sexta-feira, 1 de abril de 2011

Upanishads - Mundaka

Swami Prabhavananda

OM . . .
Com nossos ouvidos, ouçamos o que é bom.
Com nossos olhos, contemplemos vossa integridade.
Tranquilos no corpo, possamos nós, que vos veneramos,
encontrar descanso.
OM . . . Paz - paz - paz.
[...]

    Como dois pássaros de plumagem dourada, inseparáveis companheiros, assim o Eu individual e o Eu imortal se empoleiram nos galhos da mesma árvore. O primeiro prova as frutas doces e amargas da árvore; o último, nada experimentando, observa calmamente.

    O Eu individual, iludido pelo esquecimento da sua identidade com o Eu divino, confundido pelo seu ego, sofre e fica triste. Porém, quando reconhece o Venerável Senhor como seu verdadeiro Eu e contempla sua glória, não sofre mais.

    Quando o que vê contempla o Fulgurante, o Senhor, o Ser Supremo, então, transcendendo tanto o bem como o mal, e libertando-se das impurezas, une-se a ele.

    O Senhor é a única vida que brilha em cada criatura. Ao vê-lo presente em tudo, o homem sábio é humilde, não se coloca à frente de nada. Seu deleite está no Eu, sua alegria está no Eu, ele serve ao Senhor em tudo. Como ele, de fato, são os verdadeiros conhecedores de Brahman.

    Esse Eu fulgurante deve ser percebido dentro do lótus do coração através da continência, da firmeza na verdade e na meditação e pela visão superconsciente. Com suas impurezas extintas, os que vêem o percebem.

    Só a verdade tem sucesso, e não a falsidade. O caminho da verdade é aberto através da verdade, o caminho que é seguido pelos sábios, libertos dos desejos, e que os leva à morada eterna da verdade.

    Brahman supremo; ele é autoluminoso, está além de todo pensamento. Ele é mais sutil, do que o mais sutil, mais veloz do que o mais veloz, mais próximo do que o mais próximo. Ele habita o lótus do coração de todos os seres.

    Os olhos não o vêem, a palavra não pode pronunciá-lo, os sentidos não podem alcançá-lo. Ele não  é alcançado nem por austeridades nem por rituais de sacrifício. Quando o coração se torna puro através da discriminação, então, na meditação, o Eu Impessoal é revelado.

    O Eu sutil dentro do corpo que vive e respira é percebido naquele estado de consciência puro onde não existe dualidade  aquele estado de consciência através do qual o coração bate e os sentidos executam  suas funções.

    Seja do céu, ou dos prazeres celestes, seja dos desejos, ou dos objetos do desejo, qualquer pensamento que surja no coração do sábio é satisfeito. Assim, que aquele que procura seu próprio bem venere e adore o sábio.

    O sábio conhece Brahman, o alicerce de tudo, o puro ser fulgurante em quem está contido o Universo. Os que veneram o sábio, e o fazem sem pensar em si, cruzam a fronteira do nascimento e da morte.

    Aquele que, meditando a respeito de objetos dos sentidos, vem a ansiar por eles, nasce aqui- e ali, vezes e vezes sem fim, levado pelo desejo. Porém aquele que percebeu o Eu, e dessa forma satisfez toda fome, alcança a liberação até mesmo nesta vida.

    O Eu não é conhecido através do estudo das escrituras, nem através das sutilezas do intelecto, nem através de muito aprendizado. Porém é conhecido por aquele que anseia por ele. A esse verdadeiramente, o Eu revela seu verdadeiro ser.

    O Eu não é conhecido pelos fracos, nem pelos descuidados, nem pelos que não meditam  corretamente. Mas pelos que meditam corretamente, pelos sérios e pelos fortes, ele é completamente conhecido.

    Após conhecerem o Eu, os sábios se enchem de felicidade. Tornam-se abençoados, tranqüilos na mente e livres de paixões. Percebendo em todos os lugares o Brahman que tudo permeia, profundamente absortos na contemplação do seu ser, penetram nele, o Eu de todos.

    Após terem verificado e percebido completamente a verdade do Vedanta,  após terem-se  estabelecido na pureza de conduta por seguirem a ioga da renúncia, esses grandes atingem a imortalidade nesta mesma vida; e, quando seus corpos os abandonam na hora da morte, atingem a liberação.

    Quando a morte surpreende o corpo, a energia vital penetra na força cósmica, os sentidos se dissolvem na sua causa e as armas e a alma individual se perdem em Brahman, o puro, o imutável, o infinito.

    Do mesmo modo como os rios correm para o mar e, ao fazerem isso, perdem o nome e a forma, assim o homem sábio, liberto do nome e da forma, alcança o Ser Supremo, o Autoluminoso, o Infinito.

    Aquele que conhece Brahman torna-se Brahman. Ninguém que ignore Brahman nasce jamais na sua família. Ele passa além de todo sofrimento. Ele supera o mal. Liberto dos grilhões da ignorância, torna-se imortal.

    Que a verdade de Brahman seja ensinada somente àqueles que obedecem à sua lei, que são dedicados a ele, e que são puros de coração. Que ela jamais seja ensinada aos impuros.

    Salve os sábios! Salve as almas iluminadas!

    Essa verdade sobre Brahman foi ensinada em tempos remotos a Shounaka por Angira. Salve os sábios!
Salve as almas iluminadas!
OM ... Paz - paz - paz.

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