem de se livrar da compulsão para possuir e se apegar às coisas.
Ver é um conhecimento corporal. A predominância do sentido visual em nós influencia esse conhecimento corporal e faz com que ele pareça relacionado ao olho.
Perder a forma humana é como uma espiral. Dá ao guerreiro a liberdade de lembrar-se de si mesmo como campos puros de energia e isso, por sua vez, torna-o ainda mais livre.
Um guerreiro sabe que está esperando e sabe o que está esperando, e enquanto ele espera deleita-se olhando para o mundo. A suprema realização do guerreiro é gozar a alegria do infinito.
O curso do destino de um guerreiro é inalterável. O desafio é de até onde ele pode ir e quanto ele será impecável dentro desses limites rígidos.
As ações das pessoas não afetam mais um guerreiro quando ele não tem mais expectativas de nenhuma espécie. Uma paz estranha se torna a força que governa sua vida. Ele adotou um dos conceitos da vida do guerreiro— o desapego.
O desapego não significa automaticamente sabedoria mas é, contudo, uma vantagem, porque permite ao guerreiro parar por um momento para reavaliar situações e reconsiderar posições. Entretanto, para usar esse momento extra de modo consistente e correto, o guerreiro tem de lutar incansavelmente durante toda a sua vida.
É muito mais fácil para os guerreiros se saírem bem sob condições de tensão máxima do que serem impecáveis sob condições normais.
Os seres humanos têm dois lados. O lado direito abrange tudo que o intelecto pode conceber. O lado esquerdo é uma região de características indescritíveis; uma região impossível de ser contida em palavras. O lado esquerdo é talvez compreendido, se é compreensão que tem lugar, com todo o corpo; daí sua resistência à conceituação.
Todas as faculdades, possibilidades e realizações do xamanismo, das mais simples às mais espantosas, estão no próprio corpo humano.
O poder que governa o destino de todos os seres vivos é chamado a Águia, não porque seja uma águia ou tenha alguma coisa a ver com uma águia, mas porque aparece aos olhos do vidente como uma incomensurável águia negra, em pé e ereta como as águias ficam em pé, com sua altura atingindo o infinito.
A Águia devora a consciência de todas as criaturas que, vivas na terra um momento antes e agora mortas, flutuaram até o bico da Águia como um enxame de vaga-lumes, para o encontro de seu dono, a razão pela qual tiveram vida. A Águia desmancha essas pequenas chamas, deita-as no chão, como um curtidor esticando couro, e as devora; pois a consciência é o alimento da Águia.
A Águia, esse poder que governa o destino de todas as coisas vivas, reflete igualmente e ao mesmo tempo todas essas coisas vivas. Não há, portanto, como o homem possa rezar para a Águia, pedir favores e esperar sua misericórdia. A parte humana da Águia é insignificante demais para mover o todo.
Toda coisa viva recebeu o poder, se assim o desejar, de procurar uma abertura para a liberdade e de atravessá-la. É evidente para o vidente, que vê a abertura, e para todas as criaturas, que a atravessam, que a Águia deu esse presente com o objetivo de perpetuar a consciência.
A travessia para a liberdade não significa vida eterna, como a eternidade é comumente entendida— isto é, como viver para sempre. Em vez disso, o guerreiro pode conservar sua consciência, que em geral é abandonada no momento da morte. No momento da travessia, o corpo em sua totalidade é iluminado com conhecimento. Cada célula torna-se imediatamente consciente de si mesma e também consciente da totalidade do corpo.
O presente da Águia de liberdade não é uma concessão, mas a oportunidade de ter uma oportunidade. Um guerreiro nunca está assediado. Estar assediado significa que se tem posses pessoais que podem ser bloqueadas. Um guerreiro não tem nada no mundo, exceto sua impecabilidade, e a impecabilidade não pode ser ameaçada.
(ponto de aglutinação/onde a percepção é aglutinada)
Não é que, à medida que o tempo passa, o guerreiro aprenda xamanismo; antes, o que ele aprende enquanto o tempo passa é economizar energia. Esta energia vai capacitá- lo a manipular alguns campos de energia que são normalmente inacessíveis a ele. Xamanismo é um estado de consciência, a capacidade de usar campos de energia que não são empregados para perceber o mundo cotidiano que conhecemos.
Há no universo uma força incomensurável e indescritível que os xamãs chamam intento, e absolutamente tudo o que existe em todo o cosmo é ligado ao intento por uma conexão. Os xamãs estão interessados em discutir, compreender e usar essa conexão. Estão especialmente interessadas em limpá-la dos efeitos paralisantes que resultam das preocupações comuns com a vida cotidiana. O xamanismo, neste nível, pode ser definido como um procedimento de limpeza da conexão com o intento.
Os xamãs estão vitalmente interessados em seu passado, mas não com seu passado pessoal. Para os xamãs, seu passado é o que outros xamãs, em dias passados, conseguiram realizar. Eles consultam seu passado para obter um ponto de referência. Só os xamãs procuram de verdade um ponto de referência em seu passado. Para eles, estabelecer um ponto de referência significa uma oportunidade para examinar o intento. O homem comum também examina o passado. Mas ele examina o seu passado pessoal, por motivos pessoais. Ele se avalia em relação ao passado, seja o seu passado pessoal ou o conhecimento passado de seu tempo, com o objetivo de encontrar justificativas para seu comportamento presente ou futuro, ou de estabelecer um modelo para si mesmo.
O espírito manifesta-se ao guerreiro a cada momento. Entretanto, essa não é a verdade total. A verdade total é que o espírito revela-se para todos com a mesma intensidade e consistência, mas só os guerreiros estão sintonizados, de maneira consistente, com tais revelações.
Os guerreiros falam do xamanismo como um pássaro mágico, misterioso, que interrompeu seu vôo por um momento para dar esperança e propósito ao homem; os guerreiros vivem sob a asa desse pássaro, que eles chamam o pássaro da sabedoria, o pássaro da liberdade.
Para um guerreiro, o espírito é abstrato só porque ele o conhece sem palavras ou mesmo pensamentos. É abstrato porque ele não pode conceber o que o espírito é. Contudo, mesmo sem a menor possibilidade ou desejo de entendê-lo, o guerreiro o maneja. Reconhece-o, acena para ele, cativa-o, familiariza-se com ele e o expressa em seus atos.
A conexão do homem comum com o intento está praticamente morta, e os guerreiros começam com uma conexão que é inútil, porque não responde voluntariamente. Com o objetivo de revitalizar essa conexão, os guerreiros precisam de um propósito rigoroso e feroz — um estado especial da mente chamado intento inflexível
O poder do homem é incalculável; a morte existe somente porque a intentamos desde o momento de nosso nascimento. O intento da morte pode ser cancelado fazendo- se o ponto de aglutinação mudar de posição.
A arte da espreita consiste em aprender todas as astúcias de seu disfarce, e aprendê-las tão bem que ninguém saberá que você está disfarçado, Para isso, você precisa ser implacável, astuto, paciente e dócil. Ser implacável não significa ser grosseiro; ser astuto não significa ser cruel; ser paciente não significa ser negligente; e ser dócil não significa ser tolo.
Os guerreiros têm um propósito ulterior para seus atos, que não tem nada a ver com o ganho pessoal. O homem comum age apenas se há a oportunidade para o lucro. Os guerreiros não agem pelo lucro, mas pelo espírito. Os xamãs videntes dos tempos antigos, através do seu ver, notaram logo que qualquer comportamento incomum produzia um tremor no ponto de aglutinação. Em seguida, descobriram que se o comportamento incomum é praticado de maneira sistemática e dirigido com sabedoria, ele finalmente força o ponto de aglutinação a se mover.
O conhecimento silencioso nada mais é do que o contato direto com o intento.
O xamanismo é uma viagem de volta. O guerreiro retorna vitorioso ao espírito, depois de ter descido ao inferno. E do inferno, ele traz troféus. O entendimento é um desses troféus.
Como são espreitadores, os guerreiros entendem perfeitamente o comportamento humano. Entendem, por exemplo, que os seres humanos são criaturas de inventário. Conhecer as entradas e saídas de um inventário determinado é o que torna um homem um erudito ou um perito em seu campo.
Para que os mistérios do xamanismo se tornem disponíveis para alguém, o espírito deve descer sobre aquele que estiver interessado. O espírito permite que sua presença, por si mesma, mova o ponto de aglutinação do homem para uma posição específica. Este ponto determinado é conhecido pelos xamãs como o lugar da não-piedade.
Na realidade não há um procedimento envolvido no fazer o ponto de aglutinação se mover para o lugar da não-piedade. O espírito toca a pessoa e seu ponto de aglutinação se move. É simples assim.
Os guerreiros sabem que, quando o inventário de um homem comum falha, ou a pessoa amplia seu inventário ou seu mundo da auto-reflexão entra em colapso. A pessoa comum é capaz de incorporar novos itens ao seu inventário desde que os novos itens não contradigam a ordem subjacente do inventário. Mas se os novos itens contradizem essa ordem, a mente da pessoa entra em colapso. Os guerreiros contam com isso quando tentam quebrar o espelho da auto-reflexão.
Os guerreiros nunca poderão construir uma ponte para se juntar às pessoas do mundo. Mas se as pessoas desejarem isso, terão de fazer uma ponte para se juntar aos guerreiros.
O que precisamos fazer é permitir que a magia tome conta de nós para banir as dúvidas de nossas mentes. Quando as dúvidas são banidas, tudo é possível.
As possibilidades do homem são tão vastas e misteriosas que os guerreiros, em vez de pensar sobre elas, escolheram explorá-las, sem esperança de jamais chegar a entendê-las.
Tudo que os guerreiros fazem é feito como conseqüência de um movimento de seus pontos de aglutinação, e tais movimentos são determinados pela quantidade de energia que os guerreiros têm sob suas ordens.
Qualquer movimento do ponto de aglutinação significa um afastamento da preocupação excessiva com o eu individual. Os xamãs acreditam que é a posição do ponto de aglutinação que torna o homem moderno um egotista homicida, um ser totalmente envolvido com sua auto-imagem. Tendo perdido a esperança de voltar à fonte de tudo, o homem comum procura consolo em seu egoísmo.
O impulso do caminho do guerreiro é para derrubar a auto-importância. E tudo o que os guerreiros fazem é no sentido de alcançar essa meta.
Os xamãs arrancaram a máscara da auto-importância e descobriram que ela é a autopiedade disfarçada em outra coisa.
No mundo da vida cotidiana, palavras e decisões podem ser revertidas facilmente. A única coisa irrevogável no mundo cotidiano é a morte. No mundo dos xamãs, por outro lado, a morte normal pode sofrer uma contra-ordem, mas não a palavra do xamã. No mundo dos xamãs, as decisões não podem ser mudadas ou revisadas. Depois de tomadas, permanecem para sempre.
Uma das coisas mais dramáticas da condição humana é a conexão macabra entre a estupidez e a auto-reflexão. É a estupidez que força o homem comum a descartar qualquer coisa que não se ajuste com as expectativas de seu auto- reflexo. Por exemplo, como homens comuns, estamos cegos para o ponto mais crucial do conhecimento disponível para o ser humano: a existência do ponto de aglutinação e o fato de que ele pode se mover.
Para o homem racional, manter a fixação de sua auto-imagem assegura sua ignorância abissal. Ele ignora o fato de que o xamanismo não significa encantamentos e embromação, mas a liberdade para perceber, não só o mundo tomado sem discussão, mas tudo o mais que é humanamente possível realizar. Ele treme diante da possibilidade da liberdade. E a liberdade está ao alcance de suas mãos.
O dilema do homem é que ele intui suas fontes ocultas, mas não ousa utilizá-las. É por isso que os guerreiros dizem que o tormento do homem é o contraponto entre sua estupidez e sua ignorância. O homem precisa agora, mais do que nunca, aprender novas idéias que digam respeito exclusivamente ao seu mundo interno— as idéias dos xamãs, não idéias sociais, idéias pertinentes ao homem em face do desconhecido, em face de sua morte pessoal. Agora, mais do que qualquer outra coisa, ele precisa aprender os segredos do ponto de aglutinação.
O espírito só escuta quando quem fala o faz por gestos. E gestos não querem dizer sinais ou movimentos do corpo, mas atos de verdadeiro abandono, atos de liberação, de humor. Como um gesto para o espírito, os guerreiros expõem o melhor de si mesmos e silenciosamente o oferecem ao abstrato.
A arte de sonhar é a capacidade de utilizar nossos sonhos comuns e transformá-los numa consciência controlada por uma forma especial de atenção chamada a atenção sonhadora.
A arte da espreita é um conjunto de procedimentos e atitudes que possibilita a um guerreiro conseguir o melhor de qualquer situação concebível.
A recomendação para os guerreiros é não possuir quaisquer coisas materiais nas quais focalizem seu poder, mas focalizá-lo no espírito, no verdadeiro vôo para o desconhecido, não em trivialidades.
Qualquer um que queira seguir a senda do guerreiro tem de se livrar da compulsão para possuir e se apegar às coisas.
Ver é um conhecimento corporal. A predominância do sentido visual em nós influencia esse conhecimento corporal e faz com que ele pareça relacionado ao olho.
Perder a forma humana é como uma espiral. Dá ao guerreiro a liberdade de lembrar-se de si mesmo como campos puros de energia e isso, por sua vez, torna-o ainda mais livre.
Um guerreiro sabe que está esperando e sabe o que está esperando, e enquanto ele espera deleita-se olhando para o mundo. A suprema realização do guerreiro é gozar a alegria do infinito.
O curso do destino de um guerreiro é inalterável. O desafio é de até onde ele pode ir e quanto ele será impecável dentro desses limites rígidos.
As ações das pessoas não afetam mais um guerreiro quando ele não tem mais expectativas de nenhuma espécie. Uma paz estranha se torna a força que governa sua vida. Ele adotou um dos conceitos da vida do guerreiro— o desapego.
O desapego não significa automaticamente sabedoria mas é, contudo, uma vantagem, porque permite ao guerreiro parar por um momento para reavaliar situações e reconsiderar posições. Entretanto, para usar esse momento extra de modo consistente e correto, o guerreiro tem de lutar incansavelmente durante toda a sua vida.
É muito mais fácil para os guerreiros se saírem bem sob condições de tensão máxima do que serem impecáveis sob condições normais.
Os seres humanos têm dois lados. O lado direito abrange tudo que o intelecto pode conceber. O lado esquerdo é uma região de características indescritíveis; uma região impossível de ser contida em palavras. O lado esquerdo é talvez compreendido, se é compreensão que tem lugar, com todo o corpo; daí sua resistência à conceituação.
Todas as faculdades, possibilidades e realizações do xamanismo, das mais simples às mais espantosas, estão no próprio corpo humano.
O poder que governa o destino de todos os seres vivos é chamado a Águia, não porque seja uma águia ou tenha alguma coisa a ver com uma águia, mas porque aparece aos olhos do vidente como uma incomensurável águia negra, em pé e ereta como as águias ficam em pé, com sua altura atingindo o infinito.
A Águia devora a consciência de todas as criaturas que, vivas na terra um momento antes e agora mortas, flutuaram até o bico da Águia como um enxame de vaga-lumes, para o encontro de seu dono, a razão pela qual tiveram vida. A Águia desmancha essas pequenas chamas, deita-as no chão, como um curtidor esticando couro, e as devora; pois a consciência é o alimento da Águia.
A Águia, esse poder que governa o destino de todas as coisas vivas, reflete igualmente e ao mesmo tempo todas essas coisas vivas. Não há, portanto, como o homem possa rezar para a Águia, pedir favores e esperar sua misericórdia. A parte humana da Águia é insignificante demais para mover o todo.
Toda coisa viva recebeu o poder, se assim o desejar, de procurar uma abertura para a liberdade e de atravessá-la. É evidente para o vidente, que vê a abertura, e para todas as criaturas, que a atravessam, que a Águia deu esse presente com o objetivo de perpetuar a consciência.
A travessia para a liberdade não significa vida eterna, como a eternidade é comumente entendida— isto é, como viver para sempre. Em vez disso, o guerreiro pode conservar sua consciência, que em geral é abandonada no momento da morte. No momento da travessia, o corpo em sua totalidade é iluminado com conhecimento. Cada célula torna-se imediatamente consciente de si mesma e também consciente da totalidade do corpo.
O presente da Águia de liberdade não é uma concessão, mas a oportunidade de ter uma oportunidade. Um guerreiro nunca está assediado. Estar assediado significa que se tem posses pessoais que podem ser bloqueadas. Um guerreiro não tem nada no mundo, exceto sua impecabilidade, e a impecabilidade não pode ser ameaçada.
(ponto de aglutinação/onde a percepção é aglutinada)
Perfeito.
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