sábado, 16 de abril de 2011

Aprofunde na percepção do "Eu Sou"

 Luzes de Nisargadatta Maharaj

Aprofunde na percepção do “Eu Sou” e você encontrará. Como se encontra algo que você ignora ou se esqueceu? Você o mantém em mente até se lembrar. A percepção de ser, do “Eu sou” é a primeira a emergir. Pergunte-se de onde ela vem ou apenas observe-a em silêncio. Quando a mente permanece no “Eu sou”, sem se mover, você entra em um estado que não pode ser verbalizado mas pode ser experienciado. Tudo o que você precisa fazer é tentar e tentar novamente.

Eu vejo o que você também poderia ver, aqui e agora, se não fosse o foco errôneo de sua atenção. Você não dá atenção ao Ser. Sua mente está sempre com coisas, pessoas e ideias, nunca com seu Eu. Traga seu Eu para o foco, torne-se consciente de sua própria existência. Veja como você funciona, observe os motivos e resultados de suas ações. Estude a prisão que você construiu ao redor de si mesmo, inadvertidamente.


Olhe para a rede [o mundo pessoal de cada um] e para suas muitas contradições. Você faz e desfaz a cada passo. Quer paz, amor, felicidade e trabalha arduamente para criar dor, ódio e guerra. Quer viver muito e se empanturra, quer amizade e explora. Veja sua rede como composta de tais contradições e remova-as – o seu próprio ver os fará ir embora.

Como você parte para achar algo? Mantendo sua mente e coração naquilo. Deve haver interesse e constante lembrança. Lembrar-se do que precisa ser lembrado é o segredo do sucesso. Você consegue isso através da seriedade de intenção.

Inicialmente, dê o primeiro passo. Todas as bênçãos vêm de dentro. Volte-se para dentro. O “Eu sou” você conhece. Fique com isto todo o tempo que puder, até que você sempre volte a isso espontaneamente. Não existe caminho mais fácil ou simples.

Somos escravos daquilo que não conhecemos; do que conhecemos, somos senhores. Quaisquer vícios ou fraquezas em nós que conhecemos, descobrimos e entendemos suas causas e seus mecanismos, nós os superamos pelo próprio saber; o inconsciente se dissolve quando trazido à consciência. A dissolução do inconsciente libera energia; a mente sente-se adequada e torna-se quieta.

Recuse todos os pensamentos, exceto um: o pensamento “Eu sou!”. A mente vai se rebelar no começo mas, com paciência e perseverança, ela vai ceder e permanecer quieta.

Esteja alerta. Questione, observe, investigue, aprenda tudo o que puder sobre a confusão, como isso opera, o que faz para você e para os outros. Ao ter clareza sobre a confusão você se liberta dela.

Eliminando os intervalos de desatenção durante as horas de vigília, você vai gradualmente eliminar o longo intervalo de inconsciência que chama de sono. Você estará consciente que está adormecido.

Nisargadatta: Desapegue-se de tudo aquilo que deixa sua mente inquieta. Renuncie a tudo o que perturba a sua paz. Se você quer paz, mereça-a.

Pergunta: De que forma eu perturbo a paz?

Nisargadatta: Ao ser um escravo de seus desejos e medos.

Pense clara e profundamente, mergulhe na estrutura de seus desejos e suas ramificações. Eles são uma das partes mais importantes na sua composição mental e emocional e afetam suas ações poderosamente.


Lembre-se, você não pode abandonar o que não conhece. Para ir além de si mesmo, você deve conhecer a si mesmo.

Você deve se observar continuamente – em particular a sua mente – de momento a momento, sem perder nada. Este testemunho é essencial para a separação do Eu e do não Eu.

Já que é a Pura Consciência que faz a consciência ser possível, existe Pura Consciência em cada estado de consciência. Portanto, a própria consciência de ser consciente já é um movimento dentro da Pura Consciência. O interesse em seu fluxo de consciência leva-o para Pura Consciência.

Quando você entende que nomes e formas são conchas vazias sem qualquer conteúdo e o que é real é sem nome e forma – é pura energia de vida e luz da consciência – você está em paz, imerso no profundo silêncio da realidade.

Por que não se voltar da experiência para o experienciador, e realizaro verdadeiro significado da única afirmação que você pode fazer: “ Eu sou” ?

Apenas mantenha em mente o sentimento “Eu sou”, absorva-se nisso, até que sua mente e sentimento tornem-se um. Tentando repetidamente você vai se deparar com o equilíbrio correto entre atenção e sentimento e sua mente estará firmemente estabelecida no pensamento-sentimento “Eu sou”.

Você pode começar com trabalho desinteressado, abandonando o fruto de suas ações; então pode desistir dos pensamentos e, finalmente, de todos os desejos. Aqui, desistir (tyaga) é o fator operacional.


Ou você pode não se importar com as coisas que quer, pensa, faz, e apenas permanecer estabelecido no pensamento e sentimento “Eu sou”, focalizando “Eu sou” firmemente em sua mente. Todo tipo de experiência pode lhe acontecer – permaneça imóvel no conhecimento de que tudo o que é perceptível é transitório e apenas o “Eu sou” permanece.

Pergunta: Quando olho para dentro de mim, encontro sensações e percepções, pensamentos e sentimentos, desejos e medos, memórias e expectativas. Estou imerso nesta nuvem e não consigo ver nada mais.


Nisargadatta: Aquele que vê tudo isso, e o nada também, é o mestre interno. Apenas ele existe; todo o resto apenas parece existir. Ele é seu próprio ser (swarupa), sua esperança e garantia de liberdade; encontre-o e agarre-se a ele e você será salvo e estará seguro.

Ver o falso como falso é meditação. Isto deve ser contínuo, o tempo todo.

Posso falar-lhe sobre mim. Eu era um homem simples, mas confiei em meu Guru. O que ele me disse para fazer, eu fiz. Ele disse que me concentrasse no “Eu sou” – assim o fiz. Ele me disse que eu estou além de tudo o que é perceptível e concebível – eu acreditei. Dei a ele meu coração e minha alma, minha completa atenção e todo meu tempo disponível (eu tinha que trabalhar para manter minha família). Como resultado da fé e esforço dedicado, eu realizei o Ser (swarupa) em três anos.

Estabeleça-se na consciência de “Eu sou”. Este é o começo e também o fim de todo o esforço.

Para saber o que você é, você deve primeiro saber e investigar o que você não é. E para saber o que você não é, você deve observar-se cuidadosamente, rejeitando tudo o que necessariamente não combina com o fato básico “Eu sou”.


Nossa atitude comum é “Eu sou isso”. Separe consistente e perseverantemente o “eu sou” do “isto” e do “aquilo”, e tente sentir o que significa ser, apenas ser, sem ser “isto” ou “aquilo”. Todos os nossos hábitos vão contra isto e a tarefa de lutar contra eles é longa e árdua às vezes, mas o entendimento esclarecido ajuda muito. Quanto mais claramente você entender que no nível da mente você pode ser descrito apenas em termos negativos, mais rapidamente chegará ao fim de sua busca e realizará seu ser ilimitado.

Permaneça com seu Ser

Pergunta: Como se alcança isto?

Nisargadatta: A ausência de desejo e de medo o levará lá.

O Supremo é o mais fácil de se alcançar pois é o seu próprio ser. É suficiente não desejar nem pensar em nada que não o Supremo.

É a falsidade que é difícil e que é fonte de problemas. Ela sempre quer, espera, exige. Sendo falsa, é vazia, sempre em busca de confirmação e reconfirmação. Tem medo da inquirição e a evita; identifica-se com qualquer apoio, por mais fraco e momentâneo que seja. O que quer que consiga, perde, e pede mais.

Nisargadatta: Mesmo que eu lhe diga que você é a testemunha, o observador silencioso, isto não significará nada para você a menos que encontre o caminho para seu próprio ser.

Pergunta: Minha pergunta é: Como encontrar o caminho para o próprio ser?

Nisargadatta: Desista de todas as perguntas, exceto “Quem sou eu?” Pois, afinal, o único fato do qual você tem certeza é que você é. O “Eu sou” é certo. O “eu sou isto” não é.

Esforce-se para encontrar o que você é na realidade.

Lembrar-se de si mesmo é virtude, esquecer de si mesmo é pecado.

O procedimento correto é aderir ao pensamento de que você é o campo de todo conhecimento, a Consciência imutável e perene de tudo o que acontece aos sentidos e à mente. A ideia “Eu sou apenas a testemunha” purificará o corpo e a mente e abrirá o olho da sabedoria. O homem vai além da ilusão e seu coração se liberta de todos os desejos.

Por sua própria natureza, o prazer é limitado e transitório. Da dor o desejo nasce, na dor ele busca realização e termina na dor da frustração e do desespero. A dor é o pano de fundo do prazer, toda busca de prazer nasce na dor e termina na dor.

Discriminar e descartar (viveka-vairagya) são absolutamente necessários. Tudo deve ser examinado cuidadosamente e o desnecessário deve ser impiedosamente destruído.

Acredite-me, não poderá haver destruição demais. Pois na realidade nada tem valor. Seja apaixonadamente desapaixonado – isto é tudo.

Quando, através da prática da discriminação e desapego (viveka-vairagya), você perder de vista os estados sensorial e mental, o puro ser emergirá como o estado natural.

Para conhecer o mundo você se esquece do Ser – para conhecer o Ser, você se esquece do mundo.

O que é o mundo, afinal? Uma coleção de memórias. Agarre-se ao que importa, segure-se no “Eu sou” e abra mão de todo o resto. Isto é sadhana.

Esteja plenamente consciente de seu próprio ser e você estará na bem-aventurança conscientemente. É porque você dirige sua mente para fora de si mesmo e fixa naquilo que você não é, que você perde seu senso de bem estar, de estar bem.

Como sabe, a personalidade é apenas um obstáculo. A autoidentificação com o corpo pode ser boa para uma criança, mas crescer verdadeiramente depende de tirar o corpo do caminho ( ir além do corpo). Normalmente, a pessoa deveria superar em relação aos desejos do corpo cedo na vida. Mesmo o Boghi, que não recusa prazeres, não precisa ansiar por aquilo que ele já experimentou. Hábito, desejo pela repetição, frustra tanto o Yogi quanto o Boghi.

Existem tantos que tomam o alvorecer pelo meio dia, uma experiência momentânea pela plena realização e destroem até mesmo o pouco que tinham conseguido, por excesso de orgulho. A humildade e o silêncio são essenciais para um sadhaka [buscador], por mais avançado que seja. Apenas um jnani [iluminado] plenamente amadurecido pode permitir-se completa espontaneidade.

Seja atento, investigue incessantemente. Isto é tudo.

Com certeza, seja egoísta – da maneira certa. Deseje estar bem, trabalhe no que é bom para você. Destrua tudo o que se coloca entre você e a felicidade. Seja tudo – ame tudo – seja feliz – faça feliz.

A memória é material – destrutível, perecível, transitória. Sobre tais frágeis fundações construímos um sentido de existência pessoal – vago, intermitente, onírico. Essa vaga persuasão: “Eu sou isto e isto” obscurece o estado imutável da Pura Consciência e nos faz acreditar que nascemos para sofrer e morrer.

A liberdade para fazer o que se quer é, na realidade, escravidão, enquanto ser livre para fazer o que deve, o que é correto, é a real liberdade.

Tudo o que você tem a fazer é ver o sonho como sonho.

Seja qual for o nome que dê a isso: vontade, firme propósito, ou mente focada, você retorna à seriedade, sinceridade, honestidade. Quando você é intensamente sério, você faz uso de cada acontecimento, cada segundo de sua vida ao seu propósito. Você não desperdiça tempo e energia em outras coisas. É totalmente dedicado, chame a isto vontade, amor ou total honestidade.

Encontre o permanente no efêmero, o único fator constante em cada experiência.

Nada pode bloqueá-lo mais que as concessões, pois elas mostram a falta de seriedade, sem a qual nada pode ser feito.

Comece desassociando-se de sua mente. Resolutamente lembre-se que você não é a mente e que os problemas dela não são seus.

Dê sua total atenção ao que é mais importante em sua vida – você mesmo. Do seu universo pessoal, você é o centro – sem conhecer o centro, o que mais você pode conhecer?

Para ir além da mente, você deve manter sua mente em perfeita ordem. Você não pode deixar uma bagunça para trás e seguir em frente. A confusão vai lhe puxar. “Recolha seu lixo” parece ser uma Lei Universal. E uma lei justa também.

Apenas lembre-se de você mesmo. “Eu sou” é suficiente para curar sua mente e levá-lo além. Apenas confie um pouco.

Se quiser conhecer sua verdadeira natureza, deve ter a si mesmo em mente todo o tempo, até que o segredo de seu ser seja revelado.

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