quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A Natureza do Ser - S. N. Maharaj

O que posso fazer para ser mais receptivo à realidade suprema?

Não há nenhum sistema, método ou técnica pela qual aproximar-se da realidade. Ela se revela por si mesma quando todas as técnicas e sistemas falham e a futilidade da volição é percebida. Então a mente se envolve em um estado de entrega inocente. A técnica apenas faz a mente mais astuta e engenhosa. Você ainda permanece em sua rede e, embora possa ter a impressão de transformação, está de fato desempenhando os velhos jogos. É um círculo vicioso.

Liberdade, humildade e amor aparecem instantaneamente, nunca como um empreendimento. A mente, o processo de pensamento, acontece em termos de tempo e espaço. Mas a Consciência silenciosa não é condicionada ou qualificada nem por um nem pelo outro. Por esta razão a mente limitada não pode alcançar o absoluto pela expansão de si mesma. Todos os esforços apenas resultam na perpetuação do ego.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O Cântico da Iluminação

O Cântico da Iluminação, chin. Cheng-tao-ko

Você conhece aquele homem tranqüilo,
Que está andando pelo caminho, além do aprendizado,
Cujo estado é a não-ação, sem evitar a fantasia, sem procurar a verdade?
Ele sabe que a natureza real da ignorância é a própria natureza de Buddha
E que o corpo ilusório e vazio é o próprio Dharmakaya.

Quando se desperta completamente para o Dharmakaya,
Não há mais qualquer coisa.
A fonte de todas as coisas, que vem da própria natureza,
É o Buddha em seu aspecto absoluto.
Os cinco agregados vêm e vão, como meras nuvens no céu vazio;
Os três venenos aparecem e desaparecem,
Como bolhas na superfície do mar.

Quando se compreende a realidade,
Não há diferenciação entre sujeito e objeto;
O karma que levaria ao sofrimento infinito do inferno
Desaparece em um instante.
Se esta for uma mentira para enganar os seres sencientes,
Que a minha língua seja cortada por tantas eras
Quanto os inúmeros grãos de poeira.

Uma vez que a mente é desperta para o Zen do Tathagata,
As seis perfeições e as dez mil boas ações
Já estarão totalmente completas em nós.
Em nosso sonho, vemos claramente os seis reinos da ilusão;
Após despertarmos, tudo está vazio
E nem mesmo os inumeráveis universos poderão ser encontrados.

Aqui não há tristeza, nem felicidade, nem perda, nem ganho;
Nada pode ser encontrado no meio do nirvana.
É como o espelho empoeirado que nunca foi polido;
Agora é o momento de limpá-lo completamente, de uma vez por todas.

Quem tem o não-pensamento? Quem é o não-nascido?
Se nós somos verdadeiramente não-nascidos,
Também não somos não-nascidos.
Pergunte a um fantoche se não é assim.
Como poderíamos obter a própria realização
Através das ações virtuosas ou procurando o Buddha?

Libere os quatro elementos, não se apegue a coisa alguma;
Beba e coma como quiser no meio do nirvana.
Veja tudo como impermanente e completamente vazio;
Isto é a grande e perfeita iluminação do Tathagata.

domingo, 3 de agosto de 2014

EU SOU AQUILO

Do livro ‘I AM THAT’, de Shri Nisargadatta Maharaj

(Q=pergunta; NM=resposta de Nisargadatta)

“Quando se atinge a iluminação, a visão total atingida é tão clara que o indivíduo não faz mais do que rir e até, em aparência, ser irreverente, quando vê a fantástica superestrutura de superstições, ilusões e mistérios que está erigida (pelas nossas crenças e religiões, tradições, costumes e cultura, suposições e sociedade) sobre e em torno da simplicidade elementar que é a Verdade".

"Quando você está interessado na verdade, na realidade, você deve questionar todas as coisas, mesmo sua própria vida. Ao crer na necessidade de uma experiência sensorial e intelectual emocionante, você limita sua investigação à busca de satisfação e de conforto.” (E não vai à busca da Verdade).

“Enquanto houver um corpo e uma mente para proteger o corpo, existirão atrações e repulsões (devidos às limitações da mente individual em face de suas ilusões, suposições, crenças, cultura etc.). Existirão no campo dos fatos, mas não devem trazer preocupação para aquele que está compreendendo. O foco de sua atenção estará em outro lugar (além da mente). Não estará distraído”.

"Este que vê o tudo isto e também vê o nada, é o mestre interior (aquilo a que damos o nome de Deus). Só ele é; todo o restante parece ser. Ele é seu próprio ser, sua esperança e segurança de liberdade: encontre-o e una-se a ele (isto é, perceba-o), e estará a salvo e seguro” (‘... a Verdade vos libertará’).

“A Libertação não é uma aquisição, mas uma questão de coragem; coragem de aceitar que você já é livre e de agir com base nisso”.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Ser apenas... Sem Nascer ou Morrer

Pergunta: Você continua dizendo que eu nunca nasci e que nunca morrerei. Se é assim, como é que vejo o mundo como alguém que nasceu e que, certamente, morrerá.

Maharaj: Você acredita desse modo porque você nunca questionou sua crença de que você é o corpo, o qual, obviamente, nasce e morre. Enquanto vivo, atrai a atenção e o fascina tão completamente que raramente alguém percebe sua verdadeira natureza. É como ver a superfície do oceano e esquecer completamente a imensidade mais abaixo. O mundo é só a superfície da mente e a mente é infinita. O que chamamos pensamento são apenas ondulações da mente. Quando a mente está serena, reflete a realidade. Quando ela está imóvel em toda sua extensão, ela se dissolve e apenas a realidade permanece. Esta realidade é tão concreta, tão real, tão mais tangível que a mente e a matéria que, comparado com ela, mesmo o diamante é suave como manteiga. Esta impressionante realidade torna o mundo irreal, nebuloso, irrelevante.

P: Com tanto sofrimento no mundo, como pode vê-lo como irrelevante? Que frieza!

M: É você quem é insensível, não eu. Se seu mundo é tão cheio de sofrimento faça algo a respeito, não acrescente mais a ele através da ambição e da indolência. Eu não estou limitado por seu mundo ilusório. Em meu mundo, as sementes do sofrimento, do desejo e do temor não são semeadas, e o sofrimento não cresce. Meu mundo está livre dos opostos, de discrepâncias mutuamente destrutivas; prevalece a harmonia; sua paz é como uma rocha; esta paz e o silêncio são o meu corpo.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

O que é Vedanta?

Luzes de Nisargadatta Maharaj - Advaita Bodha Deepika

O Silêncio. Parar o Diálogo Interno. Não Pensar. Acabar com a Mente.

M = Mestre
D = Discípulo

M: Sábio filho, abandone a mente – o atributo limitador que origina a individualidade, assim causando a grande enfermidade de repetidos nascimentos e mortes – e realize Brahman.

D: Mestre, como se pode extinguir a mente? Não é muito difícil? Não é a mente muito vigorosa, inquieta e sempre vacilante? Como se pode renunciar à mente?

M: Abandonar a mente é muito fácil, tão fácil quanto amassar uma flor delicada, tirar um fio de cabelo da manteiga ou piscar os olhos. Não tenha dúvida. Para um buscador resoluto, senhor de si e não enfeitiçado pelos sentidos, que pelo intenso desapaixonamento se tornou indiferente aos objetos externos, não pode haver a menor dificuldade em abandonar a mente.

D: Como pode ser tão fácil?

M: A questão da dificuldade só surge quando há uma mente a ser renunciada. Verdadeiramente falando, não existe mente. Quando lhe dizem: “Aqui tem um fantasma”, a criança ignorante é levada a acreditar na existência do fantasma inexistente, ficando sujeita ao medo, ao sofrimento e aos incômodos. Da mesma forma no imaculado Brahman, ao imaginar coisas que não existem – como isto e aquilo – uma falsa entidade conhecida como mente surge como algo aparentemente real, funcionando como isto e aquilo e mostrando-se incontrolável e poderosa ao incauto; porém, para o buscador senhor de si e dotado de discernimento, conhecedor da natureza da mente, ela é fácil de ser abandonada. Só um tolo, ignorante da natureza da mente, diz que é muito difícil.

D: Qual é a natureza da mente?

M: Pensar nisto e naquilo. Na ausência de pensamento, não existe mente. Extinguindo-se os pensamentos, a mente permanecerá apenas em nome, tal como o chifre de uma lebre; desaparecerá como uma não entidade, como o filho de uma mulher estéril, o chifre de uma lebre, ou uma flor no céu. Isto também é mencionado no Yoga Vasishta.

domingo, 12 de janeiro de 2014

A Escuta - J. Klein

Requer-se esforço neste caminho? Pessoalmente, acho que tenho cada vez menos energia para fazer um esforço em qualquer direção.

Você não pode fazer um esforço sem tensão. Mas, porque você faz um esforço? Apenas porque busca um resultado, algo fora de você mesmo. Uma vez que você saiba realmente que o que busca é sua natureza real, você perde o ímpeto para o esforço. Assim, em primeiro lugar, veja como você está fazendo esforço constantemente. Assim que estiver consciente deste processo, você já estará fora dele. E isto pode surgir como uma percepção original de que você é realmente quietude.

Mas esse ‘ver’ não requer algum esforço?

Não. Esse ‘ver’ é seu estado natural. Simplesmente, seja consciente de que você não vê. Torne-se mais consciente de que você reage constantemente. Ver não requer esforço porque sua natureza é ver, é estar em silêncio. No momento em que não busca um resultado, não busca criticar, avaliar ou concluir, simplesmente limitado ao ver, então você pode perceber esta reação e não é mais cúmplice dela.

No curso da meditação, à medida que o processo de esvaziamento continua, vem este pensamento: “Isto é apenas um pensamento”. Mas o pensamento “Isto é apenas um pensamento” é um pensamento também, não é?

Absolutamente. Ver, em si, não é um pensamento, mas, no princípio, nós o conhecemos como limitado apenas à percepção de objetos. Mais tarde, surge o puro ver sem objeto. Então, há o discernimento de que você é esse puro ver e que tudo o que é visto aparece em você. Neste momento, o ver não é mais afetado pelo que vê.