segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O Cântico da Iluminação

O Cântico da Iluminação, chin. Cheng-tao-ko

Você conhece aquele homem tranqüilo,
Que está andando pelo caminho, além do aprendizado,
Cujo estado é a não-ação, sem evitar a fantasia, sem procurar a verdade?
Ele sabe que a natureza real da ignorância é a própria natureza de Buddha
E que o corpo ilusório e vazio é o próprio Dharmakaya.

Quando se desperta completamente para o Dharmakaya,
Não há mais qualquer coisa.
A fonte de todas as coisas, que vem da própria natureza,
É o Buddha em seu aspecto absoluto.
Os cinco agregados vêm e vão, como meras nuvens no céu vazio;
Os três venenos aparecem e desaparecem,
Como bolhas na superfície do mar.

Quando se compreende a realidade,
Não há diferenciação entre sujeito e objeto;
O karma que levaria ao sofrimento infinito do inferno
Desaparece em um instante.
Se esta for uma mentira para enganar os seres sencientes,
Que a minha língua seja cortada por tantas eras
Quanto os inúmeros grãos de poeira.

Uma vez que a mente é desperta para o Zen do Tathagata,
As seis perfeições e as dez mil boas ações
Já estarão totalmente completas em nós.
Em nosso sonho, vemos claramente os seis reinos da ilusão;
Após despertarmos, tudo está vazio
E nem mesmo os inumeráveis universos poderão ser encontrados.

Aqui não há tristeza, nem felicidade, nem perda, nem ganho;
Nada pode ser encontrado no meio do nirvana.
É como o espelho empoeirado que nunca foi polido;
Agora é o momento de limpá-lo completamente, de uma vez por todas.

Quem tem o não-pensamento? Quem é o não-nascido?
Se nós somos verdadeiramente não-nascidos,
Também não somos não-nascidos.
Pergunte a um fantoche se não é assim.
Como poderíamos obter a própria realização
Através das ações virtuosas ou procurando o Buddha?

Libere os quatro elementos, não se apegue a coisa alguma;
Beba e coma como quiser no meio do nirvana.
Veja tudo como impermanente e completamente vazio;
Isto é a grande e perfeita iluminação do Tathagata.


Um verdadeiro monge é totalmente convicto;
Se você não for, por favor me pergunte a respeito.
Ir diretamente à raiz de tudo isto é o próprio objetivo do selo de Buddha.
Não posso ajudar aquele que procura folhas e galhos.

As pessoas desconhecem a jóia Mani
Que está profundamente incrustada no Tathagatagarbha;
A função dos seis sentidos, que ela realiza, é vazia e não-vazia;
Dela emana a luz perfeita que tem a forma e a não-forma.

As cinco visões são purificadas e os cinco poderes são obtidos
Ao se realizar o que está além dos conceitos.
Não é difícil reconhecer imagens em um espelho,
Mas quem pode segurar o reflexo da lua na água?

Sempre indo sozinho, sempre caminhando sozinho,
O desperto anda pelo caminho livre do nirvana —
Como a antiga melodia que é clara, com a mente elevada,
A aparência desalinhada, o corpo forte e magro,
Passando desapercebido pelo mundo.

Sabemos que os filhos de Shakya
São pobres em corpo, mas não na mente do caminho.
Em sua pobreza, o corpo é vestido em trapos,
Mas sua mente do caminho tem dentro de si
A jóia que não tem preço.

Esta jóia, que não tem preço, não se gasta,
Apesar deles a usarem sem restrições para ajudar os outros,
De acordo com as suas necessidades.
Os três corpos e as quatro sabedorias estão realizadas dentro dela,
As oito liberações e os seis poderes universais estão marcados nela.

Os superiores despertam de uma vez por todas,
Os inferiores são muito instruídos, mas têm muitas dúvidas.
Remova as vestes sujas de sua mente;
Para que exibir seu esforço exterior?

Deixe que te critiquem, deixem que te ofendam;
Aqueles que tentam colocar fogo nos céus com uma tocha
Acabam apenas cansando a si mesmos.
Ouço seus escândalos como se fossem um néctar;
Tudo se dissolve instantaneamente e entro no reino que está além dos conceitos.

Por causa disso, as palavras ofensivas são bênçãos
E os difamadores são bons amigos.
Aceitando a crítica e a difamação,
Desenvolve-se o poder da compaixão do não-nascido.

Realize tanto a transmissão quanto os ensinamentos
E o brilho da lua cheia da meditação e da sabedoria
Será perfeito e desimpedido pelo vazio.
Não apenas eu realizei esta iluminação completa,
Mas todos os buddhas, incontáveis como as areias do Ganges,
Tornam-se despertos exatamente da mesma forma.

O rugir do leão do Dharma destemido
Despedaça os cérebros dos cem animais medrosos.
Mesmo o elefante perfumado foge, esquecendo sua dignidade;
Apenas o dragão celestial ouve calmamente, com silêncio e alegria.

Atravessei muitos mares e rios, vaguei por montanhas e correntezas,
Visitando mestres, buscando o caminho e penetrando nos segredos do Zen;
Mas desde que reconheci o caminho de Ts'ao-ch'i,
Conheço o que está além do nascimento e da morte.

Andar é Zen, sentar é Zen;
Falante ou silencioso, em movimento ou parado, a essência é a paz.
Mesmo ameaçada por espadas e lanças, a mente é serena;
Mesmo ameaçada por venenos, não se consegue perturbar sua calma.

Nosso mestre, Shakyamuni, encontrou o Buddha Dipankara e,
Por muitas eras, praticou como asceta Kshanti.
Indo por muitos nascimentos e mortes,
Sou sereno neste ciclo, não há fim para ele.

Já que realizei subitamente o Dharma do não-nascido,
Não tenho razão para ter felicidade na alegria e tristeza na desgraça.
Entrei nas montanhas profundas do silêncio e da beleza;
Em um vale profundo, entre altos penhascos, sento sob os velhos pinheiros;
A meditação em minha humilde cabana monástica é tranqüila e confortável.

Quando você desperta verdadeiramente,
Tudo é compreendido e nenhum esforço é mais necessário;
Você não pode encontrar esta liberdade no mundo da ação.
O mérito da generosidade apegada traz a recompensa de renascer no paraíso,
Mas isso é como atirar um flecha para o céu;
Quando a força se exaurir, ela cairá na terra e tudo dará errado.

Por que isso seria melhor do que a realidade da não-ação,
Que está acima de todos os esforços,
E que realiza instantaneamente o estágio do Tathagata?
Segure apenas a raiz e não se preocupe com os galhos;
É como a bacia de cristal que reflete a lua brilhante.

Agora, que compreendi o que é esta jóia Mani,
Utilizo-a para trazer benefícios sem fim, para mim e para todos.
A lua brilhante se reflete no rio, o vento sopra entre os pinheiros;
Onde está o distúrbio nesta longa e bela noite?

A jóia da ética da natureza de Buddha
Está incrustada na minha mente.
Meu manto é a névoa, o orvalho e as nuvens;
O pote é aquele que pacificou os dragões ferozes;
O bastão é aquele que separou os tigres briguentos
Com o som o claro que tine das argolas de metal.
Estes não são meros símbolos, relíquias da história;
São os traços distintos do bastão sagrado do Tathagata.

O desperto não procura a verdade, não corta a delusão;
Ele percebe claramente que as dualidades são vazias e sem forma,
Mas esta não-forma não é vazia nem não-vazia.
Esta é a forma verdadeira do Tathagata.

A mente é um espelho que reflete a pura luz brilhante sem obstáculos,
Que penetra em todos os mundos, incontáveis como as areias do Ganges;
Nela são refletidas todas as coisas do universo,
Brilhando como jóias perfeitas, sem interior ou exterior.

Negar o vazio é negar a condicionalidade;
Isto causa confusão e certamente traz problemas.
O mesmo é verdade sobre aquele que rejeita o ser e se apega ao não-ser,
Que salta sobre o fogo ao escapar da água.

Tentando obter a verdade ao rejeitar a delusão,
Acaba-se caindo no erro do artifício, originando um mente discriminativa.
Um discípulo que faz isto com sua prática
Confunde um ladrão com o seu próprio filho.

A perda do mérito e a destruição do tesouro do Dharma
Vem unicamente da mente dualista e discriminativa.
Por isso, os praticantes do Zen são ensinados a ter
Uma realização completa da natureza da mente,
Para que, por meio da visão sábia,
Possam realizar instantaneamente o não-nascido.

Aquele de grande energia usa a espada da sabedoria,
Cuja flamejante lâmina de diamante corta todas as coisas.
Ela não apenas destrói conhecimento inútil,
Mas também extermina o espírito dos demônios.

Ele faz soar o trovão do Dharma, ele toca o tambor do Dharma,
Ele espalha as nuvens de compaixão e faz cair a chuva de néctar;
Como um elefante ou um dragão, ele beneficia incontáveis seres;
Os três veículos conduzem os cinco tipos de seres à iluminação.

No alto dos Himalayas, cresce apenas a erva Fei-ni;
As vacas que dela se alimentam produzem um leite puro e delicioso,
E desses alimentos eu me deleito continuamente.
Uma natureza completa permeia todas as naturezas;
Um Dharma universal inclui todos os Dharmas.

Uma lua é refletida em muitas águas;
Todas as luas na água vêm da lua única.
O Dharmakaya de todos os Buddhas permeia minha própria natureza,
E minha natureza tornou-se una com o Tathagata.

Um nível contém completamente todos os níveis;
Não é forma, nem mente, nem ação.
Em um estalar de dedos, oito mil ensinamentos são realizados;
Em um momento, o mal de três éons é destruído.

Proposições da lógica não são verdadeiras
E não têm qualquer coisa em comum com minha sabedoria,
Que está além do louvor, além da censura,
Assim como o próprio espaço, que não tem limites.

Bem aqui, ela está completamente cheia e serena;
Ela é perdida ao ser procurada.

Você não pode agarrá-la, você não pode abandoná-la;
Mas, se não fizer coisa alguma, ela segue o seu próprio caminho.
Se permanecer em silêncio, ela fala;
Na fala você ouve o seu silêncio.
O grande caminho da caridade está totalmente aberto
E não há obstáculos em sua entrada.

Se alguém perguntar o que ensino e compreendo,
Respondo que é o poder da grande sabedoria.
Afirme ou negue, como quiser, ela está além da capacidade humana;
Pode andar a favor, pode andar contra —
Nem mesmo o céu não pode medi-la.

Passei em meditação por muitas éons;
Não digo isso sem fundamento, para enganá-lo.
Levantei o estandarte do Dharma e apresento o ensinamento
Do Dharma do Buddha, que encontrei com Ts'ao-ch'i.

Mahakashyapa foi o primeiro na linha de transmissão,
Vinte oito ancestrais o seguiram, no oeste;
Através dos mares e rios, até chegar à nossa terra,
Bodhidharma veio como o nosso primeiro ancestral;
Como sabemos, seu manto aqui passou por seis ancestrais,
E incontáveis pessoas realizaram o caminho.

A verdade não é necessariamente estabelecida;
O falso é basicamente vazio.
Coloque de lado tanto a existência quanto a não-existência,
E então o não-vazio é vazio.
Os vinte tipos de vazio não têm base,
E a unidade do Tathagata é naturalmente a mesma.

A mente é um dos sentidos, as coisas são seus objetos;
Esta dualidade é como a poeira sobre o espelho.
Quando a poeira é removida, o espelho começa a brilhar;
Quando tanto a mente quanto os fenômenos são esquecidos,
A natureza manifesta sua vacuidade.

Ó, esta é a era do fim do Dharma, e o mundo está cheio de males;
As pessoas são desafortunadas e acham difícil o auto-controle.
Aos longo dos séculos, desde os tempos de Shakyamuni, as visões falsas são profundas,
Os demônios são fortes, o Dharma é fraco,
O ódio está em todo lugar, os prejuízos são muitos.

As pessoas ouvem o ensinamento de Buddha sobre o despertar instantâneo;
Se eles o aceitassem, os demônios seriam esmagados facilmente,
Como cacos de uma telha quebrada.
Mas eles não o aceitam, que lamentável!

Sua mente é a fonte da ação e o corpo é o sofredor da calamidade;
Não censure ou acuse os outros por algo que só pertence a você.
Se você não quer o sofrimento contínuo,
Não fale mal da verdadeira roda do Dharma do Tathagata.

Na floresta de sândalo, não há outras árvores.
Apenas o leão vive nas florestas profundas,
Habitando livremente em um estado de paz.
Os outros animais e pássaros ficam muito longe.

Apenas os leões-bebê seguem as pegadas de seus pais na floresta,
E aos três anos já rugem muito alto.
Como podem os chacais seguir o rei do Dharma,
Mesmo com cem mil truques, os fantasmas abrem suas bocas em vão.

O ensinamento do despertar instantâneo de Buddha
Está além da imaginação humana.
Se você duvidar ou se sentir incerto,
Então você deve discutir isso comigo.
Isto não é o egoísmo de um monge da montanha.
Temo que sua prática possa ser levada
Às visões errôneas do eternalismo ou do niilismo.

O "não" não é "não", o "sim" não é "sim",
Se você esquecer desta regra por um fio,
Estará a mil milhas de distância.
Compreendendo-a, a jovem filha do dragão
Realiza instantaneamente a iluminação;
Não a compreendendo, o mais esclarecido dos sábios,
Shang, acaba renascendo no inferno.

Desde a minha juventude tenho acumulado conhecimentos,
Estudando os sutras, shastras e comentários;
Analisando infinitamente os nomes e formas, sem conhecer a fadiga;
Uma tarefa exaustiva e vã, como entrar no oceano para contar as areias.

Então, o Tathagata me escoltou bondosamente e perguntou,
"Qual o benefício de se contar o tesouro dos outros?"
Realizei totalmente a inutilidade de meus grandes esforços
E a viagem de um monge vagabundo que não chegou a lugar algum.

Se a natureza é vista erroneamente,
O método do despertar instantâneo do Tathagata não é compreendido;
Aqueles que seguem os dois veículos podem estudar seriamente,
Mas lhes falta a aspiração do bodhisattva.
Os sábios podem ser muito inteligentes,
Mas lhes falta a sabedoria.

Os estúpidos, infantis, supõem que há algo em um punho vazio
E confundem o dedo indicador com a lua.
Seus esforços são perdidos no mundo da forma e da sensação,
Como sonhadores preguiçosos e errantes.

Quando se realiza o reino da não-forma, pode-se ver o Tathagata
E ser verdadeiramente chamado Avalokiteshvara.
Quando isto é compreendido, os obstáculos do karma tornam-se vazios;
Mas quando não é, devemos compensar o preço de nossos débitos.

Os famintos são servidos com a refeição de um rei,
Mas eles se recusam a comer.
Os doentes se recusam a tomar o remédio do maior dos médicos;
Como eles poderão ser curados?
Pratique o Zen neste mundo dos desejos
E se manifestará o poder verdadeiro da visão sábia.

O lótus que desabrocha no meio do fogo
Nunca poderá ser destruído.
Yung-shing quebrou os preceitos mais graves
Mas ele realizou o não-nascido;
A realização que ele alcançou naquele momento
Vive com nós agora, em nosso tempo.

O Dharma destemido é proclamado tão alto quanto o rugir do leão.
É lamentável que as mentes sejam confusas, inflexivelmente endurecidas como couro;
Sabem apenas que a quebra dos preceitos cria obstáculos à iluminação,
Mas não conseguem realizar o profundo segredo do ensinamento do Tathagata.

Certa vez, dois monges quebraram graves preceitos,
Um por assassinato, outro por carnalidade.
Seu líder, Upali, tinha a luz de um vaga-lume;
Ele apenas aumentou a culpa deles.
Vimalakirti desfez instantaneamente as dúvidas de ambos,
Como o brilho quente do sol que derrete o gelo e a neve.

O poder impressionante da liberação está além dos conceitos,
E faz maravilhas inumeráveis como as areias do Ganges.
Para o desperto, os quatro tipos de oferendas são feitas facilmente;
Dez mil pedaços são desembolsados sem criar dívidas.

Mesmo que você corte todo o corpo e reduza os ossos a pó,
Isto ainda não é o bastante para recompensar
Tudo o que ele fez por nós;
Uma única palavra dele vale por cem mil eras de prática.

O rei do Dharma merece o nosso respeito mais elevado.
Os Tathagatas, inumeráveis como as areias do Ganges,
Testemunham este atingimento.
Agora sei o que a jóia Mani é,
E sei que aqueles que compreendem isto estão em harmonia com ela.

Quando vemos verdadeiramente, não há mais nada;
Não há mais pessoa, não há mais Buddha.
Os inumeráveis universos são apenas bolhas no mar;
Todos os santos e sábios são como clarões de relâmpago.

Mesmo que anéis de ferro quente girem ao redor de minha cabeça,
O brilho perfeito da meditação e da sabedoria não se altera.
O poder dos demônios pode fazer o sol se tornar frio e a lua quente,
Mas nunca poderá destruir uma palavra da verdade.

A carruagem do elefante se move sobre a montanha,
Como os insetos poderiam bloquear a estrada?
O grande elefante não perde seu tempo sobre as pegadas do coelho.
A grande iluminação está além do poder dos conceitos limitados do intelecto.

Não tente medir o céu
Olhando através de um pequeno canudo de bambu.
Se você ainda não teve a compreensão,
Este meu cântico está preparado para você.


Você não conhece a felicidade do homem do caminho, que foi além do aprendizado, cujo estado é não-ação,
Que nem suprime os pensamentos nem busca a verdade?
Para ele, a realidade da ignorância é a natureza búddhica,
O vazio ilusório é o Dharmakaya.

Quando se desperta para o Dharmakaya, não há objetos.
A essência de todas as coisas vem da própria natureza — Buddha;
Os cinco agregados — meras nuvens flutuando sem meta, vindo e indo;
Os três venenos — bolhas que aparecem e desaparecem.

Quando a realidade é atingida, não há ego nem objeto
E, dentro desse instante, o karma do sofrimento eterno é varrido.
Se houver uma mentira para enganar os seres vivos,
Por eras inumeráveis quanto a poeira, possa minha língua ser arrancada.

Uma vez que a mente tenha despertado para o Zen do Tathagata,
As seis perfeições também serão totalmente perfeitas, assim como os dez mil meios hábeis.
Nos sonhos, os seis reinos são vívidos;
Quando se despertar, nem mesmo um universo de universos poderá ser encontrado.

Não há pecados e não há perda ou ganho,
Nada pode ser encontrado no meio do nirvana.
É como um espelho cuja poeira nunca foi polida.
Agora é o momento para tudo isto ser abertamente decidido.

Quem pode ser sem pensamento?
E quem é sem nascimento?
Então o não-nascido é real, assim é o não não-nascido.
Pergunte a um fantoche de madeira quando ele atingirá o estado búddhico praticando o autocultivo.

Libere os quatro elementos, não se apegue a coisa alguma!
E no meio do nirvana você pode comer e beber!
Vendo que todas as coisas não são duradouras e são vazias,
Atinge-se o nível da iluminação perfeita dos Tathagatas.

Um monge verdadeiro é completamente decidido;
Se você não estiver convencido, pergunte-me questões francas.
Estar de acordo com o selo do Buddha — vá para a raiz!
Não tenho como ajudar aqueles que procuram por galhos...

A pérola mani não é conhecida pelos homens,
Ela permanece no tesouro do Tathagata e
A função sêxtupla está além do "é" e "não é";
Dela vem a luz perfeita — não tem forma e, entretanto, não é sem forma.

Para purificar os cinco tipos de visão e obter os cinco poderes,
Deve-se realizar pessoalmente aquilo que está além do conceito.
É fácil reconhecer as imagens em um espelho,
Mas como se pode agarrar a luz da água?

Alguém assim sempre anda sozinho, pois está sempre sozinho.
Todo perfeito viaja no mesmo caminho do nirvana.
Seguindo a tradição, sua energia é clara, seu espírito elevado,
Sua aparência desgrenhada e seu corpo duro — quem o perceberá?

Os filhos do Buddha são sempre pobres.
A pobreza é do corpo, não da mente do caminho.
Seu corpo está envolto em trapos,
Mas sua mente do caminho possui a jóia sem preço.

Esta jóia rara é usada sem restrições
Para ajudar os outros ou responder acessões, conforme requeridas.
Os três corpos e as quatro sabedorias estão perfeitos dentro dela,
Os seis poderes e as oito maneiras de liberação por realizações estão impressas nela.

Os homens superiores são despertos para um e despertos para todos.
Os homens de habilidade inferior aprendem algo e são céticos quanto ao resto.
Destrua suas vestes sujas!
Como se pode ser orgulhoso quanto aos externos?

Deixe-se ser criticado e abusado,
Aqueles que acendem tochas para queimar o céu apenas cansam a si mesmos!
Ouço-os e isto é néctar.
Sou, então, capaz de entrar instantaneamente no reino além do conceito.

Por causa disto, as palavras ofensivas são uma bênção
E aquele que fala é meu bom amigo.
Sem a mente aceitar a difamação e o abuso,
Como se poderia manifestar a compaixão do não-nascido?

Penetre tanto a transmissão quanto os ensinamentos
E a concentração e a sabedoria serão aperfeiçoadas e desimpedidas pelo vazio.
Não estou vazio ao chegar nisto;
Esta é a realização de todos os Buddhas, em número tão grande quanto as areias do Ganges.

Fale sem medo — o rugido do leão,
De cujo som todas as feras tremem de medo.
Até mesmo os elefantes fragrantes deixam seus calmos passeios e perdem sua dignidade.
Apenas o dragão celestial ouve em silêncio e alegria calma.

Cruzei muitos rios e montanhas
Buscando por mestres para me instruir nos segredos do Zen,
Mas então conheci o caminho de Ts'ao Ch'i Hui-Neng
E não estou mais preocupado com o nascimento e a morte.

Não se desvie do "andar é Zen, sentar é Zen",
Essencialmente à vontade, seja falando ou permanecendo quieto, movendo-se ou permanecendo parado.
É sereno até mesmo quando recebido com armas afiadas
E não se preocupa com venenos.

Nosso mestre apenas se encontrou com o Buddha Dipamkara Buddha depois de muitos éons,
Disciplinando-se como "alguém que sofre em um estado de paciência".
Indo através de tantas repetições de nascimento e morte,
Infinitamente ocorrendo novamente...

Desde o meu despertar espontâneo para a lei do não-nascimento,
Perdi a tristeza da desgraça e a alegria do sucesso.
Permaneço em uma cabana na montanha, debaixo do pico elevado dos pinheiros.
Sento-me quietamente e sem preocupações nesta morada de monge e, com um coração leve, desfruto da calma.

Quando você desperta, isso é tudo — nenhum esforço é necessário.
Não há qualquer coisa comum entre "isto" e o caminho do mundo.
A caridade dada com apego gera a recompensa no céu, mas isto ainda é como atirar uma flecha no céu;
Quando a força se esgota, a flecha cai; coisas desagradáveis se seguem.

Compare isto com a realidade não-ativa
Sobre todas as coisas,
Que permite a entrada instantânea
No estágio do Tathagata.

Segure a raiz e não se preocupe com os galhos; é como um lago de cristal refletindo a lua brilhante.
Agora, percebendo o que é a pérola mani, você deve usá-la para beneficiar a si mesmo e aos outros, sem cessar.
A lua refletida no rio, a brisa nos pinheiros,
Onde está a perturbação nesta noite quieta?

A jóia dos preceitos que está dentro da natureza búddhica estampa-se no solo da mente
E as próprias vestes são, agora, a névoa, o orvalho e as nuvens;
A própria tigela do tipo que subjuga dragões;
O próprio bastão do tipo que separa tigres pelo som claro de suas fileiras gêmeas de argolas de metal.

Estes não são meros símbolos, relíquias da história,
Mas os traços distintos do bastão sagrado do Tathagata.

Não procure o real nem despreze o falso,
Ambos são dualidades, fundamentalmente vazias.
Aquilo que não é não-vazio nem vazio, mas sim "não não-vazio",
É a forma genuína do Tathagata.

A mente é um espelho que reflete a pura luz brilhante sem obstrução
Conforme penetra nos mundos inumeráveis como as areias do Ganges.
Nela, a diversidade dos universos aparece
Brilhando como jóias perfeitas, nem dentro nem fora.

Não agarre o vazio, não rejeite a lei do karma;
Isto causa confusão e certamente traz problemas.
O mesmo é verdade quanto ao erro do rejeitar o "é" e de agarrar "o que não é"
Isto é como pular no fogo para escapar do afogamento.

Quando você tenta obter o verdadeiro rejeitando o falso,
Comete o erro do artifício e faz surgir a mente discriminadora.
Se um discípulo não fizer isto com seu treinamento,
Ele confundirá um ladrão com seu próprio filho.

A perda do mérito e a destruição da riqueza do Dharma
Vem unicamente da mente relativa e discriminatória,
Por causa disso, os seguidores do Zen são ensinados a olhar diretamente para isto,
De modo que possam realizar instantaneamente o não-nascimento e a sabedoria de Buddha.

Um homem de grande energia usa a espada da sabedoria,
Cuja lâmina-vajra flamejante corta tudo.
Destrói não apenas a atitude heterodoxa,
Mas também se livra dos males espirituais.

Ele rola o trovão do Dharma e toca o tambor do Dharma,
Elevando nuvens de compaixão do qual cai néctar.
Dragões e elefantes vêem para abençoar incontáveis seres
E os três veículos carregam os cinco tipos de seres.

O leite das vacas é puro e nutritivo, degusto a manteiga refinada que é feita dela.
A natureza única permeia todas as outras, o Dharma único desdobra todos os outros Dharmas,
A lua única é refletida por todas as águas, o Dharma de todos os Buddhas permeia minha natureza;
Estou unido com os Tathagatas.

Quando este estágio é atingido, então assim são todos os outros.
Não é forma, nem mente, nem ato;
E as oitenta mil portas do Dharma são aperfeiçoadas em um estalar de dedos;
Em um momento, três eras incontáveis são varridas.

As proposições e a lógica não são isto e nada têm em comum com minha sabedoria transcendente
Porque ela está além tanto do louvor quanto da censura
E sua substância é sem limites.
Porém, está sempre presente quando retemos a sinceridade; apenas quando procurada ela se vai.

Não pode ser agarrada, nem deixada,
Mas, se não fizer nem um nem dois,
Ele vai pelo seu próprio caminho.
Se permanecer quieto, ela falará — fale e ela ficará quieta.

Seu portão caridoso está completamente aberto.
Se me perguntarem sobre qual ensinamento entendo, chamo-o de poder da grande sabedoria
E nenhum homem pode dizer que estou errado ou certo,
Nem mesmo os deuses não podem concordar!

Passei muitos longos éons em autocultivo
E não falo levemente para enganar.
Elevei o estandarte do Dharma e proclamei o ensinamento de nossa escola.
Isto é o mesmo que o Buddha comandou Hui-Neng Ts'ao Ch'i a proclamar.

Mahakashyapa foi o primeiro na linha de transmissão,
Vinte e oito ancestrais seguiram-no, movendo cada vez mais para o leste.
O Dharma alcança o reino do meio, onde Bodhidharma foi novamente o primeiro ancestral,
Onde seis gerações herdaram seu manto e incontáveis pessoas realizaram o caminho deste famoso.

Não estabeleça o real e o falso nunca será formado.
Quando existência e não-existência são varridos, não há mais não-vazio.
Primeiro, não havia as vinte formas de vacuidade
Porque a natureza única do Tathagata abarca todas elas.

A mente é um órgão sensorial, as coisas são seus objetos.
Esta dualidade é como poeira sobre o espelho.
Limpe a poeira e o espelho resplandece brilhantemente.
A mente e o objeto desaparecem quando a própria natureza é entendida.

Alas! É a era do fim do Dharma e o mundo está cheio de males;
Os seres são mal afortunados e a disciplina é difícil.
O sábio há muito tempo se foi e as visões pervertidas são profundas.
Os demônios maléficos crescem enquanto o Dharma enfraquece, o ódio está em todos os lugares.

Mas, quando ouvem do ensinamento do despertar instantâneo do Dharma do Tathagata,
Arrependem-se de não terem esmagado-o como telhas quebradas.
Quando a mente age,
O corpo sofre males;

Não culpe ou acuse os outros por isto.
Se quiser evitar o karma do sofrimento contínuo,
Não fale mal
Da roda do Dharma correto do Tathagata.

Outras árvores não crescem em uma floresta de sândalo
E entre as florestas densas, apenas os leões vivem.
Sozinhos e à vontade em seus próprios lugares quietos e familiares,
Dos quais todos os outros pássaros e feras fugiram.

Apenas as crias do leão seguem nestas pegadas
E, quando alcançam a idade de três anos, também rugem.
Como podem os chacais esperar seguir o rei do Dharma?
Sempre, depois de cem anos, eles abrem suas bocas em vão!

O ensinamento da perfeição instantânea está além da imaginação do mundo.
Quando uma única dúvida é deixada, ela deve ser resolvida.
Digo isto não porque me apego ao "eu" e "outro";
Ao invés disso, temo que sua prática cairá na armadilha da "permanência" ou "impermanência".

Certo não é certo, nem errado é errado;
O menor que se distanciar, irá se distanciar por mil milhas.
A donzela dragão que acreditava atingiu instantaneamente o estágio de Buddha
O erudito Shang Using, que não acreditava, renasceu no inferno.

Em minha juventude, reuni muito conhecimento, procurando os sutras, shastras e comentários;
Infinitamente analisei nomes e formas, uma tarefa tão vã quanto contar as áreas no fundo do oceano.
Fui severamente aconselhado pelo Buddha, que perguntou, "De que adianta contar os tesouros das outras pessoas?"
Então, realizei totalmente a futilidade de meus maiores esforços e da viagem sem meta que fiz.

Devido às naturezas perversas e visões errôneas,
O método da perfeição instantânea do Tathagata não é entendido.
Aqueles do Hinayana esforçam-se o bastante mas não têm o caminho.
Os sábios têm inteligência mas não sabedoria.

Em sua ignorância e entendimento superficial,
Confundem o dedo da mão vazia que aponta com a lua.
Seus esforços não são como sonhos preguiçosos
No mundo do sentido e objeto.
Quando se encontra o reino das não-formas, pode-ser ver o Tathagata
E apenas então pode-se verdadeiramente ser chamado "Aquele que Considera os Clamores do Mundo".
Uma vez que isto seja entendido, as máculas do karma tornam-se vazias;
Quando não há esse entendimento, o preço total do karma é tomado.

É como um homem faminto recusando comer uma festa real,
Ou um doente recusando um remédio enviado pelo grande médico; como poderiam ser curados?
Enquanto no mundo dos desejos, a prática Zen é a mais efetiva —
Como um lótus que podem desabrochar no meio do fogo.

Yung-shih quebrou as graves proibições,
Porém despertou para o não-criado
E então atingiu o estado búddhico
Há muitas eras atrás.

Ensine a doutrina do não-medo tão alto quanto o rugido do leão;
Tenha piedade daqueles com mentes confusas, perversas, inflexíveis.
São apenas capazes de entender que quebrar preceitos importantes causa obstruções à sabedoria
E são incapazes de realizar o segredo profundo do Tathagata.

Certa vez, dois monges quebraram preceitos graves, um matando, o outro por carnalidade.
Ambos confessaram a Upali, mas seu próprio insight era apenas um brilho feeble e apenas piorou a questão pelo exagero.
Portanto, o Mahasattva Vimalakirti varreu as dúvidas da fidelidade
E tanto o pesar quanto a dúvida dissolveram-se como gelo sob o sol quente.

Este poder de emancipação está além do pensamento
E faz maravilhas tão inumeráveis quanto as areias do Ganges.
Para ele, a oferenda das quatro necessidades é dada facilmente.
De fato, retorna para eles dez mil pedaços de ouro sem causar um débito.

Nosso corpo e ossos podem ser reduzidos a pó,
E ainda assim não poderíamos recompensar o suficiente por estas palavras
Que nos permitem ultrapassar
Centenas de milhares de eras.

Este é o rei dos Dharmas, insuperável!
Os Tathagatas, além de todo número, testemunharem este atingimento.
Agora expliquei corretamente a pérola mani e
Aqueles que entendem isto estão agora em harmonia com ela.

Para aquele que vê claramente, não há uma única coisa a ser vista,
Não há um homem aqui, nem um Buddha lá.
O universo dos universos é apenas uma bolha no mar,
Todos os santos e sábios são apenas relâmpagos.

Mesmo que a roda de ferro quente girasse sobre minha cabeça,
O brilho perfeito da meditação e da sabedoria é inalterado.
O sol poderia ficar frio e a luz quente pelos poderes dos demônios,
Mas não podem alterar uma única palavra desta ensinamento confiável.

Quando a carruagem grandiosa é puxada por elefantes sobre a colina,
Como poderia um louva-deus esperar parar seu progresso?
Como os grandes elefantes podem andar nas pegadas dos coelhos,
O grande despertar vai além do poder do intelecto.

Não tente medir o céu
Com um pequeno pedado de reed como bastão de medida;
Se não tiver este insight,
Esta minha canção é para resolver o assunto para você.


Você já viu aquele do caminho?
Além da ação e além do aprendizado, está à vontade,
Não se esforçando contra a delusão nem agarrando a verdade.
Vê a natureza da ignorância como sendo a consciência essencial,
E a ilusão do próprio corpo como o reino da realidade.
Realizando completamente o reino da realidade como sendo sem objeto,
Encontra a fonte de todas as coisas
E nossa própria natureza como sendo a consciência desperta.
Os cinco agregados surgem e decaem como nuvens sem meta,
As três orientações distorcidas vêm e vão como bolhas na água
Realizando a talidade, nem o eu nem as coisas existem;
Em um momento, causa e efeito são liberados.
Se qualquer coisa que eu disse for falsa,
Possa minha língua ser puxada para fora por incontáveis éons.
Em um único momento de despertar direta
Ao Zen da realidade como uma presença contínua,
As seis perfeições e os incontáveis meios hábeis estão completos.
Os seis reinos da existência são um sonho;
Ao despertar, em nenhum lugar são encontrados.
Nenhum erro, nenhuma felicidade, nenhuma perda, nenhum ganho;
Você não encontrará estes na natureza real.
Tendo deixado de tirar a poeira do espelho,
Seu brilho é visto completamente visto.
Quem é que pensa em não-pensar e não-existência?
O não-nascido é realizado dentro do nascido.
Um fantoche de madeira pode atingir o estado búddhico praticante o não-pensar?
Sem agarrar os quatro elementos deste corpo, beba e coma alinhado com a natureza real.
As aparências são vazias, tudo é impermanente;
Esta é a visão completa daqueles que foram para a talidade.
Como um monge verdadeiro, falo a verdade.
Se você não concorda comigo, vamos discutir,
Mas lembre-se que o caminho da consciência desperta
Tem como meta raiz e não está enroscada nos galhos e folhas.
A jóia que realiza desejos não é reconhecida pelos seres,
Mas aqui ela está, dentro da matriz da realidade, como uma presença contínua.
O funcionamento dos seis sentidos nem "é" nem "não é"
E vem da luminosidade nem "com forma" nem "sem forma".
Esclarecer os cinco tipos de visão traz os cinco poderes.
Quando você experiencia a verdade, você está sem especulação.
Você pode ver seu reflexo em um espelho,
Mas você pode agarrar a lua refletida na água?
Sempre andamos sozinhos, mas aqueles que atingiram tudo
Trilham o mesmo caminho da liberação.
Seguindo este antigo caminho, tenha um coração leve.
Parecendo selvagem, ossos endurecidos, ninguém o perceberá.
A pobreza de um filho do Buddha é óbvia, mas esta pobreza não inclui o seu Zen.
Os mantos remendados mostram a pobreza,
Mas a mente do Zen está além de todo valor.
Esta jóia sem preço pode ser usada sem hesitação
Ao cuidar dos seres e amadurecer os potenciais.
As três facetas da experiência e as quatro sabedoria estão completas neste tesouro;
As seis percepções sutis e as oito liberação são marcas deste selo.
Os estudantes excelentes vão direto à vontade.
Os fracos e pobres são hesitantes em revelar e abandonar seus véus sujos
E são orgulhosos de seu esforço externo.
Se as pessoas discutirem com você e o difamarem, deixe-os;
Estão brincando com fogo, tentando queimar o céu.
Quando os ouço, suas palavras são gotas de néctar
E me mostram que este momento é livre de conceitos.
Palavras abusivas são bênçãos disfarçadas,
E aqueles que abusam de mim, bons professores.
Esta mente não tem espaço para difamação e abuso e é,
Em si mesma, compaixão e paciência não-nascidas.
Penetre tanto a transmissão quanto os ensinamentos,
Pratique a harmonia e o insight radical com brilho,
Não-obscurecido por noções de vacuidade.
Não estou sozinho neste atingimento que os buddhas,
Inumeráveis como grãos de areia, mostraram.
Falarei livremente o rugido do leão da realidade que coloca medo no coração das feras.
Enquanto o elefante foge, esquecendo seu orgulho, o dragão celestial ouve silencioso e alegre.
No passado, cruzei montanhas e rios, procurando por mestres e ensinamentos do Zen.
Agora, conheço o caminho de Ts'ao-ch'i e minha realização está além do nascimento e da morte.
Não perca seu Zen, esteja andando ou sentado;
Esteja à vontade na fala ou em silêncio, movendo-se ou parado,
Esteja calmo até mesmo quando encarar uma espada e sua claridade nunca será envenenada.
Nosso professor Shakyamuni encontrou seu professor Dipamkara
Apenas depois de praticar a paciência durante incontáveis éons
O nascimento e a morte seguem-se um ao outro, incessantemente.
Desperte diretamente para a realidade não-nascida
E esteja livre da alegria da fama e da tristeza da perda.
Permaneça em eremitérios nas montanhas e vales entre os pinheiros.
Pratique alegremente em cabanas vagas, viva livre da complexidade.
Compreenda que a realidade e suas ações são sem esforço,
Diferente das ações da pessoa comum.
A caridade dada dentro de condições por uma recompensa celestial
É como atirar flechas no céu; quando sua força é gasta, a flecha cai,
Assim como os seres vão para cima, então para baixo.
O reino da ação sem condições não é assim;
É um salto direto para o reino daqueles que foram para a talidade.
Vá para a raiz, deixando os galhos, como a lua brilhante refletida em um cristal.
Entenda que a jóia da liberação e a use para beneficiar a si mesmo e a todos os outros.
A lua surge sobre o rio, o vento se move nos pinheiros,
Tudo durante a noite, pureza, calma; o que esta calma significa?
Veja vividamente os preceitos da consciência essencial e o selo do solo da mente.
Orvalho, nevoeiro, nuvens e neblina são os verdadeiros mantos de nossos corpos.
A tigela do monge que subjuga dragões,
O bastão que acalmou os tigres briguentos com o som de seus anéis pendurados
Não são apenas relíquias de alguma velha fábula,
Mas símbolos dos preciosos ensinamentos do Tathagata.
Não procure a verdade ou evite a delusão;
Ambos são completamente vazios, sem forma.
Nem vazio, nem sem forma, este é o corpo do Buddha.
O espelho luminoso do conhecimento reflete tudo o que é mostrado,
Seu brilho vasto permeia inumeráveis mundos.
Tudo o que há, as dez mil experiências,
Surgem como esta luminosidade além do "com" e do "sem".
Não agarre a "vacuidade" e ignore a causa e efeito; essa confusão precipitada leva apenas ao sofrimento.
Rejeitar a verdade e o agarramento às entidade também é um erro,
É como pular em um fogo para evitar o afogamento.
Rejeitar a delusão e agarrar a verdade ajusta-se perfeitamente à mente do gostar e desgostar.
Os estudantes que praticam deste modo são como se estivessem
Confundindo um ladrão com seu próprio filho.
Ignorar o tesouro da realidade e perder o mérito para despertar a si e aos outros
É devido à oitava, sétima e sexta consciências.
Com insight direto nestes, pratique o Zen e realize o não-nascido com a irradiação inteligente.
Seja forte e use a espada do insight; sua lâmina é afiada e brilhante com o vajra,
Corta a confusão e o orgulho dos seres brilhantes e demônios.
Rufa o trovão da realidade, bata o tambor dos ensinamentos,
Espalhe as nuvens da compaixão e solte a chuva de néctar.
Dragões e elefantes surgem para beneficiar incontáveis seres
E conduzem os cinco tipo de estudantes através dos três aspectos dos ensinamentos.
O leite dos Himalayas é puro e rico, faz o ghee que gosto
Uma natureza permeia todas as naturezas, uma coisa segura todas as coisas.
Uma lua é refletida em todas as águas, todos estes reflexos são uma lua.
O reino da realidade de todos os buddhas é minha própria natureza,
Minha própria natureza são todos os Tathagatas.
Um estágio de prática contém todos os estágios, sem forma, sem pensamento ou ação.
Em um estalar de dedos, oitenta mil portas são abertas e três grandes éons desaparecem em um instante.
Nomes e categorias, e estar sem elas, nada têm a ver com o conhecimento perfeito.
É sem louvor ou culpa, é sem limites, como o espaço.
Está em qualquer lugar onde você esteja, está livre da luta e da busca, não pode ser segurado ou solto.
Abandone a busca, está aqui, seu silêncio fala, sua fala é silenciosa, sua grande generosidade abre bem a porta.
Se me perguntar que doutrina ensino, direi a você, é a vasta consciência.
Ninguém pode concordar ou discordar disto e até mesmo os seres brilhantes podem apenas especular.
Tendo praticando isto por muitos anos, não tenho escolha, a não ser dizer a verdade.
Levante o estandarte dos ensinamentos, proclame os ensinamentos da linhagem —
Esse era o comando de Buddha a Ts'ao-ch'i.
Nos registros indianos, Mahakashyapa foi o primeiro a receber a transmitir
A lamparina e então através de vinte e oito ancestrais.
Através do primeiro ancestral, Bodhidharma, os ensinamentos da realidade
Vieram do leste para o reino do meio,
Através de seis ancestrais que receberam o manto e então a incontáveis que realizaram o caminho.
A verdade não se coloca sozinha, o falso não existe sozinho.
Quando desaparecem as idéias de ser e não-ser, tudo é vazio.
Os ensinamentos sobre as vinte vacuidades têm a meta de desembaraçá-lo
Todos são a exibição deste corpo único do Tathagata.
A mente surge com as experiências como seus objetos, sujeito e objeto são poeira sobre um espelho.
Livre da poeira, o espelho brilha; a natureza real é conhecida quando a mente e as coisas não surgem.
Nesta era do fim e deste mundo triste, os seres que sofrem resistem à verdade.
O tempo do Buddha há muito se foi e a confusão é profunda,
A delusão é forte, a prática é fraca, o medo e o ódio aumentam.
Ouvindo o caminho direto do Tathagata, algum se arrependem, não sendo capazes de o esmagar a pedaços.
O agarramento faz surgir o sofrimento, não culpe os outros pelas suas próprias ações.
Se você não quer viver no sofrimento, não difame os ensinamentos do Tathagata.
Apenas o sândalo cresce com o sândalo, os leões descansam em florestas escuras,
 vagam sozinhos e à vontade onde pássaros e outros animais não são encontrados,.
Os filhotes de leão seguem os mais velhos e até mesmo um de três anos pode dar um rugido.
Uma raposa, mesmo se seguir o rio dos ensinamentos, ainda pode apenas uivar em vão.
O ensinamento direto e radical está além do sentimento, não há espaço para dúvida ou hesitação.
Este monge não diz isto para criar divisões; é apenas que você deveria saber
Sobre a armadilha da permanência e o seu oposto.
O certo não é certo, o errado não é errado; mas uma polegada de desvio leva a mil milhas para fora.
Uma garota do povo dragão, que não se desviou da fonte,
Uma vez realizou o Buddha, enquanto Sunakshatra renasceu nos infernos.
Em minha juventude, acumulei conhecimento, lendo os discursos e comentários.
Caí no nome e forma, o que faz tanto sentido quanto tentar contar as areias no fundo do oceano.
O Buddha estava falando sobre mim quando disse, "Que ganho há em contar o tesouro dos outros?"
Percebi quantos muitos anos me desviei e vaguei perdido.
Devido às inclinações tortuosas e visões errôneas, a perfeição direta do Tathagata é mal entendida.
Os homens do caminho estreito praticam sem compaixão,
Os eruditos mundanos têm conhecimento mas não sabedoria.
Tolos, com interpretações errôneas, perdem o dedo da mão vazia que aponta.
Confundindo o dedo com a lua, sua prática é confusa e fabricam complexidade com os sentidos e objetos.
Quando nenhuma coisa é vista, este é o reino da realidade
Como presença contínua e se é verdadeiramente o vidente soberano.
Entenda a verdade e todos as máculas condicionais não são encontrados em lugar algum;
Não conhecendo a verdadeira vacuidade, você se preocupa com débitos e créditos.
Isto é como um homem esfomeado rejeitando uma festa para um rei,
Ou alguém doente recusando a prescrição do médico.
Pratique o Zen neste mundo dos desejos assim como um lótus florescendo no meio das chamas.
Até mesmo Pradhanasura, apesar de ter quebrado os preceitos graves,
Despertou para o não-nascido e atingiu sua realização do Buddha.
Tendo ouvido o rugido do leão, o ensinamento destemido,
O que será daqueles que ondulam obstinadamente?
Quebrando seus preceitos, perdendo sua sabedoria, ignoram a porta aberta pelo Tathagata.
Certa vez, dois monges — um dos quais tinha cometido má conduta sexual, o outro tinha matado —
Foram condenados pela sabedoria bruxuleante de Upali.
O Grande ser Vimalakirti apagou suas dúvidas como o sol derretendo o gelo e a neve.
O poder inconcebível para liberar os seres tem atividades inumeráveis como as areias do Ganges.
Fazendo os quatro tipos de oferendas, até mesmo mil pedaços de ouro não seriam suficientes;
Reduzir os ossos e o corpo a poeira não poderia recompensar
As palavras que asseguram um salto sobre éons inumeráveis.
Esta é a suprema realidade soberana, a experiência de incontáveis Tathagatas.
Entendendo o que é esta jóia precisa da mente, agora a transmito a quem quer que a receba.
Vendo claramente, não há uma única coisa, nem homem, nem Buddha.
Os mundos do universo são como espuma sobre o mar, homens sábios aparecem como relâmpagos.
Até mesmo com uma roda de ferro quente queimando sobre a própria cabeça,
A grande prática realizada não será afetada.
Até mesmo se os demônios pudesse esfriar o sol e esquentar a lua,
Não poderiam obstruir a verdade destas palavras.
Quando uma carruagem puxada a elefante se move,
Poderia um louva-deus bloquear a sua passagem?
Os elefantes não podem se ajustar nos rastros de um coelho,
A iluminação não pode ser circunscrita.
Não abuse do absoluto com visões estreita;
Se não estiver claro, esta canção dá a chave."

Yung-chia Hsüan-chüeh (Yoka Genkaku), 665-713


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