tag:blogger.com,1999:blog-82788721472610403942024-02-08T19:28:17.519+00:00UniversosUniversos - A atenção como fuga às ilusões.Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.comBlogger124125tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-64572524034739054152016-10-10T22:49:00.000+01:002016-10-10T22:49:05.617+01:00Conhece a verdade e liberta-te num momento<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12.8000001907349px; line-height: 16.2239990234375px;">"Assim o homem, depois de procurar em vão os vários deuses fora de si próprio, completa o ciclo e volta ao ponto do qual iniciou sua busca - a alma humana. E descobre que aquele Deus procurado sobre montes e vales, que buscava encontrar em cada livro, em cada templo, nas igrejas e nos céus, aquele Deus que ele imaginava sentado no paraíso, a governar o mundo, era seu próprio Eu. Eu sou Ele, e Ele é Eu. Só Eu era Deus e o pequeno "eu" jamais existiu.</span><br style="font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12.8000001907349px; line-height: 16.2239990234375px;" /><br style="font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12.8000001907349px; line-height: 16.2239990234375px;" /><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12.8000001907349px; line-height: 16.2239990234375px;">Entretanto, como pode iludir-se esse perfeito Deus? Nunca o foi. Como poderia um Deus perfeito estar sonhando? Nunca sonhou. A verdade jamais sonha. A própria indagação de onde surgiu essa ilusão é absurda. A ilusão surge apenas da ilusão. Não haverá ilusão desde que a verdade seja vista. A ilusão sempre repousa na ilusão, jamais repousa em Deus, na Verdade, no Atman. Jamais estais em ilusão, é a ilusão que está em vós, diante de vós. Uma nuvem aqui está. Outra vem, expulsa a primeira e toma o seu lugar. Vem uma terceira, que por sua vez expulsa essa. Assim como diante do céu eternamente azul nuvens de várias tonalidades e colorações surgem, permanecem por um pequeno espaço de tempo, e desaparecem, deixando o mesmo e eterno azul, vós sois, eternamente, puros, perfeitos.</span><br style="font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12.8000001907349px; line-height: 16.2239990234375px;" /><br style="font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12.8000001907349px; line-height: 16.2239990234375px;" /><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12.8000001907349px; line-height: 16.2239990234375px;">Sois os verdadeiros Deuses do universo. Não, não há dois, só há um. É um engano dizer "vós" e "eu". Sou eu quem está comendo através de milhões de bocas. Portanto, como posso ter fome? Sou eu quem trabalha através de um número infinito de mãos. Como posso estar inativo? Sou eu quem vive a vida de todo o universo. Onde está a morte para mim? Eu estou acolá da vida, acolá de toda a morte. Onde procurarei a liberdade, se sou livre por minha natureza? Quem pode constranger-me, a mim, o Deus do universo? As escrituras do mundo não passam de pequenos mapas, desejando delinear a minha glória, pois sou a única existência do universo. Então, que representam esses livros para mim? Assim fala o advaitista.</span><br style="font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12.8000001907349px; line-height: 16.2239990234375px;" /><br style="font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12.8000001907349px; line-height: 16.2239990234375px;" /><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12.8000001907349px; line-height: 16.2239990234375px;">"Conhece a verdade e liberta-te num momento." Toda a treva desaparecerá, então. Quando o homem se tiver visto como um com o Ser infinito do universo, quando toda a separação cessar, quando todos os homens e mulheres, todos os deuses e anjos, todos os animais e plantas, e todo o universo, se tiverem desvanecido nessa Unidade, então o medo desaparecerá. Posso magoar-me? Posso matar-me? Posso injuriar-me? A quem posso temer? Podeis temer a vós mesmos? Então, todo o desgosto desaparecerá. Quem me pode causar desgosto? Eu sou a Existência única do universo. Então, todos os ciúmes desaparecerão. De quem terei ciúmes? De mim próprio? Então, todos os maus sentimentos desaparecerão. Contra quem terei maus sentimentos? Contra mim mesmo? Não há ninguém no universo a não ser eu.</span><br style="font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12.8000001907349px; line-height: 16.2239990234375px;" /><br style="font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12.8000001907349px; line-height: 16.2239990234375px;" /><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12.8000001907349px; line-height: 16.2239990234375px;">Esse é o único caminho, dizem os vedantistas, para o conhecimento. Matai as diferenciações, matai essa superstição de que existem muitos. "O que está neste mundo de muitos, vê aquele Único. O que está nesta massa de inconsciência, vê aquele único Ser consciente. Quem está neste mundo de sombras, aprende aquela Realidade - e nela está a paz eterna e em ninguém mais, em ninguém mais"."</span><br style="font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12.8000001907349px; line-height: 16.2239990234375px;" /><span style="font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12.8000001907349px; line-height: 16.2239990234375px;"><br /></span><span style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12.8000001907349px; line-height: 16.2239990234375px;">(Swami Vivekananda)</span></div>
Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-83229341639989126612016-10-05T09:27:00.001+01:002016-10-05T09:27:10.329+01:00Universos2: O tempo e o sofrimento - Krishnamurti<a href="http://dim-dim-universos2.blogspot.pt/2013/10/o-tempo-e-o-sofrimento-krishnamurti.html#links">Universos2: O tempo e o sofrimento - Krishnamurti</a>Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-67439938655286745722016-06-04T20:02:00.000+01:002019-06-23T19:21:27.983+01:00<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on"><div>Meditação ...</div><div><br />
</div>"Vamos agora investigar o que é a morte - eu, pelo menos, o vou investigar, expor; mas vós só compreendereis a morte, só podereis com ela viver completamente, conhecer-lhe a profundeza, o significado pleno, quando não tiverdes medo e, por conseguinte, nenhuma ilusão. Estar livre do medo é estar vivendo completamente no presente, e isso significa que não se está funcionando mecanicamente no hábito da memória. De modo geral, estamos interessados na reencarnação, ou em saber se continuaremos a viver após a morte do corpo - e tudo isso é muito fútil. Já compreendemos a futilidade desse desejo de continuidade? Percebemos que é, cinicamente, o "processo" do pensar, a máquina do pensamento, que exige continuidade? Uma vez tenhais percebido esse fato, compreendereis a extrema superficialidade, a estupidez de tal exigência. O "eu" subsiste após a morte? Que importa isso? E que é esse "eu" que desejais continue existente? Vossos prazeres e sonhos, vossas esperanças, desesperos e alegrias, vossas posses e o nome de que sois portador, vosso insignificante caráter e o conhecimento que adquiristes em vossa vida angustiada, estreita, conhecimento que foi acrescentado pelos professores, pelos literatos, pelos artistas. E isso que desejais subsista, só isso.<br />
<div><br />
</div><div>Ora, quer sejais velho, quer moço, tendes de acabar com tudo isso - extirpá-lo radicalmente, "cirurgicamente", à maneira do operador com seu bisturi. A mente se torna então sem ilusão e sem medo; por conseguinte, é capaz de observar e de compreender o que é a morte. O medo existe por causa do nosso desejo de conservar o "conhecido". O "conhecido" é o passado vivente no presente e a modificar o futuro. Assim é nossa vida, dia após dia, ano após ano, até morrermos; e como pode essa mente compreender aquilo que não tem "tempo", que não tem "motivo", que é totalmente desconhecido? </div><div><br />
</div><div>Compreendeis? A vida é o desconhecido, e vós tendes ideias a respeito dela. Evitais encarar a morte, ou tratais de racionalizá-la, dizendo-a inevitável; ou tendes uma crença que vos dá consolo, esperança. Mas, só a mente amadurecida, a mente sem medo, sem ilusão, e sem essa estúpida busca de "auto-expressão" e de continuidade - só essa mente pode observar e descobrir o que é a morte, já que sabe viver no presente.<br />
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</div>Prestai atenção a isto, por favor: Viver no presente é viver sem desespero, porque não há apego ao passado, nem esperança para o futuro; por conseguinte, a mente diz: "O hoje me basta". Ela não foge ao passado, nem fecha os olhos ao futuro, porém compreendeu a totalidade da consciência, que não é só individual, mas também coletiva, e, por conseguinte, não existe nenhum "eu" separado da multidão. Com a compreensão total de si própria, compreendeu a mente tanto o "particular" como o "universal"; por conseguinte, rejeitou a ambição, o preconceito, o prestígio social. Tudo isso desapareceu da mente que está vivendo toda no presente e, por conseguinte, morrendo, a cada minuto do dia, para tudo o que se torna conhecido. Vereis, então, se tiverdes chegado até ai, que a morte e a vida são uma só coisa. Estais vivendo totalmente no presente, completamente atento, sem escolha, sem esforço. A mente está sempre vazia, e desse vazio vós olhais, observais, compreendeis, e, por conseguinte, viver é morrer. O que tem continuidade nunca pode ser criador. Só o que finda pode saber o que é criar. Quando a vida é também morte, existe a Verdade, há criação; porque a morte é o desconhecido, como o são a Verdade e o Amor."</div><div><br />
</div><div>(Krishnamurti)<br />
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<a href="https://www.facebook.com/groups/UmSemSegundo/">https://www.facebook.com/groups/UmSemSegundo/</a></div></div>Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-80735896533163625592016-05-29T16:55:00.000+01:002016-05-29T16:58:13.257+01:00Liberdade<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<b>O Amor</b><br />
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“Podeis sentir o amor com todas as suas benções, seu perfume, sua delicadeza, mas só se “vós” deixardes de existir, só se “vós” deixardes de querer alcançar ou de querer tornar-vos alguma coisa. Só esse amor pode transformar o mundo.“</div>
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Liberdade</div>
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“Liberdade significa não condenar nada do que vedes em vós mesmo. Em geral o condenamos, ou o explicamos, justificamos. Nunca olhamos sem justificação ou condenação. Por conseguinte, a primeira coisa que cumpre fazer — e esta é talvez a última coisa — é observar sem nenhuma espécie de condenação. Isso vai ser muito difícil, porque é nossa cultura, nossa tradição, comparar, justificar ou condenar o que somos. Dizemos “isto é certo e isso é errado; isto é verdadeiro e isto é falso, isto é belo,, etc.”, e isso nos impede de observar o que realmente somos.</div>
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Escutai: O que vós sois é uma coisa viva, e quando condenais o que vedes em vós mesmos, o estais condenando com uma memória morta, que é o passado. Há, por conseguinte, uma contradição entre o viver e o passado. Para se compreender o viver, o passado deve desaparecer; então, pode-se olhar. É isso o que estais fazendo agora, enquanto falamos; não ireis refletir em casa sobre o assunto, porque no momento em que começardes a fazê-lo estareis liquidado. Não estamos aqui para fazer terapia em grupo e tampouco confissões em público; isso seria infantil. O que vamos fazer é uma exploração de nós mesmos, como cientistas, sem dependermos de pessoa alguma. Se dependeis, seja de vosso analista ou vosso sacerdote, seja de vossa memória ou experiência, estais perdido, porque tudo isso é o passado. E se estais olhando o presente com os olhos do passado, jamais descobrireis o que é a coisa viva." </div>
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Da Perceção Vem a Energia </div>
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"A questão é certamente libertar a mente de forma total para que ela se encontre num estado de atenção que não tem limites, que não tem fronteiras. E como pode a mente descobrir esse estado? Como pode ela chegar a essa liberdade? </div>
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Espero que estejam a colocar esta questão a vós mesmos com toda a seriedade, porque eu não a estou a colocar a vós. Não estou a tentar influenciar-vos; estou tão-somente a salientar a importância de nos colocarmos a nós mesmos esta questão. O facto de outra pessoa colocar a questão por palavras não tem qualquer significado se vocês não a colocarem a vós mesmos com insistência, com urgência. A margem de liberdade está a tornar-se mais estreita a cada dia, como devem saber se forem minimamente observadores. </div>
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Os políticos, os líderes, os padres, os jornais e os livros que vocês leem, o conhecimento que adquirem, as crenças a que se agarram — tudo isto está a tornar a margem de liberdade cada vez mais estreita. Se vocês estiverem atentos a este processo que está a ter lugar, se perceberem verdadeiramente a estreiteza da mentalidade, a crescente servidão da mente, então descobrirão que da perceção vem a energia; e é esta energia que nasce da perceção que irá dissolver a mente mesquinha, a mente que vai ao templo, a mente que é receosa. Portanto, a perceção é a via da verdade."<br />
<a name='more'></a></div>
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Meditação </div>
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"Não há dúvida de que a liberdade tem de começar no indivíduo que é um processo total, sem antagonismo com a mesma. O indivíduo é um processo total do mundo e, se ele se isola no nacionalismo ou na retidão, então ele causa desgraça e miséria. Se o indivíduo, contudo, que é um processo total que não se opõe à massa, mas que resulta dela, do conjunto — se o indivíduo se transforma, se ele transforma sua vida, então, para ele, há liberdade. E, como ele é o produto de um processo total, ao libertar-se do nacionalismo, da ambição, da exploração, ele age diretamente sobre o todo. A regeneração do indivíduo não se acha no futuro, mas no agora e, se adiarem a regeneração para amanhã, estarão atraindo a confusão, estarão presos na onda das trevas. A regeneração é agora, e não amanhã, pois a compreensão só se dá no presente. Não compreendem agora porque não põem todo seu coração e mente, toda sua atenção naquilo que desejam compreender. Se puserem o coração e a mente para compreender, compreenderão." </div>
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A Perceção Imediata</div>
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“Para mim existe apenas perceção — que significa ver algo como falso ou verdadeiro de forma imediata. Esta perceção imediata do que é falso e do que é verdadeiro é o fator essencial — não o intelecto, com o seu raciocínio baseado na sua esperteza, nos seus conhecimentos, nos seus compromissos. Já vos deve ter acontecido algumas vezes verem a verdade de algo de forma imediata — tal como a verdade de que não podem pertencer ao que quer que seja. Isso é a perceção: ver a verdade de uma coisa de forma imediata, sem análise, sem raciocínio, sem nenhuma daquelas coisas que o intelecto cria com o intuito de adiar a perceção. É algo inteiramente diferente da intuição, que é uma palavra que nós usamos com loquacidade e de modo fácil... </div>
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Para mim, existe somente esta perceção direta — não o raciocínio, não o cálculo, não a análise. Vocês têm de ter a capacidade de analisar; têm de ter uma mente boa e esperta para poderem raciocinar; mas uma mente que está limitada ao raciocínio e à análise é incapaz de perceber o que é a verdade... <br />
Se vocês entrarem em comunhão com vós mesmos, saberão por que pertencem, por que se comprometeram; e se forem mais fundo, verão a servidão, a redução da liberdade, a falta de dignidade humana que esse compromisso requer. Quando vocês percebem tudo isto de forma instantânea, ficam livres; não é necessário fazerem um esforço para serem livres. É por essa razão que a perceção é essencial."</div>
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Pensar sem o Pensador </div>
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"O macaco que está na árvore sente fome, e então surge a necessidade de procurar um fruto ou uma noz. Primeiro vem a ação, e depois a ideia de que teria sido melhor se a tivessem armazenado. Noutras palavras, o que surge primeiro: a ação ou o agente? Haverá um agente se não houver uma ação? Compreendem? É isto que estamos sempre a perguntar a nós próprios: quem é aquele que vê? Quem é o observador? Estará o pensador separado dos seus pensamentos, o observador separado do observado, o experimentador separado da experiência, o agente separado da ação?... Mas se vocês examinarem verdadeiramente o processo, com muito cuidado, de perto e com inteligência, verão que a ação surge sempre em primeiro lugar, e que a ação com um fim em vista cria o agente. Estão a seguir-me? Se a ação tiver um fim em vista, a obtenção desse fim faz surgir o agente. Se pensarem com muita clareza e sem preconceito, sem se conformarem, sem estarem a tentar convencer alguém, sem um fim em vista, nesse mesmo pensar não existe pensador — existe apenas o pensar. É somente quando vocês têm uma finalidade no vosso pensar que vocês se tornam importantes, e não o pensamento. Talvez alguns de vocês já tenham observado isto. E, de facto, algo que é importante descobrir, porque a partir disso nós saberemos como agir. Se o pensador surge primeiro, então ele é mais importante que o pensamento, e todas as filosofias, costumes e atividades da nossa civilização se baseiam nesta suposição, mas se o pensamento surgir primeiro, então ele é mais importante que o pensador.”</div>
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O Pensador É o Pensamento </div>
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“Será que é necessário compreender o pensador, o agente, o executor, se o seu pensamento, o seu feito, a sua ação não podem ser separados dele? O pensador é o pensamento, o agente é o feito, o executor é a ação. O pensador revela-se no seu pensamento. O pensador, através das suas ações, cria o seu próprio sofrimento, a sua ignorância, a sua luta. O pintor pinta este quadro de felicidade passageira, de tristeza, de confusão. Por que produz ele este quadro doloroso? Por certo é este o problema que tem de ser estudado, compreendido e dissolvido. Por que pensa o pensador os seus pensamentos, a partir dos quais fluem todas as suas ações? É este o muro de pedra contra o qual vocês têm estado a bater com a vossa cabeça, não é verdade'? Se o pensador se conseguir transcender a si mesmo, então cessarão todos os conflitos: e, para se transcender, ele tem de se conhecer a si mesmo. O que é conhecido e compreendido, o que é realizado e completado não se repete. É a repetição que dá continuidade ao pensador."</div>
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Perceção</div>
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"Uma mente que está a aprender nunca diz «eu sei», porque o conhecimento é sempre parcial, ao passo que a aprendizagem é sempre completa. Aprender não significa começar com uma certa quantidade de conhecimento que depois vai sendo cada vez mais aumentada. Isto não é, de todo, aprender; trata-se simplesmente de um processo mecanicista. Para mim, aprender é algo completamente diferente. Aprendo sobre mim mesmo de momento a momento, e este «mim mesmo» é extraordinariamente vital; está vivo, em movimento; não tem um princípio nem um fim. Quando digo: «Conheço-me a mim mesmo», isso significa que a aprendizagem terminou e o que está a ter lugar é o conhecimento acumulativo. A aprendizagem nunca é acumulativa; é um movimento de saber sem princípio nem fim."</div>
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O Instante da Compreensão </div>
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"Não sei se já repararam que há compreensão quando a mente está muito tranquila, mesmo que seja apenas por um segundo; há o instante da compreensão quando não existe a verbalização do pensamento. Experimentem-no e verão por vós mesmos que têm o instante da compreensão, essa extraordinária rapidez da perceção imediata e profunda, quando a mente está muito tranquila, quando o pensamento se encontra ausente, quando a mente não está sobrecarregada com o seu próprio barulho. Portanto, a compreensão seja do que for — de uma pintura moderna, de uma criança, da vossa mulher, do vosso vizinho, ou a compreensão da verdade, que está em todas as coisas — só pode ter lugar quando a mente está muito serena. Mas essa serenidade não pode ser cultivada, porque se vocês cultivarem uma mente serena, ela não será uma mente serena, mas uma mente morta. </div>
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Quanto mais vocês estiverem interessados em algo, maior será a vossa intenção de compreender, mais simples, clara e livre estará a mente. Então a verbalização cessa. Afinal, o pensamento é palavra, e é a palavra que interfere. É o véu das palavras, que é memória, que entrevem entre o desafio e a resposta. É a palavra que está a responder ao desafio, ao qual chamamos inteleção. Portanto, a mente que está a tagarelar, que está a verbalizar, não pode compreender a verdade — a verdade na relação, não uma verdade abstrata. Não existe nenhuma verdade abstrata. Mas a verdade é muito subtil... <br />
Como um ladrão na noite, ela vem secretamente, não quando estamos preparados para a receber."</div>
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O Intelecto Sem Proteções </div>
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"Vocês só se podem conhecer a vós mesmos quando baixam a vossa guarda, quando não estão a calcular, a proteger, constantemente atentos a uma oportunidade de conduzir, de transformar, de subjugar, de controlar; quando vocês se veem a vós mesmos de forma inesperada, ou seja, quando a mente não tem preconceções cm relação a si própria, quando a mente está aberta, quando não se esteve a preparar para encontrar o desconhecido. </div>
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Se a vossa mente estiver preparada, certamente não poderão conhecer o desconhecido, porque vocês são o desconhecido. Se disserem a vós mesmos: «Sou Deus» ou «Não sou mais que uma massa de influências sociais ou um feixe de qualidades» — se vocês tiverem qualquer preconceção sobre vós mesmos, não poderão compreender o desconhecido, aquilo que é espontâneo. </div>
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Portanto, a espontaneidade só pode surgir quando o intelecto baixa a sua guarda, quando não se está a proteger, quando deixa de temer pela sua segurança; e isto só pode acontecer a partir de dentro. Isto é. o espontâneo tem de ser o que é novo, desconhecido, incalculável, criativo, aquilo que tem de ser expresso, amado. onde a vontade enquanto processo do intelecto, a controlar, a conduzir, não toma parte. Observem os vossos próprios estados emocionais e verão que os momentos de grande alegria, de grande êxtase, não são premeditados; eles acontecem, misteriosa, secreta e inesperadamente."</div>
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Não Sei </div>
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"Se conseguirmos realmente chegar a esse estado de dizer: «Não sei», isso indica um extraordinário sentido de humildade; não há nenhuma arrogância de conhecimento; nenhuma resposta de afirmação de si mesmo com o intuito de impressionar os outros. Quando vocês poderem realmente dizer: «Não sei», o que muito poucos conseguem, então, nesse estado, todo o medo desaparece, porque todo o reconhecimento, toda a busca na memória, chegou ao fim; deixa de haver a investigação no campo do conhecido. Então surge esse algo que é extraordinário. Se estiveram a seguir o que eu disse até aqui, não apenas ao nível verbal, mas se estiverem de facto a experimentar o que estou a dizer, vão descobrir que quando são capazes de dizer: «Não sei» todo o condicionamento chegou ao fim. E qual é então o estado da mente?... </div>
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Nós procuramos algo permanente — permanente no sentido do tempo, algo que perdure, eterno. Constatamos que tudo em nosso redor é transitório, num fluxo, nascer, florescer e morrer, e a nossa busca é sempre por descobrir algo que possa perdurar no campo do conhecido. Mas aquilo que é verdadeiramente sagrado está para além da medida do tempo; não pode ser encontrado dentro do campo do conhecido. O conhecido atua apenas através do pensamento, que é a resposta da memória ao desafio. Se eu for capaz de observar isso e quiser descobrir como posso terminar o processo do pensamento, como posso faze-lo? Certamente deverei, por meio do autoconhecimento, estar atento a todo o processo do meu pensamento. Devo ser capaz de ver que cada pensamento, por mais subtil ou elevado, ignóbil ou estúpido, tem as suas raízes no conhecido, na memória. Se eu for capaz de ver isso com muita clareza, então a mente, quando confrontada com um imenso problema, é capaz de dizer: «Não sei», porque ela não tem qualquer resposta."</div>
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Fragmentação e Unidade</div>
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"Um dos mais importantes problemas ainda por resolver é o de estabelecer uma unidade completa, algo que esteja além do fragmentário e egocêntrico interesse no “eu”, em qualquer nível que seja — social, econômico ou religioso. O “eu” e o “não eu”, o “nós” e “eles” são os fatores da divisão.</div>
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Há possibilidade de alguma vez ultrapassar-se a atividade do interesse egocêntrico? Se uma coisa é “possível”, temos grande abundância de energia; o que desperdiça energia é o sentimento de não ser ela possível e, em consequência, ficarmos vogando ao sabor da corrente — como acontece com a maioria de nós — e caindo de armadilha em armadilha. Como é possível ultrapassar a atividade do interesse egocêntrico — reconhecendo-se que há no ente humano uma grande porção da agressividade e da violência do animal, uma grande porção de sua atividade irracional e daninha; e reconhecendo o quanto o ente humano está emaranhado em crenças, dogmas e teorias “separatistas” e que, quando se revolta contra um dado sistema ou ordem estabelecida, vai cair noutro? </div>
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Assim, vendo-se a situação humana tal como é, que cumpre fazer? Essa, a meu ver, é a pergunta que todo ente humano sensível, alertado e cônscio de tudo o que está sucedendo em redor de si, não pode deixar de fazer. Não se trata de uma questão intelectual ou hipotética, mas de uma questão proveniente da realidade do viver. Nem de algo que só se apresenta por uns poucos e raros momentos, mas, sim, de uma coisa que persiste em todo o correr do dia e da noite, através dos anos, e assim continuará até que estejamos vivendo uma vida completamente harmoniosa, sem conflito dentro de nós mesmos nem com o mundo.”</div>
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Meditação</div>
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“O atemporal só pode ter existência, quando cessa a memória, que é o “eu” e o “meu”. Se percebeis a verdade aí contida — isto é, que através do tempo não se pode compreender ou captar o atemporal — podemos então entrar no problema da memória. A memória de coisas técnicas é essencial; mas a memória psicológica, a que mantém o “eu” e o “meu”, a que dá indentificação e continuidade pessoal, essa é de todo em todo prejudicial à vida e à realidade. Assim que percebemos a verdade aí contida, desfaz-se o falso e por conseguinte não há mais conservação psicológica da experiência de ontem.”</div>
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Meditação</div>
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“Pergunta: Como pode um homem que nunca alcançou os limites da sua mente, transcender a sua mente para experimentar a comunhão direta com a verdade?</div>
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Krishnamurti: Senhor, quando conheceis os limites da vossa mente, já não ultrapassastes estes limites? Perceber os limites é, sem dúvida, o primeiro passo, o primeiro processo – o qual é dificílimo, uma vez que os limites da mente são extraordinariamente sutis. No saber que sou limitado, no estar cônscio disso sem condenação, já estou libertado dessa limitação, não achais? Sem dúvida, se sei que sou mentiroso, se estou cônscio desse fato sem condenação, isso já é estar livre do mentir. Conhecer os limites da mente é já uma prodigiosa libertação, não achais? O perceber que estou amarrado a uma crença, já me faz livre dessa limitação; mas a mente que justifica essa crença, essa prisão, defendendo-a e dizendo: “Ela me convém, necessito dela” – essa mente nunca conhecerá a sua limitação. Quando sei que estou atado, limitado por uma crença, e estou cônscio dessa limitação, sem condená-la, nem justificá-la, isso é já uma libertação da crença. Senhor, experimentai-o, e vereis como é extraordinariamente ativo esse percebimento, como é extraordinariamente verdadeiro o que estou dizendo. Ter conhecimento de um problema; estar cônscio dele, significa estar livre dele; e uma mente não pode experimentar a verdade se não conhece a sua limitação. Eis a razão por que tanto importa termos o autoconhecimento. O autoconhecimento não é um alvo derradeiro, não é um fim último. Autoconhecimento significa conhecer a nossa limitação de momento a momento. A verdade que é contínua não é verdade, porque o que é continuo nunca pode renovar-se; mas no findar há renovação. Assim, uma mente que não percebe a sua própria limitação, nunca pode experimentar a verdade; mas se a mente está cônscia, de sua limitação, sem condenação, sem justificação, se está simplesmente cônscia de sua limitação, vereis como vem uma libertação da limitação; e nessa liberdade revela-se-nos a verdade. “Vós” deveis cessar, para que a verdade se manifeste, porque “vós” sois a limitação. Deveis, pois, compreender onde está a vossa limitação, a extensão de vossa limitação; deveis ficar passivamente cônscio dela, e nessa passividade a verdade se manifesta. A luz não pode unificar-se com a treva. O que é ignorância não pode unir-se com a sabedoria. Cesse a ignorância que a sabedoria surgirá. A sabedoria não é um fim último, mas surge na existência quando a ignorância é dissolvida momento por momento. A sabedoria não é acumulação, que dá continuidade; a sabedoria é compreensão do problema, compreensão completa, em cada minuto, em cada segundo. Assim, a sabedoria, a realidade, não pode ser colhida na rede do tempo. Só com o autoconhecimento podem as limitações criadas pelo “eu”' ter um fim; e estas limitações só podem ser compreendias de momento em momento, à medida que surgem. E cada limitação, quando a observais, traz a verdade; a cada instante percebemos o falso e percebemos o verdadeiro. Mas perceber o falso como falso; e o verdadeiro como verdadeiro, é dificílimo; requer muita clareza de percebimento. Uma mente distraída nunca pode perceber o falso como falso e o verdadeiro corno verdadeiro; e para ver o verdadeiro no falso é necessário agilidade da mente, uma mente que não esteja presa por vínculo algum, por limitação alguma.” </div>
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É a Verdade que liberta, e não a nossa luta por sermos livres.</div>
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“O próprio fato de estarmos cônscios do que “é”, representa a Verdade. É a Verdade que liberta, e não a nossa luta por sermos livres. Assim, pois, não está longe de nós, a Realidade, mas nós a distanciamos, porque nos servimos dela como de um meio para a nossa própria continuidade. A Realidade está, presente aqui, neste momento, imediatamente ao nosso alcance. O eterno, o atemporal existe agora, e não pode o agora ser compreendido por aquele que está preso na rede do tempo.</div>
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Será que a mente é capaz de ver a sua própria limitação? E poderá a própria percepção dessa limitação trazer consigo o findar dessa limitação? Será a mente capaz, não de perguntar como esvaziar a mente, mas de ver totalmente o conteúdo que constitui a consciência e de perceber, de escutar, todo o movimento dessa consciência, de tal modo que a própria percepção dele é o findar desse movimento? Vejo alguma coisa que é falsa; a própria percepção da falsidade é já o verdadeiro. A própria percepção de que estou a dizer uma mentira é a verdade.Religião é, certamente, a descoberta da realidade. Religião não é crença. Religião não é a busca da verdade. A busca da verdade é meramente o preenchimento da crença. Religião é a compreensão do pensador, pois o que o pensador é, ele cria. Sem compreender o processo do pensador e o pensamento, meramente ficar preso num dogma não é certamente a descoberta da beleza da vida, da existência, da verdade.”</div>
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Meditação</div>
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“Krishnamurti: O verdadeiro fator de condicionamento, no passado, no presente e no futuro, é o "eu", que pensa em função do tempo; o "eu" que se esforça, em sua necessidade de libertar-se; assim, a raiz de todo condicionamento é o pensamento, o "eu". O "eu" é a essência mesma do passado, o "eu" é tempo, o "eu" é sofrimento; o "eu" se esforça por libertar-se de si próprio, esforça-se e luta para alcançar, rejeitar, "vir a ser". Essa luta por "vir a ser" é tempo, e nela há confusão e avidez de mais e de melhor. Busca o "eu" a segurança e, não a encontrando, transfere para o Céu o objeto de sua busca; esse mesmo "eu" que, na esperança de perder sua identidade, se identifica com algo maior do que ele - a nação, o ideal ou um Deus - esse mesmo "eu" é o fator de condicionamento.</div>
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Interrogante: Tomastes-me tudo. Que sou eu sem este "eu"?</div>
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Krishnamurti: Se não há "eu", estais descondicionado, quer dizer, sois "nada".</div>
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Interrogante: Pode o "eu" terminar sem esforço do próprio "eu"?</div>
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Krishnamurti: O esforço por tornar-se alguma coisa é a reação, a ação do condicionamento.</div>
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Interrogante: Como pode deter-se a ação do "eu"?</div>
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Krishnamurti: Só poderá deter-se se o virdes em atividade. Se o virdes em ação, ou seja no estado de relação, esse ver será o fim do "eu". Esse ver, não só é uma ação não condicionada, mas também atua no condicionamento.</div>
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Interrogante: Quereis dizer que o cérebro, que é o resultado de uma imensa evolução, com seu infinito condicionamento, pode libertar-se?</div>
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Krishnamurti: O cérebro é resultado do tempo; ele está condicionado para proteger-se fisicamente, mas quando tenta proteger-se psicologicamente, começa então o "eu", e surgem as aflições. Esse esforço para proteger-se psicologicamente é a confirmação do "eu". Tecnologicamente, o cérebro pode aprender, adquirir conhecimentos, mas, quando, psicologicamente, ele adquire saber, esse saber se impõe, nas relações, como "eu", com suas experiências, sua vontade, sua violência. É esse "eu" que introduz, nas relações, a divisão, o conflito e o sofrimento." </div>
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A Luz que não se apaga: <a href="https://www.facebook.com/l.php?u=https%3A%2F%2Fkrishnamurtibox.files.wordpress.com%2F2015%2F09%2Fa-luz-que-nc3a3o-se-apaga-krishnamurti1.pdf&h=YAQFC7thd&enc=AZPHobXSY0RWfVSPBRmOkwLKAY0NftRyDzOlVuvGhd6N8V97v7CX9LfUgtvOCqZnASs_ZSEstwQAoWly375Mq--lKmFkWAa8onU6hBodPAGNpib17SYwAvFLD-nQK3bR2g-Tlx7Uz-dJG0R4_4OyxOJH0qwRaBxTZrjFKTZTCw9Zz68SlPFZAiS0DyEFdjWrQfM&s=1">krishnamurtibox.files.wordpress.com</a> KRISHNAMURTIBOX.FILES.WORDPRESS.COM Meditação</div>
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“Assim, é muito importante compreender o que é morrer. Morrer para tudo o que se conhece. Já tentastes isso alguma vez? </div>
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Libertarmo-nos do conhecido, estarmos libertos da nossa memória, mesmo só por alguns dias: libertarmo-nos do nosso prazer, sem argumentos, sem medo algum; morrer para o que é «nosso», (aquilo com que nos identificamos) - a «nossa» família, a «nossa» casa, o «nosso» nome; tornarmo-nos completamente anónimos. Só quem é completamente anónimo, não tem violência alguma. Assim, é preciso morrer todos os dias, não como uma ideia, mas realmente. Temos colecionado muitas coisas, não só livros, casas, a conta bancária, mas também interiormente: as lembranças dos insultos, dos elogios, as memórias das nossas experiências particulares, das nossas actividades neuróticas para obter sucesso e que nos oferecem uma posição. Morrer para tudo isso naturalmente, sem medo algum, abandoná-lo apenas; façamo-lo por vezes, e veremos. Façamo-lo psicologicamente - não abandonando a nossa mulher (ou marido), os nossos filhos ou a nossa casa, mas interiormente - o que significa não ter apego a coisa alguma. Nisso há grande beleza. O amor é isso, afinal, não é assim? O amor não é apego. Quando há apego, há medo. E o medo toma-se inevitavelmente autoritário, possessivo, opressivo, dominador.</div>
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A meditação é a compreensão da vida, o que significa criar ordem. Ordem é integridade moral, que é luz. Esta luz não pode ser acesa por outrem, por muito experiente, intelectualmente brilhante, erudito ou espiritual que seja. Ninguém, absolutamente ninguém, pode acender essa luz, excepto cada um de nós - com a nossa própria compreensão profunda e a nossa meditação.</div>
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Morrer para todas as coisas que interiormente nos ocupam! Porque o amor é inocente, fresco, jovem e lúcido. Então, se já criámos esta ordem, esta virtude, esta beleza, esta luz em nós mesmos, podemos ir mais além. Isto quer dizer que a mente, tendo criado ordem - que não é a do pensamento - se toma extremamente serena, silenciosa-naturalmente, sem esforço nenhum, sem disciplina alguma. E na luz desse silêncio toda a acção pode ter lugar, vivendo-se diariamente a partir desse silêncio.” </div>
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A Luz dentro de nós: <a href="https://www.facebook.com/l.php?u=https%3A%2F%2Fkrishnamurtibox.files.wordpress.com%2F2015%2F09%2Fmeditac3a7c3a3o-a-luz-dentro-de-nc3b3s-j-krishnamurti.pdf&h=QAQEmSLtZ&enc=AZNhZzEdX4iXiBBDmIHvofmILqbF75Ii-DYFepnIsMJLnYBJyfpFanO1Byp-RpaDCyP5xietNEPwBQNRpkOoTY5DjZiNiNRum-Q4nbb2NpI_4h7v3B7IBDCQeWYMW7C6dQKpd4UDiq9BZXHy5UrQnEqazKUxrI86BEK9dmFfgkLUxbS4L1hP4om8afu-Drlsw04&s=1">krishnamurtibox.files.wordpress.com</a> KRISHNAMURTIBOX.FILES.WORDPRESS.COM Meditação</div>
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“Agora a memória não é senão o impedimento a essa inteligência; a memória é independente dessa inteligência; a memória é a perpetuação dessa consciência do “eu” que é o resultado do meio, desse meio cujo significado completo a mente não viu. Portanto a memória estupidifica, frustra a inteligência que está sempre a devir, a inteligência sempre em movimento, intemporal. Mente é inteligência, mas a memória impôs-se à mente. Isto é, a memória sendo essa consciência do “eu”, identifica-se com a mente, e a consciência do “eu” aparece como se estivesse entre a inteligência e a mente, assim dividindo-a, estupidificando-a, frustrando-a, pervertendo-a. Portanto a memória, identificando-se com a mente, tenta tornar-se inteligente, o que para mim está errado – se é que posso usar aqui a palavra “errado” – porque a mente em si é inteligência, e é a memória que perverte a mente nublando assim a inteligência. E por isso a mente parece sempre procurar essa inteligência intemporal, que é a própria mente.” </div>
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Meditação</div>
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“A meditação é realmente muito simples, mas nós complicámo-la.Tecemos uma rede de ideias em torno dela, sobre o que é ou deixa de ser. Mas não é nenhuma dessas coisas. Porque é tão simples ela escapa-nos. As nossas mentes são muito complicadas e acham-se gastas pelo tempo. Mas essa mente determina actividade do coração e aí a dificuldade começa. A meditação sobrevém naturalmente e com extraordinária facilidade quando caminhamos pela areia ou olhamos pela janela e distinguimos aquelas colinas queimadas maravilhosas, queimadas pelo sol do Verão passado.</div>
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Porque somos seres tão torturados, com lágrimas nos olhos e riso forçado nos lábios? Se pudésseis percorrer sozinhos essas colinas e bosques, iríeis pelas vastas praias de areias alvas e, nessa solidão saberíeis o que é a meditação.O êxtase da solidão sobrevém quando deixais de vos sentir assustados por estar sós, sem pertencer mais ao mundo nem apegado a nada. Então, como aquela alvorada que estava esta manhã, isso sobrevém silenciosamente e estabelece um caminho dourado na própria quietude que existia no início, que existe agora, e que sempre estará aí.”</div>
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Perceção</div>
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“Para mim, a verdade, essa integridade de que falo, acha-se em todas as coisas. Portanto, a ideia de que necessitais progredir em direção à realidade, é uma ideia falsa. Não se pode progredir na direção de uma coisa que sempre está presente. Não se trata de avançar para o exterior ou de voltar-se para o interior, mas sim de se libertar dessa consciência que se percebe a si mesma como separada. Quando houverdes realizado tal integridade, vereis que tal realidade não tem ela futuro nem passado; e todos os problemas relacionados com tais coisas desaparecem inteiramente. Uma vez que o homem realize isso, vem-lhe a tranquilidade, não a da estagnação, porém a da criação, a do ser eterno. Para mim a realização desta verdade é a finalidade do homem.</div>
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Algumas pessoas vão à Índia, mas não sei por que fazem isso: a verdade não está lá; o que está lá é a fantasia, e a verdade não é uma fantasia. A verdade está onde você está. Não em algum país estrangeiro, mas onde você está. A verdade é o que você está fazendo, como está se comportando. Está aí, não nas cabeças raspadas e naquelas bobagens que os homens têm feito.</div>
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Os que desejam deveras descobrir a Verdade relativa aos seus problemas, devem, naturalmente, pôr à margem tudo quanto é autoridade. Isto é dificílimo, porque quase todos nós estamos cheios de temor. Precisamos de alguém para nos escorar, para nos dar coragem; precisamos do "irmão mais forte" - aquele que mora na Rússia, ou na Inglaterra, ou na América, ou do outro lado do Himalaya, ou "ali na esquina". Todos precisamos de alguém para ajudar-nos. Enquanto estivermos encostados em alguém, nunca chegaremos a compreender o "processo" do nosso pensar; negaremos, assim, a nós mesmos, o descobrimento da Verdade.”</div>
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Não Sei</div>
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“Se conseguirmos realmente chegar a esse estado de dizer: «Não sei», isso indica um extraordinário sentido de humildade; não há nenhuma arrogância de conhecimento; nenhuma resposta de afirmação de si mesmo com o intuito de impressionar os outros. Quando vocês poderem realmente dizer: «Não sei», o que muito poucos conseguem, então, nesse estado, todo o medo desaparece, porque todo o reconhecimento, toda a busca na memória, chegou ao fim; deixa de haver a investigação no campo do conhecido. Então surge esse algo que é extraordinário. Se estiveram a seguir o que eu disse até aqui, não apenas ao nível verbal, mas se estiverem de facto a experimentar o que estou a dizer, vão descobrir que quando são capazes de dizer: «Não sei» todo o condicionamento chegou ao fim. E qual é então o estado da mente?...</div>
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Nós procuramos algo permanente — permanente no sentido do tempo, algo que perdure, eterno. Constatamos que tudo em nosso redor é transitório, num fluxo, nascer, florescer e morrer, e a nossa busca é sempre por descobrir algo que possa perdurar no campo do conhecido. Mas aquilo que é verdadeiramente sagrado está para além da medida do tempo; não pode ser encontrado dentro do campo do conhecido. O conhecido atua apenas através do pensamento, que é a resposta da memória ao desafio. Se eu for capaz de observar isso e quiser descobrir como posso terminar o processo do pensamento, como posso faze-lo? Certamente deverei, por meio do autoconhecimento, estar atento a todo o processo do meu pensamento. Devo ser capaz de ver que cada pensamento, por mais subtil ou elevado, ignóbil ou estúpido, tem as suas raízes no conhecido, na memória. Se eu for capaz de ver isso com muita clareza, então a mente, quando confrontada com um imenso problema, é capaz de dizer: «Não sei», porque ela não tem qualquer resposta.”</div>
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<div class="_2cuy _3dgx _2vxa" style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #1d2129; direction: ltr; font-family: Georgia, serif; font-size: 17px; line-height: 28px; margin: 0px auto 28px; white-space: pre-wrap; width: 700px; word-wrap: break-word;">
(Krishnamurti)</div>
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Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-3297496701667070702016-04-02T20:22:00.000+01:002016-04-02T21:00:46.687+01:00Do Ato de Observar - Krishnamurti<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
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"Parece-me que não tentastes compreender o significado da palavra “participar”. No participar não há autoridade, pois não há nem vós nem eu. Não há consciência de dar ou de receber; só há o ato de participar, que não confere importância nem a quem dá nem a quem recebe. E, participar implica muitas coisas: que ambas as partes — o orador e vós — se acham num estado de espírito no qual só há aquela tendência, ou sentimento, ou afeição, ou amor que, impremeditadamente e sem identificação com nenhuma personalidade, estabelece a participação (comunhão). Nesse participar não há instrução. Não há instrutor nem discípulo, não há quem dá nem quem recebe, porém, tão-só, um ato de completa comunhão. Não sei se já alguma vez conhecestes esse sentimento de completa união, de completa comunhão existente no ato de participar, que é com efeito um ato de grande afeição e compaixão. Vamos considerar um assunto que não exige uma mera explicação verbal ou dialética, ou troca de opiniões, ou oposição de uma idéia a outra idéia, pois, quando tais coisas existem, o ato de participar se torna muito fraco. Queremos falar, nesta tarde, sobre a questão da ação. Mas, para compreendê-la, não apenas verbalmente, não apenas intelectualmente, porém com a totalidade de nosso ser, temos de ultrapassar as palavras. Só então pode haver comunhão, participação, só então podemos tomar parte juntos em algo de suma importância. E esta questão da ação requer, não só uma explicação verbal, mas também, e muito mais, que marchemos juntos, explorando cuidadosamente o nosso caminho para a compreensão desta questão da ação.<br />
<a name='more'></a><br />
Assim, para comungarmos deve, por certo, haver não só a compreensão verbal, mas também, ao mesmo tempo e no mesmo nível, intensidade; do contrário, não é possível nenhuma comunhão, nenhuma participação. Essa intensidade deve existir ao mesmo tempo, na mesma profundidade, no mesmo nível — e isso, afinal de contas, é amor; é compaixão. E, para a compreensão desse problema da ação, requer-se não só uma mente objetiva, um exame objetivo, mas também muita sutileza e sensibilidade — não mera aceitação ou rejeição de uma certa definição de “agir”, porém, antes, o descobrimento, por cada um de nós, dessa coisa extraordinária que se chama “vida” — que é ação. A existência é ação. Há dois estados — eu pelo menos os distingo — na existência. Há aquele estado estático que é “existir”. E há aquele movimento dinâmico que é “existência”.<br />
<br />
A vida é existência — movimento; e esse movimento é ação. A vida (a totalidade da vida, e não partes dela: o total estado de existência) é ação. Mas, quando meramente existimos, como o faz a maioria de nós, a ação se torna então um problema complexo. A existência não tem divisões; não é um estado fragmentário da mente ou do ser; nela, é possível a ação total. Mas, quando dividimos a existência em diferentes segmentos, fragmentos, a ação se torna então contraditória.<br />
<br />
Dividimos a vida em vida profissional, religiosa, mundana, psicológica, artística, literária, etc. Está a vida fracionada em vários fragmentos: a divisão “tribal”, exaltada no nacionalismo; os líderes “tribais”; as religiões “tribais”; os vários fragmentos de nossa vida — nossas diferentes maneiras de atuar, pensar e sentir, no escritório, no lar, no ônibus, em nossos passeios, nossos serviços sociais, nossas devoções ou práticas religiosas. Os diferentes fragmentos de nossa vida, uma vez que dissociados, estão — e têm de estar forçosamente — em conflito uns com os outros; nossas ações, por conseguinte, contradizem inevitavelmente umas às outras. Tal a nossa vida de cada dia. Vosso comportamento em casa difere do vosso comportamento no escritório ou em vosso clube ou num encontro com amigos; e diferentes são também os atos que praticais quando estais a sós em vosso quarto.<br />
<br />
Nossa vida, pois, como se pode observar, é fragmentária, fracionária. E procuramos integrar todas essas partes diferentes. Mas isso nunca será possível. Integrar é juntar. Quando se integram partes heterogêneas, essas partes de novo se soltam. Assim, o que desejamos descobrir não é como integrar as partes, porém, sim, o que é ação total — no escritório, na igreja ou no templo, em casa, quando estais a sós, quando contemplais o mar ou vos achais em comunhão com a natureza: ação total. Queremos descobrir se existe essa ação e, por conseguinte, se podemos viver num estado de ação constante — isto é, de existência, movimento, vida — num estado não fragmentário. É o problema que vamos considerar nesta tarde.<br />
<br />
A maioria de nós deseja viver uma vida razoavelmente pacífica, inteligente, harmônica, num certo estado de integridade (inteireza), não sujeitos ao controle do ambiente, livres desta perene batalha com outros ou com nós mesmos. Desejamos viver uma vida mais ou menos “integrada”, inteligente. E essa vida não é possível porque todas as nossas atividades se acham num estado de contradição,' não só consciente, mas também inconscientemente. Quando uma pessoa se observa (e é isso que estamos fazendo nestas reuniões), pode ver que não está meramente escutando o orador, porém, principalmente se servindo de suas palavras como de um espelho em que se refletem os movimentos de sua própria mente, e nele descobrindo o que é verdadeiro e o que é falso (por si mesmo e não por indicação de outrem) e, por conseguinte, percebendo, por si próprio, a natureza contraditória de suas atividades.<br />
<br />
Ora, por que é tão contraditória a vida? Por que existe tanta contradição em nós mesmos, nossas perspectivas, nossos sentimentos, nosso comportamento, nossas idéias? E, por que essa fragmentação da vida — vida profissional, vida doméstica, vida religiosa e não religiosa, vida mundana, etc. — cada atividade em contradição com as outras?<br />
<br />
Estivemos considerando outro dia o desejo. O desejo existe quando há um sentimento de algo que nos está faltando, necessidade de alguma coisa. Isto é, quando desejais alguma coisa, isso é um indício de que algo vos está faltando. Mas o desejo, em si, não é contraditório. Há contradição quando os objetos do desejo são contraditórios, ou diferentes, ou opostos. O desejo é constante, mas os seus objetos mudam, variam, ou se opõem; e, por conseguinte, todas as atividades do desejo geram contradição. Isto é, todo ato de desejo é um estado de falta, de necessidade, em relação ao objeto; percebe-se, assim, que o desejo é contraditório. Desejo paz; no entanto, ao mesmo tempo, estou todo possuído do espírito de competição. Desejo ser bom, e ao mesmo tempo tenho um forte sentimento de antagonismo. As idéias, os objetos do desejo, são contraditórios, não o próprio desejo. Releva compreender isso. A maioria das pessoas crê que o próprio desejo é contraditório; por essa razão tentam reprimi-lo, sublimá-lo, controlá-lo — fazer tudo o que podem em relação ao desejo.<br />
<br />
O sentimento de falta, de insuficiência, faz-nos comparar; e dessa comparação nasce a ânsia, o desejo, o anelo da coisa que irá preencher aquele vazio, aquela falta. É muito simples isso. Não estou querendo complicá-lo. Como se trata de uma questão sobremodo complicada, temos de considerá-la de maneira bem simples.<br />
<br />
Dissemos, naquela outra tarde, que o desejo resulta da percepção — percepção, sensação, contato e, por fim, o desejo. É isso o que sucede: Aparece um belo carro; vejo-o; toco-o; nasce a sensação, e o desejo. E esse desejo é fortalecido e perpetuado pelo pensamento; daí se origina o conflito para alcançar o que desejo — possuir o carro. O carro me dá preenchimento, preenche aquele vazio, aquele sentimento de falta; se eu tivesse aquele carro, faria isto e aquilo; teria mais poder, mais dinheiro. O sentimento de falta é o estado de desejo. E por isso há conflito. Isto é, interiormente, quase todos nós somos insuficientes — pelo menos pensamos sê-lo — e procuramos preencher essa insuficiência (e isso é uma forma de desejo); essa insuficiência gera a contradição e, por conseguinte, atividades contraditórias.<br />
<br />
Vede, por favor, como já disse, não estais meramente a escutar as palavras do orador. Estais “escutando” vossa própria mente, observando vosso próprio “estado de ser”. Dessa maneira podeis ver, por vós mesmo, como surge a contradição. Penso que o carro me dará felicidade, poder, posição, importância. E também, muito fundo em mim mesmo, existe o sentimento de afeição, de simpatia, de benevolência; também o sentimento de que devo realizar algo na vida, torna-me alguém, o que é um estado contraditório. Essa contradição, pois, nasce daquele terrível sentimento de insuficiência, de vazio, de solidão. Por isso, vivemos a fazer esforços; e esforço é luta, competição. Tal é nossa vida: uma luta perene para “vir a ser”, realizar coisas, ser bons, preencher-nos, conquistar prestígio, posição, poder, domínio, tornar-nos inteligentes. Assim é a nossa vida: luta constante, luta infinda, até à morte; e, para fugirmos dela, inventamos deuses, templos, uma maneira de vida que nos afaste dessa luta. Enquanto não se compreender a luta, não importa o que se faça, nunca se terá paz. Pode-se ter uma paz superficial — assim como, superficialmente, podemos tranqüilizar-nos com um comprimido — mas isso não resolverá o nosso problema. O problema é muito mais profundo.<br />
<br />
Assim, para compreender o que é a ação — não a “ação correta” ou a “ação incorreta” — temos de compreender esse vasto processo do desejo; e temos também de compreender a larga separação existente entre a idéia e a ação. E, ainda, temos de compreender a natureza do pensador e do pensamento, ou do observador e da coisa observada.<br />
<br />
Examinaremos primeiramente a natureza contraditória da idéia e da ação. Isto é, temos uma fórmula de “ação correta” — o ideal, o padrão, a imagem, o símbolo, o que deveria ser, o que queremos que seja; e à nossa frente temos o fato: o que é. Está claro, não? Temos o ideal, o herói, o exemplo, o que deveria ser — e o que é. O que é — é inteiramente diferente do que deveria ser. E estamos sempre a comparar o que é com o que deveria ser. Somos violentos; isto é um fato. Isto é, na realidade somos violentos; o ideal é a não-violência; e, por conseguinte, estamos sempre a comparar o que é com o que deveria ser, resultando daí uma contradição.<br />
<br />
Por essa razão, o idealista está sempre em conflito, sempre a batalhar com o “não devo” e o “devo” — reprimindo, esforçando-se, lutando, para transformar o que é em o que deveria ser.<br />
<br />
Toda a nossa vida, como a vida da maioria, se constitui desta batalha. Eu fui, eu sou e o que eu deveria ser — e “o que eu deveria ser” é o ideal, o padrão, a fórmula; o “eu sou” resulta de “o que eu fui”; e, assim, existe esta constante batalha. Por favor, observai-vos. Usamos o ideal como um meio de mudar o que é, como um incentivo. Atentai nisto, porque vamos investigar algo que exige a vossa atenção. Nós usamos o ideal como um estímulo para transformar, mudar ou modificar o que é, daí o conflito, a luta. Por isso, nunca observamos o que é. Nunca nos pomos em contato direto com o que é, só nos pomos em contato com o que é através do que deveria ser ou não deveria ser. Por conseguinte, não há uma comunhão completa com o que é, e daí o conflito. Porque estamos procurando transformar o que é em algo que imaginamos nos proporcionará mais prazer ou nos resguardará da dor, declara-se a batalha, o conflito, a luta, a perene brutalidade resultante do querermos fazer algo com um ideal.<br />
<br />
Temos, assim, a divisão, a separação: o fato, o que é — e o padrão, fórmula ou ideal do que deveria ser. Entretanto, o que é deve mudar. Temo-nos servido do ideal, do exemplo, como um meio ou um incentivo a alterarmos o fato — o que é; por essa razão, vivemos em conflito.<br />
<br />
A mente foi criada para ser sempre nova, jovem, inocente — e não para ser torturada, intimidada, “torcida”. Entretanto, o que é tem de ser alterado; isso, decerto, é muito importante. Suponhamos um indivíduo ávido; o ideal é não ser ávido. Ou consideremos outro problema muito mais religioso e familiar a todos nós: para achar Deus, devo ser um santo. Há, pois, o ideal e o fato; e, depois, a batalha, consiste em reprimir, em controlar, em lutar perenemente contra essa coisa chamada “sexo”; por conseguinte, a fuga ao fato. Um indivíduo adere às mais absurdas reformas sociais, retira-se para o Himalaia, enclausura-se, violenta todas as coisas, para fugir ao fato. Entretanto, o fato precisa ser compreendido e transformado sem conflito. Está claro isto? O fato, ou seja o que é — violência, luxúria, avidez, etc. — deve ser transformado sem esforço; ao começardes a fazer esforço, a batalhar ou lutar, começastes a torcer a vossa mente, a embotá-la, a insensibilizá-la.<br />
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Para viver, temos de ser sobremodo sensíveis — sensíveis à beleza, sensíveis à fealdade, ao esqualor, à brutalidade, à sordidez, à imundície das ruas desta cidade, às nuvens que vemos numa certa tarde, resplendentes da luz solar, ao reflexo sobre as águas, a um bonito rosto, um belo sorriso. Ser sensível a tudo é a própria natureza, a própria essência da vida. Mas, quando a mente é violentada por meio de esforços, de batalha constante, de repressão, sublimação ou fuga — torna-se embotada, cansada, estúpida, completamente insensível. Assim, o problema consiste em como promover a mutação do fato, do que é, sem nenhum esforço. É possível olharmos esse fato — o que é — sem o desejo de transformá-lo, de mudá-lo, sem com ele nos identificarmos?<br />
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Disseram-me que um eletrônio se comporta de uma certa maneira, registrada no diagrama. Mas, quando esse mesmo eletrônio é observado pelo olho humano, sob o microscópio, essa própria observação pela mente humana altera o seu comportamento. Isto é, a observação do eletrônio pelo homem origina no próprio eletrônio um comportamento diferente daquele que tem quando a mente humana não o está observando.<br />
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Temos falado, nestes muitos anos, acerca do ver, do observar, do olhar. É possível olharmos uma flor, uma árvore, um rosto, sem lhe darmos nome, sem nos identificarmos com o que vemos, sem condenação, justificação, explicação? Isto é, pode-se olhar sem pensamento? Isso não significa ficar com a mente “em branco”; significa olhar. E só é possível olhar, quando não existe nenhum EU a interferir nesse olhar. Compreendeis? Isto é, há o fato de que sou violento. E afastei de mim a estulta idéia de ser não-violento. E vejo, também, que o lutar para dele me livrar, para modificá-lo, requer esforço e que esse próprio esforço faz parte da violência. Entretanto, reconheço que a violência precisa ser alterada completamente, ser transformada; nela tem de operar-se uma mutação.<br />
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Ora, como conseguir isso? Se puserdes de parte a questão, por a considerardes extremamente difícil, perdereis a possibilidade de entrar num estado extraordinário, ou seja na existência sem esforço c, por conseguinte, numa vida altamente sensível, altamente inteligente. Só essa inteligência elevada ao sumo grau pode descobrir os limites e as medidas do tempo, e ultrapassá-los. Percebeis a questão, o problema? Até agora, temo-nos servido do ideal como o meio ou incentivo para libertar-nos do que é\ e ele gera contradição, hipocrisia, crueldade, brutalidade. Mas, se lançamos à margem esse ideal, ficamos com o fato. Vemos então que o fato precisa ser alterado nem nenhuma espécie de atrito. Todo atrito, toda luta, todo espaço destrói a sensibilidade da mente e do coração.<br />
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Que podemos então fazer? O que se pode fazer é observar o fato — observá-lo, sem tradução, interpretação, identificação, condenação, avaliação — observá-lo, simplesmente. É relativamente fácil observar uma flor sem lhe dar nome, sem dizer “gosto” ou “não gosto”. Observar simplesmente — isso é fácil quando se trata de coisas externas que não influem psicologicamente, emocionalmente. Mas é difícil observar dessa maneira a violência; isto é, não dar nome ao sentimento da violência, não o condenar, não o julgar, não o identificar, porém, apenas observá-lo. Quando se olha o fato simplesmente, pode-se observar um comportamento diferente, tal como o que se observa no ele- trônio. Se considerarmos o fato sem nenhuma pressão, o fato sofrerá então uma transformação completa, uma completa mutação, sem esforço algum.<br />
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Nós dissipamos energia com negar o fato, “suprimi-lo”, procurando fugir dele ou dominá-lo, controlá-lo, reprimi-lo. Com isso estamos dissipando nossa energia. E, se detemos essa atividade, naturalmente, sem esforço algum, teremos então toda essa energia para observar; e a própria energia da observação, adicionada ao fato — que é também energia — torna-se uma energia total, de modo que não há contradição alguma.<br />
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E há também este fato: o pensador e o pensamento. Observai a vós mesmo, como experimentador e coisa experimentada. Aqui, mais uma vez, encontramos a divisão, a contradição, a dualidade e, por conseguinte, o conflito. O que estamos tentando agora é co-participar (share together) — o que, em verdade, é um estado de verdadeira afeição, de grande amor, em que nunca existe conflito algum, em que nenhum esforço se faz, seja em casa, com a mulher, o marido, os filhos, seja em qualquer gênero de atividade. Isso só é possível ao observarmos e compreendermos toda contradição.<br />
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Uma das principais contradições de nossa vida é esta: a divisão entre o pensador e o pensamento. O pensador, para a maioria das pessoas ditas religiosas, é o Atman, etc. — algo existente primeiro, e depois o pensamento. Mas, se observardes, vereis que não há primeiro, que só há pensar; o pensamento inventa o pensador, e este assume então uma permanência no tempo, como Ente Supremo, Eu Superior, Atman; mas, o pensador é inventado pelo pensamento. Sem pensamento, não há pensador; portanto, temos esta contradição, não só no nível consciente, mas também no nível inconsciente. Há esta divisão: meu e nao-meu, ter experiência e querer mais experiência; querer o pensador alterar o pensamento. Temos esta dualidade, esta batalha que, consciente ou inconscientemente, se está travando a todas as horas. E enquanto mantivermos o pensador como centro, como observador, tem de haver conflito; e a ação, por conseguinte, produzirá mais conflito ainda. Cabe-nos, pois, observar o pensamento sem o pensador — quer dizer, não condenar o pensamento; não alterá-lo; não reprimi-lo; não dizer que tal pensamento é bom, que tal pensamento é correto, que tal pensamento é nobre, que tal pensamento é ignóbil: observar, simplesmente, o pensamento.<br />
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Perguntareis, então: “Quem é o observador que observa o pensamento?” — O observador, o pensador, só existe quando há a idéia de transformar o pensamento, de reprimi-lo, alterá-lo, dominá-lo, controlá-lo. Só quando existe alguma atividade a respeito do pensamento, existe pensador. Mas, quando essa atividade se detém inteiramente, só há então pensamento e não há nenhum observador a pensar. E quando se observa dessa maneira, pode-se ver que, na observação, o pensamento passa por uma revolução fundamental; e, por conseguinte, a vida, a existência se torna tal, que não há mais contradição na ação. Isso não é um ideal, uma coisa que vos cumpre alcançar. Deixai de pensar assim. É um processo natural, como vereis, se compreenderdes esse extraordinário fenômeno da observação — da observação de si mesmo, sem nenhum desejo de mudar, de alterar, de reprimir: observação pura e simples.<br />
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Costumamos observar, ver, olhar, ouvir, no nível dimensional, ou seja no tempo. Tudo observamos através do tempo — não só do tempo cronológico, senão também do tempo que a mente inventou — o amanhã. Na realidade, não existe amanhã. Nós o inventamos, psicologicamente. Só há amanhã no sentido cronológico. Nós olhamos o pensamento, a avidez, a inveja, a ambição, nossa estupidez, nossa brutalidade, a violência, o prazer, através dessa dimensão — do tempo — e nos servimos do tempo como meio de transformar a coisa que observamos. Daí se origina a contradição entre o fato, que é uma coisa viva, e o tempo, que é estático.<br />
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Devemos, pois, olhar realmente a vida, esse imenso campo da vida — não a vida “tribal” do indiano, do cristão, do budista, do alemão, do russo, do comunista etc., e seus pajés. Devemos olhar essa vida que é imensa, palpitante, cheia de força, ilimitada, com olhos que estejam somente a observar, e, por conseguinte, agir totalmente, com todo o nosso ser, a cada minuto. Não há então nenhuma contradição, porque foi compreendida inteiramente a natureza da dualidade ou contradição.<br />
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Explicamos que o sentimento de insuficiência, de vazio, de falta, é desejo — desejo a que o pensamento dá continuidade — e a fuga ao desejo, como uma forma de ação; ou o preenchimento desse vazio, como outra forma de ação.- Explicamos também a contradição entre o pensador e o pensamento, a contradição entre o fato — o que é — e o ideal. Uma vez tenhais compreendido todo esse processo, por meio da observação — não pelo intelectualizar, pelo exercitar das emoções, porém pelo simples observar — vereis que a vida é ação; não diferentes ações em diferentes níveis, em contradição uns com os outros, porém uma atividade total, como existência, como movimento; podereis então exercer vossa profissão, tudo fazer de maneira total, sem contradição alguma.<br />
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Só a mente que observou todas as suas atividades, seu próprio comportamento — só essa mente pode viver sem fazer esforço. Assim, sua ação não é contraditória; e, por conseguinte, ela não está na sujeição do tempo."<br />
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(Krishnamurti)<br />
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Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-59444694891511717192014-11-19T23:30:00.000+00:002014-11-19T22:42:36.900+00:00A Natureza do Ser - S. N. Maharaj<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
O que posso fazer para ser mais receptivo à realidade suprema?<br />
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Não há nenhum sistema, método ou técnica pela qual aproximar-se da realidade. Ela se revela por si mesma quando todas as técnicas e sistemas falham e a futilidade da volição é percebida. Então a mente se envolve em um estado de entrega inocente. A técnica apenas faz a mente mais astuta e engenhosa. Você ainda permanece em sua rede e, embora possa ter a impressão de transformação, está de fato desempenhando os velhos jogos. É um círculo vicioso.<br />
<br />
Liberdade, humildade e amor aparecem instantaneamente, nunca como um empreendimento. A mente, o processo de pensamento, acontece em termos de tempo e espaço. Mas a Consciência silenciosa não é condicionada ou qualificada nem por um nem pelo outro. Por esta razão a mente limitada não pode alcançar o absoluto pela expansão de si mesma. Todos os esforços apenas resultam na perpetuação do ego.<br />
<a name='more'></a><br />
Se você presta atenção enquanto falamos, então, neste próprio estado de atenção, sua mente passa por uma transformação. O importante é o ato de escutar, de observar sua reação a estas palavras. A escuta real envolve seu ser total, e nele as fronteiras do ego se dissolvem. A mente então se envolve em um estado de grande atenção.<br />
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A respeito de sua pergunta, qualquer método ou técnica implica especialização ou localização. Mas tal focalização parcial nunca pode levá-lo à totalidade. Quanto mais você se especializa, mais estreita seu campo de visão, mas a causa básica do conflito na psique não é removida. A tranquilidade obtida através das técnicas está apenas na superfície, enquanto a origem profunda do conflito continua.<br />
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Como posso livrar minha mente do condicionamento?<br />
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A mente é função, energia em movimento. É um depósito, em diferentes níveis de consciência, das experiências individuais e coletivas passadas. Sem a memória, não há mente, pois os pensamentos são sons, palavras e símbolos que nela aparecem. A memória é em si mesma condicionada, estando baseada na estrutura do prazer e da dor: todo prazer está armazenado e tudo o que é doloroso é relegado às camadas do inconsciente.<br />
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A função básica do organismo humano é sobreviver. A sobrevivência biológica é um instinto natural, mas a sobrevivência psicológica é a fonte do conflito, pois é simplesmente sobrevivência da psique com o seu centro, o “eu”. O que chamamos geralmente de aprendizagem é apropriação condicionada pela sobrevivência psicológica. A mente condicionada não pode mudar por seu próprio esforço ou sistema.<br />
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Então, como acontece esta transformação, esta integração?<br />
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A mente deve chegar a um estado de silêncio, vazia completamente de medo, desejo e de todas as imagens. Isto não pode ser produzido pela supressão, mas pela observação de todo sentimento e pensamento sem qualificação, condenação, julgamento, ou comparação. Se a atenção desmotivada está para funcionar, o censor deve desaparecer. Deve existir apenas uma observação serena sobre o que a mente elabora. Ao descobrir os fatos como eles são, a agitação é eliminada, e o movimento dos pensamentos se torna lento; podemos observar cada pensamento, sua causa e conteúdo, à medida que surge. Nós nos tornamos conscientes de todo pensamento em sua integridade e, nesta totalidade, não pode existir conflito. Então apenas a atenção permanece, apenas o silêncio no qual não há nem observador nem observado. Portanto, não force sua mente. Apenas observe seus vários movimentos como você olharia o vôo dos pássaros. Neste olhar desanuviado, todas as suas experiências emergem e se aclaram. Pois a visão desmotivada não apenas gera tremenda energia, mas libera toda tensão, todas as várias camadas de inibições. Você vê a totalidade de si mesmo.<br />
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Observar tudo com plena atenção torna-se um modo de vida, um retorno a seu ser meditativo original e natural.<br />
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Como posso agir para não criar uma reação adicional, o carma?<br />
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Sempre que o amor e a bondade estão em seu coração, você terá a inteligência para saber o que fazer e quando – e como – agir. Quando a mente vê suas limitações, as limitações do intelecto, surgirão uma humildade e uma inocência que não são questão de cultura, acumulação ou aprendizado, mas resultado do entendimento instantâneo. No momento em que você vê seu desamparo, que nada funciona, chega ao ponto da rendição, a uma parada, onde você está em comunhão com o silêncio, a verdade derradeira. É esta realidade que transforma sua mente, não o esforço ou a decisão.<br />
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Creio conhecer algo de mim mesmo, tenho uma certa Consciência de minha força e debilidade psicológica, mas também sinto uma falta de satisfação perfeita; de outra forma, não estaria aqui. Há algo que possa fazer agora?<br />
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Se você observar, verá que é violento com sua percepção. Você interfere constantemente ao tentar controlá-la e dirigí-la. O controlador faz parte do que é controlado; ambos são objetos e um objeto não pode conhecer outro. Portanto, você deve progressivamente permitir que a percepção se expanda, dando-lhe a liberdade completa. Se você permitir que a percepção se expanda, cedo ou tarde ela o trará de volta para você mesmo. Deixe-a ir para que se revele a si mesma e o dinamismo para produzir desaparecerá.<br />
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Como aprender a partir do conflito?<br />
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Veja que você está condicionado na aceitação e na rejeição, pois não há nada para aceitar ou rejeitar. Na escuta total, a atenção sem memória, não há conflito. Há apenas visão. Na escuta silenciosa, o que é dito, o que é ouvido e o que surge como resposta e reação, está dentro de seu próprio Eu. Esta percepção da totalidade é a atenção real e não há nela nem problemas nem condicionamentos. Há simplesmente liberdade.<br />
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O que você quer dizer quando você diz que não há ator no fazer, falar ou escutar?<br />
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Na ação que surge da plenitude não há um ator no ato, há apenas ação. Você está funcionando e o “eu” está ausente. No momento em que o pensamento do “eu” aparece, você se torna autoconsciente e é dominado pelo conflito. Na ausência deste pensamento, não há nem quem fale nem quem escute, não há nenhum sujeito controlando um objeto. Somente então há harmonia completa e adequação a cada circunstância.<br />
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Qual é o lugar do intelecto na escuta incondicionada?<br />
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O intelecto é uma defesa contra algo que você aceita ou rejeita. Uma vez que você tenha, pela totalidade, visto a verdade de alguma coisa, não há mais como escapar. Você vive com ela. Com este entendimento completo, a mente não pode evitar a mudança e a transformação que ocorrem. Quando o intelecto está ausente, há atenção total; escutar e falar podem espontaneamente acontecer, mas brotam da realidade. Não há mais produção por parte da mente. Em atenção silenciosa, a mente está completamente vazia e o que é ouvido penetra profundamente. No estado de rejeição ou aceitação há apenas um jogo com as palavras, com a memória, com o intelecto. Mas, no estado de escuta silenciosa, não há lugar para certo ou errado, compensação ou conclusão. Eles se tornaram, através da compreensão intuitiva, conhecidos ou não.<br />
<br />
Seja consciente dos processos de seu corpo e de sua mente e você começará a compreender a si mesmo. Não há diferença entre esta compreensão e a compreensão da totalidade do universo. Sua percepção se abre completamente para a realidade em sua plenitude.<br />
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Pode-se pensar uma experiência real?<br />
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Uma experiência é um acontecimento. Não pode ser pensada. O pensamento não é a experiência direta, mas a busca e a tentativa de repetir a sensação. Na experiência real, o experimentador está completamente absorvido no experimentado – eles são um, não restando nem memória nem identificação. É uma não-experiência, pois não há ninguém experimentando qualquer coisa.<br />
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No campo da tecnologia, a acumulação de experiência é necessária e não leva ao conflito. Mas, no plano psicológico, o qual é orientado em função de agrado e desagrado, a acumulação da experiência fortalece o ego e nega a possibilidade da experiência real: a não-experiência.<br />
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O ponto mais elevado e amadurecido de uma experiência é a liberdade da unidade sem sujeito e objeto. Esta não é a unidade da experiência mística, que é ainda um estado em que se entra e sai. A experiência real não é uma busca de prazer em qualquer nível porque a satisfação é a sensação que não foi plenamente reabsorvida. É o remanescente de uma experiência incompleta, uma repetição das projeções da memória. A mente, então, fica entediada e busca experiências novas. Na não-experiência real, nenhum resíduo é deixado. Ela nos traz de volta a todo momento para nossa natureza atemporal.<br />
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Como posso libertar-me do tédio que sinto freqüentemente?<br />
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Se vivemos superficialmente e observamos isto, nós nos tornamos conscientes de uma profunda falta ou desconforto que pode aparecer como tédio. Vemo-nos indo de uma compensação à outra. Encare estes momentos de aborrecimento. Realmente, perceba-os sem justificação ou conceituação. Você deve libertar a percepção, deixando-a desdobrar-se em sua consciência. Então, uma transformação acontece em todos os níveis. Toda a energia que estava dispersa e localizada em hábitos fixos se libera e recombina. Cada circunstância requer uma reorganização de energia que é perfeitamente adequada a uma situação. Na reorganização completa que acontece, a energia que estava anteriormente dissipada no tempo psicológico “retorna” e desaparece em nossa presença atemporal.<br />
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Você diz que, quando vivemos na liberdade da relação sujeito-objeto, vivemos no atemporal. Mas nossos corpos vêm e vão, o sol se levanta e se põe; não estamos, no final das contas, ligados ao tempo?<br />
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O que você chama “tempo” está claro para você? É verdadeiro que o homem sempre está criando tempo. O tempo psicológico é pensamento baseado na memória. É essencialmente o passado, e nós revivemos continuamente o passado através dele. De fato, o que chamamos futuro é apenas um passado modificado. O tempo psicológico nunca está no agora, mas, como um pêndulo, está em constante movimento do passado para o futuro, do futuro para o presente, em rápida sucessão. Existe apenas no plano horizontal do ter -devir, do prazer-desprazer, da avidez-contenção, da segurança-insegurança. É a origem da miséria e do conflito. A compreensão psicológica do tempo e do espaço é o caminho para a meditação e para o viver correto.<br />
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O tempo cronológico, astronômico, está baseado igualmente na memória, mas é uma memória puramente funcional, livre da intervenção do ego, da vontade. É essencialmente presente. Os eventos prosseguem em sucessão ordenada e, desde que não há movimento entre o que chamamos passado e futuro, não há conflito.<br />
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A vida é o presente, mas quando nós pensamos, pensamos em termos de passado ou futuro. Viver no agora implica uma mente livre de balanços e recapitulações, livre de ambição e esforço. No presente, não há nenhum pensamento; os pensamentos estão fundidos na totalidade. Viver o momento contém todos os acontecimentos possíveis, de modo que não há lugar para o tempo. Tudo pode ser resumido nisto: o tempo é pensamento e o pensamento aparece no tempo. A beleza e a alegria são reveladas apenas no tempo.<br />
<br />
Você diz com freqüência que a ação correta não é uma questão de moralidade, mas surge naturalmente da espontaneidade. Como eu posso chegar a essa espontaneidade?<br />
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A espontaneidade vem com a escuta e resulta na compreensão. Na audição incondicionada, a qual é silêncio, livre de toda agitação e conceito, a situação é vista em sua inteireza e é desta visão total que surge a ação instantânea apropriada.<br />
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É óbvio que uma ação que procede do pensamento consciente não pode ser espontânea. É igualmente verdadeiro, mas menos óbvio, que as ações que decorrem do hábito, da inclinação ou do instinto não podem ser também espontâneas; porque o hábito e o instinto são condicionados, automáticos e mecânicos, e as ações que surgem da inclinação são motivadas pela justificação, racionalização e conflito. Todas estas são regidas pelo pensamento inconsciente. De fato, apenas podemos chamar de ação aquilo que surge da espontaneidade. Tudo o mais não está livre da interferência e é, portanto, reação.<br />
<br />
Para revelar a espontaneidade, o pensamento consciente e o inconsciente devem terminar. Todas as projeções do intelecto devem cessar para que a espontaneidade criativa possa operar. O esforço intelectual e o cultivo da força de vontade são inúteis na integração da espontaneidade. A mente deve tornar-se humilde e sensitiva, livre de violência, orgulho e ambição. Então, a inteligência real pode funcionar.<br />
<br />
Quando o intelecto se torna silencioso através da observação, através da audição, a natureza básica da mente sofre uma transformação. Esta transformação atinge ao máximo os impulsos e movimentos de nossa vida animal. O intelecto se converte em pensamento claro à luz da inteligência que a tudo integra e nasce um ser humano em toda sua beleza.<br />
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A vida é vivência espontânea intocada pelo tempo.<br />
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O que pode dizer sobre a moralidade social e convencional?<br />
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Quando permite que o Supremo se encarregue de você, a espontaneidade é virtuosa e vai além da moralidade social e convencional.<br />
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Pode-se ser ativo em silêncio?<br />
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O silêncio é nosso estado natural. É o fundamento de tudo. Nenhuma concentração é necessária para estar nele. Enquanto estivermos envolvidos na percepção, nós viveremos no tempo, isto é, apenas no plano horizontal. Mas o silêncio é atemporal. Está no centro onde se encontram tempo e eternidade, onde o horizontal e o vertical se juntam. Este ponto é o coração.<br />
<br />
Habitualmente, em nosso envolvimento com objetos, nós não percebemos realmente as coisas como elas são, mas as vemos apenas como projeções do ego. A menos que permitamos o florescimento de nossas percepções no silêncio sem ego, não poderemos conhecer verdadeiramente a realidade. Você vê esta flor? Permita que ela chegue a você em sua plenitude sem impor sua mente sobre ela. A observação verdadeira é multidimensional. Você vê, ouve, saboreia, cheira, sente, com todo seu ser, globalmente. A visão verdadeira é receptividade vigilante, passividade ativa. Nesta observação, um objeto pode aparecer, mas não se é dirigido para ele.<br />
<br />
O que pensar sobre a morte, e como podemos enfrentar esta experiência?<br />
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O pensamento aparece no silêncio e desaparece no silêncio. Algo que aparece e desaparece em algo, não é senão este algo.<br />
<br />
Igualmente, o que você acredita ser também aparece e desaparece no silêncio. O que você entende por morte não é nada senão um indicador que aponta para o silêncio, para a própria vida. A morte não tem realidade. Mas se não vê desse modo, permanece como uma idéia estagnada na qual você está aprisionado. Enquanto você se tomar por uma entidade independente, está submetido ao karma. Coloquemos de outra forma: antes de falar da morte, pergunte-se o que é a vida. Toda percepção existe apenas porque é existência presente e eterna. Este é o plano de fundo da vigília, do sonho e do sono profundo. No conhecimento vivo, no presente, o problema da morte não tem significado.<br />
<br />
(Diálogos com Jean Klein)</div>
Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-79932855583256763552014-09-08T00:52:00.000+01:002014-09-08T01:01:18.625+01:00O Cântico da Iluminação<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
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<b><span style="font-family: georgia, trebuchet ms, tahoma, verdana, arial; font-size: medium;">O Cântico da Iluminação, chin. <i>Cheng-tao-ko</i></span></b></div>
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<span style="font-family: georgia, trebuchet ms, tahoma, verdana, arial;">Você conhece aquele homem tranqüilo,<br />Que está andando pelo caminho, além do aprendizado,<br />Cujo estado é a não-ação, sem evitar a fantasia, sem procurar a verdade?<br />Ele sabe que a natureza real da ignorância é a própria natureza de Buddha<br />E que o corpo ilusório e vazio é o próprio Dharmakaya.<br /><br />Quando se desperta completamente para o Dharmakaya,<br />Não há mais qualquer coisa.<br />A fonte de todas as coisas, que vem da própria natureza,<br />É o Buddha em seu aspecto absoluto.<br />Os cinco agregados vêm e vão, como meras nuvens no céu vazio;<br />Os três venenos aparecem e desaparecem,<br />Como bolhas na superfície do mar.<br /><br />Quando se compreende a realidade,<br />Não há diferenciação entre sujeito e objeto;<br />O karma que levaria ao sofrimento infinito do inferno<br />Desaparece em um instante.<br />Se esta for uma mentira para enganar os seres sencientes,<br />Que a minha língua seja cortada por tantas eras<br />Quanto os inúmeros grãos de poeira.<br /><br />Uma vez que a mente é desperta para o Zen do Tathagata,<br />As seis perfeições e as dez mil boas ações<br />Já estarão totalmente completas em nós.<br />Em nosso sonho, vemos claramente os seis reinos da ilusão;<br />Após despertarmos, tudo está vazio<br />E nem mesmo os inumeráveis universos poderão ser encontrados.<br /><br />Aqui não há tristeza, nem felicidade, nem perda, nem ganho;<br />Nada pode ser encontrado no meio do nirvana.<br />É como o espelho empoeirado que nunca foi polido;<br />Agora é o momento de limpá-lo completamente, de uma vez por todas.<br /><br />Quem tem o não-pensamento? Quem é o não-nascido?<br />Se nós somos verdadeiramente não-nascidos,<br />Também não somos não-nascidos.<br />Pergunte a um fantoche se não é assim.<br />Como poderíamos obter a própria realização<br />Através das ações virtuosas ou procurando o Buddha?<br /><br />Libere os quatro elementos, não se apegue a coisa alguma;<br />Beba e coma como quiser no meio do nirvana.<br />Veja tudo como impermanente e completamente vazio;<br />Isto é a grande e perfeita iluminação do Tathagata.</span><br />
<a name='more'></a><span style="font-family: georgia, trebuchet ms, tahoma, verdana, arial;"><br />Um verdadeiro monge é totalmente convicto;<br />Se você não for, por favor me pergunte a respeito.<br />Ir diretamente à raiz de tudo isto é o próprio objetivo do selo de Buddha.<br />Não posso ajudar aquele que procura folhas e galhos.<br /><br />As pessoas desconhecem a jóia Mani<br />Que está profundamente incrustada no Tathagatagarbha;<br />A função dos seis sentidos, que ela realiza, é vazia e não-vazia;<br />Dela emana a luz perfeita que tem a forma e a não-forma.<br /><br />As cinco visões são purificadas e os cinco poderes são obtidos<br />Ao se realizar o que está além dos conceitos.<br />Não é difícil reconhecer imagens em um espelho,<br />Mas quem pode segurar o reflexo da lua na água?<br /><br />Sempre indo sozinho, sempre caminhando sozinho,<br />O desperto anda pelo caminho livre do nirvana —<br />Como a antiga melodia que é clara, com a mente elevada,<br />A aparência desalinhada, o corpo forte e magro,<br />Passando desapercebido pelo mundo.<br /><br />Sabemos que os filhos de Shakya<br />São pobres em corpo, mas não na mente do caminho.<br />Em sua pobreza, o corpo é vestido em trapos,<br />Mas sua mente do caminho tem dentro de si<br />A jóia que não tem preço.<br /><br />Esta jóia, que não tem preço, não se gasta,<br />Apesar deles a usarem sem restrições para ajudar os outros,<br />De acordo com as suas necessidades.<br />Os três corpos e as quatro sabedorias estão realizadas dentro dela,<br />As oito liberações e os seis poderes universais estão marcados nela.<br /><br />Os superiores despertam de uma vez por todas,<br />Os inferiores são muito instruídos, mas têm muitas dúvidas.<br />Remova as vestes sujas de sua mente;<br />Para que exibir seu esforço exterior?<br /><br />Deixe que te critiquem, deixem que te ofendam;<br />Aqueles que tentam colocar fogo nos céus com uma tocha<br />Acabam apenas cansando a si mesmos.<br />Ouço seus escândalos como se fossem um néctar;<br />Tudo se dissolve instantaneamente e entro no reino que está além dos conceitos.<br /><br />Por causa disso, as palavras ofensivas são bênçãos<br />E os difamadores são bons amigos.<br />Aceitando a crítica e a difamação,<br />Desenvolve-se o poder da compaixão do não-nascido.<br /><br />Realize tanto a transmissão quanto os ensinamentos<br />E o brilho da lua cheia da meditação e da sabedoria<br />Será perfeito e desimpedido pelo vazio.<br />Não apenas eu realizei esta iluminação completa,<br />Mas todos os buddhas, incontáveis como as areias do Ganges,<br />Tornam-se despertos exatamente da mesma forma.<br /><br />O rugir do leão do Dharma destemido<br />Despedaça os cérebros dos cem animais medrosos.<br />Mesmo o elefante perfumado foge, esquecendo sua dignidade;<br />Apenas o dragão celestial ouve calmamente, com silêncio e alegria.<br /><br />Atravessei muitos mares e rios, vaguei por montanhas e correntezas,<br />Visitando mestres, buscando o caminho e penetrando nos segredos do Zen;<br />Mas desde que reconheci o caminho de Ts'ao-ch'i,<br />Conheço o que está além do nascimento e da morte.<br /><br />Andar é Zen, sentar é Zen;<br />Falante ou silencioso, em movimento ou parado, a essência é a paz.<br />Mesmo ameaçada por espadas e lanças, a mente é serena;<br />Mesmo ameaçada por venenos, não se consegue perturbar sua calma.<br /><br />Nosso mestre, Shakyamuni, encontrou o Buddha Dipankara e,<br />Por muitas eras, praticou como asceta Kshanti.<br />Indo por muitos nascimentos e mortes,<br />Sou sereno neste ciclo, não há fim para ele.<br /><br />Já que realizei subitamente o Dharma do não-nascido,<br />Não tenho razão para ter felicidade na alegria e tristeza na desgraça.<br />Entrei nas montanhas profundas do silêncio e da beleza;<br />Em um vale profundo, entre altos penhascos, sento sob os velhos pinheiros;<br />A meditação em minha humilde cabana monástica é tranqüila e confortável.<br /><br />Quando você desperta verdadeiramente,<br />Tudo é compreendido e nenhum esforço é mais necessário;<br />Você não pode encontrar esta liberdade no mundo da ação.<br />O mérito da generosidade apegada traz a recompensa de renascer no paraíso,<br />Mas isso é como atirar um flecha para o céu;<br />Quando a força se exaurir, ela cairá na terra e tudo dará errado.<br /><br />Por que isso seria melhor do que a realidade da não-ação,<br />Que está acima de todos os esforços,<br />E que realiza instantaneamente o estágio do Tathagata?<br />Segure apenas a raiz e não se preocupe com os galhos;<br />É como a bacia de cristal que reflete a lua brilhante.<br /><br />Agora, que compreendi o que é esta jóia Mani,<br />Utilizo-a para trazer benefícios sem fim, para mim e para todos.<br />A lua brilhante se reflete no rio, o vento sopra entre os pinheiros;<br />Onde está o distúrbio nesta longa e bela noite?<br /><br />A jóia da ética da natureza de Buddha<br />Está incrustada na minha mente.<br />Meu manto é a névoa, o orvalho e as nuvens;<br />O pote é aquele que pacificou os dragões ferozes;<br />O bastão é aquele que separou os tigres briguentos<br />Com o som o claro que tine das argolas de metal.<br />Estes não são meros símbolos, relíquias da história;<br />São os traços distintos do bastão sagrado do Tathagata.<br /><br />O desperto não procura a verdade, não corta a delusão;<br />Ele percebe claramente que as dualidades são vazias e sem forma,<br />Mas esta não-forma não é vazia nem não-vazia.<br />Esta é a forma verdadeira do Tathagata.<br /><br />A mente é um espelho que reflete a pura luz brilhante sem obstáculos,<br />Que penetra em todos os mundos, incontáveis como as areias do Ganges;<br />Nela são refletidas todas as coisas do universo,<br />Brilhando como jóias perfeitas, sem interior ou exterior.<br /><br />Negar o vazio é negar a condicionalidade;<br />Isto causa confusão e certamente traz problemas.<br />O mesmo é verdade sobre aquele que rejeita o ser e se apega ao não-ser,<br />Que salta sobre o fogo ao escapar da água.<br /><br />Tentando obter a verdade ao rejeitar a delusão,<br />Acaba-se caindo no erro do artifício, originando um mente discriminativa.<br />Um discípulo que faz isto com sua prática<br />Confunde um ladrão com o seu próprio filho.<br /><br />A perda do mérito e a destruição do tesouro do Dharma<br />Vem unicamente da mente dualista e discriminativa.<br />Por isso, os praticantes do Zen são ensinados a ter<br />Uma realização completa da natureza da mente,<br />Para que, por meio da visão sábia,<br />Possam realizar instantaneamente o não-nascido.<br /><br />Aquele de grande energia usa a espada da sabedoria,<br />Cuja flamejante lâmina de diamante corta todas as coisas.<br />Ela não apenas destrói conhecimento inútil,<br />Mas também extermina o espírito dos demônios.<br /><br />Ele faz soar o trovão do Dharma, ele toca o tambor do Dharma,<br />Ele espalha as nuvens de compaixão e faz cair a chuva de néctar;<br />Como um elefante ou um dragão, ele beneficia incontáveis seres;<br />Os três veículos conduzem os cinco tipos de seres à iluminação.<br /><br />No alto dos Himalayas, cresce apenas a erva Fei-ni;<br />As vacas que dela se alimentam produzem um leite puro e delicioso,<br />E desses alimentos eu me deleito continuamente.<br />Uma natureza completa permeia todas as naturezas;<br />Um Dharma universal inclui todos os Dharmas.<br /><br />Uma lua é refletida em muitas águas;<br />Todas as luas na água vêm da lua única.<br />O Dharmakaya de todos os Buddhas permeia minha própria natureza,<br />E minha natureza tornou-se una com o Tathagata.<br /><br />Um nível contém completamente todos os níveis;<br />Não é forma, nem mente, nem ação.<br />Em um estalar de dedos, oito mil ensinamentos são realizados;<br />Em um momento, o mal de três éons é destruído.<br /><br />Proposições da lógica não são verdadeiras<br />E não têm qualquer coisa em comum com minha sabedoria,<br />Que está além do louvor, além da censura,<br />Assim como o próprio espaço, que não tem limites.<br /><br />Bem aqui, ela está completamente cheia e serena;<br />Ela é perdida ao ser procurada.<br /><br />Você não pode agarrá-la, você não pode abandoná-la;<br />Mas, se não fizer coisa alguma, ela segue o seu próprio caminho.<br />Se permanecer em silêncio, ela fala;<br />Na fala você ouve o seu silêncio.<br />O grande caminho da caridade está totalmente aberto<br />E não há obstáculos em sua entrada.<br /><br />Se alguém perguntar o que ensino e compreendo,<br />Respondo que é o poder da grande sabedoria.<br />Afirme ou negue, como quiser, ela está além da capacidade humana;<br />Pode andar a favor, pode andar contra —<br />Nem mesmo o céu não pode medi-la.<br /><br />Passei em meditação por muitas éons;<br />Não digo isso sem fundamento, para enganá-lo.<br />Levantei o estandarte do Dharma e apresento o ensinamento<br />Do Dharma do Buddha, que encontrei com Ts'ao-ch'i.<br /><br />Mahakashyapa foi o primeiro na linha de transmissão,<br />Vinte oito ancestrais o seguiram, no oeste;<br />Através dos mares e rios, até chegar à nossa terra,<br />Bodhidharma veio como o nosso primeiro ancestral;<br />Como sabemos, seu manto aqui passou por seis ancestrais,<br />E incontáveis pessoas realizaram o caminho.<br /><br />A verdade não é necessariamente estabelecida;<br />O falso é basicamente vazio.<br />Coloque de lado tanto a existência quanto a não-existência,<br />E então o não-vazio é vazio.<br />Os vinte tipos de vazio não têm base,<br />E a unidade do Tathagata é naturalmente a mesma.<br /><br />A mente é um dos sentidos, as coisas são seus objetos;<br />Esta dualidade é como a poeira sobre o espelho.<br />Quando a poeira é removida, o espelho começa a brilhar;<br />Quando tanto a mente quanto os fenômenos são esquecidos,<br />A natureza manifesta sua vacuidade.<br /><br />Ó, esta é a era do fim do Dharma, e o mundo está cheio de males;<br />As pessoas são desafortunadas e acham difícil o auto-controle.<br />Aos longo dos séculos, desde os tempos de Shakyamuni, as visões falsas são profundas,<br />Os demônios são fortes, o Dharma é fraco,<br />O ódio está em todo lugar, os prejuízos são muitos.<br /><br />As pessoas ouvem o ensinamento de Buddha sobre o despertar instantâneo;<br />Se eles o aceitassem, os demônios seriam esmagados facilmente,<br />Como cacos de uma telha quebrada.<br />Mas eles não o aceitam, que lamentável!<br /><br />Sua mente é a fonte da ação e o corpo é o sofredor da calamidade;<br />Não censure ou acuse os outros por algo que só pertence a você.<br />Se você não quer o sofrimento contínuo,<br />Não fale mal da verdadeira roda do Dharma do Tathagata.<br /><br />Na floresta de sândalo, não há outras árvores.<br />Apenas o leão vive nas florestas profundas,<br />Habitando livremente em um estado de paz.<br />Os outros animais e pássaros ficam muito longe.<br /><br />Apenas os leões-bebê seguem as pegadas de seus pais na floresta,<br />E aos três anos já rugem muito alto.<br />Como podem os chacais seguir o rei do Dharma,<br />Mesmo com cem mil truques, os fantasmas abrem suas bocas em vão.<br /><br />O ensinamento do despertar instantâneo de Buddha<br />Está além da imaginação humana.<br />Se você duvidar ou se sentir incerto,<br />Então você deve discutir isso comigo.<br />Isto não é o egoísmo de um monge da montanha.<br />Temo que sua prática possa ser levada<br />Às visões errôneas do eternalismo ou do niilismo.<br /><br />O "não" não é "não", o "sim" não é "sim",<br />Se você esquecer desta regra por um fio,<br />Estará a mil milhas de distância.<br />Compreendendo-a, a jovem filha do dragão<br />Realiza instantaneamente a iluminação;<br />Não a compreendendo, o mais esclarecido dos sábios,<br />Shang, acaba renascendo no inferno.<br /><br />Desde a minha juventude tenho acumulado conhecimentos,<br />Estudando os sutras, shastras e comentários;<br />Analisando infinitamente os nomes e formas, sem conhecer a fadiga;<br />Uma tarefa exaustiva e vã, como entrar no oceano para contar as areias.<br /><br />Então, o Tathagata me escoltou bondosamente e perguntou,<br />"Qual o benefício de se contar o tesouro dos outros?"<br />Realizei totalmente a inutilidade de meus grandes esforços<br />E a viagem de um monge vagabundo que não chegou a lugar algum.<br /><br />Se a natureza é vista erroneamente,<br />O método do despertar instantâneo do Tathagata não é compreendido;<br />Aqueles que seguem os dois veículos podem estudar seriamente,<br />Mas lhes falta a aspiração do bodhisattva.<br />Os sábios podem ser muito inteligentes,<br />Mas lhes falta a sabedoria.<br /><br />Os estúpidos, infantis, supõem que há algo em um punho vazio<br />E confundem o dedo indicador com a lua.<br />Seus esforços são perdidos no mundo da forma e da sensação,<br />Como sonhadores preguiçosos e errantes.<br /><br />Quando se realiza o reino da não-forma, pode-se ver o Tathagata<br />E ser verdadeiramente chamado Avalokiteshvara.<br />Quando isto é compreendido, os obstáculos do karma tornam-se vazios;<br />Mas quando não é, devemos compensar o preço de nossos débitos.<br /><br />Os famintos são servidos com a refeição de um rei,<br />Mas eles se recusam a comer.<br />Os doentes se recusam a tomar o remédio do maior dos médicos;<br />Como eles poderão ser curados?<br />Pratique o Zen neste mundo dos desejos<br />E se manifestará o poder verdadeiro da visão sábia.<br /><br />O lótus que desabrocha no meio do fogo<br />Nunca poderá ser destruído.<br />Yung-shing quebrou os preceitos mais graves<br />Mas ele realizou o não-nascido;<br />A realização que ele alcançou naquele momento<br />Vive com nós agora, em nosso tempo.<br /><br />O Dharma destemido é proclamado tão alto quanto o rugir do leão.<br />É lamentável que as mentes sejam confusas, inflexivelmente endurecidas como couro;<br />Sabem apenas que a quebra dos preceitos cria obstáculos à iluminação,<br />Mas não conseguem realizar o profundo segredo do ensinamento do Tathagata.<br /><br />Certa vez, dois monges quebraram graves preceitos,<br />Um por assassinato, outro por carnalidade.<br />Seu líder, Upali, tinha a luz de um vaga-lume;<br />Ele apenas aumentou a culpa deles.<br />Vimalakirti desfez instantaneamente as dúvidas de ambos,<br />Como o brilho quente do sol que derrete o gelo e a neve.<br /><br />O poder impressionante da liberação está além dos conceitos,<br />E faz maravilhas inumeráveis como as areias do Ganges.<br />Para o desperto, os quatro tipos de oferendas são feitas facilmente;<br />Dez mil pedaços são desembolsados sem criar dívidas.<br /><br />Mesmo que você corte todo o corpo e reduza os ossos a pó,<br />Isto ainda não é o bastante para recompensar<br />Tudo o que ele fez por nós;<br />Uma única palavra dele vale por cem mil eras de prática.<br /><br />O rei do Dharma merece o nosso respeito mais elevado.<br />Os Tathagatas, inumeráveis como as areias do Ganges,<br />Testemunham este atingimento.<br />Agora sei o que a jóia Mani é,<br />E sei que aqueles que compreendem isto estão em harmonia com ela.<br /><br />Quando vemos verdadeiramente, não há mais nada;<br />Não há mais pessoa, não há mais Buddha.<br />Os inumeráveis universos são apenas bolhas no mar;<br />Todos os santos e sábios são como clarões de relâmpago.<br /><br />Mesmo que anéis de ferro quente girem ao redor de minha cabeça,<br />O brilho perfeito da meditação e da sabedoria não se altera.<br />O poder dos demônios pode fazer o sol se tornar frio e a lua quente,<br />Mas nunca poderá destruir uma palavra da verdade.<br /><br />A carruagem do elefante se move sobre a montanha,<br />Como os insetos poderiam bloquear a estrada?<br />O grande elefante não perde seu tempo sobre as pegadas do coelho.<br />A grande iluminação está além do poder dos conceitos limitados do intelecto.<br /><br />Não tente medir o céu<br />Olhando através de um pequeno canudo de bambu.<br />Se você ainda não teve a compreensão,<br />Este meu cântico está preparado para você.</span><br />
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<span style="font-family: georgia, trebuchet ms, tahoma, verdana, arial;">Você não conhece a felicidade do homem do caminho, que foi além do aprendizado, cujo estado é não-ação,<br />Que nem suprime os pensamentos nem busca a verdade?<br />Para ele, a realidade da ignorância é a natureza búddhica,<br />O vazio ilusório é o Dharmakaya.<br /><br />Quando se desperta para o Dharmakaya, não há objetos.<br />A essência de todas as coisas vem da própria natureza — Buddha;<br />Os cinco agregados — meras nuvens flutuando sem meta, vindo e indo;<br />Os três venenos — bolhas que aparecem e desaparecem.<br /><br />Quando a realidade é atingida, não há ego nem objeto<br />E, dentro desse instante, o karma do sofrimento eterno é varrido.<br />Se houver uma mentira para enganar os seres vivos,<br />Por eras inumeráveis quanto a poeira, possa minha língua ser arrancada.<br /><br />Uma vez que a mente tenha despertado para o Zen do Tathagata,<br />As seis perfeições também serão totalmente perfeitas, assim como os dez mil meios hábeis.<br />Nos sonhos, os seis reinos são vívidos;<br />Quando se despertar, nem mesmo um universo de universos poderá ser encontrado.<br /><br />Não há pecados e não há perda ou ganho,<br />Nada pode ser encontrado no meio do nirvana.<br />É como um espelho cuja poeira nunca foi polida.<br />Agora é o momento para tudo isto ser abertamente decidido.<br /><br />Quem pode ser sem pensamento?<br />E quem é sem nascimento?<br />Então o não-nascido é real, assim é o não não-nascido.<br />Pergunte a um fantoche de madeira quando ele atingirá o estado búddhico praticando o autocultivo.<br /><br />Libere os quatro elementos, não se apegue a coisa alguma!<br />E no meio do nirvana você pode comer e beber!<br />Vendo que todas as coisas não são duradouras e são vazias,<br />Atinge-se o nível da iluminação perfeita dos Tathagatas.<br /><br />Um monge verdadeiro é completamente decidido;<br />Se você não estiver convencido, pergunte-me questões francas.<br />Estar de acordo com o selo do Buddha — vá para a raiz!<br />Não tenho como ajudar aqueles que procuram por galhos...<br /><br />A pérola mani não é conhecida pelos homens,<br />Ela permanece no tesouro do Tathagata e<br />A função sêxtupla está além do "é" e "não é";<br />Dela vem a luz perfeita — não tem forma e, entretanto, não é sem forma.<br /><br />Para purificar os cinco tipos de visão e obter os cinco poderes,<br />Deve-se realizar pessoalmente aquilo que está além do conceito.<br />É fácil reconhecer as imagens em um espelho,<br />Mas como se pode agarrar a luz da água?<br /><br />Alguém assim sempre anda sozinho, pois está sempre sozinho.<br />Todo perfeito viaja no mesmo caminho do nirvana.<br />Seguindo a tradição, sua energia é clara, seu espírito elevado,<br />Sua aparência desgrenhada e seu corpo duro — quem o perceberá?<br /><br />Os filhos do Buddha são sempre pobres.<br />A pobreza é do corpo, não da mente do caminho.<br />Seu corpo está envolto em trapos,<br />Mas sua mente do caminho possui a jóia sem preço.<br /><br />Esta jóia rara é usada sem restrições<br />Para ajudar os outros ou responder acessões, conforme requeridas.<br />Os três corpos e as quatro sabedorias estão perfeitos dentro dela,<br />Os seis poderes e as oito maneiras de liberação por realizações estão impressas nela.<br /><br />Os homens superiores são despertos para um e despertos para todos.<br />Os homens de habilidade inferior aprendem algo e são céticos quanto ao resto.<br />Destrua suas vestes sujas!<br />Como se pode ser orgulhoso quanto aos externos?<br /><br />Deixe-se ser criticado e abusado,<br />Aqueles que acendem tochas para queimar o céu apenas cansam a si mesmos!<br />Ouço-os e isto é néctar.<br />Sou, então, capaz de entrar instantaneamente no reino além do conceito.<br /><br />Por causa disto, as palavras ofensivas são uma bênção<br />E aquele que fala é meu bom amigo.<br />Sem a mente aceitar a difamação e o abuso,<br />Como se poderia manifestar a compaixão do não-nascido?<br /><br />Penetre tanto a transmissão quanto os ensinamentos<br />E a concentração e a sabedoria serão aperfeiçoadas e desimpedidas pelo vazio.<br />Não estou vazio ao chegar nisto;<br />Esta é a realização de todos os Buddhas, em número tão grande quanto as areias do Ganges.<br /><br />Fale sem medo — o rugido do leão,<br />De cujo som todas as feras tremem de medo.<br />Até mesmo os elefantes fragrantes deixam seus calmos passeios e perdem sua dignidade.<br />Apenas o dragão celestial ouve em silêncio e alegria calma.<br /><br />Cruzei muitos rios e montanhas<br />Buscando por mestres para me instruir nos segredos do Zen,<br />Mas então conheci o caminho de Ts'ao Ch'i Hui-Neng<br />E não estou mais preocupado com o nascimento e a morte.<br /><br />Não se desvie do "andar é Zen, sentar é Zen",<br />Essencialmente à vontade, seja falando ou permanecendo quieto, movendo-se ou permanecendo parado.<br />É sereno até mesmo quando recebido com armas afiadas<br />E não se preocupa com venenos.<br /><br />Nosso mestre apenas se encontrou com o Buddha Dipamkara Buddha depois de muitos éons,<br />Disciplinando-se como "alguém que sofre em um estado de paciência".<br />Indo através de tantas repetições de nascimento e morte,<br />Infinitamente ocorrendo novamente...<br /><br />Desde o meu despertar espontâneo para a lei do não-nascimento,<br />Perdi a tristeza da desgraça e a alegria do sucesso.<br />Permaneço em uma cabana na montanha, debaixo do pico elevado dos pinheiros.<br />Sento-me quietamente e sem preocupações nesta morada de monge e, com um coração leve, desfruto da calma.<br /><br />Quando você desperta, isso é tudo — nenhum esforço é necessário.<br />Não há qualquer coisa comum entre "isto" e o caminho do mundo.<br />A caridade dada com apego gera a recompensa no céu, mas isto ainda é como atirar uma flecha no céu;<br />Quando a força se esgota, a flecha cai; coisas desagradáveis se seguem.<br /><br />Compare isto com a realidade não-ativa<br />Sobre todas as coisas,<br />Que permite a entrada instantânea<br />No estágio do Tathagata.<br /><br />Segure a raiz e não se preocupe com os galhos; é como um lago de cristal refletindo a lua brilhante.<br />Agora, percebendo o que é a pérola mani, você deve usá-la para beneficiar a si mesmo e aos outros, sem cessar.<br />A lua refletida no rio, a brisa nos pinheiros,<br />Onde está a perturbação nesta noite quieta?<br /><br />A jóia dos preceitos que está dentro da natureza búddhica estampa-se no solo da mente<br />E as próprias vestes são, agora, a névoa, o orvalho e as nuvens;<br />A própria tigela do tipo que subjuga dragões;<br />O próprio bastão do tipo que separa tigres pelo som claro de suas fileiras gêmeas de argolas de metal.<br /><br />Estes não são meros símbolos, relíquias da história,<br />Mas os traços distintos do bastão sagrado do Tathagata.<br /><br />Não procure o real nem despreze o falso,<br />Ambos são dualidades, fundamentalmente vazias.<br />Aquilo que não é não-vazio nem vazio, mas sim "não não-vazio",<br />É a forma genuína do Tathagata.<br /><br />A mente é um espelho que reflete a pura luz brilhante sem obstrução<br />Conforme penetra nos mundos inumeráveis como as areias do Ganges.<br />Nela, a diversidade dos universos aparece<br />Brilhando como jóias perfeitas, nem dentro nem fora.<br /><br />Não agarre o vazio, não rejeite a lei do karma;<br />Isto causa confusão e certamente traz problemas.<br />O mesmo é verdade quanto ao erro do rejeitar o "é" e de agarrar "o que não é"<br />Isto é como pular no fogo para escapar do afogamento.<br /><br />Quando você tenta obter o verdadeiro rejeitando o falso,<br />Comete o erro do artifício e faz surgir a mente discriminadora.<br />Se um discípulo não fizer isto com seu treinamento,<br />Ele confundirá um ladrão com seu próprio filho.<br /><br />A perda do mérito e a destruição da riqueza do Dharma<br />Vem unicamente da mente relativa e discriminatória,<br />Por causa disso, os seguidores do Zen são ensinados a olhar diretamente para isto,<br />De modo que possam realizar instantaneamente o não-nascimento e a sabedoria de Buddha.<br /><br />Um homem de grande energia usa a espada da sabedoria,<br />Cuja lâmina-vajra flamejante corta tudo.<br />Destrói não apenas a atitude heterodoxa,<br />Mas também se livra dos males espirituais.<br /><br />Ele rola o trovão do Dharma e toca o tambor do Dharma,<br />Elevando nuvens de compaixão do qual cai néctar.<br />Dragões e elefantes vêem para abençoar incontáveis seres<br />E os três veículos carregam os cinco tipos de seres.<br /><br />O leite das vacas é puro e nutritivo, degusto a manteiga refinada que é feita dela.<br />A natureza única permeia todas as outras, o Dharma único desdobra todos os outros Dharmas,<br />A lua única é refletida por todas as águas, o Dharma de todos os Buddhas permeia minha natureza;<br />Estou unido com os Tathagatas.<br /><br />Quando este estágio é atingido, então assim são todos os outros.<br />Não é forma, nem mente, nem ato;<br />E as oitenta mil portas do Dharma são aperfeiçoadas em um estalar de dedos;<br />Em um momento, três eras incontáveis são varridas.<br /><br />As proposições e a lógica não são isto e nada têm em comum com minha sabedoria transcendente<br />Porque ela está além tanto do louvor quanto da censura<br />E sua substância é sem limites.<br />Porém, está sempre presente quando retemos a sinceridade; apenas quando procurada ela se vai.<br /><br />Não pode ser agarrada, nem deixada,<br />Mas, se não fizer nem um nem dois,<br />Ele vai pelo seu próprio caminho.<br />Se permanecer quieto, ela falará — fale e ela ficará quieta.<br /><br />Seu portão caridoso está completamente aberto.<br />Se me perguntarem sobre qual ensinamento entendo, chamo-o de poder da grande sabedoria<br />E nenhum homem pode dizer que estou errado ou certo,<br />Nem mesmo os deuses não podem concordar!<br /><br />Passei muitos longos éons em autocultivo<br />E não falo levemente para enganar.<br />Elevei o estandarte do Dharma e proclamei o ensinamento de nossa escola.<br />Isto é o mesmo que o Buddha comandou Hui-Neng Ts'ao Ch'i a proclamar.<br /><br />Mahakashyapa foi o primeiro na linha de transmissão,<br />Vinte e oito ancestrais seguiram-no, movendo cada vez mais para o leste.<br />O Dharma alcança o reino do meio, onde Bodhidharma foi novamente o primeiro ancestral,<br />Onde seis gerações herdaram seu manto e incontáveis pessoas realizaram o caminho deste famoso.<br /><br />Não estabeleça o real e o falso nunca será formado.<br />Quando existência e não-existência são varridos, não há mais não-vazio.<br />Primeiro, não havia as vinte formas de vacuidade<br />Porque a natureza única do Tathagata abarca todas elas.<br /><br />A mente é um órgão sensorial, as coisas são seus objetos.<br />Esta dualidade é como poeira sobre o espelho.<br />Limpe a poeira e o espelho resplandece brilhantemente.<br />A mente e o objeto desaparecem quando a própria natureza é entendida.<br /><br />Alas! É a era do fim do Dharma e o mundo está cheio de males;<br />Os seres são mal afortunados e a disciplina é difícil.<br />O sábio há muito tempo se foi e as visões pervertidas são profundas.<br />Os demônios maléficos crescem enquanto o Dharma enfraquece, o ódio está em todos os lugares.<br /><br />Mas, quando ouvem do ensinamento do despertar instantâneo do Dharma do Tathagata,<br />Arrependem-se de não terem esmagado-o como telhas quebradas.<br />Quando a mente age,<br />O corpo sofre males;<br /><br />Não culpe ou acuse os outros por isto.<br />Se quiser evitar o karma do sofrimento contínuo,<br />Não fale mal<br />Da roda do Dharma correto do Tathagata.<br /><br />Outras árvores não crescem em uma floresta de sândalo<br />E entre as florestas densas, apenas os leões vivem.<br />Sozinhos e à vontade em seus próprios lugares quietos e familiares,<br />Dos quais todos os outros pássaros e feras fugiram.<br /><br />Apenas as crias do leão seguem nestas pegadas<br />E, quando alcançam a idade de três anos, também rugem.<br />Como podem os chacais esperar seguir o rei do Dharma?<br />Sempre, depois de cem anos, eles abrem suas bocas em vão!<br /><br />O ensinamento da perfeição instantânea está além da imaginação do mundo.<br />Quando uma única dúvida é deixada, ela deve ser resolvida.<br />Digo isto não porque me apego ao "eu" e "outro";<br />Ao invés disso, temo que sua prática cairá na armadilha da "permanência" ou "impermanência".<br /><br />Certo não é certo, nem errado é errado;<br />O menor que se distanciar, irá se distanciar por mil milhas.<br />A donzela dragão que acreditava atingiu instantaneamente o estágio de Buddha<br />O erudito Shang Using, que não acreditava, renasceu no inferno.<br /><br />Em minha juventude, reuni muito conhecimento, procurando os sutras, shastras e comentários;<br />Infinitamente analisei nomes e formas, uma tarefa tão vã quanto contar as áreas no fundo do oceano.<br />Fui severamente aconselhado pelo Buddha, que perguntou, "De que adianta contar os tesouros das outras pessoas?"<br />Então, realizei totalmente a futilidade de meus maiores esforços e da viagem sem meta que fiz.<br /><br />Devido às naturezas perversas e visões errôneas,<br />O método da perfeição instantânea do Tathagata não é entendido.<br />Aqueles do Hinayana esforçam-se o bastante mas não têm o caminho.<br />Os sábios têm inteligência mas não sabedoria.<br /><br />Em sua ignorância e entendimento superficial,<br />Confundem o dedo da mão vazia que aponta com a lua.<br />Seus esforços não são como sonhos preguiçosos<br />No mundo do sentido e objeto.<br />Quando se encontra o reino das não-formas, pode-ser ver o Tathagata<br />E apenas então pode-se verdadeiramente ser chamado "Aquele que Considera os Clamores do Mundo".<br />Uma vez que isto seja entendido, as máculas do karma tornam-se vazias;<br />Quando não há esse entendimento, o preço total do karma é tomado.<br /><br />É como um homem faminto recusando comer uma festa real,<br />Ou um doente recusando um remédio enviado pelo grande médico; como poderiam ser curados?<br />Enquanto no mundo dos desejos, a prática Zen é a mais efetiva —<br />Como um lótus que podem desabrochar no meio do fogo.<br /><br />Yung-shih quebrou as graves proibições,<br />Porém despertou para o não-criado<br />E então atingiu o estado búddhico<br />Há muitas eras atrás.<br /><br />Ensine a doutrina do não-medo tão alto quanto o rugido do leão;<br />Tenha piedade daqueles com mentes confusas, perversas, inflexíveis.<br />São apenas capazes de entender que quebrar preceitos importantes causa obstruções à sabedoria<br />E são incapazes de realizar o segredo profundo do Tathagata.<br /><br />Certa vez, dois monges quebraram preceitos graves, um matando, o outro por carnalidade.<br />Ambos confessaram a Upali, mas seu próprio insight era apenas um brilho feeble e apenas piorou a questão pelo exagero.<br />Portanto, o Mahasattva Vimalakirti varreu as dúvidas da fidelidade<br />E tanto o pesar quanto a dúvida dissolveram-se como gelo sob o sol quente.<br /><br />Este poder de emancipação está além do pensamento<br />E faz maravilhas tão inumeráveis quanto as areias do Ganges.<br />Para ele, a oferenda das quatro necessidades é dada facilmente.<br />De fato, retorna para eles dez mil pedaços de ouro sem causar um débito.<br /><br />Nosso corpo e ossos podem ser reduzidos a pó,<br />E ainda assim não poderíamos recompensar o suficiente por estas palavras<br />Que nos permitem ultrapassar<br />Centenas de milhares de eras.<br /><br />Este é o rei dos Dharmas, insuperável!<br />Os Tathagatas, além de todo número, testemunharem este atingimento.<br />Agora expliquei corretamente a pérola mani e<br />Aqueles que entendem isto estão agora em harmonia com ela.<br /><br />Para aquele que vê claramente, não há uma única coisa a ser vista,<br />Não há um homem aqui, nem um Buddha lá.<br />O universo dos universos é apenas uma bolha no mar,<br />Todos os santos e sábios são apenas relâmpagos.<br /><br />Mesmo que a roda de ferro quente girasse sobre minha cabeça,<br />O brilho perfeito da meditação e da sabedoria é inalterado.<br />O sol poderia ficar frio e a luz quente pelos poderes dos demônios,<br />Mas não podem alterar uma única palavra desta ensinamento confiável.<br /><br />Quando a carruagem grandiosa é puxada por elefantes sobre a colina,<br />Como poderia um louva-deus esperar parar seu progresso?<br />Como os grandes elefantes podem andar nas pegadas dos coelhos,<br />O grande despertar vai além do poder do intelecto.<br /><br />Não tente medir o céu<br />Com um pequeno pedado de reed como bastão de medida;<br />Se não tiver este insight,<br />Esta minha canção é para resolver o assunto para você.</span><br />
<hr color="000000" />
<span style="font-family: georgia, trebuchet ms, tahoma, verdana, arial;">Você já viu aquele do caminho?<br />Além da ação e além do aprendizado, está à vontade,<br />Não se esforçando contra a delusão nem agarrando a verdade.<br />Vê a natureza da ignorância como sendo a consciência essencial,<br />E a ilusão do próprio corpo como o reino da realidade.<br />Realizando completamente o reino da realidade como sendo sem objeto,<br />Encontra a fonte de todas as coisas<br />E nossa própria natureza como sendo a consciência desperta.<br />Os cinco agregados surgem e decaem como nuvens sem meta,<br />As três orientações distorcidas vêm e vão como bolhas na água<br />Realizando a talidade, nem o eu nem as coisas existem;<br />Em um momento, causa e efeito são liberados.<br />Se qualquer coisa que eu disse for falsa,<br />Possa minha língua ser puxada para fora por incontáveis éons.<br />Em um único momento de despertar direta<br />Ao Zen da realidade como uma presença contínua,<br />As seis perfeições e os incontáveis meios hábeis estão completos.<br />Os seis reinos da existência são um sonho;<br />Ao despertar, em nenhum lugar são encontrados.<br />Nenhum erro, nenhuma felicidade, nenhuma perda, nenhum ganho;<br />Você não encontrará estes na natureza real.<br />Tendo deixado de tirar a poeira do espelho,<br />Seu brilho é visto completamente visto.<br />Quem é que pensa em não-pensar e não-existência?<br />O não-nascido é realizado dentro do nascido.<br />Um fantoche de madeira pode atingir o estado búddhico praticante o não-pensar?<br />Sem agarrar os quatro elementos deste corpo, beba e coma alinhado com a natureza real.<br />As aparências são vazias, tudo é impermanente;<br />Esta é a visão completa daqueles que foram para a talidade.<br />Como um monge verdadeiro, falo a verdade.<br />Se você não concorda comigo, vamos discutir,<br />Mas lembre-se que o caminho da consciência desperta<br />Tem como meta raiz e não está enroscada nos galhos e folhas.<br />A jóia que realiza desejos não é reconhecida pelos seres,<br />Mas aqui ela está, dentro da matriz da realidade, como uma presença contínua.<br />O funcionamento dos seis sentidos nem "é" nem "não é"<br />E vem da luminosidade nem "com forma" nem "sem forma".<br />Esclarecer os cinco tipos de visão traz os cinco poderes.<br />Quando você experiencia a verdade, você está sem especulação.<br />Você pode ver seu reflexo em um espelho,<br />Mas você pode agarrar a lua refletida na água?<br />Sempre andamos sozinhos, mas aqueles que atingiram tudo<br />Trilham o mesmo caminho da liberação.<br />Seguindo este antigo caminho, tenha um coração leve.<br />Parecendo selvagem, ossos endurecidos, ninguém o perceberá.<br />A pobreza de um filho do Buddha é óbvia, mas esta pobreza não inclui o seu Zen.<br />Os mantos remendados mostram a pobreza,<br />Mas a mente do Zen está além de todo valor.<br />Esta jóia sem preço pode ser usada sem hesitação<br />Ao cuidar dos seres e amadurecer os potenciais.<br />As três facetas da experiência e as quatro sabedoria estão completas neste tesouro;<br />As seis percepções sutis e as oito liberação são marcas deste selo.<br />Os estudantes excelentes vão direto à vontade.<br />Os fracos e pobres são hesitantes em revelar e abandonar seus véus sujos<br />E são orgulhosos de seu esforço externo.<br />Se as pessoas discutirem com você e o difamarem, deixe-os;<br />Estão brincando com fogo, tentando queimar o céu.<br />Quando os ouço, suas palavras são gotas de néctar<br />E me mostram que este momento é livre de conceitos.<br />Palavras abusivas são bênçãos disfarçadas,<br />E aqueles que abusam de mim, bons professores.<br />Esta mente não tem espaço para difamação e abuso e é,<br />Em si mesma, compaixão e paciência não-nascidas.<br />Penetre tanto a transmissão quanto os ensinamentos,<br />Pratique a harmonia e o insight radical com brilho,<br />Não-obscurecido por noções de vacuidade.<br />Não estou sozinho neste atingimento que os buddhas,<br />Inumeráveis como grãos de areia, mostraram.<br />Falarei livremente o rugido do leão da realidade que coloca medo no coração das feras.<br />Enquanto o elefante foge, esquecendo seu orgulho, o dragão celestial ouve silencioso e alegre.<br />No passado, cruzei montanhas e rios, procurando por mestres e ensinamentos do Zen.<br />Agora, conheço o caminho de Ts'ao-ch'i e minha realização está além do nascimento e da morte.<br />Não perca seu Zen, esteja andando ou sentado;<br />Esteja à vontade na fala ou em silêncio, movendo-se ou parado,<br />Esteja calmo até mesmo quando encarar uma espada e sua claridade nunca será envenenada.<br />Nosso professor Shakyamuni encontrou seu professor Dipamkara<br />Apenas depois de praticar a paciência durante incontáveis éons<br />O nascimento e a morte seguem-se um ao outro, incessantemente.<br />Desperte diretamente para a realidade não-nascida<br />E esteja livre da alegria da fama e da tristeza da perda.<br />Permaneça em eremitérios nas montanhas e vales entre os pinheiros.<br />Pratique alegremente em cabanas vagas, viva livre da complexidade.<br />Compreenda que a realidade e suas ações são sem esforço,<br />Diferente das ações da pessoa comum.<br />A caridade dada dentro de condições por uma recompensa celestial<br />É como atirar flechas no céu; quando sua força é gasta, a flecha cai,<br />Assim como os seres vão para cima, então para baixo.<br />O reino da ação sem condições não é assim;<br />É um salto direto para o reino daqueles que foram para a talidade.<br />Vá para a raiz, deixando os galhos, como a lua brilhante refletida em um cristal.<br />Entenda que a jóia da liberação e a use para beneficiar a si mesmo e a todos os outros.<br />A lua surge sobre o rio, o vento se move nos pinheiros,<br />Tudo durante a noite, pureza, calma; o que esta calma significa?<br />Veja vividamente os preceitos da consciência essencial e o selo do solo da mente.<br />Orvalho, nevoeiro, nuvens e neblina são os verdadeiros mantos de nossos corpos.<br />A tigela do monge que subjuga dragões,<br />O bastão que acalmou os tigres briguentos com o som de seus anéis pendurados<br />Não são apenas relíquias de alguma velha fábula,<br />Mas símbolos dos preciosos ensinamentos do Tathagata.<br />Não procure a verdade ou evite a delusão;<br />Ambos são completamente vazios, sem forma.<br />Nem vazio, nem sem forma, este é o corpo do Buddha.<br />O espelho luminoso do conhecimento reflete tudo o que é mostrado,<br />Seu brilho vasto permeia inumeráveis mundos.<br />Tudo o que há, as dez mil experiências,<br />Surgem como esta luminosidade além do "com" e do "sem".<br />Não agarre a "vacuidade" e ignore a causa e efeito; essa confusão precipitada leva apenas ao sofrimento.<br />Rejeitar a verdade e o agarramento às entidade também é um erro,<br />É como pular em um fogo para evitar o afogamento.<br />Rejeitar a delusão e agarrar a verdade ajusta-se perfeitamente à mente do gostar e desgostar.<br />Os estudantes que praticam deste modo são como se estivessem<br />Confundindo um ladrão com seu próprio filho.<br />Ignorar o tesouro da realidade e perder o mérito para despertar a si e aos outros<br />É devido à oitava, sétima e sexta consciências.<br />Com insight direto nestes, pratique o Zen e realize o não-nascido com a irradiação inteligente.<br />Seja forte e use a espada do insight; sua lâmina é afiada e brilhante com o vajra,<br />Corta a confusão e o orgulho dos seres brilhantes e demônios.<br />Rufa o trovão da realidade, bata o tambor dos ensinamentos,<br />Espalhe as nuvens da compaixão e solte a chuva de néctar.<br />Dragões e elefantes surgem para beneficiar incontáveis seres<br />E conduzem os cinco tipo de estudantes através dos três aspectos dos ensinamentos.<br />O leite dos Himalayas é puro e rico, faz o ghee que gosto<br />Uma natureza permeia todas as naturezas, uma coisa segura todas as coisas.<br />Uma lua é refletida em todas as águas, todos estes reflexos são uma lua.<br />O reino da realidade de todos os buddhas é minha própria natureza,<br />Minha própria natureza são todos os Tathagatas.<br />Um estágio de prática contém todos os estágios, sem forma, sem pensamento ou ação.<br />Em um estalar de dedos, oitenta mil portas são abertas e três grandes éons desaparecem em um instante.<br />Nomes e categorias, e estar sem elas, nada têm a ver com o conhecimento perfeito.<br />É sem louvor ou culpa, é sem limites, como o espaço.<br />Está em qualquer lugar onde você esteja, está livre da luta e da busca, não pode ser segurado ou solto.<br />Abandone a busca, está aqui, seu silêncio fala, sua fala é silenciosa, sua grande generosidade abre bem a porta.<br />Se me perguntar que doutrina ensino, direi a você, é a vasta consciência.<br />Ninguém pode concordar ou discordar disto e até mesmo os seres brilhantes podem apenas especular.<br />Tendo praticando isto por muitos anos, não tenho escolha, a não ser dizer a verdade.<br />Levante o estandarte dos ensinamentos, proclame os ensinamentos da linhagem —<br />Esse era o comando de Buddha a Ts'ao-ch'i.<br />Nos registros indianos, Mahakashyapa foi o primeiro a receber a transmitir<br />A lamparina e então através de vinte e oito ancestrais.<br />Através do primeiro ancestral, Bodhidharma, os ensinamentos da realidade<br />Vieram do leste para o reino do meio,<br />Através de seis ancestrais que receberam o manto e então a incontáveis que realizaram o caminho.<br />A verdade não se coloca sozinha, o falso não existe sozinho.<br />Quando desaparecem as idéias de ser e não-ser, tudo é vazio.<br />Os ensinamentos sobre as vinte vacuidades têm a meta de desembaraçá-lo<br />Todos são a exibição deste corpo único do Tathagata.<br />A mente surge com as experiências como seus objetos, sujeito e objeto são poeira sobre um espelho.<br />Livre da poeira, o espelho brilha; a natureza real é conhecida quando a mente e as coisas não surgem.<br />Nesta era do fim e deste mundo triste, os seres que sofrem resistem à verdade.<br />O tempo do Buddha há muito se foi e a confusão é profunda,<br />A delusão é forte, a prática é fraca, o medo e o ódio aumentam.<br />Ouvindo o caminho direto do Tathagata, algum se arrependem, não sendo capazes de o esmagar a pedaços.<br />O agarramento faz surgir o sofrimento, não culpe os outros pelas suas próprias ações.<br />Se você não quer viver no sofrimento, não difame os ensinamentos do Tathagata.<br />Apenas o sândalo cresce com o sândalo, os leões descansam em florestas escuras,<br /> vagam sozinhos e à vontade onde pássaros e outros animais não são encontrados,.<br />Os filhotes de leão seguem os mais velhos e até mesmo um de três anos pode dar um rugido.<br />Uma raposa, mesmo se seguir o rio dos ensinamentos, ainda pode apenas uivar em vão.<br />O ensinamento direto e radical está além do sentimento, não há espaço para dúvida ou hesitação.<br />Este monge não diz isto para criar divisões; é apenas que você deveria saber<br />Sobre a armadilha da permanência e o seu oposto.<br />O certo não é certo, o errado não é errado; mas uma polegada de desvio leva a mil milhas para fora.<br />Uma garota do povo dragão, que não se desviou da fonte,<br />Uma vez realizou o Buddha, enquanto Sunakshatra renasceu nos infernos.<br />Em minha juventude, acumulei conhecimento, lendo os discursos e comentários.<br />Caí no nome e forma, o que faz tanto sentido quanto tentar contar as areias no fundo do oceano.<br />O Buddha estava falando sobre mim quando disse, "Que ganho há em contar o tesouro dos outros?"<br />Percebi quantos muitos anos me desviei e vaguei perdido.<br />Devido às inclinações tortuosas e visões errôneas, a perfeição direta do Tathagata é mal entendida.<br />Os homens do caminho estreito praticam sem compaixão,<br />Os eruditos mundanos têm conhecimento mas não sabedoria.<br />Tolos, com interpretações errôneas, perdem o dedo da mão vazia que aponta.<br />Confundindo o dedo com a lua, sua prática é confusa e fabricam complexidade com os sentidos e objetos.<br />Quando nenhuma coisa é vista, este é o reino da realidade<br />Como presença contínua e se é verdadeiramente o vidente soberano.<br />Entenda a verdade e todos as máculas condicionais não são encontrados em lugar algum;<br />Não conhecendo a verdadeira vacuidade, você se preocupa com débitos e créditos.<br />Isto é como um homem esfomeado rejeitando uma festa para um rei,<br />Ou alguém doente recusando a prescrição do médico.<br />Pratique o Zen neste mundo dos desejos assim como um lótus florescendo no meio das chamas.<br />Até mesmo Pradhanasura, apesar de ter quebrado os preceitos graves,<br />Despertou para o não-nascido e atingiu sua realização do Buddha.<br />Tendo ouvido o rugido do leão, o ensinamento destemido,<br />O que será daqueles que ondulam obstinadamente?<br />Quebrando seus preceitos, perdendo sua sabedoria, ignoram a porta aberta pelo Tathagata.<br />Certa vez, dois monges — um dos quais tinha cometido má conduta sexual, o outro tinha matado —<br />Foram condenados pela sabedoria bruxuleante de Upali.<br />O Grande ser Vimalakirti apagou suas dúvidas como o sol derretendo o gelo e a neve.<br />O poder inconcebível para liberar os seres tem atividades inumeráveis como as areias do Ganges.<br />Fazendo os quatro tipos de oferendas, até mesmo mil pedaços de ouro não seriam suficientes;<br />Reduzir os ossos e o corpo a poeira não poderia recompensar<br />As palavras que asseguram um salto sobre éons inumeráveis.<br />Esta é a suprema realidade soberana, a experiência de incontáveis Tathagatas.<br />Entendendo o que é esta jóia precisa da mente, agora a transmito a quem quer que a receba.<br />Vendo claramente, não há uma única coisa, nem homem, nem Buddha.<br />Os mundos do universo são como espuma sobre o mar, homens sábios aparecem como relâmpagos.<br />Até mesmo com uma roda de ferro quente queimando sobre a própria cabeça,<br />A grande prática realizada não será afetada.<br />Até mesmo se os demônios pudesse esfriar o sol e esquentar a lua,<br />Não poderiam obstruir a verdade destas palavras.<br />Quando uma carruagem puxada a elefante se move,<br />Poderia um louva-deus bloquear a sua passagem?<br />Os elefantes não podem se ajustar nos rastros de um coelho,<br />A iluminação não pode ser circunscrita.<br />Não abuse do absoluto com visões estreita;<br />Se não estiver claro, esta canção dá a chave."</span><br />
<div align="right">
<i><span style="font-family: georgia, trebuchet ms, tahoma, verdana, arial; font-size: x-small;">Yung-chia Hsüan-chüeh (Yoka Genkaku), 665-713</span></i></div>
<span style="font-family: georgia, trebuchet ms, tahoma, verdana, arial;"><br /></span>
<span style="font-family: georgia, trebuchet ms, tahoma, verdana, arial;"><br /></span>
<span style="font-family: georgia, trebuchet ms, tahoma, verdana, arial;">http://web.archive.org/web/20070609140815/http://www.dharmanet.com.br/zen/shodoka.htm</span><br />
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<br /></div>
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Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-91170033440956018662014-08-03T00:09:00.000+01:002014-08-03T00:10:10.423+01:00EU SOU AQUILO<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Do livro ‘I AM THAT’, de Shri Nisargadatta Maharaj<br />
<br />
<div>
(Q=pergunta; NM=resposta de Nisargadatta)<br />
<br />
“Quando se atinge a iluminação, a visão total atingida é tão clara que o indivíduo não faz mais do que rir e até, em aparência, ser irreverente, quando vê a fantástica superestrutura de superstições, ilusões e mistérios que está erigida (pelas nossas crenças e religiões, tradições, costumes e cultura, suposições e sociedade) sobre e em torno da simplicidade elementar que é a Verdade".<br />
<br />
"Quando você está interessado na verdade, na realidade, você deve questionar todas as coisas, mesmo sua própria vida. Ao crer na necessidade de uma experiência sensorial e intelectual emocionante, você limita sua investigação à busca de satisfação e de conforto.” (E não vai à busca da Verdade).<br />
<br />
“Enquanto houver um corpo e uma mente para proteger o corpo, existirão atrações e repulsões (devidos às limitações da mente individual em face de suas ilusões, suposições, crenças, cultura etc.). Existirão no campo dos fatos, mas não devem trazer preocupação para aquele que está compreendendo. O foco de sua atenção estará em outro lugar (além da mente). Não estará distraído”.<br />
<br />
"Este que vê o tudo isto e também vê o nada, é o mestre interior (aquilo a que damos o nome de Deus). Só ele é; todo o restante parece ser. Ele é seu próprio ser, sua esperança e segurança de liberdade: encontre-o e una-se a ele (isto é, perceba-o), e estará a salvo e seguro” (‘... a Verdade vos libertará’).<br />
<br />
“A Libertação não é uma aquisição, mas uma questão de coragem; coragem de aceitar que você já é livre e de agir com base nisso”. <br />
<a name='more'></a><br />
Q: Mas pensar, racionalizar não é o estado normal da mente? A mente pode parar de trabalhar, de funcionar?<br />
<br />
NM: Pode ser o seu estado habitual, mas isso será sempre o seu estado normal? Um estado normal não é doloroso enquanto que o habitual quase sempre leva à dor e ao sofrimento. <br />
<br />
Q: Se esse não é o estado natural ou normal da mente, como cessá-lo? Deve haver uma forma de aquietar a mente. Quantas vezes digo a mim mesmo: ‘por favor, pára, chega deste falatório sem fim, de frases repetidas vezes sem conta!’ Mas a minha mente não pára. Sinto que é possível pará-la um pouco, mas não por muito tempo. Até mesmo os assim chamados "espirituais" usam artimanhas para manter as suas mentes quietas. Eles repetem fórmulas, cantam, rezam, fazem respiração forçada ou suave, giram, concentram-se, meditam, buscam transes, cultivam virtudes - trabalham o tempo todo de forma a pararem de trabalhar, pararem de procurar, pararem de se mover (para que a mente pare de operar). Quando isso não é trágico, é ridículo.<br />
<br />
NM: A mente existe em dois estados: enquanto água e enquanto mel. A água vibra ao mínimo distúrbio enquanto que o mel, embora perturbado, retorna rapidamente à imobilidade.<br />
<br />
Q: Pela sua natureza a mente é agitada. Talvez ela possa ser aquietada, mas não é quieta por si mesma, não é isso? <br />
<br />
N.M.: Quando tens febre, tremes a toda a hora. São os desejos e os medos (a febre) que fazem a mente inquieta (trêmula). Livre de todas essas emoções a mente fica quieta.<br />
<br />
Q: Sim, às vezes sinto isso. Mas sempre que a sensação de perigo se instala, eu me sinto isolado, à parte de todas as relações com os outros. Você entende? É aqui que está a diferença entre as nossas mentalidades. Na mentalidade hindu, a emoção segue o pensamento. Dê a um hindu uma idéia e as suas emoções afloram. Com um ocidental é o oposto: dê-lhe uma emoção e ele irá produzir muitas idéias. As suas idéias são muito atrativas intelectualmente, mas emocionalmente não. <br />
<br />
NM: Coloca o teu intelecto à parte. Não o uses nestes assuntos (isto é, esqueça o ‘eu’).<br />
<br />
Q.: De que serve um conselho se não podemos lhe dar continuidade (se não podemos aplicá-lo corretamente)? Tudo isto são idéias e você quer que eu não responda emotivamente às idéias. Sem emoção, como pode haver ação?<br />
<br />
NM: Por que falas em ação? Alguma vez ages por conta própria? Algum poder desconhecido age e tu imaginas que és tu que estás a agir. Tu estás meramente a ver o que acontece sem poderes influenciar em nada (és apenas testemunha).<br />
<br />
Q: Por que há uma resistência tão grande em mim para a aceitação de que não posso fazer nada, de que não decido nem escolho?<br />
<br />
NM: Mas, que podes tu fazer? Tu és como um paciente sob anestesia no qual o cirurgião faz uma cirurgia. Quando acordas vês que a operação terminou; podes dizer que fizeste alguma coisa?<br />
<br />
Q: Mas fui eu que escolhi submeter-me à cirurgia.<br />
<br />
NM: Claro que não. Foi a tua doença, por um lado, e a pressão do teu médico e da família, por outro, que te fizeram, aparentemente, decidir. Não tens escolha alguma; apenas a ilusão de que escolhes, de que tu decides; não há escolha. <br />
<br />
Q: No entanto, não me sinto tão indefeso quanto você faz parecer. Sinto que posso fazer tudo aquilo que penso; só não sei como fazer. Não é o poder que me falta, é o conhecimento. <br />
<br />
NM: Não conhecer os meios para fazer é admitido como sendo tão mau quanto não ter o poder! Mas deixemos este assunto por agora; afinal, não é importante o motivo pelo qual nos sentimos indefesos, mas sim que consigamos ver claramente que neste momento somos indefesos.<br />
<br />
Eu tenho agora 74 anos e, no entanto, me sinto como se fosse uma criança. Eu sinto claramente que apesar de todas as mudanças eu sou uma criança. O meu Guru disse-me: essa criança, que és tu neste exato momento, é o teu verdadeiro eu. Volta a esse estado de puro ser, onde o "Eu sou" ainda está na sua pureza antes de ter sido contaminado e confundido com "eu sou isto" ou "eu sou aquilo". O teu fardo (os teus problemas) é de falsas identificações - abandona-as todas. O meu Guru disse: "Confia em mim. Eu te digo: tu és divino. Toma isto como verdade absoluta. A tua alegria é divina, o teu sofrimento também é divino. Tudo vem de Deus. Lembra-te sempre: Tu és Deus, e sempre é feita a tua vontade." Eu acreditei nele e rapidamente realizei o quão as suas palavras eram verdadeiras e certas. Não condicionei a minha mente pensando: "Eu sou Deus, eu sou maravilhoso, eu estou além." Simplesmente segui a sua instrução que era focar a mente no puro "Eu sou" e ficar aí. Eu costumava sentar-me durante horas seguidas com nada exceto o "Eu sou" na minha mente e, cedo, a paz e a alegria e um amor profundo e envolvente tornaram-se o meu estado normal. Nisso, tudo desapareceu - eu, o meu Guru, a vida que vivia, o mundo à minha volta. Apenas a paz se manteve envolta por um silêncio incompreensível.<br />
<br />
Q: Parece tudo muito simples e fácil, mas não é. Às vezes acontece o maravilhoso estado de alegria e eu olho e penso: quão facilmente vem e quão parece íntimo e totalmente meu. Onde estava a necessidade de lutar tão fortemente por este estado que é tão próximo? Mas cedo esse estado se dissolve e deixa-me a pensar se teria sido realidade ou alguma ilusão. Se era realidade, por que se foi embora? Talvez seja necessária alguma experiência singular para se ficar nesse novo estado para sempre e, até que essa experiência crucial aconteça, este jogo de esconde-esconde vai continuando. <br />
<br />
NM: A tua expectativa de algo singular e dramático, de alguma explosão maravilhosa, está apenas a atrasar (é apenas obstáculo) a tua realização. Não é para esperares uma explosão, pois a explosão (esse milagre) já aconteceu - no momento do teu nascimento, quando te realizaste como sendo ser-conhecimento-sensação. Há apenas um erro que estás a fazer: tu tomas o dentro como sendo o fora e o fora como sendo o dentro. O que está em ti, tu tomas como estando fora de ti, e, o que está fora, tu tomas como estando dentro de ti (isto é, a tua interpretação sempre incorreta das coisas do mundo). A mente e os sentimentos são externos, mas tu os tomas como internos, íntimos. Tu acreditas que o mundo é objetivo, mas ele é inteiramente uma projeção da tua psique. Essa é a confusão básica e nenhuma explosão a vai esclarecer. Tens de te pensar fora disso. Não há outra forma.<br />
<br />
Q: Como é que eu vou me pensar desse modo se meus pensamentos vêm e vão conforme querem? (os pensamentos vêm e não são nossos, porque a escolha e a decisão também não são nossas). O falatório interminável dos pensamentos (o filme emotivo-imaginativo) me distrai e me deixa exausto, na tentativa de controlá-lo. <br />
<br />
NM: Observa os teus pensamentos assim como observas o movimento na rua, como observas as nuvens flutuando no céu. As pessoas vêm e vão; registra isso sem resposta (sem qualquer reação). Pode não ser fácil no início, mas, com alguma prática, irás descobrir que a tua mente pode funcionar em vários níveis ao mesmo tempo e que podes estar ciente de todos eles. Apenas quando tens um forte interesse num nível específico é que a tua atenção é aprisionada nele e os outros níveis te são ocultos. Neste caso, o trabalho nos níveis barrados continua fora do campo consciente. Não lutes com as memórias e pensamentos; tenta apenas incluir no teu nível de atenção outras questões mais importantes como "Quem sou eu? Como é que nasci? De onde vem este Universo à minha volta? O que é real e o que é falso?" Nenhuma memória irá persistir se perderes interesse nela; ela é a ligação emocional que perpetua o laço (com tudo que está a acontecer; não te esqueças que és apenas testemunha; não adianta tentares interferir). <br />
<br />
Estás sempre à procura de prazer, evitando a dor, sempre atrás da felicidade e da paz. Não vês que é essa mesma busca por felicidade que te faz sentir infeliz? Tenta de outro jeito: indiferente à dor e ao prazer, sem perguntar, sem recusar, dá toda a tua atenção ao nível no qual "Eu sou" está eternamente presente. Em breve irás perceber que a paz e a felicidade são a tua própria natureza; é apenas quando as procuras por canais específicos que elas são perturbadas. Evita essa perturbação; isso é tudo. Não há necessidade de procurar; não há necessidade de procurar aquilo que já tens (aquilo que já és). Tu és Deus, a Realidade Suprema. Para começar, confia em mim, em minhas palavras. Isso permite que tu dês o primeiro passo - e então a tua confiança será justificada através da tua experiência. Em cada caminhada na vida, confiança inicial é essencial; sem isso, pouco pode ser feito. Cada passo é um ato de fé.<br />
<br />
Até o pão diário tu comes confiando! Lembrando-te do que te disse: tu conseguirás tudo. Digo-te outra vez: Tu és a realidade que em tudo está e que a tudo transcende. Age de acordo com isso: pensa, sente e age em harmonia com o todo e a confirmação da experiência do que eu digo irá florescer em ti brevemente. Nenhum esforço é necessário. Tem fé e age a partir daí. Nada quero de ti. É no teu interesse que te falo porque, acima de tudo, tu te amas a ti mesmo, tu te queres seguro e feliz. Não tenhas vergonha disso; não o negues. É natural e bom que nos amemos a nós mesmos. Apenas deves saber o que realmente amas. Não é o corpo que amas, é a Vida - sentindo, pensando, fazendo, amando, lutando, criando. É a Vida que amas, a vida que és tu mesmo e que é tudo. Perceba isso na sua totalidade, além de todas as divisões e limitações, e todos os teus desejos se dissolverão nisso, pois o maior contém o menor. Por isso, encontra-te; pois te encontrando, encontras tudo.<br />
<br />
Todos estão felizes em ser. Mas poucos conhecem a sua totalidade. Tu a conheces quando acolhes na tua mente "Eu sou, Eu sei, Eu amo" com a vontade de atingir o mais profundo significado destas palavras. <br />
<br />
Q: Posso pensar que sou Deus?<br />
<br />
NM: Não te identifiques com nenhuma idéia ou pensamento. Se por Deus queres dizer o Desconhecido, então diz simplesmente: "Eu não sei o que eu sou". Se conheces Deus como sendo o que és, não precisas dizê-lo. O melhor é o simples "Eu sou". Insiste nele pacientemente. Aqui a paciência é sabedoria; não penses em fracasso. Não pode haver fracasso nesta empreitada.<br />
<br />
Q: Mas os meus pensamentos não deixam.<br />
<br />
NM: Não lhes prestes atenção. Não lutes contra eles. Apenas não faças nada, deixa-os estar (e se irem), o que quer que sejam. Quando lutas com eles estás a dar-lhes vida. Ignora-os. Olha através deles. Lembra-te de te lembrares: "o que quer que aconteça acontece porque eu sou". Tudo te lembra que és. Para experienciares tu tens de ser. Não precisas parar de pensar. Apenas parar de estar interessado (emocionado, envolvido, como se pudesse fazer alguma coisa a respeito). É o desinteresse que liberta. Não te segures (nada de esforço); isso é tudo. O mundo é feito de anéis, mas os ganchos (que te prendem) são todos teus (feitos por ti). Endireita os teus ganchos e nada irá te deter: deixa de lado os teus vícios (de imaginar, se emocionar, de crer em ilusões). Não há nada mais para deixar de lado. Pára a tua rotina da aquisição, o teu hábito de esperar resultados (isto é ‘deixa a Deus os frutos de tua ação’) e a liberdade do universo será tua. Sê sem esforço. <br />
<br />
¨Q: Mas a vida é esforço. Há tantas coisas para fazer. <br />
<br />
M: O que precisa ser feito, tu farás mesmo que não queiras (pois não decidimos). Não resistas. O teu equilíbrio deve ser dinâmico, baseado em fazer apenas o que tens de fazer momento a momento. Não sejas uma criança que não quer crescer. Gestos estereotipados (copiados, imitados, rituais, cerimoniais etc.) e posturas (corporais ou psicológicas) não irão te ajudar. Confia inteiramente na tua clareza de pensamento, pureza de motivação e integridade de ação. Não poderás fazer mal. Vai além e deixa tudo o mais para trás.<br />
<br />
Q: Mas pode alguma coisa ser deixada para trás para sempre?<br />
<br />
NM: Tu queres qualquer coisa, como um êxtase eterno. O êxtase vem e vai, necessariamente, pois o cérebro humano não consegue agüentar a tensão por muito tempo. Um êxtase prolongado rebentaria com o teu cérebro a não ser que este seja extremamente puro e sutil. Na natureza nada está parado; tudo pulsa e flui, aparece e desaparece. Coração, respiração, digestão, sono e despertar, nascimento e morte, tudo vem e vai em ondas (num fluir eterno). Ritmo, periodicidade, harmoniosa alternatividade de extremos, essa é a regra. Não adianta revoltar-se contra o padrão da vida. Se procuras o imutável, vai além da experiência. Quando eu digo: lembra-te sempre de "Eu sou”, eu quero dizer: "volta a ‘Eu sou’ repetidamente". Nenhum pensamento é o estado natural da mente; apenas o silêncio é. Não a idéia de silêncio, mas o silêncio, ele mesmo. Quando a mente está no seu estado natural, reverte ao silêncio espontaneamente e, depois, toda ‘experiência’ acontece sobre o fundo do silêncio (pois não há mais o ruído produzido pela interferência do ‘eu’). <br />
<br />
Agora, aquilo que aprendeste aqui se torna a semente. Podes esquecê-lo, aparentemente. Mas irá viver e, na estação devida, irá brotar e crescer trazendo flores e frutos. Tudo acontecerá por si mesmo. Não precisas fazer nada, apenas não evitar (não escolher, não ter preferência por) nada. <br />
<br />
O mundo existe somente como um sonho em minha Consciência. O que quer que tenha uma forma se constitui tão somente de limitações imaginadas em minha consciência. Por si mesmo nada tem existência. Tudo precisa de sua própria ausência. Ser (viver), é ser distinguível (diferente dos demais), estar aqui e não lá, é ser agora e não depois, ser assim e não assado (mas somos o que somos; nada pode mudar isso). Como a água é moldada pelo vaso que a contém, assim também todas as coisas (fatos, pensamentos etc.) são determinadas por suas condições próprias.<br />
<br />
O Puro Ser preenche tudo e é além de tudo. Toda limitação é imaginária (ilusão); somente o ilimitado é real. O mundo não é nada mais que um faz de conta, um show cheio de ‘glitter’ (atrativos) e vazio. Ele é e, ao mesmo tempo, não é. Ele está lá pelo tempo que eu queira vê-lo e tomar parte nele. Quando eu deixo de me importar (de me interessar por ele), ele se dissolve. Ele não tem qualquer causa e não serve a qualquer propósito. Ele só acontece quando estamos mentalmente-ausentes (distraídos, desatentos). Ele se parece exatamente com o que é, mas não há qualquer profundidade nele, qualquer sentido. Somente o sobre-observador (a subjetividade absoluta) é real, chame-o Eu ou Atman. Para o Ser, o mundo não é mais que um show colorido, o qual ele curte “infinitamente” enquanto dure, e o esquece quando ele se vai. O que quer que aconteça no palco faz o ‘eu’ encolher-se aterrorizado ou rolar de rir no chão, e, ainda assim, todo o tempo ele está atento ao espetáculo, esquecido de que tudo é apenas um show. Contudo, o Eu, sem desejo ou medo, o aprecia tal qual ele se apresenta (sem interferir com julgamentos e avaliações, suposições e crenças). <br />
<br />
O universo é um palco sobre o qual um drama mundial está sendo representado. A qualidade da performance (do desempenho) é tudo o que importa; não o que o ator diz ou faz, mas como ele o faz e diz. Desportistas parecem fazer um tremendo esforço: ainda assim seus únicos e inconfundíveis motivos (‘leit-motive’) são jogar e mostrar o que sabem fazer. <br />
<br />
Tudo acontece como é necessário, e ainda assim nada acontece. Eu faço o que parece ser o necessário, mas ao mesmo tempo eu sei que nada é necessário, que a vida em si mesma é uma fantasia. <br />
<br />
Você me vê aparentemente funcionando, agindo. Na realidade, eu somente olho (observo apenas como testemunha, sem nunca poder interferir). O que quer que seja feito (que esteja acontecendo) está apenas acontecendo no show, no palco. Contentamento e tristeza, vida e morte, eles todos são reais para o homem limitado; para o Eu, eles estão todos no show, são o show, tão irreais quanto o show em si mesmo. O Eu percebe o mundo como você o percebe, mas você acredita estar nele (pela interpretação falha das coisas do mundo), enquanto Eu o vejo apenas como uma gota iridescente (brilhante, colorida) na vasta imensidão da consciência. <br />
<br />
Tudo o que vive, trabalha para perpetuar e expandir a consciência (mesmo inconscientemente). Este é todo o significado do mundo. É a verdadeira essência do Yoga - sempre elevando o nível de consciência, descobrindo novas dimensões, com suas propriedades, qualidades e poderes. Neste sentido, o universo inteiro se torna uma escola.<br />
<br />
De uma barra de ouro, você pode fazer muitos ornamentos, mas, cada um, permanecerá sendo ouro. Do mesmo modo, em qualquer papel que eu possa estar desempenhando e em qualquer função que eu possa estar representando – eu permaneço o que sou: o “Eu sou” inamovível, imperturbável, independente, livre. Tudo, o que chamamos de universo, natureza, tudo é minha criatividade espontânea. O que quer que aconteça, acontece. Mas minha natureza é tal que tudo termina em contentamento.<br />
<br />
O Mundo que eu percebo é inteiramente privado (particular, intimo), um sonho (apenas meu). O mundo que você percebe é de fato um mundo pequeno. E ele é inteiramente particular (seu). Tome-o como um sonho e acabe com ele. Não é a idéia de um mundo total uma parte de seu mundo pessoal? O universo não vem para dizer que você é parte dele. É você quem inventou uma totalidade para conter você como uma parte. Na verdade tudo o que você conhece é seu próprio mundo privado, não importa quão belamente você o tenha mobiliado com suas idéias, medos, imaginações, ilusões e expectativas. <br />
Este mundo é pintado por você sobre a tela da consciência e é inteiramente seu próprio mundo privado. <br />
<br />
Saber que o filme (o mundo) é apenas um jogo de luz sobre a tela, traz a libertação da idéia de que o show é real. <br />
<br />
Considere: o mundo no qual você vive, quem mais sabe sobre ele (totalmente) como você? Dentro da prisão de seu mundo aparece um homem que lhe diz que esse mundo de dolorosas contradições, que você criou, não é nem contínuo nem permanente e está baseado em um mal-entendido (ilusões). Ele insiste com você para que você o abandone. Você entra nesse mundo esquecendo (nem sabendo) o que você é, e você sai dele conhecendo a si mesmo como você é. Não há, nele, qualquer realidade. Ele não perdura (na consciência de quem desperta). <br />
<br />
O mundo não tem qualquer existência separada de você. A cada momento ele não é senão um reflexo de você mesmo. Você o cria; você o destrói. Seu universo pessoal não existe por si mesmo. É apenas uma visão limitada e distorcida do real.<br />
<br />
Você não é do mundo; você nem mesmo está no mundo. O mundo não é; você sozinho é. Você cria o mundo em sua imaginação como um sonho. Como você não pode separar o sonho de si mesmo, assim também você não pode ter um mundo exterior independente de si mesmo. Você é que é independente, não o mundo. Não tenha medo de um mundo que você mesmo criou. <br />
<br />
Busque e você descobrirá a Pessoa Universal que é você mesmo, e infinitamente mais. De qualquer modo, comece realizando que o mundo está em você, e não você nele. Seu corpo pessoal é uma parte na qual o todo está maravilhosamente refletido. <br />
<br />
Mas você tem também um corpo universal. Você nem mesmo pode dizer que não o conhece, porque você o vê e o experiencia todo o tempo. Somente você o chama de “o mundo” e está com medo dele. Ambas, a anatomia e a astronomia descrevem você. Você conhece o mundo exatamente como você conhece seu corpo – através dos sentidos. É sua mente que separou o mundo de fora, limitado por sua pele, do mundo de dentro e os colocou em oposição. <br />
<br />
O mundo não é mais que o reflexo de minha imaginação. O que quer que eu queira ver, eu posso ver. Mas porque eu deveria inventar padrões de criação, evolução e destruição? Eu não preciso delas. O mundo está em mim, o mundo sou eu mesmo. Eu não tenho medo dele e nem qualquer desejo de trancá-lo em um filme mental. <br />
<br />
Imagine-se em uma densa floresta cheia de tigres e você em uma forte cela de aço. Sabendo-se bem protegido pela cela, você assiste aos tigres sem medo. A seguir, você encontra os tigres presos na cela e você perambulando na floresta. Finalmente, a cela desaparece e você monta os tigres! <br />
<br />
O que eu pareço ser para você existe apenas em sua mente. Eu sou um sonho que pode acordá-lo. Você terá de provar dele em seu próprio acordar. <br />
<br />
Desista de tudo e você ganhará tudo. Então a vida torna-se aquilo que se supõe que ela seja: pura radiação de uma fonte inexaurível. Nessa luz, o mundo aparece difuso como um sonho (que ele é). <br />
<br />
Desejo e medo vêm da visão do mundo como separado de mim mesmo. Assim como você pensa ser, do mesmo modo você pensa que o mundo seja. Se você se imagina separado do mundo, o mundo aparecerá como separado de você e você experimentará desejo e medo. Eu não vejo o mundo como separado de mim e assim não há nada para eu desejar ou temer. <br />
<br />
Não há caos no mundo, exceto o caos que você cria em sua mente. Ele é autocriado no sentido de que em seu verdadeiro centro há uma idéia de você mesmo como algo diferente e separado das outras coisas. Na realidade você não é nem uma coisa nem separado. <br />
<br />
Enquanto eu vir o sonho como real, eu sofrerei sendo escravo dele. Ambos, sono e vigília, são nomes errôneos. Nós estamos apenas sonhando. Só o ‘gnani’ (o meditador profundo) conhece a vigília verdadeira e o verdadeiro sono. Nós sonhamos que estamos acordados; nós sonhamos que estamos dormindo. Os três estados são somente variedades de estados de sono (os diferentes níveis de consciência). Tratar tudo como um sonho, liberta. Quando você considera seus sonhos (qualquer sonho, seja dormindo ou acordado) como realidade, você se torna escravo deles. Por imaginar que você nasceu, que é isso ou aquilo, você se torna escravo dessa imaginação e desse isso ou aquilo. A essência da escravidão é imaginar a si mesmo como sendo um processo, que tem passado e futuro, que tem história. Na verdade nós não temos história, não somos um processo, não desenvolvemos, não decaímos; assim veja tudo como um sonho e permaneça fora dele. <br />
<br />
Saber que você é um prisioneiro de sua mente, que você vive em um mundo imaginário, um sonho de sua própria criação, é o lago da sabedoria. <br />
<br />
A causa do sofrimento está na identificação do percebedor com o que percebe ao seu redor, no mundo externo e no mundo interno. É dele que nasce o desejo, e, com o desejo, a ação cega (porque baseada em ilusões) de resultados impensáveis, imprevisíveis. Olhe ao redor, observe e analise profundamente o que você vê, e você perceberá que o sofrimento é uma coisa feita pelo próprio homem. <br />
<br />
Ninguém sofre ao assistir a um filme; somente a pessoa que se identifica com ele. Não se identifique com o mundo e você não sofrerá. <br />
<br />
Enquanto ele dura, o sonho tem um aspecto temporal. E é nosso desejo de mantê-lo, que cria o problema. Deixe ir. Pare de imaginar que o sonho é seu. Deixe o filme desenrolar-se até o verdadeiro fim. Você não pode ajudá-lo (interferir). Mas você pode reconhecer que o sonho é um sonho, e não carimbá-lo com o selo de realidade. <br />
<br />
No presente você está perdido, e, portanto em perigo, pois para um perdido, a qualquer momento algo pode acontecer. É melhor acordar e ver sua situação real. Que você é, você sabe. O que você (o Eu) é, você não sabe. Descubra o que você é (e você estará livre). (‘Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará’).<br />
<br />
Minha intenção de acordá-lo é o link (a ligação) entre nossos respectivos sonhos). Meu coração quer que você acorde. Eu vejo você sofrendo em seus sonhos e eu sei que você deve acordar para terminar seus pesadelos. Quando você vê seu sonho como sonho, você acorda. Mas em seu sonho eu não estou interessado. Para mim é o bastante saber que você deve acordar. Você não precisa trazer seu sonho para uma conclusão definida, ou torná-lo nobre, ou feliz, ou belo; tudo que você precisa é realizar (se convencer) que você está sonhando. Pare de imaginar, pare de acreditar (de ter esperanças, medo, remorsos, expectativas, emoções); acorde! Veja as contradições, as incongruências, a falsidade e o sofrimento do ente humano (nesse sonho que é a vida), e sua necessidade de ir além (do sonho). <br />
<br />
Em sonho você ama alguns e não ama outros. Acordado (liberto das ilusões) você descobre que você é o próprio amor, que envolve e inclui tudo. O amor pessoal, não importa quão intenso e genuíno seja, invariavelmente desaparece; o amor de quem se libertou é incondicional, é amor por tudo. <br />
<br />
Este é o coração da questão: Enquanto você acredita que só o mundo externo é real, você permanece seu escravo. Simplesmente compreenda que o que você vê não é o que você é. As aparências se dissolverão sob a investigação, e a realidade virá à superfície. Você não precisa queimar a casa para abandoná-la. Basta sair. Somente quando você não pode ir e vir livremente que a casa se torna uma prisão. Eu me movo para dentro e para fora da consciência fácil e naturalmente, e assim para mim o mundo é uma casa (da qual posso sair quando quiser), não uma prisão.<br />
Nada no sonho é feito por mim ou por você. <br />
<br />
Enquanto você acreditar que é um corpo, você encontrará causas (motivos) para tudo e sofrerá. Eu não estou dizendo que as coisas não têm causas. Cada coisa tem causas inumeráveis. É como é, porque o mundo é como ele é. Cada causa, em suas ramificações, cobre o universo (Não há causas para o sofrimento e a ignorância) exceto sua ignorância de seu ser real (do ser que realmente você é), o qual é perfeito e além de toda causação. Pois o que quer que aconteça, todo o universo é responsável e você é a fonte do universo. Tudo o que acontece é a causa de tudo o que acontece. As causas são inúmeras; a idéia de uma causa única é ilusão. <br />
<br />
Porque você fala de ação? Você alguma vez está em ação? Algum poder desconhecido atua e você imagina que você está agindo. Você está meramente assistindo (testemunhando) o que acontece, sem ser capaz de influenciá-lo de nenhuma forma. (‘É o Senhor que opera em nós o pensar, o querer e o fazer’). Pára de imaginar a ti mesmo como sendo ou fazendo isso ou aquilo, e a realização (a compreensão, a iluminação), de que tu és a fonte e o coração de tudo, se derramará sobre ti. <br />
<br />
O homem sábio nada toma como sendo seu (como se fosse fruto de sua ação, de sua escolha ou decisão). Quando em algum tempo ou lugar algum milagre (qualquer feito ou ação) é atribuído a alguém, o sábio não estabelecerá qualquer vinculo de causa entre eventos (o fato) e seu presumido autor (porque ninguém age ou escolhe ou decide por si mesmo), nem permitirá que qualquer conclusão seja tirada. Tudo acontece como acontece porque tem de acontecer; tudo acontece como acontece porque o universo é como ele é. <br />
<br />
Você se imagina sendo e fazendo tudo idêntico (repetindo as mesmas respostas aos mesmos estímulos). Não é assim. A mente e o corpo movem-se e mudam e causam movimentos e mudanças em outras mentes e outros corpos, e isso é chamado de fazer, de ação (karma). Eu vejo que é da natureza da ação criar outra ação, como fogo que continua queimando. Eu não ajo nem sou causa de outros agirem; eu estou constantemente alerta de tudo o que acontece. <br />
<br />
O que é feito é um fato; o fazedor é um mero conceito. Sua própria linguagem mostra que enquanto o feito é certo (é um fato), o fazedor é dúbio, impreciso; alternar responsabilidades é um jogo peculiarmente humano. Considerando a infindável lista de fatores requeridos para que algo aconteça, só se pode admitir que tudo seja responsável por tudo, não importa quão remoto esteja. O fazer é um mito nascido da ilusão do “eu” e do “meu”. Eu não sinto que eu esteja falando. Apenas existe fala acontecendo; isso é tudo. Você realmente fala? Você ouve a si mesmo falando e você diz: ‘eu estou falando’. Eu não tenho qualquer objeção às convenções de sua linguagem, mas elas distorcem e destroem a realidade. Um modo mais acurado de dizer seria: “Há fala, há trabalho, há movimento, há ir e vir”. Para que qualquer coisa aconteça o universo inteiro deve coincidir. É um erro acreditar que qualquer coisa em particular possa causar um evento. Toda causa é universal. Eu estou totalmente seguro de que as coisas acontecem como elas têm de acontecer porque o mundo é como ele é, o mundo apenas é assim. Para afetar o curso dos eventos, eu devo trazer um fator novo para o mundo e tal fator só pode ser eu mesmo, o poder do amor e da compreensão focalizado em mim.<br />
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http://obuscadordedeus.blogspot.pt/</div>
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Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-52658861936464817302014-08-01T18:46:00.000+01:002014-08-01T00:52:52.686+01:00Ser apenas... Sem Nascer ou Morrer<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Pergunta: Você continua dizendo que eu nunca nasci e que nunca morrerei. Se é assim, como é que vejo o mundo como alguém que nasceu e que, certamente, morrerá.<br />
<br />
Maharaj: Você acredita desse modo porque você nunca questionou sua crença de que você é o corpo, o qual, obviamente, nasce e morre. Enquanto vivo, atrai a atenção e o fascina tão completamente que raramente alguém percebe sua verdadeira natureza. É como ver a superfície do oceano e esquecer completamente a imensidade mais abaixo. O mundo é só a superfície da mente e a mente é infinita. O que chamamos pensamento são apenas ondulações da mente. Quando a mente está serena, reflete a realidade. Quando ela está imóvel em toda sua extensão, ela se dissolve e apenas a realidade permanece. Esta realidade é tão concreta, tão real, tão mais tangível que a mente e a matéria que, comparado com ela, mesmo o diamante é suave como manteiga. Esta impressionante realidade torna o mundo irreal, nebuloso, irrelevante.<br />
<br />
P: Com tanto sofrimento no mundo, como pode vê-lo como irrelevante? Que frieza!<br />
<br />
M: É você quem é insensível, não eu. Se seu mundo é tão cheio de sofrimento faça algo a respeito, não acrescente mais a ele através da ambição e da indolência. Eu não estou limitado por seu mundo ilusório. Em meu mundo, as sementes do sofrimento, do desejo e do temor não são semeadas, e o sofrimento não cresce. Meu mundo está livre dos opostos, de discrepâncias mutuamente destrutivas; prevalece a harmonia; sua paz é como uma rocha; esta paz e o silêncio são o meu corpo.<br />
<a name='more'></a><br />
P: O que você diz lembra-me o dharmakaya de Buda.<br />
<br />
M: Pode ser. Não precisamos afastarmos pela terminologia. Simplesmente veja a pessoa que você imagina ser como uma parte do mundo que percebe dentro de sua mente, e olhe de fora para a mente, a qual você não é. Depois de tudo, seu único problema é a ansiosa auto-identificação com qualquer coisa que perceba. Abandone este hábito, lembre que você não é o que percebe, utilize o seu poder de distanciamento alerta. Veja-se em tudo quanto vive e seu comportamento expressará sua visão. Uma vez que compreenda que não há nada neste mundo que possa ter por próprio, você olha o mundo de fora como olha para uma peça em um palco, ou uma imagem na tela, admirando e apreciando, mas realmente impassível. Enquanto você imagina ser algo tangível e sólido, uma coisa entre coisas, existindo realmente no tempo e no espaço, de breve duração e vulnerável, naturalmente estará ansioso para sobreviver e crescer. Mas quando se conhece como além do tempo e do espaço em contato com eles apenas no ponto do aqui e agora; de qualquer forma todo-penetrante e todo-abarcante, inacessível, inalcançável, invulnerável não terá mais medo algum. Conheça-se tal como é, contra o medo não há outro remédio.<br />
<br />
Você tem que aprender a pensar e sentir desse modo, ou permanecerá indefinidamente no nível pessoal do desejo e do temor, ganhando e perdendo, crescendo e decaindo. Um problema pessoal não pode ser resolvido em seu próprio nível. O próprio desejo de viver é o mensageiro da morte, da mesma forma que o desejo de ser feliz é a essência da aflição. O mundo é um oceano de dor e de medo, de ansiedade e desespero. Os prazeres são como os peixes, poucos e ligeiros, chegam raramente e depressa se vão. Um homem de pouca inteligência acredita contra a evidência, que é uma exceção e que o mundo lhe deve felicidade. Mas o mundo não pode dar o que não tem; irreal até à medula, é de nenhuma utilidade para a felicidade real. Não pode ser de outra forma. Buscamos o real porque estamos infelizes com o irreal. A felicidade é nossa própria natureza e não descansaremos até que a encontremos. Mas raramente sabemos onde buscá-la. Uma vez que tenha entendido que o mundo é apenas uma visão errada da realidade, e não é o que parece ser, você é livre de suas obsessões. Apenas o que é compatível com seu ser real pode fazê-lo feliz e o mundo, como você o percebe, é sua clara negação.<br />
<br />
Mantenha-se tranquilo e observe o que chega à superfície da mente. Rejeite o conhecido, dê as boas vindas ao até agora desconhecido e rejeite-o em seu devido tempo. Assim você chega a um estado em que não há conhecimento, apenas ser, e o próprio ser é o conhecimento. O conhecimento mediante o ser é o conhecimento direto. Está baseado na identidade do que vê e do visto. O conhecimento indireto é baseado na sensação e na memória, na proximidade do que percebe e sua percepção, confinado ao contraste entre os dois. O mesmo acontece com a felicidade. Geralmente você deve estar triste para conhecer a alegria, e alegre para conhecer a tristeza. A verdadeira felicidade não tem causa e não pode desaparecer por falta de estimulação. Não é o oposto da aflição e inclui toda aflição e todo sofrimento.<br />
<br />
P: Como pode alguém permanecer feliz entre tanto sofrimento?<br />
<br />
M: Não se pode evitar, a felicidade é irresistivelmente real. Como o sol no céu, suas expressões podem estar nubladas, mas nunca está ausente.<br />
<br />
P: Quando temos problema, somos obrigados a sentir-nos desgraçados.<br />
<br />
M: O único problema é o temor. Saiba que é independente e permanecerá livre do temor e de suas sombras.<br />
<br />
P: Qual a diferença entre felicidade e prazer?<br />
<br />
M: O prazer depende das coisas, a felicidade não.<br />
<br />
P: Se a felicidade é independente, porque não estamos sempre felizes?<br />
<br />
M: Enquanto acreditarmos que necessitamos coisas para fazer-nos felizes, também devemos acreditar que, na ausência delas, devemos ser miseráveis. A mente sempre se desenvolve de acordo com suas crenças. Daí a importância de convencer-se de que não é necessário ser incitado para a felicidade; que, ao contrário, o prazer é uma distração e uma perturbação, pois que meramente aumenta a falsa convicção de que se necessita ter e fazer coisas para ser feliz, quando na realidade é exatamente o oposto.<br />
<br />
Mas porque falar de felicidade em absoluto? Você não pensa nela exceto quando está infeliz. Um homem que diz: “agora sou feliz”, está entre duas aflições, passado e futuro. Esta felicidade é uma mera excitação causada pelo alívio da dor. A felicidade real é absolutamente consciente de si mesma. Isto é melhor expresso negativamente como: “não há nada errado comigo; não tenho nada a preocupar-me”. No final das contas, o propósito final de toda meditação é alcançar um ponto onde esta convicção em vez de ser apenas verbal, esteja baseada em uma experiência real e sempre presente.<br />
<br />
P: Que experiência?<br />
<br />
M: A experiência de estar vazio, sem estar acossado pelas recordações e pelas experiências; é como a felicidade dos espaços abertos, de ser jovem, de ter toda a energia e tempo para fazer coisas, para descobrir, para a aventura.<br />
<br />
P: O que fica por descobrir?<br />
<br />
M: O universo exterior e a imensidade interior tal como são na realidade, na grande mente e no coração de Deus. O significado e o propósito da existência, o segredo do sofrimento, da vida redimida da ignorância.
<br />
<br />
P: Se ser feliz é o mesmo que estar livre do temor e da preocupação, não se pode dizer que a ausência de problemas é a causa da felicidade?<br />
<br />
M: Um estado de ausência, de inexistência, não pode ser uma causa; a preexistência de uma causa está implícita em sua noção. Seu estado natural, no qual nada existe, não pode ser uma causa do vir-a-ser; as causas estão ocultas no grande poder misterioso da memória. Mas o seu verdadeiro lar está no nada, no vazio de todo conteúdo.<br />
<br />
P: O vazio e o nada, que apavorante!<br />
<br />
M: Sua face está mais alegre quando você vai dormir! Descubra por você mesmo o estado de sono vigilante, e você o achará em total harmonia com sua natureza real. As palavras apenas podem lhe dar uma idéia, e a idéia não é a experiência. Tudo o que posso dizer é que a verdadeira felicidade não tem causa e o que não tem causa é impassível. O que não quer dizer que seja perceptível, como o prazer. O que é perceptível é a dor e o prazer; o estado de liberdade da aflição só pode ser descrito negativamente. Para conhecê-lo diretamente, você deve ir além da mente aplicada à causalidade e à tirania do tempo.<br />
<br />
P: Se a felicidade não é consciente e a consciência não é feliz, qual é a conexão entre a duas?<br />
<br />
M: A consciência, sendo um produto das condições e das circunstâncias, depende delas e muda com elas. O que é independente, incriado, eterno e imutável, e ainda assim sempre novo e fresco, está além da mente. Quando a mente pensa nele, ela se dissolve e só a felicidade permanece.<br />
<br />
P: Quando tudo desaparece, nada fica.<br />
<br />
M: Como pode haver nada sem alguma coisa? O nada é só uma idéia, depende da recordação de algo. O puro ser é independente da existência, a qual é definível e descritível.<br />
<br />
P: Por favor, fale-nos: a consciência continua além da mente, ou ela termina com a mente?<br />
<br />
M: A consciência vai e vem, a Consciência brilha imutavelmente.
<br />
<br />
P: O que é consciente na Consciência?<br />
<br />
M: Quando há uma pessoa, também há consciência. O “eu sou”, a mente, a consciência denotam o mesmo estado, se você diz “eu sou consciente”, só significa: “eu sou consciente de pensar no fato de ser consciente”. Na Consciência não há “eu sou”.<br />
<br />
P: O que me diz sobre o testemunhar?<br />
<br />
M: Testemunhar é da mente. A testemunha combina com o testemunhado. No estado de não-dualidade toda separação cessa.<br />
<br />
P: E você? Continua na Consciência?<br />
<br />
M: A pessoa, o “eu sou este corpo, esta mente, esta cadeia de recordações, este punhado de desejos e temores” desaparece, mas fica algo que você pode chamar identidade. Ele me habilita a tornar-me uma pessoa quando necessário. O amor cria suas próprias necessidades, mesmo tornar-se uma pessoa.<br />
<br />
P: É dito que a realidade se manifesta como existência, consciência e bem-aventurança. Elas são absolutas ou relativas?<br />
<br />
M: São relativas entre si e dependem uma da outra. A realidade é independente de suas expressões.<br />
<br />
P: Qual é a relação entre a realidade e suas expressões?<br />
<br />
M: Nenhuma relação. Na realidade tudo é real e idêntico. Como nós dizemos, saguna e nirguna são um só um parabrahman. Só existe o supremo. Em movimento, é saguna; imóvel, é nirguna. Mas é apenas a mente que se move ou não. O real está além, você está além. Uma vez que tenha entendido que nada perceptível, ou concebível, pode ser você mesmo, você é livre de sua imaginação. Ver tudo como imaginação nascida do desejo é algo necessário para a auto-realização. Nós perdemos o real por falta de atenção, e criamos o irreal pelo excesso de imaginação.<br />
<br />
Você deve entregar seu coração e sua mente para essas coisas e remoê-las repetidamente. É como cozinhar alimentos. Deve mantê-los no fogo durante algum tempo antes que estejam prontos.<br />
<br />
P: Não estou sob o influxo do destino, do meu karma? Que posso fazer contra ele? O que sou e o que faço estão pré-determinados. Mesmo minha assim chamada “livre escolha” é pré-determinada; apenas não estou consciente disso e imagino-me livre.<br />
<br />
M: Novamente, tudo depende de como olhar. A ignorância é como uma febre, ela o faz ver coisas que não existem. O karma é o tratamento prescrito pelo divino. Dê a ele boas vindas e siga as instruções fielmente e você se curará. O paciente deixará o hospital depois de recuperar-se. Insistir na imediata liberdade de escolha e de ação meramente adia a recuperação. Aceite seu destino e complete-o; este é o mais curto caminho para a libertar-se do destino, embora não do amor e de suas compulsões. Atuar a partir do desejo e do temor é escravidão, atuar a partir do amor é liberdade.<br />
<br />
S Nisargadatta Maharaj</div>
Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-52819398286798805832014-07-28T20:14:00.000+01:002016-02-20T15:21:02.299+00:00O que é Vedanta?<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<i><b>Luzes de Nisargadatta Maharaj - Advaita Bodha Deepika</b></i><br />
<br />
O Silêncio. Parar o Diálogo Interno. Não Pensar. Acabar com a Mente.<br />
<br />
M = Mestre<br />
D = Discípulo<br />
<br />
M: Sábio filho, abandone a mente – o atributo limitador que origina a individualidade, assim causando a grande enfermidade de repetidos nascimentos e mortes – e realize Brahman.<br />
<br />
D: Mestre, como se pode extinguir a mente? Não é muito difícil? Não é a mente muito vigorosa, inquieta e sempre vacilante? Como se pode renunciar à mente?<br />
<br />
M: Abandonar a mente é muito fácil, tão fácil quanto amassar uma flor delicada, tirar um fio de cabelo da manteiga ou piscar os olhos. Não tenha dúvida. Para um buscador resoluto, senhor de si e não enfeitiçado pelos sentidos, que pelo intenso desapaixonamento se tornou indiferente aos objetos externos, não pode haver a menor dificuldade em abandonar a mente.<br />
<br />
D: Como pode ser tão fácil?<br />
<br />
M: A questão da dificuldade só surge quando há uma mente a ser renunciada. Verdadeiramente falando, não existe mente. Quando lhe dizem: “Aqui tem um fantasma”, a criança ignorante é levada a acreditar na existência do fantasma inexistente, ficando sujeita ao medo, ao sofrimento e aos incômodos. Da mesma forma no imaculado Brahman, ao imaginar coisas que não existem – como isto e aquilo – uma falsa entidade conhecida como mente surge como algo aparentemente real, funcionando como isto e aquilo e mostrando-se incontrolável e poderosa ao incauto; porém, para o buscador senhor de si e dotado de discernimento, conhecedor da natureza da mente, ela é fácil de ser abandonada. Só um tolo, ignorante da natureza da mente, diz que é muito difícil.<br />
<br />
D: Qual é a natureza da mente?<br />
<br />
M: Pensar nisto e naquilo. Na ausência de pensamento, não existe mente. Extinguindo-se os pensamentos, a mente permanecerá apenas em nome, tal como o chifre de uma lebre; desaparecerá como uma não entidade, como o filho de uma mulher estéril, o chifre de uma lebre, ou uma flor no céu. Isto também é mencionado no Yoga Vasishta.<br />
<a name='more'></a><br />
D: Como?<br />
<br />
M: Vasishta diz: “Ouve, ó Rama, nada há chamado ‘mente’. Assim como o espaço existe sem forma, também a mente existe como um vazio inanimado. Permanece apenas como nome; ela não tem forma. Não está no exterior, nem no coração. Entretanto, como o espaço, a mente, embora não tenha forma, preenche tudo.”<br />
<br />
D: Como pode ser assim?<br />
<br />
M: Onde quer que o pensamento surja como isto e aquilo, lá estará a mente.<br />
<br />
D: Se existe mente onde quer que haja pensamento, mente e pensamento são diferentes?<br />
<br />
M: O pensamento é o sinal da mente. Quando surge um pensamento, pressupõe-se uma mente. Na ausência de pensamentos, não pode haver mente. Portanto, a mente nada mais é do que pensamento. O pensamento é, em si, a mente.<br />
<br />
D: O que é “pensamento”?<br />
<br />
M: “Pensamento” é imaginação. O estado livre de pensamentos é a Suprema Bem-aventurança (Sivasvarupa). Os pensamentos são de dois tipos: a evocação de coisas experienciadas e não experienciadas.<br />
<br />
D: Para começar, por favor diga-me o que é “pensamento”.<br />
<br />
M: Os sábios dizem que nada mais é do que pensar em qualquer objeto externo como isto ou aquilo, é ou não é, deste ou daquele jeito, etc.<br />
<br />
D: Como isto pode ser classificado sob o título de coisas experienciadas e não experienciadas?<br />
<br />
M: Dos objetos dos sentidos (como o som, etc.) já experienciados – como “eu vi”, “eu ouvi”, “eu toquei”, etc. – pensar neles como tendo sido vistos, ouvidos e tocados é evocar coisas já experienciadas. Trazer à mente objetos dos sentidos não experienciados é o pensamento sobre coisas não experienciadas.<br />
<br />
D: Como, então, é possível extinguir a mente?<br />
<br />
M: Esquecer tudo é o meio supremo. O mundo não surge, a não ser pelo pensamento. Não pense e o mundo não surgirá. Quando nada surge na mente, a própria mente é perdida. Portanto, não pense em nada; esqueça tudo. Este é o melhor modo de matar a mente.<br />
<br />
D: Alguém já disse isto antes?<br />
<br />
M: Vasishta assim falou a Rama:<br />
<br />
Vasishta: Elimine os pensamentos de todos os tipos – de coisas apreciadas, não apreciadas, ou outras. Como a madeira, ou a pedra, permaneça livre de pensamentos.<br />
<br />
Rama: Devo eu esquecer tudo, completamente?<br />
<br />
Vasishta: Exatamente, esqueça tudo completamente e permaneça como a madeira ou a pedra.<br />
<br />
Rama: O resultado será a estagnação, como a das pedras ou da madeira.<br />
<br />
Vasishta: Não é assim. Tudo isso é apenas ilusão. Esquecendo a ilusão, você estará livre dela. Embora pareça estar estagnado, você será a própria Beatitude. O seu intelecto ficará inteiramente claro e aguçado. Sem se embaraçar na vida mundana, mas parecendo ativo aos outros, permaneça como a própria Beatitude de Brahman e seja feliz. Diferentemente da cor azul do céu, não permita que a ilusão do mundo renasça no puro Espaço do Ser-Consciência. Esquecer essa ilusão é o único modo de matar a mente e permanecer como Bem-aventurança. Mesmo que Shiva, Vishnu ou o Próprio Brahman sejam seus mestres, a realização não é possível sem este meio. Sem esquecer tudo é impossível estabelecer-se enquanto Ser. Portanto, esqueça tudo, inteiramente.<br />
<br />
D: Não é muito difícil?<br />
<br />
M: Embora seja difícil para o ignorante, é muito fácil para os poucos que discernem. Nunca pense em nada, exceto no Brahman único e ininterrupto. Praticando isso longamente, você esquecerá facilmente o não-Ser. Não pode ser difícil ficar quieto, sem pensar em nada. Não deixe nenhum pensamento surgir na mente; pense sempre em Brahman. Assim, todos os pensamentos mundanos desaparecerão e só restará o pensamento de Brahman. Quando isso se tornar firme, esqueça até mesmo isso e, sem pensar “eu sou Brahman”, seja o próprio Brahman. Não pode ser difícil de praticar.<br />
<br />
Agora, meu sábio filho, siga este conselho: pare de pensar em qualquer outra coisa que não seja Brahman. Com esta prática, a sua mente será extinta; você esquecerá tudo e permanecerá puramente como Brahman.<br />
<br />
<i><b>Luzes de Nisargadatta Maharaj</b></i><br />
<br />
Aprofunde na percepção do “Eu Sou” e você encontrará. Como se encontra algo que você ignora ou se esqueceu? Você o mantém em mente até se lembrar. A percepção de ser, do “Eu sou” é a primeira a emergir. Pergunte-se de onde ela vem ou apenas observe-a em silêncio. Quando a mente permanece no “Eu sou”, sem se mover, você entra em um estado que não pode ser verbalizado mas pode ser experienciado. Tudo o que você precisa fazer é tentar e tentar novamente.<br />
<br />
Eu vejo o que você também poderia ver, aqui e agora, se não fosse o foco errôneo de sua atenção. Você não dá atenção ao Ser. Sua mente está sempre com coisas, pessoas e ideias, nunca com seu Eu. Traga seu Eu para o foco, torne-se consciente de sua própria existência. Veja como você funciona, observe os motivos e resultados de suas ações. Estude a prisão que você construiu ao redor de si mesmo, inadvertidamente.<br />
<br />
Olhe para a rede [o mundo pessoal de cada um] e para suas muitas contradições. Você faz e desfaz a cada passo. Quer paz, amor, felicidade e trabalha arduamente para criar dor, ódio e guerra. Quer viver muito e se empanturra, quer amizade e explora. Veja sua rede como composta de tais contradições e remova-as – o seu próprio ver os fará ir embora.<br />
<br />
Como você parte para achar algo? Mantendo sua mente e coração naquilo. Deve haver interesse e constante lembrança. Lembrar-se do que precisa ser lembrado é o segredo do sucesso. Você consegue isso através da seriedade de intenção.<br />
<br />
Inicialmente, dê o primeiro passo. Todas as bênçãos vêm de dentro. Volte-se para dentro. O “Eu sou” você conhece. Fique com isto todo o tempo que puder, até que você sempre volte a isso espontaneamente. Não existe caminho mais fácil ou simples.<br />
<br />
Somos escravos daquilo que não conhecemos; do que conhecemos, somos senhores. Quaisquer vícios ou fraquezas em nós que conhecemos, descobrimos e entendemos suas causas e seus mecanismos, nós os superamos pelo próprio saber; o inconsciente se dissolve quando trazido à consciência. A dissolução do inconsciente libera energia; a mente sente-se adequada e torna-se quieta.<br />
<br />
Recuse todos os pensamentos, exceto um: o pensamento “Eu sou!”. A mente vai se rebelar no começo mas, com paciência e perseverança, ela vai ceder e permanecer quieta.<br />
<br />
Esteja alerta. Questione, observe, investigue, aprenda tudo o que puder sobre a confusão, como isso opera, o que faz para você e para os outros. Ao ter clareza sobre a confusão você se liberta dela.<br />
<br />
Eliminando os intervalos de desatenção durante as horas de vigília, você vai gradualmente eliminar o longo intervalo de inconsciência que chama de sono. Você estará consciente que está adormecido.<br />
<br />
Nisargadatta: Desapegue-se de tudo aquilo que deixa sua mente inquieta. Renuncie a tudo o que perturba a sua paz. Se você quer paz, mereça-a.<br />
Pergunta: De que forma eu perturbo a paz?<br />
Nisargadatta: Ao ser um escravo de seus desejos e medos.<br />
<br />
Pense clara e profundamente, mergulhe na estrutura de seus desejos e suas ramificações. Eles são uma das partes mais importantes na sua composição mental e emocional e afetam suas ações poderosamente.<br />
Lembre-se, você não pode abandonar o que não conhece. Para ir além de si mesmo, você deve conhecer a si mesmo.<br />
<br />
Você deve se observar continuamente – em particular a sua mente – de momento a momento, sem perder nada. Este testemunho é essencial para a separação do Eu e do não Eu.<br />
<br />
Já que é a Pura Consciência que faz a consciência ser possível, existe Pura Consciência em cada estado de consciência. Portanto, a própria consciência de ser consciente já é um movimento dentro da Pura Consciência. O interesse em seu fluxo de consciência leva-o para Pura Consciência.<br />
<br />
Quando você entende que nomes e formas são conchas vazias sem qualquer conteúdo e o que é real é sem nome e forma – é pura energia de vida e luz da consciência – você está em paz, imerso no profundo silêncio da realidade.<br />
<br />
Por que não se voltar da experiência para o experienciador, e realizaro verdadeiro significado da única afirmação que você pode fazer: “ Eu sou” ?<br />
<br />
Apenas mantenha em mente o sentimento “Eu sou”, absorva-se nisso, até que sua mente e sentimento tornem-se um. Tentando repetidamente você vai se deparar com o equilíbrio correto entre atenção e sentimento e sua mente estará firmemente estabelecida no pensamento-sentimento “Eu sou”.<br />
<br />
Você pode começar com trabalho desinteressado, abandonando o fruto de suas ações; então pode desistir dos pensamentos e, finalmente, de todos os desejos. Aqui, desistir (tyaga) é o fator operacional.<br />
Ou você pode não se importar com as coisas que quer, pensa, faz, e apenas permanecer estabelecido no pensamento e sentimento “Eu sou”, focalizando “Eu sou” firmemente em sua mente. Todo tipo de experiência pode lhe acontecer – permaneça imóvel no conhecimento de que tudo o que é perceptível é transitório e apenas o “Eu sou” permanece.<br />
<br />
Pergunta: Quando olho para dentro de mim, encontro sensações e percepções, pensamentos e sentimentos, desejos e medos, memórias e expectativas. Estou imerso nesta nuvem e não consigo ver nada mais.<br />
Nisargadatta: Aquele que vê tudo isso, e o nada também, é o mestre interno. Apenas ele existe; todo o resto apenas parece existir. Ele é seu próprio ser (swarupa), sua esperança e garantia de liberdade; encontre-o e agarre-se a ele e você será salvo e estará seguro.<br />
<br />
Ver o falso como falso é meditação. Isto deve ser contínuo, o tempo todo.<br />
<br />
Posso falar-lhe sobre mim. Eu era um homem simples, mas confiei em meu Guru. O que ele me disse para fazer, eu fiz. Ele disse que me concentrasse no “Eu sou” – assim o fiz. Ele me disse que eu estou além de tudo o que é perceptível e concebível – eu acreditei. Dei a ele meu coração e minha alma, minha completa atenção e todo meu tempo disponível (eu tinha que trabalhar para manter minha família). Como resultado da fé e esforço dedicado, eu realizei o Ser (swarupa) em três anos.<br />
<br />
Estabeleça-se na consciência de “Eu sou”. Este é o começo e também o fim de todo o esforço.<br />
<br />
Para saber o que você é, você deve primeiro saber e investigar o que você não é. E para saber o que você não é, você deve observar-se cuidadosamente, rejeitando tudo o que necessariamente não combina com o fato básico “Eu sou”.<br />
Nossa atitude comum é “Eu sou isso”. Separe consistente e perseverantemente o “eu sou” do “isto” e do “aquilo”, e tente sentir o que significa ser, apenas ser, sem ser “isto” ou “aquilo”. Todos os nossos hábitos vão contra isto e a tarefa de lutar contra eles é longa e árdua às vezes, mas o entendimento esclarecido ajuda muito. Quanto mais claramente você entender que no nível da mente você pode ser descrito apenas em termos negativos, mais rapidamente chegará ao fim de sua busca e realizará seu ser ilimitado.<br />
<br />
<i><b>Permaneça com seu Ser</b></i><br />
<br />
Pergunta: Como se alcança isto?<br />
<br />
Nisargadatta: A ausência de desejo e de medo o levará lá.<br />
<br />
O Supremo é o mais fácil de se alcançar pois é o seu próprio ser. É suficiente não desejar nem pensar em nada que não o Supremo.<br />
<br />
É a falsidade que é difícil e que é fonte de problemas. Ela sempre quer, espera, exige. Sendo falsa, é vazia, sempre em busca de confirmação e reconfirmação. Tem medo da inquirição e a evita; identifica-se com qualquer apoio, por mais fraco e momentâneo que seja. O que quer que consiga, perde, e pede mais.<br />
<br />
Nisargadatta: Mesmo que eu lhe diga que você é a testemunha, o observador silencioso, isto não significará nada para você a menos que encontre o caminho para seu próprio ser.<br />
<br />
Pergunta: Minha pergunta é: Como encontrar o caminho para o próprio ser?<br />
<br />
Nisargadatta: Desista de todas as perguntas, exceto “Quem sou eu?” Pois, afinal, o único fato do qual você tem certeza é que você é. O “Eu sou” é certo. O “eu sou isto” não é.<br />
<br />
Esforce-se para encontrar o que você é na realidade.<br />
<br />
Lembrar-se de si mesmo é virtude, esquecer de si mesmo é pecado.<br />
<br />
O procedimento correto é aderir ao pensamento de que você é o campo de todo conhecimento, a Consciência imutável e perene de tudo o que acontece aos sentidos e à mente. A ideia “Eu sou apenas a testemunha” purificará o corpo e a mente e abrirá o olho da sabedoria. O homem vai além da ilusão e seu coração se liberta de todos os desejos.<br />
<br />
Por sua própria natureza, o prazer é limitado e transitório. Da dor o desejo nasce, na dor ele busca realização e termina na dor da frustração e do desespero. A dor é o pano de fundo do prazer, toda busca de prazer nasce na dor e termina na dor.<br />
<br />
Discriminar e descartar (viveka-vairagya) são absolutamente necessários. Tudo deve ser examinado cuidadosamente e o desnecessário deve ser impiedosamente destruído.<br />
<br />
Acredite-me, não poderá haver destruição demais. Pois na realidade nada tem valor. Seja apaixonadamente desapaixonado – isto é tudo.<br />
<br />
Quando, através da prática da discriminação e desapego (viveka-vairagya), você perder de vista os estados sensorial e mental, o puro ser emergirá como o estado natural.<br />
<br />
Para conhecer o mundo você se esquece do Ser – para conhecer o Ser, você se esquece do mundo.<br />
<br />
O que é o mundo, afinal? Uma coleção de memórias. Agarre-se ao que importa, segure-se no “Eu sou” e abra mão de todo o resto. Isto é sadhana.<br />
<br />
Esteja plenamente consciente de seu próprio ser e você estará na bem-aventurança conscientemente. É porque você dirige sua mente para fora de si mesmo e fixa naquilo que você não é, que você perde seu senso de bem estar, de estar bem.<br />
<br />
Como sabe, a personalidade é apenas um obstáculo. A autoidentificação com o corpo pode ser boa para uma criança, mas crescer verdadeiramente depende de tirar o corpo do caminho ( ir além do corpo). Normalmente, a pessoa deveria superar em relação aos desejos do corpo cedo na vida. Mesmo o Boghi, que não recusa prazeres, não precisa ansiar por aquilo que ele já experimentou. Hábito, desejo pela repetição, frustra tanto o Yogi quanto o Boghi.<br />
<br />
Existem tantos que tomam o alvorecer pelo meio dia, uma experiência momentânea pela plena realização e destroem até mesmo o pouco que tinham conseguido, por excesso de orgulho. A humildade e o silêncio são essenciais para um sadhaka [buscador], por mais avançado que seja. Apenas um jnani [iluminado] plenamente amadurecido pode permitir-se completa espontaneidade.<br />
<br />
Seja atento, investigue incessantemente. Isto é tudo.<br />
<br />
Com certeza, seja egoísta – da maneira certa. Deseje estar bem, trabalhe no que é bom para você. Destrua tudo o que se coloca entre você e a felicidade. Seja tudo – ame tudo – seja feliz – faça feliz.<br />
<br />
A memória é material – destrutível, perecível, transitória. Sobre tais frágeis fundações construímos um sentido de existência pessoal – vago, intermitente, onírico. Essa vaga persuasão: “Eu sou isto e isto” obscurece o estado imutável da Pura Consciência e nos faz acreditar que nascemos para sofrer e morrer.<br />
<br />
A liberdade para fazer o que se quer é, na realidade, escravidão, enquanto ser livre para fazer o deve, o que é correto, é a real liberdade.<br />
<br />
Tudo o que você tem a fazer é ver o sonho como sonho.<br />
<br />
Seja qual for o nome que dê a isso: vontade, firme propósito, ou mente focada, você retorna à seriedade, sinceridade, honestidade. Quando você é intensamente sério, você faz uso de cada acontecimento, cada segundo de sua vida ao seu propósito. Você não desperdiça tempo e energia em outras coisas. É totalmente dedicado, chame a isto vontade, amor ou total honestidade.<br />
<br />
Encontre o permanente no efêmero, o único fator constante em cada experiência.<br />
<br />
Nada pode bloqueá-lo mais que as concessões, pois elas mostram a falta de seriedade, sem a qual nada pode ser feito.<br />
<br />
Comece desassociando-se de sua mente. Resolutamente lembre-se que você não é a mente e que os problemas dela não são seus.<br />
<br />
Dê sua total atenção ao que é mais importante em sua vida – você mesmo. Do seu universo pessoal, você é o centro – sem conhecer o centro, o que mais você pode conhecer?<br />
<br />
Para ir além da mente, você deve manter sua mente em perfeita ordem. Você não pode deixar uma bagunça para trás e seguir em frente. A confusão vai lhe puxar. “Recolha seu lixo” parece ser uma Lei Universal. E uma lei justa também.<br />
<br />
Apenas lembre-se de você mesmo. “Eu sou” é suficiente para curar sua mente e levá-lo além. Apenas confie um pouco.<br />
<br />
Se quiser conhecer sua verdadeira natureza, deve ter a si mesmo em mente todo o tempo, até que o segredo de seu ser seja revelado.<br />
<br />
<i><b>O que é Vedanta?</b></i><br />
<br />
“Aquilo que permeia tudo, que nada transcende, e o qual, como o espaço universal à nossa volta, preenche completamente tudo, por dentro e por fora, esse Brahman Supremo não-dual – isso és Tu.” Shankara<br />
<br />
A corrente filosófica na qual o pensamento de Nisargadatta Maharaj se insere é acadêmicamente conhecida como Vedanta Advaita.<br />
<br />
Para essa corrente filosófica, o conhecimento fundamental é Atman é Brahman. Atman é o Self e Brahman significa a Alma universal ou Consciência Universal. Os Vedas falam da união mística como sendo a compreensão de que Atman é Brahman.<br />
<br />
Advaita é uma palavra em sânscrito cujo significado literal é “não-dois”. A interpretação moderna do Advaita é algumas vezes apresentada como “Não-dualidade” ou mesmo como o final dos Vedas ou “Não-dualidade além do conhecimento”. Outro nome ainda para o estudo do Advaita é Jnani Yoga (Yoga do Conhecimento). No século 20, os mestres modernos do Advaita Ramana Maharshi e Nisargadatta Maharaj quebraram o caminho tradicional, de trasmitir o ensinamento por via escrita, e falaram diretamente de sua experiência.<br />
<br />
Gaudapada, pensador do século VII, autor do tratado Mandukya-karika, defende que não há dualidade; a mente, acordada ou sonhando, move-se através de Maya (ilusão ou transitoriedade); apenas a não-dualidade é a verdade final. Esta verdade é obscurecida pela ignorância da ilusão. Não há o tornar-se, seja de uma coisa por si mesma, ou de uma coisa vinda de outra coisa. Na verdade não há Self individual ou alma, apenas o Atman (Consciência Universal).<br />
<br />
O filósofo indiano medieval, Shankara (700? – 750?) desenvolveu ainda mais os fundamentos de Gaudapa, principalmente nos seus comentários aos sutras do Vedanta, os Sari-raka-mimamsa-bhasya (Comentários sobre os Estudos do Self). Shankara, em sua filosofia, não parte do mundo empírico e o submete a uma análise lógica, mas, ao invés disso, parte diretamente do Absoluto (Brahman). Se interpretado corretamente, ele questiona, os Upanishads ensinam a natureza de Brahman. Ao construir seu argumento, ele desenvolve uma epistemologia completa para contabilizar o equívoco humano de tomar o mundo fenomênico como sendo real.<br />
<br />
O fundamental para Shankara, é o postulado de que Brahman é Real e o mundo é irreal. Qualquer mudança, dualidade ou pluralidade é uma ilusão (no sentido de que é ilusório, é momentâneo, transitório, não-permanente. Já o que é Real, não muda, é permanente e constante). O Self não é outra coisa senão Brahman. O insight dessa identidade resulta na libertação espiritual. Brahman está fora do tempo, do espaço e da causalidade, as quais são simplesmente formas de experiência empírica. Não é possível nenhuma distinção em ou de Brahman.<br />
<br />
Origens do Advaita (não-dualidade) nos textos Védicos :<br />
<br />
O Self que é livre do pecado, livre da velhice, da morte e do pesar, da fome e da sede, que não deseja nada além do que deseja, e que não imagina nada, além do que imagina, isso é o que devemos procurar, isso é o que devemos tentar compreender. Aquele que descobriu esse Self e o compreende, obtém todos os mundos e todos os desejos. (Chandogya Upanishad 8.7.1)<br />
<br />
Tudo isso é Brahman. Deixe um homem meditar nisso (no mundo visível) como começando, terminando e respirando nele (Brahman)... ( Chandogya Upanishad 3.14 1, 3)<br />
<br />
O Self separado dissolve-se no mar da pura consciência, infinita e imortal. A separatividade provém do identificar o Self com o corpo o qual é feito de elementos; quando a identificação física se dissolve, não pode haver mais um Self separado. É isso que eu quero dizer a vocês. (Brihadaranyaka Upanishad. Chapter 2, 4:12)<br />
<br />
Assim como os rios que fluem para o leste e para o oeste se fundem no oceano e se tornam um com ele, esquecendo que eles eram rios separados, assim também todas as criaturas perdem sua separatividade quando se fundem finalmente no puro Ser. (Chandogya Upanishad. 10:1-2)<br />
<br />
O que os sábios procuravam eles finalmente encontraram. Nenhuma pergunta a mais eles têm a fazer para a vida. Com a vontade própria extinta eles estão em paz. Vendo o Senhor do Amor em tudo a sua volta, servindo ao Senhor do Amor em tudo a sua volta eles estão unidos com ele para sempre. (Mundaka Upanishad. 3:2:5)<br />
<br />
…Mas aqueles que me adoram com Amor vivem em mim, e eu passo a viver neles. Aquele que me conhece como seu próprio Self divino se desvencilha da crença de que ele é o [seu] corpo e não renasce como uma criatura separada. Este está unido comigo. Libertos do apego egoísta, medo e raiva, preenchidos de mim, rendidos a mim, purificados no fogo do meu ser, muitos alcançaram o estado de unidade comigo. (Bhagavad Gita 4:9-10)<br />
<br />
E este Self, que é pura consciência, é Brahman. Ele é Deus, todos os deuses: os cinco elementos – terra, ar, água, fogo, éter; todos os seres, grandes ou pequenos, nascidos de ovos, nascidos de úteros , nascidos do calor, nascidos do solo, cavalos, gado, homens, elefantes, pássaros; tudo que respira, os seres que andam e que não andam . A realidade por detrás de tudo isso é Brahman que é pura consciência. Todos estes enquanto estão vivos e depois que deixaram de viver, existem nele. (Aitareya Upanishad)<br />
<br />
Quando identificado com o ego, o Self parece outra coisa diferente do que ele é. Pode parecer mais fino que um fio de cabelo. Mas saiba que o Self é infinito. (Shvetashvatara Upanishad. 5:8-9)<br />
<br />
O Self supremo nem nasce nem morre. Nao pode ser queimado, movido, perfurado, cortado ou seco. Além de todos os atributos, o Self supremo é a eterna testemunha, sempre puro, indivisível, único (não-composto), muito além dos sentidos e do ego... Ele é omnipresente, além de todos os pensamentos, sem ação no mundo externo, sem ação no mundo interno. Separado do externo e do interno, esse Self supremo purifica o impuro. (Atma Upanishad. 3)<br />
<br />
Apesar de todas as galaxies emergirem dEle, Ele não tem forma e é incondicionado. (Tejabindu Upanishad. 6)<br />
<br />
Medite e compreenda que esse mundo é preenchido com a presença de Deus. (Shvetashvatara Upanishad. 1:12)<br />
<br />
Você é o Brahman supremo, infinito, e mesmo assim escondido no coração de todas as criaturas. Você permeia tudo. (Shvetashvatara Upanishad. 3:7)<br />
<br />
“Aquilo em quem residem todos os seres e que reside em todos os seres, aquele que é o doador das graças para todos, a Alma Suprema do universo, o ser ilimitado – eu sou Aquilo." Amritbindu Upanishad<br />
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“Aquilo que permeia tudo, que nada transcende, e o qual, como o espaço universal à nossa volta, preenche completamente tudo, por dentro e por fora, esse Brahman Supremo não-dual – isso és Tu.” Shankara<br />
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S. Nisargadatta Maharaj - Eu sou um, mas apareço como muitos.<br />
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Você tem de desaprender tudo. Deus é o fim de todo desejo e conhecimento.<br />
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Seu próprio pequeno corpo também é cheio de mistérios e perigos e, mesmo assim, você não tem medo dele, porque você o toma como sendo seu. O que você não sabe é que o universo inteiro é o seu corpo, e você não precisa ter medo dele. Você pode dizer que você tem dois corpos: o pessoal e o universal. O pessoal vai e vem, o universal está sempre com você. Toda a criação é o seu corpo universal. Você está tão cego pelo que é pessoal, que você não vê o universal. A cegueira não terminará por si mesma - ela deve ser desfeita habilidosa e deliberadamente. Quando todas as ilusões são compreendidas e abandonadas, você alcança o estado perfeito e sem-erros, no qual todas as distinções entre o pessoal e o universal não existem mais.<br />
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Ninguém sofre em uma peça de teatro, a menos que se identifique com ela. Não se identifique com o mundo e você não sofrerá. Comentário: Esta citação, se colocada fora de contexto poderá ser mal compreendida podendo levar as pessoas à indiferença, que é muito diferente da não-identificação. A não-identificação pressupõe saber que o Observador "conheçe" a Si mesmo, sabe o que é o "mundo", e como interagir corretamente e de forma sadia com ele. Afinal de contas, o outro "mundo" sou Eu mesmo.<br />
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Assim como o gelo se transforma em água, e a água em vapor, e o vapor se dissolve no ar e desaparece, assim também o corpo se dissolve na pura consciência, e então no puro Ser, o qual está além de toda existência e não existência.<br />
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Você deve compreender a si mesmo como o imóvel atrás e além do móvel, a testemunha silenciosa de tudo o que acontece.<br />
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Aparecendo a consciência, aparece o mundo. Quando você considera a sabedoria e a beleza do mundo, você chama a isso de Deus. Conheça a fonte disso tudo, que está dentro de você mesmo, e você terá todas as suas perguntas respondidas.<br />
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Eu posso descrever o Supremo, o estado natural apenas por negação, como não-causado, independente, não-relativo, não-dividido, não-composto, inabalável, inquestionável, inalcançável por qualquer esforço.<br />
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Quando a ignorância, a mãe do pecado, se dissolve, o destino, que é a compulsão de pecar de novo, cessa. Com a ignorância terminando, tudo termina. As coisas são vistas como são, e elas são boas.<br />
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O que quer que você possa ouvir, ver ou pensar sobre, eu não sou isso. Eu sou livre de ser uma percepção ou conceito.<br />
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Seu mundo é transitório, mutável. Meu mundo é perfeito, imutável. Você pode me dizer o que quiser sobre seu mundo - eu posso ouvir cuidadosamente, até mesmo com interesse, e, mesmo assim, nem por um momento me esquecerei de que o seu mundo não existe, que você está sonhando. No meu mundo, as palavras e seus conteúdos não têm existência. No seu mundo, nada permanece; no meu, nada muda. Meu mundo é real, enquanto o seu é feito de sonhos. Meu mundo não tem características pelas quais possa ser identificado. Você não pode dizer nada sobre ele. Meu silêncio canta, meu vazio é cheio, não me falta nada. No seu mundo eu apareço com um nome e uma forma, mostrando consciência e actividade. No meu mundo eu tenho apenas existência. Nada mais. Eu sou meu mundo. Meu mundo sou eu mesmo. É completo e perfeito. Eu não necessito de nada, nem sequer de mim mesmo, porque a mim eu não posso perder. No seu mundo eu seria o último dos miseráveis. Acordar, comer, falar, dormir novamente - que coisa aborrecida.<br />
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Ela, a morte é muito parecida com o sono. Por um tempo, a pessoa está fora de foco, e então retorna. A pessoa, sendo uma criatura das circunstâncias, necessariamente muda com elas, como a chama que muda de acordo com o combustível. Apenas o processo continua, criando tempo e espaço.<br />
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O 'facto' de você ser uma pessoa é devido à ilusão do espaço e do tempo; você se imagina existindo em um certo ponto e ocupando um certo volume; sua personalidade é devido a sua auto-identificação com o corpo.<br />
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O Estado Supremo é universal, aqui e agora; todos já compartilham dele. É o estado de ser, saber e gostar. Quem não gosta de ser, ou não sabe da sua própria existência? Mas nós não tiramos vantagem dessa alegria de ser consciente, nós não adentramos esse estado e o purificamos de tudo que lhe é estranho.<br />
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Ao se realizar, você se sente completo, preenchido, livre do complexo dor-prazer, e, mesmo assim, incapaz de explicar o que aconteceu, por que e como. Você só pode descrevê-la em termos negativos: 'Nada mais está errado comigo.' É apenas por comparação com o passado que você sabe estar fora dele. De outra maneira, você é apenas você mesmo. Não tente impor aos outros. Se você conseguir, é porque a realização não é real. Fique em silêncio e observe-a em ação.<br />
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Tudo acontece como necessário, e mesmo assim nada acontece. Eu faço o que parece ser necessário, mas, ao mesmo tempo, eu sei que nada é necessário, que a vida, em si mesma, é uma crença falsa.<br />
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O sonhos não são iguais, mas o sonhador é um só. Eu sou o inseto, eu sou o poeta - no sonho. Mas, na realidade, eu não sou nenhum. Eu estou/sou além de todos os sonhos. Eu sou a luz na qual todos os sonhos aparecem e desaparecem. Eu estou em ambos os lados, dentro e fora do sonho. Assim como um homem que tem dor de cabeça conhece a dor, ele também sabe não ser a dor, assim eu conheço o sonho, a mim mesmo sonhando e a mim mesmo não-sonhando - tudo ao mesmo tempo. Eu sou o que eu sou, antes, durante e depois do sonho. Mas o que eu vejo no sonho, isso não sou eu.<br />
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Não tente conhecer a verdade, porque o conhecimento pela mente não é um conhecimento verdadeiro. Mas você pode saber o que não é verdade, o que já é o suficiente para libertá-lo do falso. A idéia de que você conhece o que é verdadeiro é perigosa, porque ela o mantém prisioneiro de sua mente. É quando você não sabe que você está livre para investigar. E não pode haver salvação sem investigação, porque a não-investigação é a principal causa do aprisionamento.<br />
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Alcança-se o estado Supremo renunciando a todos os desejos menores. Enquanto você estiver satisfeito com o mais baixo, você não poderá atingir o mais alto. Qualquer coisa que lhe agrade, o mantém para trás, preso. Até que você compreenda a insatisfatoriedade de tudo, sua transitoriedade e limitação, e arrebanhe energia em uma grande necessidade, mesmo o primeiro passo não é dado. Por outro lado, a integridade do desejo pelo Supremo é, por si mesmo, um chamado do Supremo. Nada, físico ou mental, pode lhe dar a liberdade. Você é livre a partir do instante em que compreende que sua prisão é construída por você mesmo e pára de forjar as correntes que o aprisionam.<br />
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A abstração é mental e verbal e desaparece no sono ou devaneio; ela reaparece no tempo. Eu estou/sou no meu próprio estado intemporalmente no agora. Passado e futuro estão apenas na mente - Eu sou/existo agora.<br />
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Quando você deseja e teme, e identifica a si mesmo com seus sentimentos, você cria a tristeza e os laços que o aprisionam. Quando você cria com amor e sabedoria, e permanece desapegado de suas criações, o resultado é harmonia e paz. Mas, qualquer que seja a condição de sua mente, de qual maneira ela reflete em você? É apenas a sua auto-identificação com a sua mente que o faz feliz ou infeliz. Rebele-se contra a escravidão que a sua mente lhe impõe, veja as coisas que lhe aprisionam como auto-criadas e quebre as correntes do apego e repulsa. Mantenha em mente a sua meta de liberdade até que você descubra que já é livre, que a liberdade não é algo no futuro distante a ser conquistado através do sofrimento, mas sim que é algo permanentemente seu, para ser usada. A libertação não é uma aquisição, mas sim uma questão de coragem, coragem de acreditar que você já é livre e agir sobre isso.<br />
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O Absoluto dá nascimento à consciência. Todo o resto está na consciência.<br />
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“Aquilo que permeia tudo, que nada transcende, e o qual, como o espaço universal à nossa volta, preenche completamente tudo, por dentro e por fora, esse Brahman Supremo não-dual – isso és Tu.” Shankara<br />
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A corrente filosófica na qual o pensamento de Nisargadatta Maharaj se insere é acadêmicamente conhecida como Vedanta Advaita.<br />
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Para essa corrente filosófica, o conhecimento fundamental é Atman é Brahman. Atman é o Self e Brahman significa a Alma universal ou Consciência Universal. Os Vedas falam da união mística como sendo a compreensão de que Atman é Brahman.<br />
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Advaita é uma palavra em sânscrito cujo significado literal é “não-dois”. A interpretação moderna do Advaita é algumas vezes apresentada como “Não-dualidade” ou mesmo como o final dos Vedas ou “Não-dualidade além do conhecimento”. Outro nome ainda para o estudo do Advaita é Jnani Yoga (Yoga do Conhecimento). No século 20, os mestres modernos do Advaita Ramana Maharshi e Nisargadatta Maharaj quebraram o caminho tradicional, de trasmitir o ensinamento por via escrita, e falaram diretamente de sua experiência.<br />
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Gaudapada, pensador do século VII, autor do tratado Mandukya-karika, defende que não há dualidade; a mente, acordada ou sonhando, move-se através de Maya (ilusão ou transitoriedade); apenas a não-dualidade é a verdade final. Esta verdade é obscurecida pela ignorância da ilusão. Não há o tornar-se, seja de uma coisa por si mesma, ou de uma coisa vinda de outra coisa. Na verdade não há Self individual ou alma, apenas o Atman (Consciência Universal).<br />
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O filósofo indiano medieval, Shankara (700? – 750?) desenvolveu ainda mais os fundamentos de Gaudapa, principalmente nos seus comentários aos sutras do Vedanta, os Sari-raka-mimamsa-bhasya (Comentários sobre os Estudos do Self). Shankara, em sua filosofia, não parte do mundo empírico e o submete a uma análise lógica, mas, ao invés disso, parte diretamente do Absoluto (Brahman). Se interpretado corretamente, ele questiona, os Upanishads ensinam a natureza de Brahman. Ao construir seu argumento, ele desenvolve uma epistemologia completa para contabilizar o equívoco humano de tomar o mundo fenomênico como sendo real.<br />
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O fundamental para Shankara, é o postulado de que Brahman é Real e o mundo é irreal. Qualquer mudança, dualidade ou pluralidade é uma ilusão (no sentido de que é ilusório, é momentâneo, transitório, não-permanente. Já o que é Real, não muda, é permanente e constante). O Self não é outra coisa senão Brahman. O insight dessa identidade resulta na libertação espiritual. Brahman está fora do tempo, do espaço e da causalidade, as quais são simplesmente formas de experiência empírica. Não é possível nenhuma distinção em ou de Brahman.<br />
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Origens do Advaita (não-dualidade) nos textos Védicos :<br />
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O Self que é livre do pecado, livre da velhice, da morte e do pesar, da fome e da sede, que não deseja nada além do que deseja, e que não imagina nada, além do que imagina, isso é o que devemos procurar, isso é o que devemos tentar compreender. Aquele que descobriu esse Self e o compreende, obtém todos os mundos e todos os desejos. (Chandogya Upanishad 8.7.1)<br />
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Tudo isso é Brahman. Deixe um homem meditar nisso (no mundo visível) como começando, terminando e respirando nele (Brahman)... ( Chandogya Upanishad 3.14 1, 3)<br />
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O Self separado dissolve-se no mar da pura consciência, infinita e imortal. A separatividade provém do identificar o Self com o corpo o qual é feito de elementos; quando a identificação física se dissolve, não pode haver mais um Self separado. É isso que eu quero dizer a vocês. (Brihadaranyaka Upanishad. Chapter 2, 4:12)<br />
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Assim como os rios que fluem para o leste e para o oeste se fundem no oceano e se tornam um com ele, esquecendo que eles eram rios separados, assim também todas as criaturas perdem sua separatividade quando se fundem finalmente no puro Ser. (Chandogya Upanishad. 10:1-2)<br />
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O que os sábios procuravam eles finalmente encontraram. Nenhuma pergunta a mais eles têm a fazer para a vida. Com a vontade própria extinta eles estão em paz. Vendo o Senhor do Amor em tudo a sua volta, servindo ao Senhor do Amor em tudo a sua volta eles estão unidos com ele para sempre. (Mundaka Upanishad. 3:2:5)<br />
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…Mas aqueles que me adoram com Amor vivem em mim, e eu passo a viver neles. Aquele que me conhece como seu próprio Self divino se desvencilha da crença de que ele é o [seu] corpo e não renasce como uma criatura separada. Este está unido comigo. Libertos do apego egoísta, medo e raiva, preenchidos de mim, rendidos a mim, purificados no fogo do meu ser, muitos alcançaram o estado de unidade comigo. (Bhagavad Gita 4:9-10)<br />
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E este Self, que é pura consciência, é Brahman. Ele é Deus, todos os deuses: os cinco elementos – terra, ar, água, fogo, éter; todos os seres, grandes ou pequenos, nascidos de ovos, nascidos de úteros , nascidos do calor, nascidos do solo, cavalos, gado, homens, elefantes, pássaros; tudo que respira, os seres que andam e que não andam . A realidade por detrás de tudo isso é Brahman que é pura consciência. Todos estes enquanto estão vivos e depois que deixaram de viver, existem nele. (Aitareya Upanishad)<br />
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Quando identificado com o ego, o Self parece outra coisa diferente do que ele é. Pode parecer mais fino que um fio de cabelo. Mas saiba que o Self é infinito. (Shvetashvatara Upanishad. 5:8-9)<br />
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O Self supremo nem nasce nem morre. Não pode ser queimado, movido, perfurado, cortado ou seco. Além de todos os atributos, o Self supremo é a eterna testemunha, sempre puro, indivisível, único (não-composto), muito além dos sentidos e do ego... Ele é omnipresente, além de todos os pensamentos, sem ação no mundo externo, sem ação no mundo interno. Separado do externo e do interno, esse Self supremo purifica o impuro. (Atma Upanishad. 3)<br />
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Apesar de todas as galaxies emergirem dEle, Ele não tem forma e é incondicionado. (Tejabindu Upanishad. 6)<br />
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Medite e compreenda que esse mundo é preenchido com a presença de Deus. (Shvetashvatara Upanishad. 1:12)<br />
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Você é o Brahman supremo, infinito, e mesmo assim escondido no coração de todas as criaturas. Você permeia tudo. (Shvetashvatara Upanishad. 3:7)<br />
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“Aquilo em quem residem todos os seres e que reside em todos os seres, aquele que é o doador das graças para todos, a Alma Suprema do universo, o ser ilimitado – eu sou Aquilo." Amritbindu Upanishad<br />
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“Aquilo que permeia tudo, que nada transcende, e o qual, como o espaço universal à nossa volta, preenche completamente tudo, por dentro e por fora, esse Brahman Supremo não-dual – isso és Tu.” Shankara<br />
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<i><b>Swami Paramananda - O Domínio do Ser</b></i><br />
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A sede pela felicidade é um instinto comum em toda a humanidade; mas nem todos possuem o segredo de adquiri-la, nem o poder de retê-la quando ela surge. Isto requer sabedoria e paciência. Talvez por esta razão os grandes homens de todos os países e épocas enfatizaram tremendamente a vida de autodisciplina e autocontrole. A autodisciplina nos capacita a organizar e unir todas as nossas forças fragmentadas. Isto necessariamente aumenta nosso poder para o pensamento e para a ação. Não é verdade, apesar de parecer ser, que nós temos muitos fatores isolados em nossa vida. A mesma energia que pulsa através de nosso coração e cérebro também opera nossas mãos e pés; por isso aprender a acumular e controlar esta energia inerente, que agora desperdiçamos pela falta de coordenação e cooperação, significaria o bem mais desejável em nossa vida.<br />
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O autodomínio é um bem muito maior que qualquer bem deste mundo. Se nós não possuirmos a nós mesmos podemos possuir todas as belas coisas da vida e seremos incapazes de usá-las para qualquer vantagem. Mais do que isso, nós podemos inconscientemente derrubar a própria raiz de nossa vida. Sob a influência da raiva ou de qualquer emoção violenta e descontrolada, uma pessoa pode fazer algo de que sempre se arrependerá, aquilo que ele sabe que é destrutivo. Se você perguntar a ele por que fez isso, ele dirá que não pode evitar fazê-lo, foi feito antes que soubesse disso, por um impulso. Mas por que tal impulso surgiu afinal? Ele surgiu porque nós construímos o alicerce para ele. Não é por acaso que caímos sob a influência destes males. Somos nós que tornamos possível que tais influências prejudiciais surjam; e também está em nosso alcance torná-las impossíveis.<br />
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Se refletirmos e penetrarmos nas profundezas de nosso ser, jamais deixaremos de encontrar que cada evento em nossa vida está baseado em uma causa justa. Se um homem faz algo destrutivo para si mesmo ou para outro, é porque permitiu que o pensamento destrutivo o dominasse; ele já não é mais ele próprio. Ele pode estar ao alcance do sucesso, mas se ele perder o domínio de si mesmo, em um momento poderá fazer algo que significará desfazer tudo o que fez anteriormente.<br />
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Há uma parábola que um dos grandes místicos da Índia costumava ensinar que ilustra isto. Um homem estava trabalhando em seu pomar em um dia quente e seco do verão. Ele estava trazendo água de seu poço e trabalhou duramente por um longo tempo, mas quando ele foi examinar as árvores ele descobriu que toda a água tinha desaparecido levada pelos grandes buracos de ratos nos canais de água. O mesmo acontece conosco. Nós rezamos, meditamos, estudamos, fazemos todas as práticas que julgamos que nos darão um ímpeto espiritual e ainda assim ficamos estacionados ou até voltamos para trás. Por que acontece isto? Porque não nos fortificamos. Um homem pode usar palavras muito elevadas que expressam idéias morais, mas se a ele faltar o princípio fundamental da vida, se a ele faltar paciência, autocontrole, capacidade de perdoar, ele explodirá de raiva algum dia e então todos os seus dogmas e teorias não servirão para nada.<br />
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Sem equilíbrio não podemos esperar ter felicidade. Felicidade é uma qualidade da mente. É algo que possuímos internamente. Se nós não temos a felicidade internamente, nada externo poderá dá-la para nós. Se nós a temos internamente, não importa quais obstáculos são colocados diante de nós, nós os ultrapassaremos. O filosofo romano Marcus Aurelius coloca isto de forma bastante firme, “Seja alegre e não busque ajuda externa nem a tranqüilidade que os outros dão. Um homem deve ficar de pé e não ser mantido de pé por outros.” Aquele que possui a si mesmo totalmente pode ser confinado em uma prisão ou pode ser colocado com multidões de pessoas sem o seu temperamento, ainda assim se manterá equilibrado. Isto é o que todos nós precisamos aprender a fazer.<br />
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A disciplina da vida é algo maravilhoso. O domínio não é para aqueles que estão sempre tentando fugir e evitar tudo que é desagradável. Se continuarmos evitando o que é difícil jamais daremos um passo para frente. É isto que desperta nossas faculdades internas.<br />
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Existem dois caminhos para lidar com a auto-conquista: podemos nos aproximar dela com o espírito do auto-esforço ou com o espírito da auto-entrega. Estas parecem ser duas idéias contrárias; ainda assim encontramos homens santos em completa posse de si mesmos, com perfeito domínio sobre seus apetites e paixões, que são inteiramente livres de todo sentido de agressão ou auto-esforço. Eles entregaram-se tão totalmente ao Supremo que não há mais lugar em seus corações para qualquer escuridão, nenhuma possibilidade do aparecimento da raiva ou da maldade. Quando tivermos nos transformado de forma completa, não seremos mais pessoas calculistas: “Ficarei com raiva ou não? Falarei duro com ele ou irei me conter?” Estes pensamentos não surgirão porque nossa mente não terá mais nenhum lugar para eles.<br />
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Aquele que deseja cumprir bem seu papel, que deseja que sua ação seja frutífera, estudará sua natureza mais profunda. Ele descobrirá ser mais sábio fazer uma pausa de alguns momentos antes de agir, do que passar seu tempo futuro lutando para desfazer o que fez em um momento de precipitação ou loucura. Autocontrole ou autodomínio não é meramente um tema de estudo interessante para estudantes de religião ou filosofia. É uma necessidade vital em nossas vidas se desejarmos manter a ordem social ou a harmonia e vida familiar saudável. Nossos amigos podem lutar para criar condições pacíficas para nós, mas se nossa mente não estiver em paz, teremos apenas uma satisfação momentânea. Existem aqueles que jamais estão satisfeitos; eles sempre querem algo diferente. Não é gratificando nossos desejos que nós atingiremos alguma calma, e sim os unindo e fazendo-os harmoniosos com nosso propósito mais elevado. Isto não implica que devemos destruir qualquer desejo que surgir em nossa mente. Seria como cobrir o fogo com cinzas, - o fogo ainda estaria intacto. Nós não nos libertaremos de nossas baixas tendências por este método, e sim adquirindo maior conhecimento, conseguindo maior unidade dentro de nós mesmos.<br />
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Quando nosso pensamento, mente e coração, - quando todo o nosso ser estiver focado em absoluta união, então descobriremos os ideais elevados surgindo dentro de nós espontaneamente; então as coisas que pertencem aos níveis inferiores não mais nos tocarão. Será deste modo que venceremos e não de forma calculista. Espiritualidade não é uma questão de cálculo nem é uma questão de doutrinas, palavras ou teorias. É algo que desenvolvemos dentro de nós e após este desenvolvimento outros se beneficiam dele. É claro que somos os primeiros a nos beneficiar, pois nossa vida se transforma. Nós somos os mesmos e ao mesmo tempo nós não somos os mesmos. Temos as mesmas mãos e pés, mas eles estão disponíveis para um melhor uso; temos as mesmas mentes e corações, mas eles estão cheios de idéias e ideais mais elevados.<br />
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O único modo de levantarmos, o único modo que podemos elevar outros seres humanos é atingir um nível de consciência mais elevado. Se temos um padrão mais nobre de vida, se possuímos autocontrole, se somos mestres de nós mesmos, não precisamos mostrar isto em palavras. Tudo que está vivo ao redor de nós – filhos, irmãos, irmãs, amigos, - se beneficiarão pelo que somos. Eles podem ficar impacientes conosco, intolerantes por sermos diferentes deles, mas se nos seguramos firmes em nossos ideais eles virão a nós nos momentos de necessidade. Em tempo de calamidade, raiva, impaciência, ou grande sofrimento, aquele que não é molestado por estas coisas, torna-se como uma rocha; os outros se ligarão a ele e terão seu conforto.<br />
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Isto significa que para ganhar autodomínio temos que ser insensíveis como um bloco de madeira ou uma pedra? Não devemos confundir estas idéias. Pessoas insensíveis são geralmente egoístas. O autodomínio não é para elas, ou para a pessoa que é dura e rude, e sim para ele cuja consciência se expandiu, que ao invés de se envolver completamente com os pequenos sentimentos egoístas, subitamente chega a possuir outra parte de sua vida. Ele é infundido com divino poder e naturalmente não é mais capaz de fazer qualquer coisa que é baixa ou ignóbil. Estas grandes características não chegam por acidente; elas são o resultado do nosso pensar e viver.<br />
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Não existe carência de altos ideais. Mesmo do ponto de vista da auto-preservação, da felicidade pessoal, devemos cultivar o domínio do ser, pois nele está o segredo de toda força e realização. Os mesmos esforços que estamos fazendo agora nos trarão o mais elevado. Tudo que é necessário é direção e esforço correto. Isto é o que autodomínio significa. O domínio do ser nos dá tal sabedoria que podemos sempre em todas as circunstâncias depender de nossa própria força interna.<br />
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<i><b>Ramana Maharshi</b></i><br />
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Não há mistério maior que este: que sendo a Realidade nós buscamos alcançar a Realidade. Nós pensamos que existe algo ocultando a Verdade e que isso deve ser destruído a fim de que possamos atingir a Verdade. É ridículo. Chegará o dia em que você vai rir de todos os seus esforços pretéritos. Aquilo que será no dia em que você rir também é aqui e agora. A liberação, que é bem-aventurança, é natural a todos. A ignorância é uma ilusão da mente, uma falsa sensação. Apenas o ego é prisão, e a sua própria natureza, livre do contágio do ego, é liberação. Não há engano maior do que acreditar que a liberação, que está sempre presente como a sua verdadeira natureza, será alcançada em um tempo futuro. Até mesmo o desejo pela liberação é fruto da ilusão. Portanto, permaneça em silêncio. Se você permanecer como mera consciência, “eu sou”, a ignorância não existirá. Portanto, a ignorância é falsa; apenas a Consciência é real. O pensamento-“eu” é como um fantasma que, apesar de ser impalpável, surge simultaneamente com o corpo, vive e desaparece junto com ele. A consciência “eu sou o corpo/este é meu corpo” é o falso eu. Abandone-a. Você pode fazer isso buscando a fonte do sentimento “eu”. O corpo não diz “eu sou”. É você que diz “eu sou o corpo”. Descubra o que é este “eu”; busque sua fonte e ele desaparecerá.<br />
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<i><b>Nisargadatta Maharaj</b></i><br />
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A mente pura vê as coisas como elas são – bolhas na consciência. Essas bolhas estão aparecendo, desaparecendo, e reaparecendo – sem ter uma existência real. Nenhuma causa em particular lhes pode ser apontada, já que cada uma é causada por todas e afeta a todas. O que foi alcançado poderá ser perdido novamente. Apenas quando você realizar a verdadeira paz, a paz que nunca perdeu, esta paz permanecerá com você, já que ela nunca esteve longe. Ao invés de buscar algo que você não tem, descubra aquilo que você nunca perdeu. A felicidade de ser completamente livre é indescritível. Esses são todos sinais de um crescimento inevitável. Não tenha medo, não resista, não atrase. Seja o que você é. Não há nada a temer. Confie e tente. Experimente honestamente. Dê uma chance ao seu verdadeiro Ser para que ele molde a sua vida. Você não se arrependerá. O que são o nascimento e a morte senão o início e o fim de uma sequência de eventos na consciência? (…) Tenha o seu ser fora deste corpo de vida e morte e todos os seus problemas cessarão. Eles existem porque você acredita que nasceu para morrer. Desiluda-se e liberte-se. Você não é uma pessoa.<br />
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<i><b>MEDITAÇÃO E CONTROLE MENTAL.S.Ramana. Maharshi</b></i><br />
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“A meditação (dhyana) é uma batalha, pois constitui o esforço de manter-se em um pensamento, excluindo todos os demais. Outros pensamentos surgem e tentam afundar aquele pensamento objeto da meditação; quando este ganha força os outros desaparecem. O controle da respiração (pranayama) é para aquele que não consegue controlar diretamente seus pensamentos; tem a mesma utilidade que um freio tem para um carro. Contudo, não devemos parar com o controle da respiração. Após atingir o objetivo – acalmar a mente inquieta – devemos empreender a prática da concentração. Com o tempo, será possível deixar de lado o controle da respiração; a mente então se aquietará tão logo se tente a meditação. Quando a meditação está bem sedimentada, não mais podemos desistir dela. Continuará automaticamente durante o trabalho, lazer e outras atividades. Continuará até mesmo durante o sono. O meio de se estabelecer na meditação é a própria meditação. Nem o japa (repetição mental de palavras ou frases) nem um voto de silêncio se fazem necessários. Se a pessoa se envolve em atividades mundanas de cunho egoísta, de nada adianta um voto de silêncio. A meditação extingue todos os pensamentos e então só resta a Verdade.”<br />
<br />
Noutra oportunidade, o Sábio disse: “Quando a cânfora queima, não resta nenhum resíduo. A mente deve ser como a cânfora: deve derreter-se e ser totalmente consumida pela decisão determinada de encontrar e ser o Eu Real. Mediante tal determinação, a Busca ‘Quem Sou Eu?’ se torna eficaz. Quando a mente for assim consumida – quando não restar nenhum vestígio da mente –ter-se-á dissolvido no Ser.”<br />
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Sendo-lhe perguntado como pode alguém encontrar seu Guru, o Sábio respondeu: “Através de intensa meditação.”<br />
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As pessoas que procuram resultados específicos da meditação não os conseguem, desencorajam-se, e concluem que a meditação não lhes trouxe proveito. A essas pessoas o Sábio diz: “Não importa nada se esses resultados foram obtidos ou não. A obtenção da constância é o principal. É o grande proveito. De qualquer modo, devem confiar em Deus e esperar sem impaciência por sua Graça. A mesma regra se aplica ao japa também; japa feito mesmo uma vez traz proveito, quer a pessoa esteja consciente disso quer não.”<br />
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Alguns pensam que se deve continuar praticando a meditação, mesmo após a Iluminação. Essa questão é esclarecida da seguinte maneira: “Quando a mente se extingue no Estado sem ego, então nem há concentração nem não-concentração”. Referindo-se à mesma questão, o Sábio disse em outra ocasião: “Quando o Ser é realizado, não é possível nem tentar o samadhi nem abandoná-lo”.<br />
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O êxito na meditação vem rapidamente a poucos, e depois de longa prática para os outros. Sobre tal questão o Sábio diz: “As vasanas (propensões ou tendências mentais) impedem a meditação, portanto esta só se torna eficaz através do enfraquecimento progressivo das vasanas. Certas mentes são como a pólvora que pega fogo e se consome imediatamente: outras se assemelham ao carvão, e outras ainda são iguais ao combustível molhado.”<br />
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O segredo do controle mental é esclarecido na seguinte resposta: “A mente não pode ser controlada por alguém que julga que ela seja algo que realmente existe; nesse caso, a mente se comporta como um ladrão que finge ser um policial perseguindo o ladrão. Esforços feitos dessa maneira servem apenas para dar um novo alento de vida ao ego e à mente”. O método adequado é investigar a verdade da mente e do ego, o que leva à Busca.<br />
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Em outra ocasião, o Sábio disse: “Pessoas me perguntam como controlar a mente. Eu respondo: ‘Mostre-me a mente’. A mente nada mais é do que uma série de pensamentos. Como pode a mente ser controlada por um daqueles pensamentos, isto é, pelo desejo de controlar a mente? É tolice tentar acabar com a mente através da própria mente; a única maneira é encontrar a Fonte da mente e segurá-La. Então a mente desaparecerá por si só. O Yoga prescreve o chitta-vritti-nirodha (supressão dos pensamentos); eu recomendo Atmanveshana (Busca do Eu), a qual é praticável. A mente é contida [em algumas ocasiões], como no desmaio, ou como resultado do jejum. Mas logo que a causa é removida, a mente revive, isto é, os pensamentos começam a fluir como antes. Há apenas dois modos de controlar a mente: ou buscar a sua Fonte, ou renunciar a mente, deixando que o Poder Supremo a destrua. A entrega é o reconhecimento da existência de um Poder Supremo. Se a mente se recusa a auxiliar na busca da Fonte, deixe-a ir e espere que retorne: então a dirija para o íntimo. Ninguém obtém êxito sem paciente perseverança.”<br />
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A meditação com os olhos fixos no espaço entre as sobrancelhas, o Sábio nos adverte, pode resultar em medo. A maneira certa é fixar a mente somente no Ser. Não conduz ao medo.<br />
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Outra coisa que aprendemos é que não pode haver meditação – no sentido usual do termo – no Ser. Meditação é normalmente concebida como pensar em um objeto; isso implica em distinção entre sujeito e objeto e, portanto, não é possível meditação sobre o Ser. O que é chamado meditação nada mais é do que afastar os pensamentos, pelos quais o Ser fica oculto. Quando todos os pensamentos são dissipados, o Ser brilha em Sua Natureza real: permanecer nesse estado é a única meditação do Ser que pode haver. O Sábio, pois, está sempre em meditação, embora possa parecer estar frequentemente envolvido com outras atividades.<br />
<br />
<i><b>COMO LIDAR COM O SOFRIMENTO.</b></i><br />
<br />
“Voltando a mente para dentro, vencer a pior das mágoas. O sofrimento só é possível quando consideramos que somos o corpo. Se a forma é transcendida, saberemos que o Ser é eterno – que para ele não existe nem nascimento nem morte. É apenas o corpo que nasce e morre, não o Ser. O corpo é uma criação do ego, que, contudo, nunca é percebido independente do corpo – na verdade, o ego é inseparável do corpo. Devemos considerar que no sono não temos consciência da existência de um corpo; assim, percebemos que o corpo não é real. Ao despertarmos do sono, surge o ego e, depois, os pensamentos. Descubra a quem os pensamentos pertencem. Pergunte de onde se originam. Devem surgir do Ser, que é a Consciência. Compreender essa Verdade, mesmo vagamente, ajuda na extinção do ego; com ela, a Existência infinita é alcançada. Nesse Estado não há indivíduos – apenas o Ser único. Portanto, não há espaço nem mesmo para o pensamento da morte.<br />
<br />
“Se alguém julga que nasceu, não pode deixar de pensar na morte. Portanto, que ele se questione se realmente nasceu. Então, descobrirá que o Eu Real tem existência eterna, e que o corpo é apenas um pensamento – o primeiro de todos os pensamentos, a raiz de todas as perturbações.”<br />
<br />
<i><b>OS TRÊS ESTADOS DA MENTE.</b></i><br />
<br />
A mente é alternadamente sujeita a três estados: o estado de sonolência ou inércia, chamado tamas, é o mais baixo; o seguinte, mais elevado, é o de atividade inquieta, chamado rajas; o superior é o de clareza e paz, chamado sattva. O Sábio nos diz que o discípulo não deve lamentar ou lastimar o predomínio dos dois primeiros, mas esperar até que surja o estado de clareza e, então, tirar o maior proveito dele.<br />
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<i><b>A MORTE.</b></i><br />
<br />
“Na verdade os mortos são felizes, tendo se livrado do pesadelo que é o corpo. Os mortos não sofrem. Os homens temem o sono? Não, procuram-no e preparam-se para ele. O sono é a morte temporária, e a morte nada mais é do que um sono prolongado. Se o homem, enquanto vivo, morrer a morte que não é morte, através da extinção do ego, ele não mais sofrerá pela morte de ninguém. Uma vez que sabemos que existimos continuamente através de todos os três estados – com o corpo e sem o corpo – por que deveríamos desejar a continuação dos grilhões físicos para nós mesmos ou para os outros?”<br />
<br />
“Quando alguém está nos começando a morrer, a respiração se torna difícil. Isso significa que a pessoa se tornou inconsciente do corpo moribundo; a mente logo toma posse de outro corpo e oscila entre os dois, até que o apego se transfira totalmente para o novo corpo. Nesse ínterim, há violentas respirações ocasionais, indicando que a mente hesitantemente retornou ao corpo moribundo. Esse estado de transição da mente é semelhante a um sonho.”<br />
<br />
<i><b>OS ANIMAIS POSSUEM ALMA?</b></i><br />
<br />
O Sábio trata os animais da mesma forma com que trata os seres humanos. Ao falar de um animal usa sempre os termos que usaria para referir-se a um ser humano, “ele” e “ela”. Uma vez perguntaram-lhe se os animais não eram inferiores aos homens, e ele respondeu: “Os Upanishads dizem que os homens, enquanto ficarem sujeitos ao ego – ou seja, até se conscientizarem do puro Ser –, não passam de animais. Pode até ser que os homens sejam piores do que os animais.”<br />
<br />
Bhagavan também disse que almas muito avançadas podem ter ocupado corpos de animais a fim de viver no ambiente de seu eremitério. Havia, certa vez, quatro cães que viviam lá, e demonstravam muitos sinais de devoção. Por exemplo, quando se lhes oferecia alimento, eles não o tocavam até que o próprio Sábio tivesse sido servido e iniciasse sua refeição. Logo que o Sábio começava a comer, eles também o faziam, mostrando a sua peculiaridade quanto a esse aspecto.<br />
<br />
<i><b>PRÁTICAS DEVOCIONAIS.</b></i><br />
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“Práticas como o japa e outras semelhantes são preferidas por muitos, por serem mais concretas. Mas o que é mais concreto do que o Ser? Ele está dentro da experiência direta de cada um e de todos, e é experienciado em cada momento. Portanto, o Ser é a única coisa que é incontestavelmente conhecida. Assim sendo, devemos procurá-Lo e achá-Lo, em vez de buscar algo desconhecido – Deus ou o mundo.”<br />
<br />
<i><b>SAMADHI E SUA INTERPRETAÇÃO.</b></i><br />
<br />
“A experiência que São Paulo obteve e que o converteu à fé em Cristo foi realmente uma experiência transcendente ao mundo das formas. Mas, posteriormente, ele a identificou como a visão do Cristo.” Respondendo à objeção de que Paulo tinha sido anteriormente um perseguidor de Cristo, o Sábio disse: “É irrelevante se o predominante tenha sido amor ou ódio; o que importa é que o pensamento de Cristo estava lá. O caso foi semelhante ao de Ravana e outros demônios.”<br />
<br />
<i><b>COMO DEVEMOS AGIR NO MUNDO?</b><i><br /><br />“Devemos agir no mundo como um ator no palco. Em todas as ações há no fundo o Eu Real como princípio sustentador. Lembre-se disso e aja.” (K. Lakshmana Sarma)<br />---<br /><br /><i><b>S. Nisagardatta. Maharaj - Ignorância/Desatenção</b><i></i></i><br />A Atenção como fuga às ilusões...<br /><br />Não existe isso de ignorância, apenas desatenção. Além do mais, a preocupação é um estado de dor mental, e a dor é, invariavelmente, um chamado por atenção. No momento em que você dá atenção, o chamado por isso cessa e a questão da ignorância se dissolve. A atenção o traz de volta para o presente, o agora, e a presença no agora é um estado sempre à mão, mas raramente percebido.<br /><br />Aprender as palavras não é o suficiente. Você pode conhecer a teoria mas, sem a experiência atual de si mesmo como o centro impessoal e sem atributos da existência, amor e bem-aventurança, o mero conhecimento verbal é estéril.<br /><br />Como você sabe que não conhece o seu Self? Sua visão interior lhe diz que você conhece primeiro a você mesmo, porque nada existe sem você estar ali para testemunhar sua existência. Você imagina que não conhece a si mesmo, porque você não consegue descrever a si mesmo. Você pode apenas dizer: 'Eu sei que Eu Sou' e você recusará como não verdadeiro o argumento 'Eu não sou'. Mas o que quer que possa ser descrito não pode ser você mesmo, e o que você é não pode ser descrito. Você só pode conhecer o seu Ser sendo você mesmo, sem nenhuma tentativa de auto-descrição ou auto-definição. Uma vez que você tenha compreendido que você não é nada perceptível ou concebível, que o que quer que apareça no campo da consciência não pode ser você mesmo, você se aplicará na erradicação de toda auto-identificação, como o único caminho que pode levá-lo à profunda realização de si mesmo.<br /><br />Atualmente, seu Ser está misturado com o experimentar. Tudo o que você precisa é separar o Ser da mistura das experiências. Uma vez que você tenha conhecido o puro Ser, sem ser isto ou aquilo, você vai discerni-lo entre as experiências; e não será mais enganado por nomes e formas. Auto-limitação é a própria essência da personalidade.<br /><br />Abra mão de todas as perguntas, exceto uma: 'Quem sou eu?' Além do mais, o único fato do qual você está certo é de que você é. O 'Eu Sou' é certo. O 'Eu Sou isto' não é. Lute para decobrir o que você é na realidade.<br /><br />Enquanto você se identificar* com eles, a mente e o corpo, você está condenado a sofrer; compreenda a sua independência, e você ficará feliz. Eu lhe digo: esse é o segredo da felicidade. A crença de que você depende de coisas e pessoas para ser feliz é devido à sua ignorância de sua verdadeira natureza; saber que você não precisa de nada para ser feliz, exceto seu auto-conhecimento, é sabedoria. N.T.: (*)'Identificar' no presente contexto significa acreditar (dar crédito à idéia ou conceito de) que somos a mente e o corpo.<br /><br />Na realização aquilo que não pode mudar, permanece. A grande paz, o silêncio profundo, a beleza oculta da realidade permanecem. Ainda que não tenha como ser explicado em palavras, está esperando que você a experimente por si mesmo.<br /><br />Na verdade, as coisas são feitas para você, e não por você. O seu desejo simplesmente acontece junto com a realização ou não do desejo. Você não pode mudar nenhum deles. Você pode acreditar que você se esforça, tenta e luta. Novamente, tudo isso simplesmente acontece, incluindo os frutos do trabalho. Nenhum deles é por você. Tudo está na imagem que aparece na tela de cinema, não na luz; inclusive a pessoa que você pensa ser. Você é somente a luz.<br /><br />É sempre o falso que lhe faz sofrer, os falsos desejos, valores e idéias. Os relacionamentos falsos entre as pessoas. Abandone o falso e você estará livre da dor; a verdade te faz feliz, a verdade liberta.<br /><br />A pessoa, o 'Eu Sou este corpo, esta mente, esta cadeia de memórias, este amontoado de desejos e medos' desaparece, mas algo, que você pode chamar de identidade, permanece. Isso me permite me tornar uma pessoa quando necessário.<br />---<br /><br /><i><b>(S. Nisargadatta Maharaj) . Desejos e Medos</b></i><br /><br />Não há sentido em lutar contra desejos e medos, os quais podem ser perfeitamente naturais e justificados; é a pessoa que é envolvida por eles que é a causa dos erros, passados e futuros. Esta pessoa deveria ser cuidadosamente examinada e sua falsidade vista; então o seu poder sobre você terminará. Além do mais, ela desaparece cada vez que você vai dormir.<br /><br />Onde estão os muitos pontos da consciência? Na sua mente. Você insiste que o mundo é independente da sua mente. Como pode ser? Seu desejo de conhecer a mente das outras pessoas é devido ao seu desconhecimento de sua própria mente. Primeiro conheça sua própria mente, e você verá que a questão das outras mentes não se apresenta, porque não há outras pessoas. Você é o fator comum, o único elo entre as mentes. Ser é consciência.'Eu Sou' se aplica a todos.<br /><br />O que evita a percepção da própria verdadeira natureza de cada um, é a fraqueza e a estupidez da mente, e sua tendência de evitar o sutil e focar apenas o grosseiro. Quando você segue a minha sugestão e tenta manter a mente apenas na noção de 'Eu Sou', você se torna plenamente consciente da sua mente e de seus devaneios. A consciência, sendo harmonia lúcida em ação, dissolve a estupidez, aquieta a agitação incessante da mente e, gentil mas firmemente muda sua própria substância. Essa mudança não precisa ser espetacular; pode ser dificil de perceber. Mesmo assim é uma mudança profunda e fundamental da escuridão para a luz, da inadvertência para a consciência. Por esse motivo, mantenha firmemente no foco da consciência a única pista que você tem; a certeza de Ser. Esteja com ela, brinque com ela, pondere sobre ela, mergulhe profundamente nela, até que a concha da ignorância se quebre e você emerja no reino da realidade.<br />---<br /><br /><i><b>Desejos e medos 2</b></i><br /><br />O que muda não é real, o que é real não muda. Agora, o que existe em você que não muda? Enquanto houver alimento, haverá corpo e mente. Quando o alimento cessa, o corpo morre e a mente se dissolve. Mas e o observador, perece? É uma questão de experiência atual que o Self tem sua existência independente da mente e do corpo. É existência-consciência-bem-aventurança. Consciência de ser é bem-aventurança.<br /><br />Da maneira que você pensa a si mesmo, assim você pensa que o mundo é. Se você se imagina como separado do mundo, o mundo parecerá separado de você, e você experimentará desejo e medo. Eu não vejo o mundo como separado de mim, e assim não há nada para eu desejar ou temer.<br /><br />Antes da mente, Eu sou. O 'Eu sou' não é um pensamento na mente; a mente aparece para mim, eu não apareço para a mente. E desde que o espaço e o tempo estejam na mente, eu estou/sou além do tempo e espaço, eterno e onipresente.<br /><br />Sem a auto-realização você será consumido por desejos e medos, que se repetirão cegamente em um sofrimento sem fim. A maioria das pessoas não sabe que a dor pode ter um fim. Mas uma vez que elas tenham ouvido as boas notícias, obviamente ir além de toda essa azáfama e luta é a tarefa mais urgente que pode haver. Você sabe que você pode se libertar, agora é com você. Ou você permanece para sempre faminto e sedento, agarrando-se, retendo, sempre perdendo e sofrendo, ou você se empenha de todo o coração e cai fora em busca do estado de perfeição intemporal ao qual nada pode ser adicionado, do qual nada pode ser tirado. Nele todos os desejos e medos estão ausentes, não porque se desistiu deles, mas porque eles perderam seu significado.<br /><br />Fique em silêncio e observe o que vem à superfície da mente. Rejeite o conhecido, dê boas vindas ao desconhecido e rejeite-o por sua vez. Dessa maneira, você chega a um estado no qual não há conhecimento, apenas Ser, no qual Ser em si mesmo é conhecimento. Saber por Ser é conhecimento direto. É baseado na identidade entre aquele-que-vê e o visto. O conhecimento indireto é baseado na sensação e memória, na proximidade entre o percebedor e o percebido, confinado ao contraste entre os dois.<br /><br />No Hinduísmo, a própria idéia de livre arbítrio é não-existente, assim não há uma palavra para ela. Vontade, ou arbítrio, é compromisso, fixação, prisão.<br />---<br /><br /><i><b>Ser<b></b></b></i><br /><br />Tente ser, apenas ser. A palavra mais importante é: 'tente'. Permita-se tempo suficiente, todos os dias, para sentar-se em silêncio e tentar, apenas tentar, ir além da personalidade com seus vícios e obsessões. Não pergunte como, não pode ser explicado. Você apenas continua tentando, até conseguir. Se você perseverar, não há como falhar. O que mais importa é a sinceridade, a seriedade; você tem de realmente ter se saciado de ser a pessoa que você é; agora veja a urgência necessária para se livrar dessa auto-identificação desnecessária, com esse amontoado de memórias e hábitos. Essa resistência firme contra o desnecessário é o segredo do sucesso.<br /><br />O que está acontecendo agora é uma projeção de sua mente. Uma mente fraca não pode controlar suas próprias projeções. Seja consciente, portanto, de sua mente e de suas projeções. Você não pode controlar o que você não conhece. Por outro lado, o conhecimento traz poder. Na prática é muito simples. Para controlar a si mesmo, conheça a si mesmo.<br /><br />Enquanto você se identificar com eles, corpo e mente, você estará obrigado a sofrer; compreenda sua independência e permaneça feliz. Eu lhe digo, esse é o segredo da bem-aventurança. Acreditar que você depende das coisas e das pessoas para a bem-avbenturança é devido à ignorância da sua verdadeira natureza; saber que você não necessita de nada para ser feliz, exceto auto-conhecimento, é sabedoria.<br />---<br /><br />Na realidade, você nunca nasceu e nunca morrerá. Mas você imagina que você é, ou tem, um corpo e pergunta o que o trouxe a esse estado. Dentro dos limites da ilusão, a resposta é: o desejo, nascido da memória, o atrai a um corpo e o faz pensar ser alguém com ele. Mas isso é verdadeiro apenas do ponto de vista relativo. Na verdade, não existe corpo, nem um mundo que o contenha; há apenas uma condição mental, um estado similar ao sonho, fácil de dissipar questionando sua realidade.<br />---<br /><br />Saber que, o que quer que se conheça não pode ser eu mesmo, ou meu, é libertação. A liberdade da auto-identificação com um conjunto de memórias e hábitos, o estado de deslumbramaento ante o alcance infinito do Ser, sua criatividade inexaurível e transcendência total, o destemor absoluto nascido da compreensão da ilusoriedade e transitoriedade de cada modo de consciência - fluindo de uma fonte profunda e inexaurível. Conhecer a fonte como fonte e a aparência como aparência, e a si mesmo como a fonte é auto-realização.</i></i></div>
Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-42460191270756662172014-01-12T14:27:00.000+00:002014-01-12T14:27:36.351+00:00A Escuta - J. Klein<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<i>Requer-se esforço neste caminho? Pessoalmente, acho que tenho cada vez menos energia para fazer um esforço em qualquer direção.</i><br />
<br />
Você não pode fazer um esforço sem tensão. Mas, porque você faz um esforço? Apenas porque busca um resultado, algo fora de você mesmo. Uma vez que você saiba realmente que o que busca é sua natureza real, você perde o ímpeto para o esforço. Assim, em primeiro lugar, veja como você está fazendo esforço constantemente. Assim que estiver consciente deste processo, você já estará fora dele. E isto pode surgir como uma percepção original de que você é realmente quietude.<br />
<br />
<i>Mas esse ‘ver’ não requer algum esforço?</i><br />
<br />
Não. Esse ‘ver’ é seu estado natural. Simplesmente, seja consciente de que você não vê. Torne-se mais consciente de que você reage constantemente. Ver não requer esforço porque sua natureza é ver, é estar em silêncio. No momento em que não busca um resultado, não busca criticar, avaliar ou concluir, simplesmente limitado ao ver, então você pode perceber esta reação e não é mais cúmplice dela.<br />
<br />
<i>No curso da meditação, à medida que o processo de esvaziamento continua, vem este pensamento: “Isto é apenas um pensamento”. Mas o pensamento “Isto é apenas um pensamento” é um pensamento também, não é?</i><br />
<br />
Absolutamente. Ver, em si, não é um pensamento, mas, no princípio, nós o conhecemos como limitado apenas à percepção de objetos. Mais tarde, surge o puro ver sem objeto. Então, há o discernimento de que você é esse puro ver e que tudo o que é visto aparece em você. Neste momento, o ver não é mais afetado pelo que vê.<br />
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<br />
Focalizar a atenção sobre algo estimula a tensão. Embora possam existir momentos de desapego, a maioria das vezes você está envolvido com o que está vendo. Mas, através do processo da observação, você pode chegar ao puro ver sem objeto. Dê ao visto a liberdade total sem tentar controlá-lo. E, como o visto é energia projetada sobre uma aparição naquele que vê, no momento em que o que se vê está livre de localização, dissolve-se naquele que vê, posto que o visto é descontínuo, enquanto o que vê é contínuo. O percebedor final é encontrado, em primeira instância, através desta relação entre o que vê e o que é visto.<br />
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<br />
Nós, geralmente, apenas conhecemos o que vê através do que é visto. Nos momentos de puro ver, dizemos que nada existe, pois apenas nos conhecemos na relação sujeito-objeto. Mas, uma vez que estejamos convencidos de que por trás do que é visto está o que vê e que o que é visto aparece no que vê, então não colocamos mais a ênfase no que é visto, mas no que vê.<br />
<br />
<i>Isto não é estabelecer um objetivo para quem nunca o experimentou? Eu nunca vi sem um objeto ou sem projetar minha própria imagem sobre um objeto, ainda assim, sei que há um modo de ver no qual não estou vendo apenas imagens criadas pela mente... E então como...</i><br />
<br />
Para ir para trás? Mas você conhece momentos em sua vida nos quais há apenas pura visão sem nada que seja visto. Digamos que você tenha um problema. À medida que o penetra, chega o momento em que o problema está completamente resolvido. Há satisfação completa, sem algum desejo de acrescentar ou subtrair qualquer coisa. Quando um desejo é realizado, você chega a um estado de completa ausência de desejo no qual nem o sujeito que deseja nem o objeto desejado estão presentes. Você nem mesmo pode dizer que haja felicidade, pois você é felicidade. Mas, depois de viver isto, veja como o ego se intromete para aproveitar o momento e objetivá-lo, tranformando-o em um tipo de caricatura, semelhante ao palhaço em um circo que exige o aplauso do público embora não seja o artista principal.<br />
<br />
<i>Poderia falar mais sobre o pensamento como uma defesa?</i><br />
<br />
Certamente, quando falo sobre isto, falo com muito cuidado. Há um momento em que você pode ver que, antes de surgir o pensamento, há uma pulsação, e a potencialidade do pensamento já está presente ali. A pulsação impressiona o cérebro e você, instintivamente, busca o símbolo, a formulação.<br />
<br />
<i>Esta pulsação pode se aquietar antes de transformar-se em pensamento?</i><br />
<br />
Sim, se você estiver muito atento, poderá deter a pulsação. Percebê-la antes que se transforme em pensamento reduz as vibrações do cérebro e, assim, acalma-se a agitação mental e física.<br />
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<br />
Devemos ver que fazer ou não fazer são ainda fazer. Este processo de ter e vir a ser cessa apenas quando escutamos, pois nossa verdadeira natureza é a escuta. Os estados de vigília, sonho e sono profundo são sobreposições à pura escuta, a qual não se refere ao ouvinte ou ao que é ouvido. Todos os estados aparecem na escuta. Assim, quanto mais você estiver presente na escuta, maior será o abandono do fazer e do não-fazer.<br />
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<br />
Habitualmente, quando nós falamos da escuta, pretendemos falar de atenção a algo em particular. Mas, quando eu falo da escuta, tenho em vista a escuta que se refere apenas a si mesma. É como alguém perguntando: “O que você tem em sua boca?” Você diz: “Nada”. Mas na realidade você tem o sabor de sua boca. Pode não haver sal, açúcar, ou ácido nela, mas o sabor de sua boca está presente. A escuta pura tem seu próprio sabor.<br />
<br />
<i>Algumas vezes, escuto uma de suas palestras e, depois, não posso recordar nada do que você disse.</i><br />
<br />
Quando você escuta sem avaliar ou concluir, você não pode memorizar o que ouviu. Isto volta para você, mas não através do processo ordinário de memória. Se você tenta retê-lo, o que você guarda? Apenas as palavras, a formulação, e então você ouve através do véu do já conhecido, através da comparação com o passado. Você deve tornar-se inocente em sua escuta.<br />
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<br />
Quando você ouve sem tirar quaisquer conclusões, o que estava por trás da escuta aflora em um determinado momento, talvez no dia seguinte ou em um mês, ou em seis meses, mas este afloramento não é devido a qualquer esforço para guardar o que ouviu. O sabor real é perdido no processo de memorização.<br />
<br />
<i>Freqüentemente há coisas que você diz que me impressionam particularmente e que aderem à minha mente. Por exemplo, há poucos dias, você disse: “Pare de eliminar. Veja o que você está construindo continuamente”.</i><br />
<br />
Mas você não tem feito nenhum esforço para lembrar disto. Vem a você.<br />
Nós podemos lembrar muito pouco de um modo consciente. Pense sobre todas as experiências que teve durante sua vida e em quão pouco delas você lembra realmente. Você esqueceu inclusive o sentimento com o qual acordou esta manhã ou o que você comeu ontem ou o que estava pensando às três horas de hoje.<br />
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<br />
Conforme a vibração do cérebro diminui, é possível relembrar coisas que foram esquecidas pela memória ordinária. Em uma freqüência muito baixa, o índivíduo pode retornar inclusive à uma encarnação anterior. Mas as experiências deste tipo são, mais ou menos, distrações, formas de dar sustentação à idéia da pessoa. Não obstante a redução da freqüência do cérebro, continuamos a nos identificar com o ego. Por outro lado, a tensão ainda aparece quando se realizou o Eu. Mas alguém que vive no Eu com pleno conhecimento está fora do processo de vir-a-ser, de modo que as funções do cérebro e do corpo são totalmente diferentes daquelas de uma pessoa que não tenha realizado o Eu.<br />
<br />
<i>E seus sentidos funcionam diferentemente?</i><br />
<br />
Geralmente, todos os nossos sentidos funcionam através da apreensão. A mente projeta algo externamente para ser apropriado pelos sentidos. Na realidade, não há nada fora de nossa Consciência.<br />
Quando vemos um pássaro, há inicialmente pura percepção, mas, depois, nós o conceituamos. No momento em que há conceituação, a percepção não está mais presente, porque um conceito e uma percepção não podem existir simultaneamente. Se você abandona o conceito, o que permanece? Você se identifica com o pássaro. Mas esta identidade não é uma imagem mental da unidade. É uma experiência global.<br />
<br />
<i>Mas, no momento da unidade, você é um com o todo, não é? Ou você pode ser simplesmente um com o pássaro e não o ser com tudo o mais?</i><br />
<br />
Você é apenas ser. Quando você abandona a forma e o nome do homem que você vê, o que permanece? O homem real aparece, e nisto há unidade. No instante em que você abandona a forma, abandona o corpo. Quando abandona o nome, abandona a mente. Assim, só o ser permanece, e o ser é indivisível. É a corrente da qual falamos antes. Quando a corrente está presente, não há mais fixação ou repetição, apenas o refluxo e o fluir da criatividade.<br />
---<br />
Pergunta: Em uma palestra anterior, você disse que a realização do que realmente somos não requer esforço. Mas, se nós queremos aprender a tocar piano, precisamos praticar muito antes de fazê-lo sem esforço. Se o esforço se aplica a objetos limitados, por que não deveria ser aplicado ao infinito?<br />
<br />
Jean Klein: Aprendemos a tocar piano observando uma apresentação da música e tentando exteriorizá-la no piano. Isto não requer nenhum esforço. Na primeira vez que você toca uma peça, você observa o que acontece. Observando a posição de suas mãos, a forma em que a música soa, e assim por diante, você entra em contato com ela. Tocando-a uma segunda vez, você começará a discernir o que pode impedir uma execução perfeita da peça. E, na terceira vez, você a toca perfeitamente.<br />
<br />
Da mesma forma, você chega à compreensão de sua natureza real. Primeiramente, há observação, a qual produz uma discriminação que conduz à percepção espontânea. Nada disto requer esforço.<br />
<br />
A palavra “esforço” implica intenção, vontade de atingir algum fim. Mas este fim é uma projeção do passado, da memória, e assim deixamos de estar presentes no momento atual. Pode ser exato falar de “atenção correta” no sentido de uma escuta incondicionada, mas esta atenção é diametralmente oposta ao esforço já que é inteiramente livre de orientação, motivação e projeção. Na atenção correta, nossa escuta é incondicionada; não existe a imagem de uma pessoa para impedir a audição global. Não é limitada ao ouvido; todo o corpo ouve. Está completamente fora da relação sujeito-objeto. O escutar acontece, mas nada é ouvido e ninguém escuta. E , como a escuta incondicionada é nossa real natureza, conhecemos a nós mesmo na escuta.<br />
<br />
Mas raramente escutamos de verdade. Nós vivemos mais ou menos continuamente no processo de devenir. Projetamos uma imagem de ser alguém e nos identificamos com ela. E, enquanto nos tomamos por uma entidade independente, há uma fome contínua, um sentimento de incompletude. O ego está constantemente buscando satisfação e segurança, daí sua perpétua necessidade de ser, de realizar, de alcançar. Desta forma, nós nunca contatamos a vida realmente, pois isto requer abertura de momento a momento. Nesta abertura, a agitação estimulada pela tentativa de saciar uma ausência em você mesmo chega ao fim e, na quietude que fica, você é direcionado de volta para sua integridade. Sem uma auto-imagem você é realmente um com a vida e com o movimento da inteligência. Apenas então nós podemos falar de ação espontânea. Todos conhecemos momentos quando a pura inteligência, livre da interferência psicológica, surge, mas logo que retornamos a uma imagem de ser alguém, questionamos esta intuição perguntando se ela é certa ou errada, boa ou má para nós, e assim sucessivamente. O quer que façamos intencionalmente pertence ao “ego-eu” e, embora apareça como ação, é realmente reação. Apenas o que surge espontaneamente do silêncio é ação e não deixa nenhum resíduo. Você nem sequer pode recordá-la. A ação intencional do “ego-eu” sempre deixa um resíduo que emergirá talvez no estado de sonho ou mesmo como uma fixação que podemos mais tarda chamar enfermidade.<br />
<br />
Na espontaneidade a ação ocorre, mas ninguém atua. Não há nenhuma estratégia, nenhuma preparação. Há apenas Consciência livre da agitação e da memória e, nesta quietude, todas as ações são espontâneas, pois cada situação pertence a sua abertura, e ela mesma lhe diz exatamente como proceder. A ação real não surge do raciocínio, mas da observação receptiva. Por exemplo, quando você vê uma criança pequena atravessando a rua, você não pára e pensa, “Devo gritar pedindo ajuda ou devo ir e pegá-la, ou devo deixar que vá só?” Você age. Mesmo que você tenha realizado vinte vezes esta ação, é nova a cada vez. Pertence absolutamente ao momento."<br />
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A Simplicidade de Ser - Jean Klein</div>
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Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-15405260722710855152013-11-27T20:39:00.000+00:002013-11-27T20:43:56.920+00:00Libertação - Krishnamurti<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<h3 class="ecxpost-title ecxentry-title" style="background-color: white; color: #333333; font-family: sans-serif; font-size: 32px; font-style: italic; font-weight: normal; line-height: 44.79999923706055px; margin: 0px 0px 5px;">
Uma experiência de Liberdade</h3>
<div class="ecxpost-header" style="background-color: white; color: #118899; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, sans-serif; font-size: 14.399999618530273px; line-height: 1.6;">
<div class="ecxpost-header-line-1" style="line-height: 20px;">
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<br />A imaginação perverte o percebimento de o que é; no entanto, como nos orgulhamos de nossa imaginação e de nosso especular. A mente especulativa, com seus pensamentos complicados, não é capaz de transformação fundamental; não é uma mente revolucionária. Vestiu-se como deveria ser e está seguindo o padrão de suas próprias projeções limitadas, confinantes. O que é bom não está no que deveria ser, mas na compreensão do que é. A mente tem de por de lado toda imaginação e especulação para que o Real tenha existência.<br /><br />Ele era moço ainda, mas chefe de família e conceituado homem de negócios. Parecia muito preocupado e atribulado, e ansioso por dizer alguma coisa. <br /><br />"Há tempos ocorreu-me uma experiência verdadeiramente extraordinária, e como nunca relatei a ninguém não sei se sou capaz de a descrever com clareza para você; espero que sim, pois não há ninguém mais a quem possa me dirigir. Essa experiência arrebatou-me completamente o coração; entretanto, foi-se e dela só me resta a vã lembrança. Talvez você possa ajudar-me a captá-la novamente. Vou relatar-lhe com a possível exatidão o que foi esse estado abençoado. Tenho lido a respeito dessas coisas, mas tudo o que li não passava de vãs palavras, que só me falavam aos sentidos; o que me aconteceu foi uma coisa fora da esfera do pensamento, da esfera da imaginação e do desejo, e eu a perdi. Rogo-lhe para que me ajude a recuperá-la". Calou-se por um instante, e continuou:<br /><br />"Uma certa manhã despertei muito cedo; a cidade ainda dormia e seus rumores ainda não haviam começado. Senti-me impelido a sair; vesti-me rapidamente e saí para a rua. Nem sequer o caminhão do leite havia começado a circular. A primavera estava em início e o céu era de um azul pálido. Apoderou-se de mim um forte sentimento de que deveria ir ao parque, distante cerca de uma milha. Desde o instante em que transpus a porta da rua, veio-me um estranho sentimento de leveza, como se estivesse caminhando no ar. O edifício fronteiro, um desgracioso conjunto de apartamentos, perdera toda sua fealdade; até os tijolos pareciam mais vivos e luminosos. Todo objeto insignificante, que eu de ordinário não teria sequer notado, parecia dotado de uma qualidade extraordinária, peculiar e, coisa estranha, tudo parecia parte de mim mesmo. Nada estava separado de mim; com efeito, o "eu", como observador, como percipiente, tinha-se ausentado, se você percebe o que quero dizer. Não havia "eu" separado daquela árvore ou do jornal jogado na sarjeta ou das aves que chamavam umas às outras. Era um estado de consciência que eu nunca antes experimentara."<br /><br />"No caminho do parque", prosseguiu, "havia uma loja de flores. Centenas de vezes passei por ali e de cada vez não dava mais do que um simples relance de olhos para as flores. Mas naquela manhã parei diante da loja. A vitrine estava ligeiramente embaçada, do calor e da umidade interiores, mas isso não me impedia de ver as diversas variedades de flores. Enquanto ali estava, a contempla-las, comecei a sorrir e a rir, possuído de uma alegria nunca experimentada anteriormente. As flores estavam a falar-me e eu a falar com elas; sentia-me misturado com elas, elas faziam parte de mim mesmo. Ao dizer-lhe isso poderei dar-lhe a impressão de que me achava num estado histérico, ligeiramente privado de razão; mas não era assim. Vestira-me com muito cuidado, perfeitamente cônscio dos meus atos, escolhendo peças limpas de vestuário, consultando o relógio, vendo os letreiros das lojas, inclusive o de meu alfaiate, e lendo os títulos dos livros expostos na vitrine de uma livraria. Tudo era vivo e eu amava todas as coisas. Eu era o perfume daquelas flores, mas não havia "eu" a cheiras as flores, se você entende o que quero dizer. Não havia separação entre elas e mim. Aquela loja de flores apresentava um fantástico espetáculo de cores, de uma beleza que parecia extasiante, pois o tempo e sua medida haviam cessado. Devo estar ali mais de vinte minutos, mas garanto-lhe que não tinha noção nenhuma de tempo. Foi-me difícil partir de perto daquelas flores. O mundo de luta, de dor e sofrimento era inexistente naquela hora. Com efeito, num tal estado as palavras são sem significação. As palavras são descritivas, discriminativas, comparativas, mas naquele estado não existiam palavras. "Eu" não estava experimentado; só havia um estado — a experiência. O tempo cessara: não havia passado, presente ou futuro. Só havia — Oh! Não sei expressá-lo por palavras, mas não importa. Havia uma Presença — não, não é esta a palavra. Era como se a Terra, com tudo o que nela e sobre ela existe, tivesse recebido uma benção dos céus, e eu, dirigindo-me para o parque, fazia parte dela. Ao aproximar-me do parque, fiquei completamente fascinado pela beleza daquelas árvores familiares. Do amarelo pálido ao verde mais escuro, as folhas dançavam cheias de vida. Cada uma das folhas destacava-se, separadamente, e toda a riqueza da Terra se concentrava numa única folha. Senti o coração acelerar-se; tenho um coração robusto, mas mal podia respirar, ao entrar no parque, e pensei desmaiar. Sentei-me num banco, as lágrimas rolavam-me pelas faces. Rodeava-me um silêncio verdadeiramente intolerável. Mas esse silêncio estava purificando todas as coisas, lavando-as da dor e do sofrimento. Ao internar-me mais no parque, havia música no ar. Fiquei surpreso, pois não havia vasas nas imediações e por certo ninguém teria levado um rádio para o parque àquela hora da madrugada. A música fazia parte daquela totalidade. Toda a bondade, toda a compaixão do mundo estava presente naquele parque, Deus estava ali."<br /><br />"Não sou teólogo nem muito menos religioso", continuou, "já entrei pelo menos uma dúzia de vezes numa igreja, mas isso nunca teve muita significação para mim. Não suporto o amontoado de absurdos que se presencia numa igreja. Mas naquele parque estava presente um Ser, se se pode empregar tal palavra, no qual todas as coisas viviam e agiam. As pernas me tremiam, forçando-me a sentar-me novamente, recostado numa árvore. O tronco era uma entidade viva como eu, e eu fazia parte daquela árvore, daquele Ser, do mundo. Devo ter desmaiado. Aquilo fora excessivo para mim: as cores intensas e vivas, as folhas, as pedras, as flores, a incrível beleza de todas as coisas. E, por sobre tudo aquilo, a benção de..."<br /><br />"Quando tornei a mim já era nado o sol. Em geral, levo uns vinte minutos, a pé, até o parque; mas já fazia quase duas horas que eu saíra de casa. Fisicamente, sentia-me sem forças para voltar a pé; e, assim, deixei-me ficar ali, sentado, reunindo as forças e sem ousar pensar. Ao voltar para casa, lentamente, levava comigo, toda inteira, aquela experiência; durou ela dois dias e, tão subitamente como viera, desapareceu. Começou então o meu tormento. Durante uma semana inteira não cheguei, sequer, às proximidades do meu escritório. Queria de volta aquela experiência extraordinária, viva, queria tornar a viver, e para sempre, naquele mundo beatífico. Tudo isso aconteceu há dois anos. Andei pensando seriamente em ir-me para um recanto solitário do mundo, mas o coração me dizia que não a recuperaria dessa maneira. nenhum mosteiro pode oferecer-me aquela experiência; não a encontrarei em nenhuma igreja cheia de velas acesas e onde só nos oferecem a morte e a escuridão. Pensei em partir para a Índia, mas abandonei também tal idéia. Experimentei então uma certa droga; ela me fez mais vívidas as coisas, etc., mas não é de narcóticos que eu preciso. Isso é querer comprar muito barato o "experimentar"; e o que se tem é uma ilusão e não uma coisa real". <br /><br />"Aqui estou, pois", concluiu. "Tudo eu daria, minha vida e todos os meus haveres, para viver de novo naquele mundo. Que devo fazer?"<br /><br />Ele veio a você, sem você o ter chamado, senhor. Você nunca o procurou. Enquanto você estiver procurando, não o terá nunca. Justamente o desejo de tornar a viver aquele estado extático, está impedindo a vinda do novo, a experiência nova daquela suprema felicidade. Veja o que aconteceu: você teve aquela experiência e está vivendo agora da lembrança morta de ontem. "O que foi" está impedindo a vinda do novo.<br /><br />"Você quer dizer que devo pôr fora e esquecer tudo o que foi e ir arrastando de dia em dia minha insignificante existência, interiormente esfomeado?"<br /><br />Se você não continuar a relembrar e a pedir mais — o que constitui um verdadeiro esforço — será então possível que aquela mesma coisa que escapa inteiramente ao nosso controle, atue por sua vontade própria. A avidez, mesmo com um alvo sublime, só pode gerar sofrimento; a ânsia de mais abre a porta do desejo. Aquela bem-aventurança não pode ser comprada com nenhum sacrifício, nenhuma virtude, e nenhuma droga. Ela não é uma recompensa, um resultado. Vem espontaneamente; não a busque. <br /><br />"Mas aquela experiencia foi real, veio da esfera do Sublime?"<br /><br />Sempre queremos que outra pessoa confirme um fato ocorrido, nos dê certeza a respeito dele, para ficarmos abrigados nesta certeza. Tornar-se certo ou seguro em relação ao que foi, ainda que tenha sido o Real, significa fortalecer o irreal e gerar a ilusão. Trazer para o presente o que passou — agradável ou desagradável — é fechar a porta ao Real. A Realidade não tem continuidade. Ela existe momento por momento; é atemporal, imensurável.<br /><br />Krisnamurti</div>
Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-71537542423689414182013-08-20T11:39:00.001+01:002013-08-20T11:43:29.941+01:00O nada que somos, realmente!<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Não obstante, para ver claramente como a pseudo-entidade, ou o ego (que se supõe ser a causa e o objeto da suposta escravidão), surge, é necessário entender o processo conceitual da manifestação. O que somos Absolutamente, numenalmente, é unicidade-absoluto-subjetividade sem o mais leve toque de objetividade. A única forma em que isto-que-somos pode se manifestar é através do processo da dualidade, cujo começo é o movimento da consciência, o sentido de ‘eu sou’. Este processo de manifestação-objetivação, que estava totalmente ausente até agora, implica uma divisão em um sujeito que percebe e um objeto que é percebido; conhecedor e conhecido.<br />
<div>
<br />
O númeno – pura subjetividade – deve permanecer sempre como o único sujeito. Portanto, os supostos conhecedor e conhecido são ambos objetos na consciência. Este é o fator essencial a ser lembrado. É apenas na consciência que este processo pode acontecer. Toda coisa imaginável – todo tipo de fenômeno – que nossos sentidos percebam e nossa mente interprete é uma aparição em nossa consciência. Cada um de nós existe apenas como um objeto, uma aparição na consciência de alguma outra pessoa. O conhecedor e o conhecido são objetos na consciência, mas (e este é o ponto importante no que diz respeito à pseudo-entidade) o que conhece o objeto presume que é o sujeito da cognição de outros objetos, em um mundo externo a si mesmo, e este sujeito que conhece considera sua pseudo-subjetividade como constituinte de uma entidade independente e autônoma – um ‘eu’ – com o poder de ação voluntária!<br />
<div>
<br />
O princípio da dualidade, que começa com o sentido ‘eu sou’, e sobre o qual está baseada toda a manifestação fenomênica, é levado um passo além quando a pseudo-entidade, em seu papel como o pseudo-sujeito, inicia o processo de raciocínio ao comparar contrapartidas interdependentes e opostas (tais como bom e mau, puro e impuro, mérito e pecado, presença e ausência, grande e pequeno, etc.), e, depois disto, discrimina entre elas. Isto constitui o processo de concepção.</div>
<div>
<br />
À parte desta divisão de sujeito e objeto, o processo da manifestação fenomênica depende do conceito básico de espaço e tempo. Na ausência do conceito de ‘espaço’, nenhum objeto poderia tornar-se visível com seu volume tridimensional; similarmente, na ausência do conceito relacionado de ‘tempo’, o objeto tridimensional não poderia ser percebido – nem qualquer movimento poderia ser medido – sem a duração necessária para fazer perceptível o objeto. O processo da manifestação fenomênica, portanto, acontece no espaço-tempo conceitual, no qual os objetos tornam-se aparências na consciência, percebidas e conhecidas pela consciência, através de um processo de concepção cuja base é a divisão em um pseudo-sujeito que percebe e um objeto percebido. O resultado da identificação com o elemento que conhece no processo de manifestação é a concepção da pseudopersonalidade com escolha de ação pessoal. E esta é toda a base da ‘escravidão’ ilusória.</div>
<div>
<br />
Entenda todo o processo da manifestação fenomênica, diz Maharaj, não em partes ou fragmentos, mas em um momento de apercepção. O Absoluto, o númeno é o aspecto não-manifestado, e o fenômeno, o aspecto manifestado do que somos. Eles não são diferentes. Uma símile grosseira seria a substância e a sombra, exceto que o manifestado seria a sombra do não-manifesto sem forma! O númeno Absoluto é atemporal, ilimitado, não perceptível aos sentidos; os fenômenos estão limitados pelo tempo, com formas limitadas e perceptíveis pelos sentidos. Númeno é o que nós somos; fenômenos são o que parecemos ser como objetos separados na consciência. A identificação da unicidade (ou o sujeito) que nós somos com a separação em dualidade (ou o objeto) que nós parecemos ser constitui ‘escravidão’, e a desidentificação (desta identificação) constitui ‘liberação’. Mas ‘escravidão’ e ‘liberação’ são ilusórias, pois não existe tal entidade que está na escravidão e que deseja a libertação; a entidade é apenas um conceito que surgiu da identificação da consciência com um objeto visível que é, simplesmente, uma aparição na consciência!<br />
<br />
"Sinais do Absoluto" - Ensinamentos de Sri Nisargadatta Maharaj. (Ramesh Balsekar)</div>
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Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-85086838013934192952013-03-09T20:01:00.001+00:002013-03-09T22:53:05.089+00:00Aprender com o conflito - J. Klein<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<i>Então, como acontece esta transformação, esta integração?</i><br />
<br />
A mente deve chegar a um estado de silêncio, vazia completamente de medo, desejo e de todas as imagens. Isto não pode ser produzido pela supressão, mas pela observação de todo sentimento e pensamento sem qualificação, condenação, julgamento, ou comparação. Se a atenção desmotivada está para funcionar, o censor deve desaparecer. Deve existir apenas uma observação serena sobre o que a mente elabora. Ao descobrir os fatos como eles são, a agitação é eliminada, e o movimento dos pensamentos se torna lento; podemos observar cada pensamento, sua causa e conteúdo, à medida que surge. Nós nos tornamos conscientes de todo pensamento em sua integridade e, nesta totalidade, não pode existir conflito. Então apenas a atenção permanece, apenas o silêncio no qual não há nem observador nem observado. Portanto, não force sua mente. Apenas observe seus vários movimentos como você olharia o vôo dos pássaros. Neste olhar desanuviado, todas as suas experiências emergem e se aclaram. Pois a visão desmotivada não apenas gera tremenda energia, mas libera toda tensão, todas as várias camadas de inibições. Você vê a totalidade de si mesmo.<br />
<br />
Observar tudo com plena atenção torna-se um modo de vida, um retorno a seu ser meditativo original e natural.<br />
<br />
<i>Como posso agir para não criar uma reação adicional, o carma?</i><br />
<br />
Sempre que o amor e a bondade estão em seu coração, você terá a inteligência para saber o que fazer e quando – e como – agir. Quando a mente vê suas limitações, as limitações do intelecto, surgirão uma humildade e uma inocência que não são questão de cultura, acumulação ou aprendizado, mas resultado do entendimento instantâneo. No momento em que você vê seu desamparo, que nada funciona, chega ao ponto da rendição, a uma parada, onde você está em comunhão com o silêncio, a verdade derradeira. É esta realidade que transforma sua mente, não o esforço ou a decisão.<br />
<br />
<i>Creio conhecer algo de mim mesmo, tenho uma certa Consciência de minha força e debilidade psicológica, mas também sinto uma falta de satisfação perfeita; de outra forma, não estaria aqui. Há algo que possa fazer agora?</i><br />
<br />
Se você observar, verá que é violento com sua percepção. Você interfere constantemente ao tentar controlá-la e dirigí-la. O controlador faz parte do que é controlado; ambos são objetos e um objeto não pode conhecer outro. Portanto, você deve progressivamente permitir que a percepção se expanda, dando-lhe a liberdade completa. Se você permitir que a percepção se expanda, cedo ou tarde ela o trará de volta para você mesmo. Deixe-a ir para que se revele a si mesma e o dinamismo para produzir desaparecerá.<br />
<br />
<i>Como aprender a partir do conflito?</i><br />
<br />
Veja que você está condicionado na aceitação e na rejeição, pois não há nada para aceitar ou rejeitar. Na escuta total, a atenção sem memória, não há conflito. Há apenas visão. Na escuta silenciosa, o que é dito, o que é ouvido e o que surge como resposta e reação, está dentro de seu próprio Eu. Esta percepção da totalidade é a atenção real e não há nela nem problemas nem condicionamentos. Há simplesmente liberdade.<br />
<br />
<i>O que você quer dizer quando você diz que não há ator no fazer, falar ou escutar?</i><br />
<br />
Na ação que surge da plenitude não há um ator no ato, há apenas ação. Você está funcionando e o “eu” está ausente. No momento em que o pensamento do “eu” aparece, você se torna autoconsciente e é dominado pelo conflito. Na ausência deste pensamento, não há nem quem fale nem quem escute, nenhum sujeito controlando um objeto. Somente então há harmonia completa e adequação a cada circunstância.<br />
<a name='more'></a><br />
<i>Qual é o lugar do intelecto na escuta incondicionada?</i><br />
<br />
O intelecto é uma defesa contra algo que você aceita ou rejeita. Uma vez que você tenha, pela totalidade, visto a verdade de alguma coisa, não há mais como escapar. Você vive com ela. Com este entendimento completo, a mente não pode evitar a mudança e a transformação que ocorrem. Quando o intelecto está ausente, há atenção total; escutar e falar podem espontaneamente acontecer, mas brotam da realidade. Não há mais produção por parte da mente. Na atenção silenciosa, a mente está completamente vazia e o que é ouvido penetra profundamente. No estado de rejeição ou aceitação há apenas um jogo com as palavras, com a memória, com o intelecto. Mas, no estado de escuta silenciosa, não há lugar para certo ou errado, compensação ou conclusão. Eles se tornaram, através da compreensão intuitiva, conhecidos ou não.<br />
<br />
Seja consciente dos processos de seu corpo e de sua mente e você começará a compreender a si mesmo. Não há diferença entre esta compreensão e a compreensão da totalidade do universo. Sua percepção se abre completamente para a realidade em sua plenitude.<br />
<br />
<i>Pode-se pensar uma experiência real?</i><br />
<br />
Uma experiência é um acontecimento. Não pode ser pensada. O pensamento não é a experiência direta, mas a busca e a tentativa de repetir a sensação. Na experiência real, o experimentador está completamente absorvido no experimentado – eles são um, não restando nem memória nem identificação. É uma não-experiência, pois não há ninguém experimentando qualquer coisa.<br />
No campo da tecnologia, a acumulação de experiência é necessária e não leva ao conflito. Mas, no plano psicológico, o qual é orientado em função de agrado e desagrado, a acumulação da experiência fortalece o ego e nega a possibilidade da experiência real: a não-experiência.<br />
O ponto mais elevado e amadurecido de uma experiência é a liberdade da unidade sem sujeito e objeto. Esta não é a unidade da experiência mística, que é ainda um estado em que se entra e sai. A experiência real não é uma busca de prazer em qualquer nível porque a satisfação é a sensação que não foi plenamente reabsorvida. É o remanescente de uma experiência incompleta, uma repetição das projeções da memória. A mente, então, fica entediada e busca experiências novas.<br />
Na não-experiência real, nenhum resíduo é deixado. Ela nos traz de volta a todo momento para nossa natureza atemporal.<br />
<br />
<i>Como posso libertar-me do tédio que sinto freqüentemente?</i><br />
<br />
Se vivemos superficialmente e observamos isto, nós nos tornamos conscientes de uma profunda falta ou desconforto que pode aparecer como tédio. Vemo-nos indo de uma compensação à outra. Encare estes momentos de aborrecimento. Realmente, perceba-os sem justificação ou conceituação. Você deve libertar a percepção, deixando-a desdobrar-se em sua consciência. Então, uma transformação acontece em todos os níveis. Toda a energia que estava dispersa e localizada em hábitos fixos se libera e recombina. Cada circunstância requer uma reorganização de energia que é perfeitamente adequada a uma situação.<br />
Na reorganização completa que acontece, a energia que estava anteriormente dissipada no tempo psicológico “retorna” e desaparece em nossa presença atemporal.<br />
<br />
<i>Você diz que, quando vivemos na liberdade da relação sujeito-objeto, vivemos no atemporal. Mas nossos corpos vêm e vão, o sol se levanta e se põe; não estamos, no final das contas, ligados ao tempo?</i><br />
<br />
O que você chama “tempo” está claro para você? É verdadeiro que o homem sempre está criando tempo. O tempo psicológico é pensamento baseado na memória. É essencialmente o passado, e nós revivemos continuamente o passado através dele. De fato, o que chamamos futuro é apenas um passado modificado. O tempo psicológico nunca está no agora, mas, como um pêndulo, está em constante movimento do passado para o futuro, do futuro para o presente, em rápida sucessão. Existe apenas no plano horizontal do ter-devenir, do prazer-desprazer, da avidez-contenção, da segurança-insegurança. É a origem da miséria e do conflito. A compreensão psicológica do tempo e do espaço é o caminho para a meditação e para o viver correto.<br />
O tempo cronológico, astronômico, está baseado igualmente na memória, mas é uma memória puramente funcional, livre da intervenção do ego, da vontade. É essencialmente presente. Os eventos prosseguem em sucessão ordenada e, desde que não há movimento entre o que chamamos passado e futuro, não há conflito.<br />
A vida é o presente, mas quando nós pensamos, pensamos em termos de passado ou futuro. Viver no agora implica uma mente livre de balanços e recapitulações, livre de ambição e esforço. No presente, não há nenhum pensamento; os pensamentos estão fundidos na totalidade. Viver o momento contém todos os acontecimentos possíveis, de modo que não há lugar para o tempo. Tudo pode ser resumido nisto: o tempo é pensamento e o pensamento aparece no tempo. A beleza e a alegria são reveladas apenas no tempo.<br />
<br />
<i>Você diz com freqüência que a ação correta não é uma questão de moralidade, mas surge naturalmente da espontaneidade. Como eu posso chegar a essa espontaneidade?</i><br />
<br />
A espontaneidade vem com a escuta e resulta na compreensão. Na audição incondicionada, a qual é silêncio, livre de toda agitação e conceito, a situação é vista em sua inteireza e é desta visão total que surge a ação instantânea apropriada.<br />
É óbvio que uma ação que procede do pensamento consciente não pode ser espontânea. É igualmente verdadeiro, mas menos óbvio, que as ações que decorrem do hábito, da inclinação ou do instinto não podem ser também espontâneas; porque o hábito e o instinto são condicionados, automáticos e mecânicos, e as ações que surgem da inclinação são motivadas pela justificação, racionalização e conflito. Todas estas são regidas pelo pensamento inconsciente. De fato, apenas podemos chamar de ação aquilo que surge da espontaneidade. Tudo o mais não está livre da interferência e é, portanto, reação.<br />
Para revelar a espontaneidade, o pensamento consciente e o inconsciente devem terminar. Todas as projeções do intelecto devem cessar para que a espontaneidade criativa possa operar. O esforço intelectual e o cultivo da força de vontade são inúteis na integração da espontaneidade. A mente deve tornar-se humilde e sensitiva, livre de violência, orgulho e ambição. Então, a inteligência real pode funcionar.<br />
Quando o intelecto se torna silencioso através da observação, através da audição, a natureza básica da mente sofre uma transformação. Esta transformação atinge ao máximo os impulsos e movimentos de nossa vida animal. O intelecto se converte em pensamento claro à luz da inteligência que a tudo integra e nasce um ser humano em toda sua beleza.<br />
A vida é vivência espontânea intocada pelo tempo.<br />
<br />
<i>O que pode dizer sobre a moralidade social e convencional?</i><br />
<br />
Quando permite que o Supremo se encarregue de você, a espontaneidade é virtuosa e vai além da moralidade social e convencional.<br />
<br />
<i>Pode-se ser ativo em silêncio?</i><br />
<br />
O silêncio é nosso estado natural. É o fundamento de tudo. Nenhuma concentração é necessária para estar nele. Enquanto estivermos envolvidos na percepção, nós viveremos no tempo, isto é, apenas no plano horizontal. Mas o silêncio é atemporal. Está no centro onde se encontram tempo e eternidade, onde o horizontal e o vertical se juntam. Este ponto é o coração.<br />
Habitualmente, em nosso envolvimento com objetos, nós não percebemos realmente as coisas como elas são, mas as vemos apenas como projeções do ego. A menos que permitamos o florescimento de nossas percepções no silêncio sem ego, não poderemos conhecer verdadeiramente a realidade. Você vê esta flor? Permita que ela chegue a você em sua plenitude sem impor sua mente sobre ela. A observação verdadeira é multidimensional. Você vê, ouve, saboreia, cheira, sente, com todo seu ser, globalmente. A visão verdadeira é receptividade vigilante, passividade ativa. Nesta observação, um objeto pode aparecer, mas não se é dirigido para ele.<br />
<br />
<i>O que pensar sobre a morte, e como podemos enfrentar esta experiência?</i><br />
<br />
O pensamento aparece no silêncio e desaparece no silêncio. Algo que aparece e desaparece em algo, não é senão este algo.<br />
Igualmente, o que você acredita ser também aparece e desaparece no silêncio. O que você entende por morte não é nada senão um indicador que aponta para o silêncio, para a própria vida. A morte não tem realidade. Mas se não vê desse modo, permanece como uma idéia estagnada na qual você está aprisionado. Enquanto você se tormar por uma entidade independente, está submetido ao karma. Coloquemos de outra forma: antes de falar da morte, pergunte-se o que é a vida. Toda percepção existe apenas porque é existência presente e eterna. Este é o plano de fundo da vigília, do sonho e do sono profundo. No conhecimento vivo, no presente, o problema da morte não tem significado.<br />
<br />
A Simplicidade de Ser - Jean Klein</div>
Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-77469246361295866952013-03-07T11:58:00.002+00:002013-03-07T16:40:08.329+00:00A Semente da Consciência <div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
O visitante confirmou que estava bastante claro para ele que não era meramente o corpo, mas alguma outra coisa que não o corpo, e, como estava claramente explicado no livro, que este algo devia ser o conhecimento ‘eu sou’, o sentido de ser. Mas, ele acrescentou, não podia entender o que se queria dizer com a sugestão de que ele deveria permanecer continuamente com o conhecimento ‘eu sou’. O que, exatamente, supunha-se que ele deveria fazer? “Por favor, Mestre” – disse a Maharaj –, “estou agora insuportavelmente cansado de palavras. Tenho-as lido e ouvido aos milhões e nada ganhei com elas. Conceda-me a substância agora, não meras palavras. Serei eternamente grato a você.<br />
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<br />
“Muito bem” – disse Maharaj – “Você terá a substância agora. Certamente, terei que usar palavras para comunicá-la a você.” Maharaj, então, prosseguiu: Se eu dissesse para inverter a marcha e voltar para a origem de seu ser, teria algum sentido para você?</div>
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<br />
Em resposta, o visitante disse que seu coração aceitou intuitivamente a verdade da afirmação de Maharaj, mas ele teria que se aprofundar no assunto.</div>
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<br />
Maharaj, então, disse-lhe que ele devia entender toda situação clara e instantaneamente; isto ele poderia fazer apenas se fosse à raiz do assunto. Ele deveria descobrir como o conhecimento ‘eu sou’ apareceu pela primeira vez. A semente é a coisa, disse Maharaj. Descubra a semente de seu ser, e você conhecerá a semente do universo inteiro.<br />
<a name='more'></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br />
Maharaj continuou: Como sabe, você tem um corpo e, no corpo, está o Prana, ou a força vital, e a consciência (o ser, ou o conhecimento ‘eu sou’). Agora, este fenômeno total do ser humano é de qualquer forma diferente do das outras criaturas, ou mesmo da grama que brota da terra? Pense profundamente sobre isto. Suponha que um pouco de água se acumule em seu quintal; depois de um tempo, o corpo de um inseto se forma ali; ele começa a mover-se, e sabe que existe. E, novamente, suponha que um pedaço de pão velho é deixado em um canto por alguns dias; um verme aparece nele e começa a mover-se, e sabe que existe. O ovo de uma ave, depois de chocado por certo tempo, quebra, repentinamente, e aparece um pequeno pinto; ele começa a mover-se, e sabe que existe. O esperma do homem germinou no útero da mulher e, depois do período de nove meses, nasce como um bebê. O esperma desenvolveu-se na forma de uma criança plenamente formada que passa pelos estados de vigília e sono e realiza suas funções físicas comuns, e sabe que existe.</div>
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<br />
Em todos estes casos – o inseto, o verme, o pinto e o ser humano – o que realmente nasceu? O que ‘supervisionou’ o processo da concepção ao nascimento? Não seria o conhecimento ‘eu sou’ que permaneceu latente da concepção ao parto e, no tempo devido, ‘nasceu’? Este ser ou consciência, idêntica em todos os quatro casos, achando-se sem qualquer tipo de ‘apoio’, identifica-se erroneamente com a forma particular que assumiu. Em outras palavras, o que é realmente sem qualquer aspecto ou forma, o conhecimento ‘eu sou’, precisamente este sentido de ser (não ser isto ou ser aquilo, mas tão só consciência), limita-se apenas a uma forma particular e, com isto, aceita seu próprio ‘nascimento’, e daí para frente vive sob a constante sombra do terror da ‘morte’. Assim nasce a noção de uma personalidade individual, ou identidade, ou ego.</div>
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<br />
Vê agora a origem desse estado de ‘eu sou’? Ele não é dependente do corpo para sua existência individual? E o corpo não é meramente o esperma germinado que desenvolveu a si mesmo? E, o que é mais importante, é o esperma outra coisa senão a essência do alimento consumido pelos pais da criança? E, finalmente, não seria o alimento algo constituído pelos quatro elementos (éter, ar, fogo e água) por meio do quinto, a terra?</div>
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<br />
Assim, segue-se o rastro da semente da consciência até chegar ao alimento, e o corpo é o ‘alimento’ da consciência; assim que o corpo morre, a consciência também desaparece. E, ainda, a consciência é a ‘semente’ do universo inteiro! Todo indivíduo tem, sempre que sonha, a experiência idêntica de um mundo sendo criado na consciência. Quando uma pessoa não está totalmente acordada e a consciência é apenas estimulada, ela sonha; e, em seu sonho, naquele ponto mínimo de consciência, cria um mundo de sonhos inteiro, similar ao mundo ‘real’ externo – tudo em um instante – e, naquele mundo, são vistos o sol, a terra com montanhas e rios, construções, e pessoas (incluindo o próprio sonhador) comportando-se exatamente como as pessoas no mundo ‘real’. Enquanto durar o sonho, o mundo do sonho é, de fato, bem real, e as experiências das pessoas no sonho, incluindo o próprio sonhador, parecem ser verdadeiras, tangíveis e autênticas, talvez mesmo mais do que aquelas do mundo ‘real’.<br />
Mas, uma vez que o sonhador acorde, todo o mundo de sonhos com todas as suas ‘realidades’ que existiam se desvanecem na consciência na qual foram criados. No estado de vigília, o mundo surge por causa da semente da ignorância (Maya, consciência, ser, Prakriti, Ishwara, etc.) e o coloca em um estado de vigília-sonho. Você sonha que está acordado; você sonha que você está dormindo – e você não compreende que está sonhando porque você ainda está no sonho. De fato, quando você compreende que tudo é um sonho, você já terá ‘despertado’! Apenas o Jnani conhece a vigília e o sonho verdadeiros.</div>
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<br />
Neste estágio, quando Maharaj perguntou ao visitante se tinha alguma pergunta sobre o que tinha ouvido até o momento, ele perguntou prontamente: “Qual é o princípio, ou o mecanismo conceitual por trás da criação do mundo?”</div>
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<br />
Maharaj ficou satisfeito, pois o visitante tinha usado corretamente as palavras ‘mecanismo conceitual’, porque ele freqüentemente nos lembra que toda criação do mundo é conceitual, e que é muito importante lembrar este fato e não o esquecer no meio de toda a profusão de palavras e conceitos. Maharaj, então, continuou: O estado original – o Parabrahman – é incondicionado, sem atributos, sem forma, sem identidade. Sem dúvida, este estado não é nada senão plenitude (não um ‘vácuo’ vazio, mas pleno), de modo que é impossível dar-lhe um nome adequado. Visando a comunicação, contudo, um certo número de palavras tem que ser usado para ‘indicar’ aquele estado. Naquele estado original, anterior a qualquer conceito, a consciência – o pensamento ‘eu sou’ – espontaneamente desperta para a existência. Como? Por quê? Por nenhuma razão aparente – como uma mansa onda sobre a superfície do mar!</div>
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<br />
O pensamento ‘eu sou’ é a semente do som Aum, o som primordial ou Nada, no momento da criação do universo. Ele consiste em três sons: a, u e m. Estes três sons representam os três atributos – Sattva, Rajas, Tamas, os quais produzem os três estados de vigília, sonho e sono profundo (também chamados consciência ou harmonia, atividade e inércia). Foi na consciência que o mundo surgiu. De fato, o primeiro pensamento ‘eu sou’ criou o sentido de dualidade no estado original de unicidade. Nenhuma criação pode aparecer sem a dualidade do princípio da maternidade e paternidade – masculino e feminino, Purusha e Prakriti.</div>
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<br />
A criação do mundo como uma aparência na consciência tem dez aspectos – o princípio gerador da dualidade; a matéria física e química, sendo a essência dos cinco elementos (éter, ar, fogo, água e terra) em fricção mútua; e os três atributos de Sattva, Rajas e Tamas. Um indivíduo pode pensar que é ele que atua, mas, verdadeiramente, é a essência dos cinco elementos, o Prana, a força vital, que atua através da combinação particular dos três atributos em uma forma física particular.</div>
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<br />
Quando a criação do mundo é vista nesta perspectiva, é fácil perceber porque os pensamentos e ações de um indivíduo (o qual é apenas um aparato psicossomático) diferem tanto em qualidade e grau daqueles de milhões de outros; porque, por um lado, existem Mahatmas Ghandis e, por outro, Hitlers. É um fato evidente que as impressões digitais de uma pessoa não são nunca similares àquelas de qualquer outra pessoa; folhas da mesma árvore são diferentes umas das outras em ínfimos detalhes. A razão é que as permutações e combinações dos cinco elementos, mais os três atributos em seus milhões de matizes, chegariam a bilhões e trilhões. Certamente, podemos admirar o que é admirável e amar o que é adorável, mas devemos compreender o que é que realmente amamos e admiramos – não o indivíduo conceitual, mas a maravilhosa habilidade de atuação da consciência que é capaz de desempenhar simultaneamente milhões de papéis nesta representação de sonho que o mundo é!</div>
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<br />
Para evitar perder-se na desconcertante diversidade do espetáculo de Maya (Lila), Maharaj disse que é necessário, neste estágio, não esquecer a unidade essencial entre o Absoluto e o relativo, entre o não-manifesto e o manifesto. A manifestação aparece na existência apenas com o conceito básico ‘eu sou’. O substrato é o númeno, que é a potencialidade total. Com o surgimento do estado de ‘eu sou’, o númeno se reflete no universo fenomênico, o qual só em aparência será exterior a ele. Para ver a si mesmo, o númeno se objetiva no fenômeno e, para que esta objetivação aconteça, o espaço e o tempo são os conceitos necessários (nos quais os fenômenos são estendidos em volume e duração). O fenômeno, portanto, não é algo diferente do númeno, mas o próprio númeno objetivado. É necessário entender – e nunca esquecer – esta identidade essencial. Uma vez que o conceito ‘eu sou’ surja, a unidade fundamental fica teoricamente separada, como sujeito e objeto, na dualidade.</div>
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<br />
Quando a consciência impessoal se manifesta e identifica a si mesma em cada forma física, a noção do eu surge, e esta noção, esquecendo que não tem nenhuma entidade independente, converte sua subjetividade original em um objeto com intenções, necessidades e desejos e é, portanto, vulnerável ao sofrimento. Esta identidade errada é precisamente a ‘escravidão’ da qual se busca liberação.<br />
<br />
E o que é ‘liberação’? Liberação, iluminação, ou despertar, não é outra coisa senão entender profundamente, aperceber-se – (a) que a semente de toda a manifestação é a consciência impessoal, (b) que o que se busca é o aspecto não-manifestado da manifestação e (c) que, portanto, o próprio buscador é o buscado!</div>
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<br />
Resumindo o discurso, Maharaj disse: Revisemos tudo isto novamente.<br />
1. No estado original prevalece o Eu sou, sem qualquer conhecimento ou condicionamento, sem atributos, sem forma ou identidade.<br />
2. Então, por nenhuma razão aparente (exceto aquela de que é sua natureza ser assim), surge o pensamento ou conceito eu sou, a Consciência Impessoal, sobre a qual o mundo aparece como um sonho vívido.<br />
3. A consciência, para se manifestar, necessita de uma forma, um corpo físico, com o qual se identifica e, assim, começa o conceito de ‘escravidão’, com uma objetivação imaginária do ‘eu’. Quando se pensa e se atua do ponto de vista desta auto-identificação, pode-se dizer que se cometeu o ‘pecado original’ de transformar a pura subjetividade (o potencial ilimitado) em um objeto, uma realidade limitada.<br />
4. Nenhum objeto tem uma existência independente por si mesmo e, portanto, não pode despertar do sonho vivente; ainda assim – e esta é a piada – o fantasma individual (um objeto) busca algum outro objeto como o ‘Absoluto’ ou ‘Realidade’, ou o que for.<br />
5. Se isto estiver claro, deve-se inverter o rumo e voltar para descobrir o que se era originalmente (e sempre se tem sido) antes do surgimento da consciência.<br />
6. Neste ponto surge o ‘despertar’ de que não se é nem o corpo nem mesmo a consciência, mas o estado inefável da total potencialidade, anterior à chegada da consciência (na consciência, este estado, seja qual for o nome, pode ser apenas um conceito).<br />
7. E, assim, o círculo está completo; o buscador é o buscado.</div>
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<br />
Em conclusão, disse Maharaj, deve-se entender profundamente que, como ‘Eu’, se é númeno. A condição atual da fenomenalidade (cuja semente é a consciência) é temporária, como uma doença ou um eclipse sobre a condição imutável original da numenalidade, e tudo o que se pode fazer é viver o tempo destinado da vida, no fim do qual o eclipse da fenomenalidade termina e a numenalidade prevalece novamente em sua pura unicidade, totalmente inconsciente de sua Consciência.<br />
<br />
Sinais do Absoluto - Nisargadatta Maharaj (Ramesh Balsekar)</div>
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<br /></div>
</div>
Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-29934154627098065882013-03-06T23:25:00.000+00:002013-03-07T16:42:18.534+00:00Sinais do Absoluto - N. Maharaj<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Maharaj: Agora, diga-me, você está sentado diante de mim aqui e agora. O que exatamente pensa que ‘você’ é?<br />
<br />
Visitante: Sou um ser humano do sexo masculino, quarenta e nove anos, com certas medidas físicas e certas esperanças e aspirações.<br />
<br />
M: Qual sua imagem de si mesmo dez anos atrás? A mesma de agora? E quando você tinha dez anos de idade? E quando você era uma criança? E mesmo antes disto? Sua imagem de si mesmo não mudou o tempo todo?<br />
<br />
V: Sim, o que considero como minha identidade mudou todo o tempo.<br />
<br />
M: E, no entanto, não há alguma coisa, quando pensa sobre si mesmo – no fundo do coração –, que não mudou?<br />
<br />
V: Sim, há, embora eu não possa especificar o que é exatamente.<br />
<br />
M: Não seria o simples sentido de ser, o sentido de existir, o sentido de presença? Se você não estivesse consciente, seu corpo existiria para você? Haveria qualquer mundo para você? Teria, então, qualquer pergunta sobre Deus ou o Criador?<br />
<br />
V: Isto, certamente, é algo a ponderar. Mas, diga-me, por favor, como você vê a si mesmo?<br />
<br />
M: Eu sou este eu sou ou, se preferir, eu sou esse eu sou.<br />
<br />
V: Desculpe-me, mas eu não entendi.<br />
<br />
M: Quando você diz “eu penso que entendi”, está tudo errado. Quando você diz “eu não entendi”, isto é absolutamente verdadeiro. Deixe-me simplificar: eu sou a presença consciente – não esta pessoa ou aquela, mas Presença Consciente, como tal.<br />
<a name='more'></a><br />
V: Agora, novamente, estou para dizer que penso que entendi! Mas você disse que isto é errado. Você não está tentando confundir-me deliberadamente, está?<br />
<br />
M: Ao contrário, estou dizendo para você qual é a posição exata. Objetivamente, eu sou tudo que aparece no espelho da consciência. Absolutamente, eu sou aquilo. Eu sou a consciência na qual o mundo aparece.<br />
<br />
V: Infelizmente, não vejo isto. Tudo o que posso ver é o que aparece diante de mim.<br />
<br />
M: Você seria capaz de ver o que aparece diante de você se não estivesse consciente? Não. Não é toda existência, portanto, puramente objetiva na medida em que você existe apenas em minha consciência, e eu na sua? Não é claro que nossa experiência um do outro está limitada a um ato de cognição na consciência? Em outras palavras, o que nós chamamos nossa existência está meramente na mente de algum outro e, portanto, é apenas conceitual? Pondere sobre isto também.<br />
<br />
V: Você está tentando me dizer que todos nós somos meros fenômenos na consciência, fantasmas no mundo? E o que diríamos sobre o próprio mundo? E sobre todos os eventos que acontecem?<br />
<br />
M: Pondere sobre o que eu disse. Você pode descobrir alguma falha? O corpo físico, o qual geralmente alguém identifica como a si mesmo, é apenas uma estrutura física para o Prana (a força vital) e a consciência. Sem o Prana e a consciência, o que seria o corpo físico? Apenas um cadáver! É apenas porque a consciência identificou-se erradamente como sua cobertura física – o aparato psicossomático – que o indivíduo aparece.<br />
<br />
V: Agora, você e eu somos indivíduos separados que têm de viver e trabalhar neste mundo com milhões de outros, certamente. Como você me vê?<br />
<br />
M: Vejo você neste mundo exatamente como você vê a si mesmo em seu sonho. Isto satisfaz você? No sonho, enquanto seu corpo está descansando em sua cama, você criou todo um mundo – paralelo ao que você chama de mundo “real” – no qual existem pessoas, incluindo você mesmo. Como você se vê em seu sonho? No estado de vigília, o mundo emerge e você é levado para o que eu chamaria de um estado de sonho acordado. Enquanto você está sonhando, seu mundo de sonho aparece para você como muito real, sem dúvida, não é assim? Como você sabe que este mundo que você chama ‘real’ não é também um sonho? É um sonho do qual você deve despertar pela visão do falso como falso, do irreal como irreal, do transitório como transitório; ele pode ‘existir’ apenas no espaço e no tempo conceituais. E, então, depois de tal ‘despertar’, você estará na Realidade. Então você verá o mundo como ‘vivente’, como um sonho fenomênico dentro da periferia da percepção sensorial no espaço e tempo, com um aparente livre-arbítrio.<br />
<br />
Agora, a respeito do que você chama de um indivíduo: porque você não examina analiticamente este fenômeno com a mente aberta, depois de abandonar todo condicionamento mental existente e todas as idéias preconcebidas? Se você fizer assim, o que você encontrará? O corpo é meramente uma estrutura física para a força vital (Prana) e para a consciência, que constituem um tipo de aparato psicossomático; e este ‘individuo’ nada faz a não ser responder aos estimulo externos e produzir imagens e interpretações ilusórias. E, além disto, este ser sensível individual pode ‘existir’ apenas como um objeto na consciência que o reconhece! É apenas uma alucinação.<br />
<br />
V: Você quer dizer com isto que você não vê diferença entre um sonho sonhado por mim e minha vida neste mundo?<br />
<br />
M: Você já tem bastante para cogitar e meditar. Está certo que deseja prosseguir?<br />
<br />
V: Estou acostumado a grandes doses de estudo sério, e não tenho dúvidas que você também. De fato, seria mais gratificante para mim se pudéssemos prosseguir e levar isto à sua conclusão lógica.<br />
<br />
M: Muito bem. Quando você está em sono profundo, o mundo fenomênico existe para você? Você não poderia, intuitiva e naturalmente, visualizar seu estado primitivo – seu ser original – antes que esta condição corpo-consciência irrompesse sobre você sem ser solicitada, por si mesma? Neste estado, você estaria consciente de sua “existência”? Não, certamente.<br />
<br />
A manifestação universal está apenas na consciência, mas o ‘desperto’ tem seu centro de visão no Absoluto. No estado original de puro ser, não consciente de sua qualidade de ser, a consciência surge como uma onda sobre a extensão das águas, e o mundo aparece e desaparece na consciência. As ondas se levantam e caem, mas a expansão das águas permanece. Antes de todos os princípios, de todos os fins, eu sou. O que quer que aconteça, devo estar presente para testemunhar.<br />
<br />
Não é que o mundo não ‘exista’. Ele existe, mas meramente como uma aparência na consciência – a totalidade do manifesto conhecido na infinidade do desconhecido, o não manifestado. O que começa deve terminar. O que aparece deve desaparecer. A duração da aparição é um assunto relativo, mas o princípio é que o que quer que seja sujeito ao tempo e à duração deve terminar e é, portanto, não real.<br />
<br />
Você não pode perceber imediatamente que neste sonho da vida você ainda está dormindo, que tudo que seja reconhecível está contido nesta fantasia da vida? E que aquele que, enquanto conhecer este mundo objetificado, considerar-se uma ‘entidade’ separada da totalidade que conhece é, em realidade, parte integral deste mesmo mundo hipotético?<br />
<br />
Considere também: Nós parecemos estar convencidos de que vivemos uma vida própria, de acordo com nossos próprios desejos, esperanças e ambições, de acordo com nosso próprio plano e objetivo, através de nossos próprios esforços individuais. Mas é realmente assim? Ou estamos sendo sonhados e vividos sem vontade, totalmente como fantoches, exatamente como em um sonho pessoal? Pense! Nunca esqueça que, assim como o mundo existe, embora como uma aparência, as figuras sonhadas também, neste ou naquele sonho, devem ter um conteúdo – elas são o que o sujeito do sonho é. É por isto que digo: Relativamente ‘Eu’ não sou, mas eu mesmo sou o universo manifesto.<br />
<br />
V: Penso que começo a entender toda a idéia.<br />
<br />
M: Não é o pensamento de si mesmo uma noção na mente? O pensamento está ausente quando se vê as coisas intuitivamente. Quando você pensar que entendeu, você não entendeu. Quando perceber diretamente, não há nenhum pensamento. Você sabe que está vivo; você não ‘pensa’ que você está vivo.<br />
<br />
V: Céus! Isto parece ser uma nova dimensão que você está apresentando.<br />
<br />
M: Bem, nada sei sobre uma nova dimensão, mas você se expressou bem. De fato, poderia se dizer que tal dimensão adquire uma nova direção de medida – um centro novo de visão – na medida em que, evitando os pensamentos e percebendo diretamente as coisas, evita-se a concepção. Em outras palavras, vendo com a mente total, intuitivamente, o observador aparente desaparece, e a visão torna-se o visto.<br />
<br />
Nisargadatta Maharaj (Ramesh Balsekar)</div>
Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-64807628072956684142013-03-04T21:19:00.000+00:002013-03-07T14:10:25.345+00:00A Simplicidade de Ser ... Jean Klein<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<i>Como posso recuar de minhas emoções, desejos e agitações de modo que eu possa manter-me na pura Consciência?</i><br />
<br />
Você não pode manter-se na Consciência porque ela é o que você é. O que ela é e o que é você é a luz em toda percepção. Todos os objetos, todas as percepções dependem da luz, sua natureza real. Não podem existir sem perceber a luz. Eu chamo sujeito final a esta luz em todas as percepções. Está claro que não tem nada a ver com o sujeito, o “eu”, o qual passa por nós mesmos na relação sujeito-objeto. A percepção existe apenas porque você, luz, Consciência, sujeito final, ou como o quiser nomear, é. A percepção aparece e desaparece em você.<br />
<br />
<div>
Desta forma, seja completamente consciente da percepção. Veja que ela existe no tempo e no espaço, enquanto você é atemporal. Espaço e tempo não são senão energia em movimento. Quando nenhum sujeito volitivo interfere para cristalizá-la, a percepção toma forma e então se desfaz de volta ao silêncio, pois o silêncio é contínuo, enquanto a percepção é descontínua. Portanto acentua o que percebe, o sujeito, não o percebido, o objeto. Em um primeiro momento você experimenta a Consciência silenciosa e, depois, a dissolução da percepção, mas, mais tarde, você será o silêncio tanto na presença como na ausência de objetos.<br />
<br />
Como uma folha de papel em branco não é afetada pelo que você escreve sobre ela, da mesma forma a Consciência indiferente não é afetada pelos três estados de vigília, sono e sonho. Estes três estados são sobreposições à consciência pura.<br />
<br />
<i>Parece paradoxal que devamos ultrapassar um movimento no tempo para estabelecer-nos no que você chama de atemporalidade. Nós nos estabelecemos nela ou ela em nós?</i><br />
<a name='more'></a><br />
Seja consciente de como você funciona. Conheça seu corpo, suas sensações, seus sentimentos, medos e pensamentos. É então que você pode descobrir que o que chama seu corpo, sentidos e mente, são apenas idéias que você mantém na mente sem conhecer realmente o que são. Você sobrepõe uma imagem-memória a seu corpo e suas emoções.<br />
<br />
Assim, o primeiro passo, se podemos falar de passos, é ver quão raramente você escuta devido às suas constantes reações e à antecipação. Na observação inocente, o que é visto aponta novamente para a própria visão. Não há mais nenhuma interferência de um ego que se apressa em julgar, qualificar ou concluir. Você se descobre em uma atenção que é livre de tensão e concentração, onde não há ninguém atento nem algum objeto de atenção. Viva esta atenção sem referência a algo, pois ela está fora da relação sujeito-objeto. Você é consciência que permanece durante todos os variados estados nos quais entramos e saimos. Ali e então há apenas o amor e a alegria de viver a serem descobertos.<br />
<br />
<i>Quando você entrou na sala, você sentou e retirou sua jaqueta. Onde estava sua mente quando você a retirou?</i><br />
<br />
Não há nenhum ator, apenas atuação, apenas o retirar da jaqueta. Na realidade, não há nenhum ator de modo algum. O ator é uma sobreposição, uma forma de memória que aparece apenas depois da ação. Na própria ação, há apenas unidade. Você pode crer que é possivel atuar e, enquanto atua, pensar “Eu estou agindo”, mas estas duas coisas não acontecem ao mesmo tempo. O “eu”, como um ator, é um pensamento; a ação é outro pensamento; e dois pensamentos não podem existir simultaneamente. A rápida sucessão de pensamentos dá uma impressão de simultaneidade, mas só pode haver um pensamento num momento.<br />
<br />
<i>Você está dizendo que retirou a jaqueta inconscientemente?</i><br />
<br />
Veja... Estou sentado aqui, mas não sou o corpo. O corpo é um objeto de minha percepção. Este objeto sente calor e este sentimento de calor remove a jaqueta, uma ação completamente espontânea, mas não há alguém que atue. Este “eu” que retirou a jaqueta aparece depois como uma idéia, como uma imagem de mim mesmo como ator. Mas, durante a própria ação não é possível estar em uma idéia de mim mesmo e no ato ao mesmo tempo.<br />
<br />
Digamos que você seja um violinista. Enquanto toca o violino não é possível pensar, “Estou tocando o violino”. No momento de tocar, você está completamente envolvido no movimento, de forma que não há lugar para a idéia de um intérprete. O pensamento “Estou tocando” pode passar rapidamente pela sua mente, mas neste instante você está nesta idéia, não no tocar. Nossa linguagem é dualística. Quando você diz “Estou tocando o violino” significa que o fato de tocar o violino pertence a um “eu”. Quando você identifica o “eu” com o violinista, você tem uma idéia de si mesmo como intérprete. Mas, realmente, este “eu” não tem nada a ver com o violinista.<br />
<br />
<i>A maioria de nós se identifica com nosso corpo, nossas ações, nossos pensamentos e sentimentos. Isto é o que aprendemos desde que éramos muito jovens. Mas você parece dizer que este processo de identificação é falso. Que percepção nos leva à posição de não-identificação?</i><br />
<br />
Seus pais deram a você uma forma e um nome. Sua educação e ambiente lhe atribuíram muitas qualificações e você se identificou com elas. Em outras palavras, a sociedade lhe deu uma idéia de ser alguém. Assim quando você pensa por si mesmo, você pensa em termos de um homem com todos os tipos de qualificações que acompanham sua imagem. Esta acumulação passou por muitas mudanças, mas ainda assim você é consciente delas. Você pode lembrar de quando tinha sete anos. Você pode lembrar de quando não tinha barba. Isto indica que há um observador destas mudanças. A habilidade para observar as mudanças indica que a mudança está em você, não você nela, pois se assim fosse, como poderia observá-la? Assim, o que realmente pertence à percepção (para usar sua palavra) é o que é imutável em você. Você é a testemunha de todas as mudanças, mas esta testemunha nunca muda. Assim, a questão real é, “Como eu posso conhecer a testemunha?”<br />
<br />
<i>Não estou certo de ter entendido o que você quer dizer. Entendo que as mudanças acontecem e são lembradas em meu cérebro, e estou consciente destas memórias. Não vejo a necessidade de admitir uma testemunha?</i><br />
<br />
A testemunha está sempre presente, é sempre presença. É o que não se identifica com a mudança, com as circunstâncias, e então as “observa”. Sempre que você atenta para uma mudança, você o faz de uma posição do presente. É um pensamento presente. É esta presença contínua por toda a vida que nos chamamos testemunha. Não se pode dizer que nasceu, pois nascimento e morte são idéias, conhecimento de segunda mão, algo que foi falado a você. Conhecer a testemunha, portanto, significa experimentar o estado de presença em todas as mudanças. Chamar de “testemunha” à presença é apenas um artifício pedagógico para mostrar-lhe que você não é a imagem que tem de si mesmo, e para destacar o sujeito, não o objeto, em suas percepções. No fim, mesmo a testemunha se dissolve na presença da qual emergiu.<br />
<br />
<i>Quando o corpo morre, a consciência permanece?</i><br />
<br />
O que é o corpo? O corpo é um pensamento, uma invenção da mente. Quando você olha para o céu, onde está o corpo? Quando você olha para o céu, onde está o homem? Há um homem? Há apenas visão do céu. Sem o pensamento de ser um homem, não há homem. Você tem a idéia de um corpo, mas na realidade ele não existe. O corpo, o homem, são formas de pensamento.<br />
Você não desperta de manhã. É a idéia de um corpo que desperta em você. O que há antes que o corpo desperte? Você é!<br />
<br />
<i>Isto é simplesmente uma idéia... Eu não estou consciente de existir antes de despertar.</i><br />
<br />
Isto é verdade, mas ainda assim você estava presente antes de o corpo acordar. Você conhece certos momentos em que o corpo não está completamente desperto, mas você está.<br />
Uma vez satisfeito um desejo, há um momento de carência de desejos onde não há ninguém com desejos. Há apenas ser, e nisto não há nem idéia nem emoção. Você pode ter uma bela esposa. Quando estão separados um do outro, você pode visualizar seu encanto, sua forma, sua inteligência e todas as suas qualidades. Mas chega o momento em que todas as qualidades desaparecem e há apenas um ser. Não há mais alguma imagem de um amado ou uma imagem de um amante. Há apenas amor. Isto é o que quero dizer quando afirmo que você não é nem os sentidos nem a mente. Você é este amor.<br />
<br />
<i>Como posso libertar-me desta imagem de mim mesmo?</i><br />
<br />
Torne-se plenamente consciente da idéia que você tem de si mesmo. Este “eu” é um objeto que você pode conhecer. Você conhece seus desejos, medos e ansiedades, mas quem é o conhecedor? Você nunca pode objetivar o conhecedor porque você é ele. Então, seja o conhecedor. Não tente encontrar-se em algum lugar em uma auto-imagem porque você não está em parte alguma. Não procure por si mesmo!<br />
<br />
<i>Porque sempre nos identificamos com o que não somos?</i><br />
<br />
Reformulemos esta pergunta. Perguntemos em primeiro lugar, “O que é que não somos?” Não somos o corpo, os sentidos ou a mente. Mas, para entender isto realmente, devemos aceitar primeiro nossas funções físicas e mentais. O conhecimento real de alguma coisa exige abertura total.<br />
Talvez você seja consciente de que seu corpo está pesado ou tenso, mas seu corpo é mais do que peso e tensão. Conheça o corpo através da escuta, pois o corpo está em você, não você nele. O corpo é um depósito de histórias, devemos dar-lhe a oportunidade de revelar-se. E, para fazer isto, você deve estar silencioso. Na escuta, não há lugar para alguém que escuta. Há apenas atenção, escuta vazia, a qual permite que o corpo expresse sua história. De qualquer outra forma, você não pode nunca conhecer seu corpo, porque ele se converte em uma projeção da memória. Para a maioria de nós, não é o corpo que desperta a cada manhã, mas a impressão, a idéia que se tem dele. Ele não é real. Você pode perguntar “O que é real?” Aquilo que existe em si mesmo é real. O corpo necessita da consciência para existir. Se você não está consciente dele, o corpo não existe.<br />
<br />
<i>Ele existe na consciência de outras pessoas. Não é este o argumento do Bispo Berkeley para a existência de Deus?</i><br />
<br />
Primeiro se deve entender o que você pretende dizer com a palavra Deus? Deus não é mais ou menos uma idéia? O que é Deus para você exceto uma idéia?<br />
<br />
<i>O que não depende de nossa consciência para existir?</i><br />
<br />
Tudo o que pode ser percebido não tem realidade; tem necessidade de um representante para ser conhecido. Apenas a consciência é real porque não necessita de nenhum representante. O corpo é simplesmente uma idéia. Ele aparece e desaparece em você quando você não pensa sobre ele. Ele aparece e desaparece na consciência, e o que aparece e desaparece na consciência é nada mais que consciência. O corpo, a totalidade do universo, é uma expressão da consciência.<br />
<br />
<i>Qual a diferença entre mente e consciência?</i><br />
<br />
Você pode ter consciência de sua mente. Você pode ter consciência das funções dos hemisférios direito e esquerdo de seu cérebro. Você é o conhecedor de sua mente, de seu cérebro. Portando, você não é a mente.<br />
<br />
<i>Você se importa se eu lhe fizer algumas perguntas pessoais?</i><br />
<br />
Não há uma pessoa para responder questões pessoais. Eu escuto sua pergunta e escuto a resposta. A resposta saiu do silêncio.<br />
<br />
<i>Presumivelmente, você teve relação com um mestre, mas isto não tem relevância agora?</i><br />
<br />
Isto se refere apenas ao presente e apenas o presente existe. Quando você fala do passado, ele existe também agora. Não há passado. Passado e futuro não existem. O que denominamos passado é um pensamento presente. O tempo, como o espaço, é apenas um modo de pensar, um estado de mente.<br />
<br />
<i>Neste caso, há um método particular de prática que você recomendaria?</i><br />
<br />
Conhecer-se a si mesmo requer prática. Você não necessita empreender nada. Nada há a alcançar, nada a perder.<br />
<br />
<br />
De: "A Simplicidade de Ser - Dialogos com Jean Klein"</div>
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<br /></div>
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Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-3437756762619765772013-02-26T14:43:00.000+00:002013-02-26T14:44:08.500+00:00Modelo espectral da consciência de Ken Wilber<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
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<ol style="background-color: white; color: #454545; font-family: 'Trebuchet MS';">
<li><strong>Nível da Mente</strong> – trata-se da consciência universal, origem do espaço, tempo, matéria, energia, vida e consciência. Nas tradições espirituais é conhecida como Deus, Yavé, Tao, Brahman, consciência cósmica, Allah, entre outros nomes. É a base intemporal, holográfica e não-local de todos os fenômenos temporais, inclusive nossas mentes individuais. Por ser a origem de todas as coisas, este é o fundamento e o primeiro nível da consciência pessoal. Neste nível, pessoas que atingiram o despertar, se identificam com o todo e entram em comunhão com a energia básica do universo.</li>
<li><strong>Nível existencial</strong> – Trata-se de um movimento da mente cósmica rumo à diversificação, onde ela assume uma multiplicidade ilusória de formas, entre as quais a nossa consciência individual. Neste nível, a consciência cósmica dá lugar a divisões e dualidades que não são reais, mas apenas aparentes. Desta forma nos percebemos como uma consciência individual, separada da fonte, tal como uma onda que se sobressai no mar. Por meio desta diversificação, que percebemos como fragmentação, nos identificamos com nosso organismo, criando uma identidade pessoal, gerando o nível existencial, e nele um homem desindentificado com o cosmos ( Pierre Weil denomina este fenômeno de fantasia da separatividade e neurose do paraíso perdido ).</li>
<li><strong>Nível do Ego</strong> – A fragmentação continua, a ponto das pessoas sequer se identificarem com todo seu organismo. Deixamos o corpo de lado e passamos a nos identificar somente com nossa mente. Criamos uma oposição mente/ corpo. Não dizemos “<em>eu sou um corpo</em>”, mas “<em>eu tenho um corpo</em>”. E a esse “Eu” que “tem” um corpo, chamamos de ego. É o nascimento da oposição <em>psique </em>versus <em>soma</em>.</li>
</ol>
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Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-42702956330608696602013-02-22T12:13:00.000+00:002013-02-22T12:17:32.661+00:00Universo Autoconsciente /A.Goswami<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
A Integração entre Ciência e Esptrttuahdade<br />
<br />
Talvez a mais importante, e mais insidiosa, suposição que absorvemos na infância é que o mundo material de objetos existe lá fora—independente dos sujeitos, que são seus observadores. Há prova circunstancial em favor dessa suposição. Em todas as ocasiões em que olhamos para a Lua, por exemplo, nós a encontramos onde esperamos que esteja, ao longo de sua trajetória classicamente calculada. Naturalmente, projetamos que ela está sempre lá no espaço-tempo, mesmo quando não a estamos olhando. A física quântica diz que não. Quando não estamos olhando, a onda de possibilidade da Lua espalha-se, ainda que em um volume minúsculo. Quando olhamos, a onda entra em colapso imediato. Ela, portanto, não poderia estar no espaço-tempo. Faz mais sentido adaptar uma suposição metafísica idealista: não há objeto no espaço-tempo sem um sujeito consciente observando-o.<br />
<br />
As ondas quânticas, portanto, são semelhantes a arquétipos platônicos no domínio transcendente da consciência, e as partículas que se manifestam quando as observamos são as sombras imanentes na parede da caverna. A consciência é o meio que produz o colapso da onda de um objeto quântico, que existe em potentia, tornando-a uma partícula imanente no mundo da manifestação. Esta é a metafísica idealista básica, que usaremos no tocante a objetos quânticos neste livro. Sob a iluminação dessa idéia simples, veremos que todos os paradoxos famosos da física quântica desaparecerão como o nevoeiro da manhã.<br />
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Notem que o próprio Heisenberg quase propôs a metafísica idealista quando introduziu o conceito áepotentia. O novo elemento importante é que o domínio áepotentia existe também na consciência. Nada existe fora da consciência. É de importância crucial essa visão monista do mundo.<br />
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A CIÊNCIA DESCOBRE A TRANSCENDÊNCIA<br />
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Até a atual interpretação da nova física, a ^údivmtranscendência raramente era mencionada no vocabulário dessa disciplina. O termo era mesmo considerado herético (o que acontece ainda, até certo ponto) para os praticantes clássicos, obedientes à lei de uma ciência determinista, de causa e efeito, em um universo que funcionava como um mecanismo de relógio.<br />
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Para os filósofos romanos da Antiguidade, transcendência significava "o estado de estender-se ou situar-se além dos limites de toda experiência e conhecimento possíveis", ou de "estar além da compreensão". Para os idealistas monistas, analogamente, transcendência implicava isto não, nada conhecido. Hoje, a ciência moderna está se aventurando por reinos que durante mais de quatro milênios foram os feudos da religião e da filosofia. Será o universo apenas uma série de fenômenos objetivamente previsíveis, que a humanidade observa e controla, ou será muito mais esquivo e até mais maravilhoso.'' Nos últimos 300 anos, a ciência tornou-se o critério indisputado da realidade. Temos o privilégio de fazer parte desse processo evolucionário e transcendente, através do qual a ciência muda não só a si mesma como nossa perspectiva da realidade.</div>
Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-12016650657117283402012-11-29T20:07:00.003+00:002012-11-29T20:10:31.564+00:00O que é liberdade? Krishnamurti<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
O que é liberdade?<br />
<br />Muitos filósofos têm escrito sobre a liberdade. Falamos sobre liberdade — liberdade para fazer o que quisermos, para ter o emprego de que gostamos, liberdade para escolher uma mulher ou um homem, liberdade para ler qualquer livro, ou liberdade para não ler absolutamente nada. Somos livres, e o que fazemos com essa liberdade? Usamos essa liberdade para nos expressarmos, para fazer aquilo de que gostamos. A vida está se tornando cada vez mais permissiva — você pode fazer amor no parque ou no jardim.<br /><br />Temos toda espécie de liberdade, e o que temos feito com ela? Pensamos que onde há escolha há liberdade. Eu posso ir à Itália ou à França: é uma escolha. Mas a escolha dá liberdade? Por que temos que escolher? Se você é realmente lúcido, tem uma compreensão exata das coisas, não há escolha. Disso resulta uma ação correta. Apenas quando há dúvida e incerteza é que começamos a escolher. A escolha, então, se vocês me permitem dizê-lo, constitui um empecilho para a liberdade.<br /><br />Nos estados totalitários não há liberdade alguma, pois eles têm a idéia de que a liberdade produz a degeneração do homem. Portanto, eles controlam, reprimem — vocês sabem o que está acontecendo.<br /><br />Então, o que é liberdade? É algo que se baseia na escolha? É fazer exatamente o que queremos? Alguns psicólogos dizem que, se você sente alguma coisa, não deve reprimi-la ou controlá-la, mas deve expressá-la imediatamente. Jogar bombas é liberdade? — veja apenas a que reduzimos a nossa liberdade!<br /><br />A liberdade está lá fora, ou aqui dentro? Onde você começa a procurar pela liberdade? No mundo exterior — onde você expressa o que quer que você queira, a tal liberdade individual — ou a liberdade começa dentro de você, para então se expressar inteligentemente fora de você? Compreendeu a minha pergunta? A liberdade só existe quando não há confusão dentro de mim, quando, psicologicamente, religiosamente, não há o perigo de eu cair em nenhuma armadilha — você entende? As armadilhas são inúmeras: gurus, sábios, pregadores, livros excelentes, psicólogos e psiquiatras — tudo armadilhas. E se estou confuso e há desordem, não preciso, primeiro, me livrar dessa desordem antes de falar em liberdade? Se não tenho nenhum relacionamento com minha mulher, com meu marido, ou com outra pessoa — porque nossos relacionamentos são baseados em imagens — surge o conflito, que é inevitável onde há divisão. Então, não deveria eu começar por aqui, dentro de mim, na minha mente, no meu coração, a ser totalmente livre de todos os medos, ansiedades, desesperos, e das mágoas e feridas de que sofremos por causa de alguma desordem psíquica? Observe tudo por si mesmo e livre-se disso! <br /><br />Mas, aparentemente, nós não temos energia. Nós nos dirigimos aos outros para que nos dêem energia. Falando com o psiquiatra nós nos sentimos aliviados — a confissão e tudo o mais. Sempre dependendo de alguma outra pessoa. E essa dependência, inevitavelmente, causa conflito e desordem. Então, temos de começar a compreender a profundeza da liberdade; precisamos começar com aquilo que está mais perto: nós mesmos. A grandeza da liberdade, a verdadeira liberdade, a dignidade, a sua beleza, está em nós mesmos quando a ordem é completa. E essa ordem só vem quando somos uma luz para nós mesmos.<br /><br /><div>
Krishnamurti<div class="post-body entry-content" style="background-color: white; color: #1a222a; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 1.4; position: relative; width: 528.6666870117188px;">
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Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-31099505634305564382012-11-25T22:59:00.001+00:002012-11-25T23:02:56.928+00:00Ser Livre - Krishnamurti<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
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Penso que deve interessar muito seriamente a todos nós o que vai pelo mundo, pois vê-se tanta tirania, tanto morticínio em nome desta ou daquela ideologia e que até nas chamadas democracias se acentua lentamente a tendência para moldar a mente humana em conformidade com determinado padrão de pensamento. Por toda parte, nos círculos religiosos e também no mundo político, onde quer que o homem viva, seja na aldeia, seja na cidade mais moderna, encontra-se essa tendência a ajustar-lhe a mente de determinada maneira; e pensamos que, desse modo, se alcançará uma ordem social que não conterá em si o germe da deterioração e da destruição. Estamos fazendo isso há séculos, não é verdade?<br />
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Pela educação, pelos dogmas e crenças religiosos, pela adoração de um certo deus, pela coerção em todas as formas, esperamos que o homem possa ser condicionado para atuar moderadamente, sem muita exploração com senso de sociabilidade, e que essa sociedade subsistirá então de maneira ordenada. Desde a antiguidade, têm as religiões do mundo, sucessivamente, moldado o homem para pensar de uma certa maneira, e vemos atualmente os políticos servirem-se de modernos processos psicológicos para controlar-lhe o pensamento. Querem eles a ação coletiva numa base planeada e, assim, procuram adaptar a mente humana a uma certa ideologia, comunista, socialista ou capitalista, esperando que, dessa maneira, vós e eu sejamos levados a viver amigavelmente, em nossas mútuas relações, que constituem a sociedade.<br />
É o que realmente está sucedendo no mundo inteiro. Nas chamadas democracias há mais moderação: podeis ler o que desejais e dizer o que entendeis - dentro de certos limites; mas os jornais, em grande escala, controlam o vosso pensamento e fornecem os preconceitos que devereis nutrir. A literatura que ledes influencia o vosso pensar, e o político, com suas promessas de uma futura utopia, molda-vos a ação. Assim, as autoridades políticas e religiosas estão moldando a pouco e pouco a mente do homem. Isso é um fato, quer o admitais, quer não.<br />
Eis o verdadeiro estado de coisas, no mundo. Vossa mente é moldada como hinduísta, budista ou socialista; estais condicionados para crer ou para não crer, e mudar simplesmente a forma de crença, abandonando o hinduísmo para vos tornardes cristão, comunista ou o que quer que seja, me parece uma coisa inteiramente fútil - não só fútil, pois é, em verdade, de certa maneira, uma espécie de crime, já que não resolve o problema fundamental. Passamos, meramente, de um palavreado para outro palavreado, e essa mudança das palavras tem, em si, extraordinário efeito na mente. Não sei se já observasses como somos escravos das palavras. Trataremos disso mais adiante, no decorrer destas palestras.<br />
Agora, que deve fazer o homem que percebe exatamente o que se está passando no mundo e realmente deseja descobrir se Deus, a Verdade, é uma realidade ou apenas uma sutil invenção do sacerdote? Afinal de contas, vós e eu somos o resultado do "Coletivo", não? E há necessidade de entes humanos completamente libertados do "coletivo", da sociedade, livres de condicionamento, não em certas camadas ou em certos pontos, porém totalmente livres, porque só esses indivíduos podem descobrir o que é Deus ou o que é a Verdade - e não o homem que segue a tradição, o homem que pratica japam, que atinge a meta, que cita o Gita, e freqüenta o templo todos os dias. São irreligiosos os que assim procedem. Mas o homem que deseja realmente descobrir o que é este extraordinário movimento do viver deve não só compreender o "processo" de seu próprio condicionamento, mas também ser capaz de transcendê-lo; porque a mente só pode descobrir o verdadeiro quando livre de todo condicionamento, e não quando se limita a repetir certas palavras e a citar livros sagrados. Esta mente não é livre.<br />
É, pois, dificílimo, neste mundo, a mente ser livre. O político e o chamado religioso falam sobre a liberdade - é um dos seus temas prediletos; mas põem muito cuidado em que não sejais livres - porque, no momento em que fordes livres, sereis uma ameaça à sociedade, à religião organizada, a todas as coisas malsãs existentes ao redor de vós. Só a mente livre descobrirá o verdadeiro, só a mente livre pode ser criadora; e é essencial, numa cultura como a nossa, não se dê importância à observância de um padrão, doutrina, ou tradição, mas, sim, que se permita à mente ser criadora. Mas a mente só pode criar quando está livre de condicionamento, e essa liberdade não se adquire facilmente; é preciso trabalhar muito para alcançá-la. Trabalhais como um mouro para viver, passais anos e anos "cumprindo ordens" para ganhardes o sustento, sujeitando-vos a insultos, inconveniências, desprezo, subserviência; mais árduo, porém, é o trabalho de tornar a mente livre. Requer bastante discernimento, muita compreensão, um amplo percebimento, em que a mente toma conhecimento de todos os seus obstáculos, barreiras, seus movimentos de automistificação, suas fantasias, ilusões, mitos. Uma vez livre, pode ela começar a investigar, explorar; mas o buscar, sem ser livre, para a mente nada significa. Compreendeis? A mente que aspira a encontrar a Verdade, Deus, a extraordinária profundeza da vida, a plenitude do amor, deve primeiramente estar livre. Nenhuma significação tem para a mente que está moldada, condicionada, aprisionada na tradição, dizer: "Estou buscando a Verdade, Deus". É como um animal amarrado a uma estaca, que não pode ir mais longe do que lhe permite o comprimento da corda.<br />
Assim, se desejamos descobrir que estado extraordinário é esse que se encontra além das fantasias da mente, experimentá-lo deveras, "viver com ele" e conhecer-lhe o inteiro significado, necessitamos, por certo, de liberdade; e a liberdade exige trabalho mais penoso do que em geral estamos dispostos a empreender. Preferimos ser guiados, a descobrir; mas ninguém pode ser guiado para a Verdade. Compreendei, por favor, esse fato bem simples. Nenhum swami, nenhum sistema de ioga, nenhuma organização religiosa, nenhuma doutrina ou crença pode conduzir-vos ao descobrimento da Verdade. Só a mente livre pode descobrir. Isso é óbvio, não achais? Não podeis descobrir a verdade a respeito de coisa alguma pelo serdes meramente informados sobre o que ela é, porque então o descobrimento não é vosso. Se sabemos através de outrem o que é felicidade, isso nos torna feliz?<br />
Para descobrirmos o sentido da vida, conhecer-lhe o conteúdo e não apenas as camadas superficiais a que chamamos "viver", estarmos cônscios de suas alegrias, suas extraordinárias profundezas, sua amplidão e beleza, como também a esqualidez, a miséria, a luta, a degradação - para compreendermos o significado de tudo isso nossa mente, é claro, deve estar livre. Se chegarmos a alcançá-lo, então vossa relação comigo e minha relação convosco não se basearão na autoridade. Eu não posso levar-vos à Verdade, nem ninguém mais o pode; cabe-vos descobri-la a cada momento do viver cotidiano. Ela pode ser encontrada no curso de um passeio ou numa viagem de bonde, ao discutirdes com vossa esposa ou vosso marido, quando estais sentados sozinhos ou a contemplar as estrelas. Se souberdes o que é meditação correta, descobrireis o que e verdadeiro; mas a mente que foi "preparada", "educada", como se costuma dizer, condicionada para crer ou para não crer, que se denomina hinduísta, cristã, comunista, budista - essa mente nunca descobrirá a Verdade, ainda que a busque por um milênio. O importante, pois, é que a mente seja livre; e pode a mente ser livre? Compreendeis o problema, senhores? Só a mente livre pode descobrir o verdadeiro - descobrir, e não ser informada sobre o verdadeiro. A descrição não é o fato. Quando sentis fome, a descrição do alimento não vos nutre. Mas em geral nos satisfazemos com a descrição da Verdade; e a descrição, o símbolo, tomou o lugar do fato. Para descobrirmos se existe uma realidade ou não, devemos ser capazes de ver o verdadeiro como verdadeiro, o falso como falso, sem esperar que no-lo digam, como se fôssemos um bando de crianças, sem madureza mental.<br />
Assim, para descobrir o verdadeiro deve a mente, em primeiro lugar, estar livre, e o libertar-se é um trabalho dificílimo, mais difícil do que os exercícios da ioga. Estes exercícios apenas condicionam a mente, e só a mente livre pode ser criadora. A mente condicionada pode ser inventiva, conceber novas idéias, novas frases, novos mecanismos, poderá construir um dique, planejar uma nova sociedade, etc.; mas isso não é ação criadora. A força criadora é muito mais do que a mera capacidade de adquirir uma técnica. É porque, dentro da maioria de nós, não existe essa coisa extraordinária que se chama "força criadora", que somos tão superficiais, vazios, insuficientes; e só a mente livre tem a virtude de criar.<br />
Nosso problema é, pois: como libertar a mente? E é possível libertar a mente - não por camadas ou porções, um pedacinho aqui, um pedacinho ali, porém totalmente, de ponta a ponta, tanto o inconsciente como o consciente? Ou a mente está fadada a ser sempre condicionada, sempre moldada? Deveis descobrir por vós mesmos, e não esperar que eu vos diga se a mente pode ser livre. A mente só tem a possibilidade de pensar na liberdade, como o faz o prisioneiro, estando assim condenada a nunca ser livre, a ser perene prisioneira de seu condicionamento?<br />
Compreendeis o problema? Pode a mente ser de todo livre, ou é da sua própria natureza o ser condicionada? Se a qualidade fundamental da mente é o ser limitada, nesse caso está fora de cogitações o descobrir o que é a realidade; podeis, então, continuar a repetir que há Deus ou que não há Deus, que isto é bom e aquilo é mau - e tudo isso está compreendido no padrão de uma dada cultura. Mas, para descobrirdes a verdade a esse respeito, deveis investigar por vós mesmos se a mente pode de fato ser livre. Eu digo que pode - mas isso não é para aceitardes ou rejeitardes. Isso pode ser verdade, ou pode ser minha opinião, minha fantasia, minha ilusão, e não deveis basear vossa vida num descobrimento feito por outro, ou numa ilusão, numa fantasia alheia, ou numa mera idéia. Vós tendes de descobrir.<br />
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Assim, nossa investigação, no decorrer destas palestras, visará não a como tornar a condicionar a mente, de acordo com um padrão mais nobre, um melhor sistema ou ideologia, como o deseja a maioria das pessoas, porém, antes, a descobrir se é possível libertar de todo a mente. Porque, como vedes, senhores, torna-se necessária uma "explosão criadora" para fazer nascer uma nova sociedade. A simples reforma, dentro do padrão, não é transformação nenhuma. Só há transformação quando nos libertamos do padrão e descobrimos algo novo. Se o que se descobrir terá influência na sociedade - não é isso o que importa. O que é de vital importância é o sermos capazes dessa extraordinária e explosiva força criadora, fora do padrão. Essa "explosiva" força criadora tem sua ação própria, a qual poderá ou não influir na sociedade, mas, certamente, criará uma cultura totalmente nova, uma nova maneira de pensar, independente do padrão. Portanto, não estamos interessados na reforma da sociedade, pelo contrário, nossa investigação visa a descobrir se podemos libertar-nos da sociedade, ou seja, de nosso próprio condicionamento.<br />
Ora, como investigar a verdade relativa a qualquer coisa? Estais compreendendo, senhores? Se estamos seriamente interessados e não apenas apegados a palavras e frases, a um precário modo de pensar, vós e eu desejamos saber como poderemos investigar a questão de se a mente pode ou não ser livre. Como empreender essa tarefa? Por certo, um dos fatores essenciais em qualquer espécie de investigação, de indagação, é não pressupor nem postular coisa alguma, não pensar partindo de uma conclusão; porque, se começais a pensar partindo de uma conclusão, isso de modo nenhum é pensar. O pensamento que parte de uma idéia preestabelecida não é pensar, porém simples repetição. Estar livre de conclusões, de pressupostos, é dificílimo; mas esse é o primeiro requisito essencial, assim me parece, da verdadeira investigação. Não podeis investigar de uma base predeterminada, a qual pode ser completamente falsa e, por conseguinte, vossa investigação conduzirá, infalivelmente, a algo igualmente falso.<br />
Assim, podemos, vós e eu, como indivíduos - não como hinduístas, não como habitantes da Índia ou da Europa - iniciar nossa investigação sem pressuposto algum? Não me refiro aos pressupostos implícitos em fatos, tais como amanhã, ontem, o tempo, o alimento, etc., porém aos pressupostos oriundos do estado da mente que exige segurança psicológica: o pressuposto da existência ou não existência de Deus, de que isto é bom, aquilo é mau, etc. Senhores, para descobrir se há Deus ou se não há Deus, é claro que não devo pressupor coisa alguma. Se, tenho real empenho, se desejo deveras descobrir a verdade relativa a uma certa questão; se ardorosamente pretendo investigar a realidade, compreender seu significado e beleza, ou sua precariedade, sua total inanidade - se desejo conhecer a realidade, como quer que seja ela, minha mente não deve pressupor nada, não achais?<br />
Verbalmente, podereis concordar que nada deveis pressupor; mas abandonareis de fato vossas pressuposições? Porque, se nada pressupondes, que acontecerá? Estareis contra vossa família, vossa sociedade, contra toda espécie de tradição; tereis de ficar sozinho, completamente dissociado dos valores, das idéias que vos foram inculcadas na mente. E tal perspectiva horroriza bastante a vossa mente, porque as idéias, as tradições, os valores lhe proporcionam um sentimento de segurança, de permanência; vosso emprego está baseado em tudo isso, e tendes um interesse psicológico nele. Assim sendo, consciente ou inconscientemente, vossa mente se rebela contra a idéia de ficar completamente só, a fim de descobrir. Estar completamente só é estar livre de contaminação pela sociedade - a sociedade, que é constituída de inveja, avidez, vaidade, desejo de poder e prestígio, ânsia das coisas mundanas e das chamadas extramundanas - e só essa mente está livre para investigar e descobrir a verdade ou a falsidade daquilo que a supera. Assim, o autoconhecimento é o começo da sabedoria. Nos livros não é encontrável a sabedoria; ela desponta na mente que procura compreender seu próprio mecanismo, e só essa mente pode descobrir a realidade que transcende seus próprios limites.<br />
Em todas estas palestras haverá, perguntas e respostas - ou, antes, eu não vou dar respostas às perguntas, mas iremos examinar juntos cada problema.<br />
Ora, porque fazeis uma pergunta? Evidentemente a fazeis com o fim de encontrardes uma resposta. E qual é mais importante, a pergunta ou a resposta? Deveis esclarecer-vos a esse respeito junto comigo. Se a resposta é mais importante, nesse caso a questão não vos interessa realmente, porque estais em busca de uma resposta. Compreendeis, senhores? Vê-lo-eis logo, à medida que formos prosseguindo.<br />
Há um problema qualquer e desejais uma solução para esse problema. Ora, que está realmente sucedendo ao desejardes a solução de um problema? Vossa mente não está dando toda a atenção ao problema. Ela está dividida, distraída pela exigência de solução. Um problema só existe quando a atenção está dividida; mas, quando aplicais vossa inteira atenção ao que se costuma chamar "um problema", ele, o problema, vos dá então sua própria solução, e não tendes necessidade de ir procurá-la fora do problema. Porém, não podeis atentar totalmente para o problema, se estais procurando uma solução.<br />
Não darei, pois, nenhuma resposta. A vida não tem resposta categórica para nada; o que ela vos manda fazer é penetrar o problema, considerar o problema com toda a intensidade, atenção, vitalidade, que lhe puderdes dar. Então, o problema se resolve por si mesmo; ele ainda não se resolveu porque encontrasses uma "solução".<br />
É desta maneira que vamos considerar esta pergunta, e perdereis o seu significado se ficardes esperando uma resposta minha. Digo-vos, logo de começo, a fim de evitar enganos de vossa parte, que não vou dar-vos nenhuma resposta, porém vós e eu vamos investigar juntos o problema.<br />
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PERGUNTA: Embora os líderes políticos, os reformadores sociais e os vários santos a condenem incessantemente, a exploração continua a existir nas relações humanas, do mais alto funcionário do governo ao iletrado trabalhador de aldeia. Vós mesmo tendes pregado contra ela nestes últimos trinta anos. Como concebeis ação isenta de exploração?<br />
KRISHNAMURTI: Senhores, podeis estar cônscios deste problema da exploração, ou podeis não cogitar dele, porém ele está bem à frente de vosso nariz e existe em todos os níveis sociais. O homem talentoso - política, religiosa ou cientificamente - explora-me, porque tem capacidades que eu não tenho. Se tenho uma certa instrução e vivo numa pequena aldeia, exploro os analfabetos de lá, e o trabalhador de aldeia explora sua mulher. Ora, que se entende por exploração?<br />
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Há a exploração da terra: utilizamo-la, cultivamo-la, cavamos minas, a fim de colher os produtos terrestres para benefício do homem. Esta é uma espécie de exploração. E há a outra espécie, que é a exploração do estúpido pelo inteligente, do fraco pelo forte. O político esperto, o sacerdote sagaz, o líder astuto, o santo perspicaz - todos têm sua idéia de como deve ser a sociedade, sua idéia sobre moral, sobre virtude, e tiram proveito dessa idéia, com sua maneira de viver, sua maneira de falar, etc.; e os estúpidos, os iletrados, os irrefletidos os seguem. Assim, em que nível nos colocamos ao falar de "exploração"? Compreendeis, senhores? Quando um homem diz: "Encontrei Deus; sei o que isso significa" - e ficais muito interessados em coseguir a mesma coisa, não há dúvida que ele vos explora. O chamado líder espiritual supõe conhecer o Mestre e vós não o conheceis, e, assim, o seguis, porque desejais algo que julgais que ele tem, ou algo que ele promete. Por outras palavras, sois explorados "para vosso próprio bem".<br />
Assim, quando um homem "sabe" ou diz que "sabe", e outro diz: "Eu não sei, ensinai-me", não existe exploração na relação entre os dois? Entendeis, senhores? Quando há instrutor e discípulo, não há exploração? Se digo: "Eu sei, eu experimentei", e vós dizeis que não sabeis, mas desejais ter essa mesma experiência, qualquer que ela seja, não vos colocasses na situação de ser explorados por mim?<br />
Certo, quer se acumulem posses, quer conhecimentos, a coisa é a mesma; só o nível é diferente. E enquanto se verificar o processo de acumulação, tem de haver exploração. O problema, pois, é: se podemos ficar num "estado de aprender" e não num "estado de acumular". Se a vida é para mim um "processo de aprender", não há então exploração, não há divisão de instrutor e discípulo. Então, ambos somos importantes e aprendemos um do outro. Não há então o "de cima" e "o de baixo", o mais espiritual e o menos espiritual, porque então ambos estamos aprendendo e não acumulando.<br />
Por conseguinte, enquanto há acumulação, em qualquer forma, ou seja, ação egocêntrica, tem de haver exploração. Essa ação egocêntrica pode ser desenvolvida em nome da sociedade, ou em nome de Deus, ou pode ser em nome de uma nação ou ideologia, mas é sempre exploração. O político que está "de cima" pensa que sabe o que é bom para toda a Índia. Ele tem poder, prestígio, capacidade, popularidade e, portanto, serve-se de vós, que não sabeis, para pôr em prática suas idéias; e como não tendes a capacidade necessária para estudar, investigar, etc., vós o seguis, simplesmente. Senhores, é isso o que estamos realmente fazendo. Vós sabeis e eu não sei - eis como estabelecemos no mundo uma mentalidade hierárquica, baseada na autoridade. E o interrogante deseja saber como eu concebo a ação de um homem que não está explorando, isto é, que não está acumulando; que pode ter algumas roupas, algumas posses, mas é destituído do espírito de aquisição na forma de bens materiais, idéias ou crença, e que está livre do desejo de engrandecimento pessoal, de todo e qualquer interesse egocêntrico, na vida.<br />
Ora, por que o desejais saber? Por que perguntais como concebo o "estado de ação" isento de exploração? É porque sois indolentes, não é verdade? Quereis ser informados sobre o que é esse estado, quereis examiná-lo, para aceitá-lo ou rejeitá-lo; não quereis estar nesse estado. Se vos achásseis nesse estado, não faríeis uma pergunta destas.<br />
Escutai, senhores, por favor. Isto é realmente importante, porque, se o compreenderdes, vos levará a algo prodigioso. Mas, porque sois indolentes, dizeis: "Dizei-me o que significa ser livre de exploração, e eu concordarei convosco ou discordarei de vós". Não desejamos estar nesse estado, porque ele exige trabalho penoso, exige investigação, quebra das atuais condições de exploração, quer no nível mais alto, quer no ínfimo dos níveis. Não desejamos quebrar as presentes condições de exploração; queremos que elas continuem e, no entanto, perguntamos qual é o estado do homem que atua sem exploração. E eu digo: descobri-o, ponde-vos nesse estado, e vereis que ele tem sua ação própria, ação muito mais significativa, muito mais vital e mais rigorosa do que a outra.<br />
Saber o que significa não adquirir, ter o sentimento desse estado, e não apenas a imagem mental suscitada por palavras, é não conhecer nenhum sentimento da própria importância, nenhum sentimento de acumulação; é ser realmente nada, interiormente. Embora exteriormente possais ter algumas roupas, algumas posses, todas essas coisas são insignificativas. Sentir profundamente que não estais adquirindo bens materiais, que estais à procura de êxito, que não estais desejando o beneplácito de uma sociedade corrupta; que, psicologicamente, não tendes nenhum interesse em "vir a ser" alguma coisa. Compreendeis? Enquanto estais ocupados em "vir a ser algo", que é processo de aquisição, tem de haver exploração. Podeis falar muito sobre o estado de não-exploração, mas, enquanto houver essa ânsia interior de "vir a ser algo", tornar-se santo, político famoso, rico, ou seja o que for sendo esta a própria raiz da ação egocêntrica, tem de haver exploração. E esse movimento de "vir a ser algo" é uma das coisas mais difíceis de abandonar, porque para ficar livre dele é preciso compreender o inteiro "processo" do tempo como meio de ascensão para o êxito, pela aquisição de posses, de poder, posição ou saber. Qualquer atividade ou reforma social, como meio de tornar importante o "eu" ou como meio de auto-esquecimento, conduz à exploração.<br />
Se estais seriamente interessado nesta questão e se desejais ardentemente descobrir se a mente pode, em algum tempo, cessar de explorar, então, descobrireis que é possível viver neste mundo sem nada acumular - e isso significa morrer a cada minuto para tudo o que adquiris, para o saber, para a virtude, para as coisas que acumulasses, tanto neste mundo material como no mundo psicológico. Mas, morrer totalmente para todas as coisas - para a experiência, para o saber, para todo o "processo" de aquisição - é árdua tarefa. Significa estar completamente cônscio, inteiramente atento aos movimentos da mente, e isso só é possível quando se observa o "processo" mental em funcionamento, ou seja na ação das relações. Observai como tratais vossos criados, como adulais o patrão, o político importante, o governador, o santo, e o homem tido por "sabedor". Só a mente realmente humilde não está explorando, e a humildade não é coisa que se cultive. Acha-se a mente no estado de "não-exploração" quando está em silêncio, sozinha, quando não adquire, nem busca êxito, nem galga os degraus da popularidade. Só essa mente pode trazer a sanidade a este mundo tão cheio de crueldade e exploração.</div>
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Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-49177447887816053172012-11-21T23:40:00.002+00:002012-11-21T23:46:59.896+00:00Hesíquio o Sinaíta - A Vigilância<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
A vigilância <br />
<br />
A vigilância é um método espiritual que, se diligentemente praticado por um longo período, nos liberta e nos ajuda a penetrar o mistério divino e os mistérios ocultos.<br />
<br />
A vigilância é uma forma abrangente de todas as virtudes, é o silêncio do coração e quando livres de imagens mentais, é a guarda do intelecto.<br />
<br />
É a quietude do coração, ininterrupta por qualquer pensamento.<br />
<br />
Nessa quietude do coração respira e invoca sem parar o nome de Jesus .<br />
<br />
Ela nos ensina como manter uma guarda firme sobre os sentidos.<br />
<br />
Quando nos surge um mau pensamento logo o nosso intelecto e os nossos próprios pensamentos vão ‘ver o que se passa’ e nesse ‘interesse’ entram em relações apaixonadas com ele.<br />
<br />
A vigilância é uma permanente fixação e suspensão dos pensamentos à entrada para o coração.<br />
<a name='more'></a><br />
Desta forma, os maus pensamentos são apercebidos quando se aproximam e o que eles dizem e fazem é observado e podemos ver de que forma ilusória e enganosa os demônios estão tentando enganar o intelecto.<br />
<br />
Se estamos conscientes deste processo podemos ganhar muita experiência e conhecimento nesta guerra espiritual .<br />
<br />
Assim como um homem cego de nascença não vê a luz do sol, assim também aquele que não exercer vigilância não vê o esplendor da riqueza da graça divina.<br />
<br />
Ele não consegue se libertar do maus pensamentos, palavras e ações, e por causa desses pensamentos e ações, ele não será capaz de passar livremente pelos senhores do inferno quando morre.<br />
<br />
Um primeiro tipo de vigilância consiste em examinar de perto todas as imagens mentais ou de provocação, pois somente por meio de uma imagem mental é que Satanás pode fabricar um mau pensamento e insinuar isso no intelecto, a fim de o conduzir á perdição.<br />
<br />
Um segundo tipo de vigilância consiste em libertar o coração de todos os pensamentos, mantendo-o em profundo silêncio e imóvel, e na oração.<br />
<br />
Um terceiro tipo consiste em continuamente e, humildemente, invocar o nome de Jesus Cristo para nos ajudar. <br />
<br />
Um quarto tipo é sempre ter o pensamento da morte na nossa mente .<br />
<br />
Estes tipos de vigilância, funcionam como porteiros e controle de entradas para os maus pensamentos.<br />
<br />
O homem envolvido em guerra espiritual deve simultaneamente possuir humildade, contínua atenção, poder de contestação e capacidade de oração .<br />
<br />
Humildade porque sózinho nada pode contra os demonios.<br />
Contínua atenção para se aperceber da chegada dos demonios sob a forma de maus pensamentos.<br />
Contestação para poder rejeitar com firmeza as propostas demoníacas.<br />
Oração para poder chamar pela ajuda de Cristo neste combate espiritual .<br />
<br />
O intelecto não pode combater uma fantasia demoníaca por seus próprios poderes e nunca deve tentar fazê-lo.<br />
<br />
Os demônios são muito astutos, eles fingem ser superados e, em seguida, visitam-nos para nos encher de auto-estima.<br />
<br />
Mas quando chamamos humildemente por Jesus Cristo, eles não se atrevem a usar seus truques e afastam-se .<br />
<br />
Por isso está escrito: 'Meu coração confiou em Deus e fui socorrido” .<br />
<br />
Se é impossível encontrar o Mar Vermelho entre as estrelas ou a andar nesta terra sem respirar ar, assim também é impossível de limpar o nosso coração de pensamentos apaixonados e expulsar os seus inimigos espirituais, sem a invocação freqüente de Jesus Cristo.<br />
<br />
Sem continua atenção ocorre o esquecimento da luta interior que travamos e isso leva à negligência e a negligência conduz à indiferença, à preguiça e ao desejo antinatural e dessa forma, voltamos ao ponto de partida .<br />
<br />
Contestação e rejeição imediata dos pensamentos é importante, pois assim como não se pode fazer amizade com uma cobra e levá-la dentro da camisa não se pode alcançar a santidade com mimos e cultivo do corpo acima das suas necessidades.<br />
<br />
É da natureza da cobra morder quem a segura e é da natureza do corpo contaminar com prazeres sensuais quem a ele se entrega.<br />
<br />
Daí a necessidade de manter bem firmes as redeas nos desejos corporais para ele se aperceber da sua natureza de argila perecível.<br />
<br />
Até você deixar este mundo, não confie na carne.<br />
"A vontade da carne," diz-se, é hostil a Deus, pois não é sujeita à lei de Deus.<br />
A carne deseja contra o Espírito.<br />
Eles que estão na carne não podem estar de acordo com a vontade de Deus, mas nós crentes não estamos na carne, mas no Espírito .<br />
<br />
Oração é pedir ajuda. Aquele que nos apoia sempre que não confiamos em nós próprios pois quem tem confiança apenas em si mesmo vai cair.<br />
<br />
Quanto mais a chuva cai sobre a terra e a torna mais suave, assim a invocação do nome de Cristo alegra a terra do nosso coração.<br />
<div>
<br /></div>
A Oração de Jesus requer vigilância como uma lanterna requer uma vela para a acender.<br />
<br />
O coração que está constantemente vigiado para impedir as imagens e fantasias dos espíritos das trevas e do mal, é pela sua própria natureza condicionado para dar à luz dentro de si mesmo apenas pensamentos cheios de luz.<br />
<br />
O grande ganho do intelecto com a quietude vigilante é o seguinte: todos os pecados que outrora batiam no intelecto como pensamentos e que uma vez admitidos pela mente, eram transformados em actos externos de pecado, são abortados pela vigilância mental que não permite que esses pecados entrem em nosso interior e depois se concretizem em actos externos do mal. <br />
<br />
Assim se ganha uma melhor compreensão de nós mesmos e de nossos pecados, a consciência da morte, a verdadeira humildade, o amor ilimitado de Deus e do homem, e um intenso e desejo sincero do divino. <br />
<br />
Este é o caminho da verdadeira sabedoria espiritual.<br />
<br />
Em vigilância constante com humildade e concentração, mantendo quer os sentidos quer o intelecto silenciados, com auto-controle em alimentos e bebidas e em todas as restantes coisas de uma natureza sedutora, Deus vai te ensinar coisas que você não esperava, dar conhecimento, esclarecimento e instrução de um tipo que o seu intelecto não percebia quando ainda estava andando na escuridão das paixões e ações obscuras, afundado no esquecimento e na confusão do caos.<br />
<br />
Você vê como os inimigos da nossa salvação nos fazem cair por meio de suas fantasias, enganos e promessas vazias?<br />
<br />
O próprio Satanás foi lançado como um raio do alto, porque ele se imaginava igual a Deus e ele separou Adão de Deus, fazendo-o imaginar que ele poderia ser de hierarquia divina. <br />
<br />
Da mesma forma, a mentira e o engano iludem todos os que caem em pecado. <br />
Cada hora do dia devemos observar e pesar nossas ações e à noite devemos fazer o possível para libertar-nos delas, pelo arrependimento se, desejamos, com a ajuda de Cristo, vencer a maldade.<br />
<br />
Devemos também ter certeza de que realizamos todas as nossas tarefas externas de uma maneira que esteja em consonância com a vontade de Deus, de modo a que não possamos ser seduzidos pelos sentidos.<br />
<br />
Se com a ajuda de Deus fazemos progressos diários, por meio de nossa vigilância, não devemos nos comportar de forma indiscriminada e danosa a nós mesmos através de encontros e conversas mundanas aleatórias. <br />
Pelo contrário, devemos desprezar todas as vaidades em prol da beleza e das bênçãos da santidade. <br />
<br />
Quem aspira dia e noite a ter paz e quietude de intelecto acha fácil ser indiferente a todos os assuntos do mundo e portanto não trabalha em vão. <br />
Mas se despreza ou engana a sua própria consciência, vai sofrer a morte do esquecimento.<br />
<br />
“Quem sabe como fazer o bem e não o faz é pecador".<br />
<br />
Não há desculpas para nós se, sabendo o que tem de ser feito , nós não o façamos. <br />
Um viajante numa jornada longa, árdua e difícil, prevendo que pode perder seu caminho quando voltar, vai colocar sinalizações ao longo de seu caminho, a fim de conseguir regressar com facilidade.<br />
O homem vigilante, prevendo a mesma coisa, vai usar os textos sagrados para guiá-lo e se ir ‘fixando’(como o alpinista que usa apoios sucessivos na subida ) no caminho certo.<br />
<br />
Assim como é impossível atravessar o mar sem um barco, também é impossível repelir a provocação de um mau pensamento, sem invocar o nome de Jesus Cristo. <br />
<br />
Com um intelecto experiente podemos analisar as provocações que tomam a forma de imagens mentais de objetos sensoriais e o mau pensamento por trás disso pode ser identificado. <br />
<br />
Por exemplo, se a imagem é do rosto de alguém que nos irritou ou de uma bela mulher, ou de ouro ou prata, isso significa que é um pensamento de rancor ou de prostituição ou de avareza que enche o nosso coração com fantasias, o intelecto experiente irá de imediato "apagar todos os dardos inflamados do diabo ' e contra-atacar através do seu poder de rejeição e da Oração de Jesus. <br />
<br />
Ele não vai permitir que a fantasia apaixonada se integre nele ou que os nossos pensamentos apaixonadamente se conformem com a fantasia, se tornem íntimos com ela, se distraiam com ela, ou lhe deêm parecer favorável e assim evitar que as más ações externas surjam tão certo como a noite surge do dia . <br />
<br />
O intelecto inexperiente na arte de vigilância começa a entreter-se com qualquer fantasia apaixonada que lhe apareça, dá-lhe ‘troco’ em vez de a analisar friamente e aí logo baixa a guarda vigilante e permite que os dois (intelecto e fantasia) se juntem e conspirem para ‘destruir a cidade de Deus’, para fazerem juntos o plano de ação a concretizar por meio do corpo, que assim procura obter a conclusão que os demônios os levaram a pensar ser doce e saborosa.<br />
<br />
Deste modo pecados são produzidos na alma e daí a necessidade da vigilancia e de trazer à tona o que está em nossos corações. <br />
O intelecto, sendo bom por natureza e inocente, facilmente vai em busca de fantasias sem lei e só pode ser refreado nessa cegueira pela sua inteligência, que tem poder sobre as paixões e pode contê-lo e segurá-lo de volta .<br />
<br />
Vamos incessantemente exercitar nosso intelecto, em atenção, oração e devoção, pois assim arrancamos as sementes postas pelo diabo e seguimos o caminho da inteligência.</div>
Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-85590766851747748372012-02-26T18:00:00.000+00:002012-02-26T18:00:22.431+00:00Sankara - a iluminação<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
“Na verdade”, dizem as escrituras, “O Atman é imortal”, mostrando assim que ele permanece indestrutível entre as coisas que mudam e perecem.<br /><br />Pedras, árvores, relva, grãos, palha, roupa e todas as outras substâncias, quando queimadas, são reduzidas a cinza. O corpo, os sentidos, as forças vitais, a mente e todas as outras manifestações físicas, quando consumidas pelo fogo do conhecimento, tornam-se Brahman.<br /><br />A escuridão se funde na luz do sol, o seu oposto. Do mesmo modo, este mundo aparente se funde em Brahman.<br /><br />Quando se quebra o jarro, o éter que está dentro dele torna-se uno com o éter circundante. Quando os invólucros são destruídos, o conhecedor de Brahman toma-se Brahman.<br /><br />Quando se despeja leite no leite, óleo no óleo, água na água, eles se misturam em absoluta unidade. Do mesmo modo, o vidente iluminado, o conhecedor do Atman, toma-se uno com o Atman.<br /><br />Aquele que se libertou nesta vida alcança a libertação na morte e une-se eternamente com Brahman, a Realidade Absoluta. Esse vidente jamais renascerá.<br /><br />Ele sabe que é uno com Brahman e consumiu os invólucros da ignorância no fogo desse conhecimento. Assim, ele se tomou Brahman. Como pode Brahman estar sujeito ao nascimento?<br /><br />Analogamente, tanto a servidão como a libertação são invenções da nossa ignorância. Elas não existem realmente no Atman, tal como um pedaço de corda continua sendo corda, quer o confundamos ou não com uma cobra. A suposta cobra não existe realmente na corda.<br /><br />As pessoas falam de servidão e libertação - referindo-se à presença ou à ausência do véu da ignorância. Mas, na realidade, Brahman não tem invólucro. Porque não existe outro senão Brahman - o primeiro sem um segundo. Se houvesse um invólucro, Brahman não seria único. As escrituras não admitem dualidade.<br /><br />Servidão e libertação existem apenas na mente, mas o ignorante as atribui falsamente ao próprio Atman - da mesma forma que afirmam estar o sol escurecido quando ele está apenas coberto por uma nuvem. Mas Brahman, o primeiro sem um segundo, a realidade imutável, permanece independente. Ele é pura consciência.<br /><br />Imaginar que o Atman pode ser escravizado ou libertado é falso. Tanto a servidão como a libertação são estados mentais. Nenhum deles pode ser atribuído a Brahman, a realidade eterna.<br /><br />Por conseguinte, tanto a servidão como a libertação são ficções da ignorância. Elas não estão no Atman. O Atman é infinito, sem partes, está além da ação. É sereno, imaculado, puro. Como imaginar a dualidade em Brahman, que é inteiro como o éter, sem um segundo a realidade suprema?<br /><br />Não existe nem nascimento nem morte, nem alma limitada ou excelsa, nem alma libertada ou em busca da libertação - esta é a verdade final e absoluta.<br /><br />Revelei-te hoje o supremo mistério. Esta é a mais recôndita essência de todo o Vedanta, a jóia suprema de todas as escrituras. Considero-te o meu próprio filho - um verdadeiro aspirante à libertação. Estás purificado de todas as máculas desta época de trevas e tua mente está livre do desejo.</div>Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-70217685222773348352012-02-22T22:37:00.000+00:002014-11-27T13:59:11.826+00:00Um santo sufi - Martin Lings<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<span style="color: #334455; font-family: Georgia, 'Bitstream Charter', serif; font-size: 16px; line-height: 22px; text-align: -webkit-auto;">Al-' Alawî: Um santo sufi do século XX</span><br />
<br style="color: #334455; font-family: Georgia, 'Bitstream Charter', serif; font-size: 16px; line-height: 22px; text-align: -webkit-auto;" />
<span style="color: #334455; font-family: Georgia, 'Bitstream Charter', serif; font-size: 16px; line-height: 22px; text-align: -webkit-auto;">O Infinito ou o Mundo do Absoluto que concebemos como estando fora de nós é, ao contrário, universal e existe tanto dentro de nós como fora. Existe apenas Um Mundo, e este é Isto. Aquilo que concebemos como o mundo sensível, o mundo finito do tempo e do espaço, não é senão uma conglomeração de véus que escondem o Mundo Real. Estes véus são os nossos sentidos: os nossos olhos são os véus sobre a Verdadeira Vista, os nossos ouvidos são os véus sobre a Verdadeira Audição, e é assim também com os outros sentidos. Para nos tornarmos cientes da existência do Mundo Real, os véus dos sentidos devem ser removidos… e o que subsiste então do homem? Subsiste um ténue cintilar que lhe surge como a lucidez da sua consciência… Existe uma continuidade perfeita entre este cintilar e a Grande Luz do Mundo Infinito e, assim que esta continuidade for apreendida, a nossa consciência pode emanar e estender-se como que até ao Infinito e tornar-se Una com Ele, de modo que o homem passa a compreender que o Infinito Apenas é, e que ele, o humanamente consciente, existe apenas como um véu. Compreendido este estado, todas as Luzes da Vida Infinita podem penetrar a alma do sufi, e podem fazê-lo participar na Vida Divina, de forma que ele tem direito de exclamar: “Eu sou Alá”. A invocação do nome Allâh é como que um intermediário que avança e recua entre o cintilar da consciência e os esplendores ofuscantes do Infinito, afirmando a continuidade entre eles e tecendo-os cada vez mais próximos, em comunicação, até que são “unidos em identidade”.</span><br />
<br style="color: #334455; font-family: Georgia, 'Bitstream Charter', serif; font-size: 16px; line-height: 22px; text-align: -webkit-auto;" />
<span style="color: #334455; font-family: Georgia, 'Bitstream Charter', serif; font-size: 16px; line-height: 22px; text-align: -webkit-auto;">Martin Lings </span>
</div>
Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8278872147261040394.post-20805482753526920502012-02-17T23:52:00.000+00:002012-03-24T11:47:48.036+00:00A Visão Dzogchen<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div>
A essência mais profunda</div>
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<br /></div>
A VISÃO<br />
<br />
Tradicionalmente, o treinamento prático do Caminho Dozogchen é descrito com muita simplicidade em termos de Visão, Meditação e Ação. Ver diretamente o estado absoluto, a Base do nosso ser, é a Visão; o modo de estabilizar essa Visão e fazer dela uma experiência contínua é Meditação; integrar a Visão à nossa realidade total e à nossa vida é o que chamamos Ação.<br />
<br />
O que é então a Visão? É nada menos que ver o estado real das coisas como elas são; saber que a verdadeira natureza da mente é a verdadeira natureza de tudo; e atingir a realização de que a verdadeira natureza da nossa mente é a verdade absoluta.<br />
<br />
Dudjom Rinpoche diz:<br />
<br />
A visão é a compreensão da consciência intrínseca desnuda, dentro da qual tudo está contido: a percepção sensorial e a existência fenomênica, o samsara e o nirvana. Essa consciência intrínseca e imediata tem dois aspectos: "vacuidade" como o absoluto, e "aparência" ou percepção como relativo.<br />
<br />
O que isso significa é que todo o conjunto das possibilidades das aparências e todos os possíveis fenômenos em todas as diferentes realidades - todos eles, sem exceção, seja no samsara ou no nirvana - sempre foram e sempre serão perfeitos e completos, dentro da vasta e ilimitada extensão da natureza da mente. Mais ainda, que a essência de tudo seja vazia e "pura desde o início", sua natureza é rica em nobres qualidades, prenhe de todas as possibilidades, um campo ilimitado, incessante e dinamicamente criativo que é sempre perfeito e espontâneo.<br />
<br />
Como a mente de sabedoria dos budas pode ser introduzida? Imagine a natureza da mente como seu próprio rosto; está sempre com você, mas não pode vê-lo sem ajuda. Agora imagine que nunca viu um espelho antes. A introdução feita pelo mestre é colocar subitamente um espelho diante de você, no qual pela primeira vez vai ver seu próprio rosto refletido. Tal como seu rosto, a pura percepção de Rigpa [a base do nosso ser] não é algo "novo"que o mestre lhe está dando, ou algo que nunca tenha tido antes, e nem algo que teria a possibilidade de achar fora de si mesmo. Sempre foi seu e sempre esteve com você, mas até aquele momento, surpreendente, você nunca o tinha visto de maneira direta.<br />
<a name='more'></a><br />
<br />
Patrul Rinpoche explica que "de acordo com a tradição especial dos grandes mestres da linhagem dessa prática, a natureza da mente, o rosto de Rigpa, é intoduzido precisamente na dissolução da mente conceitual".<br />
<br />
Apenas uns poucos indivíduos na história, devido ao seu carma purificado, puderam reconhecer e iluminar-se num instante; por isso a introdução deve quase sempre ser precedida pelas práticas preliminares que apresento a seguir. São essas práticas preliminares que purificam e removem os obscurecimentos da mente ordinária, trazendo você ao estado em que "seu" Rigpa pode ser revelado.<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: x-small;"><br /></span></div>
Primeiro, a MEDITAÇÃO, antídoto supremo da distração, traz a mente de volta e permite que ela se assente no seu estado natural.<br />
<br />
Segundo, práticas profundas de purificação e o fortalecimento do carma positivo, através da acumulação de mérito e sabedoria, começam a enfraquecer e dissolver os véus intelectuais e emocionais que obscurecem a natureza da mente. Como escreveu meu mestre Jamyang Khyentse: "Se os obscurecimentos forem removidos, a sabedoria de Rigpa de cada um brilhará naturalmente". Essas práticas de purificação, chamadas Ngöndro em tibetano, devem ser cuidadosamente observadas para produzir uma ampla transformação interior. Elas envolvem o ser inteiro - corpo, fala, mente - e começam com uma séria de profundas contemplações sobre:<br />
<br />
- A singularidade da vida humana<br />
- A contínua presença da impermanência e da morte<br />
- A infalibilidade da causa e efeito das nossas ações<br />
- O ciclo vicioso de frustração e sofrimento que é o samsara (...)<br />
<br />
Mesmo sabendo que as palavras e os conceitos fracassam quando tentamos descrevê-la, vou procurar dar uma idéia do que é a VISÃO e do que acontece quando Rigpa é revelado diretamente.<br />
<br />
Dudjom Rinpoche diz: "Esse momento é como tirar um capuz de sua cabeça. Que amplitude infinita e que alívio! Esse é o ver supremo: ver o que não foi visto antes". Quando você "vê" tudo se abre, se expande e se torna fresco, claro, transbordante de vida, animado de encantamento e frescor. É como se o teto de sua cabeça se desprendesse, ou se um bando de pássaros repentinamente revoasse de um ninho escuro. Todas as limitações se dissolvem e desaparecem como se, dizem os tibetanos, um selo tivesse rompido".<br />
<br />
Imagine-se morando numa casa no topo do mundo. De repente, toda a estrutura da casa que limitava sua visão simplesmente desaparece e você pode ver tudo ao seu redor, tanto dentro como fora. Mas não há alguma "coisa" para ver; o que acontece não tem qualquer referência no mundo ordinário; é uma visão total, completa, sem precedentes, perfeita.<br />
<br />
Dudjon Rinpoche diz: "Seus inimigos mais mortais, aqueles que o mantiveram amarrado ao samsara por incontáveis vidas, desde tempos imemoriais até o presente, são o agarrar e o agarrado".<br />
<br />
Quando o mestre o introduz e você os reconhece, "esses dois são completamente consumidos como penas numa fogueira, não deixando vestígios". Agarrar e agarrado, a coisa agarrada e aquele que agarra são completamente liberados a partir mesmo da sua base. As raízes da ignorância e do sofrimento são totalmente cortadas e todas as coisas aparecem como reflexos num espelho, transparentes, bruxuleantes, ilusórias e com a qualidade de um sonho.<br />
<br />
Quando você chega naturalmente a esse estado de meditação, inspirado pela Visão, pode permanecer aí por um longo tempo sem qualquer distração ou esforço especial. Então não há nenhuma coisa de nome meditação para proteger ou sustentar, uma vez que você está no fluxo natural da sabedoria Rigpa. E, quando está nele, perceberá que é como se tivesse sido sempre assim, e é. Quando brilha a sabedoria de Rigpa, nem uma sombra de dúvida permanece e um entendimento completo e profundo surge diretamente e sem qualquer esforço.<br />
<br />
Esse é o momento do despertar. Um profundo senso de humor brota de dentro e você sorri, divertido com a inadequação dos seus antigos conceitos e idéias sobre a natureza da mente. O que surge disto é uma crescente, tremenda e inabalável certeza e convicção de que "é isto". Não há nada além a procurar, nada a mais a ser esperado. Essa certeza da Visão é aquilo que deve ser aprofundado, de lampejo a lampejo, sobre a natureza da mente, e estabilizado pela contínua disciplina da meditação.<br />
<br />
MEDITAÇÃO<br />
<br />
Então o que é meditação do Dzogchen? É simplesmente repousar, sem distrações, na Visão, uma vez que ela tenha sido introduzida. Dudjon Rinpoche a descreve:<br />
<br />
"A meditação consiste em ficar atento a esse estado de Rigpa, livre de todas as construções mentais, embora permanecendo totalmente relaxado, sem qualquer distração e sem agarrar-se a nada. Por isso se diz que a "meditação não é se esforçar, mas permitir que a própria meditação nos assimile naturalmente".<br />
<br />
O ponto central da prática de meditação Dzogchen é fortalecer e estabilizar Rigpa, permitindo que ele cresça até sua plena maturidade. A mente ordinária e habitual, com suas projeções, é extremamente poderosa. Ela fica voltando e toma conta de nós quando estamos desatentos e distraídos. Como Dudjon Rinpoche costumava dizer: "No momento, nosso Rigpa é como um bebezinho desamparado no campo de batalha onde os pensamentos irrompem com força". Gosto de dizer que temos de começar sendo a ama-seca do nosso Rigpa dentro do ambiente seguro da meditação.<br />
<br />
Se a meditação é simplesmente continuar o fluxo de Rigpa após a introdução, como sabemos quando é Rigpa e quando não é? Fiz essa pergunta a Dilgo Khyentse Rinpoche e ele respondeu com sua simplicidade característica: "Se você está num estado inalterado, é Rigpa". Se não estamos dentro da mente que de algum modo manipula e distorce a realidade, mas apenas repousando num estado inalterado de consciência pura e original, então isso é Rigpa. Se há qualquer trama ou maquinação de nossa parte, alguma forma de manobra ou de apego, já não se trata de Rigpa. Rigpa é um estado em que não há mais qualquer dúvida: não há na verdade algo como uma mente que possa duvidar: você vê diretamente. Se estiver nesse estado, certeza e confianças completas e naturais vibram com o próprio Rigpa, e é assim que você sabe.<br />
<br />
A tradição do Dzogchen é de precisão extrema, já que quanto mais fundo você vai mais sutil são os enganos que podem surgir, e o que está em jogo é o conhecimento da realidade absoluta.<br />
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Mesmo após a introdução, os mestres esclarecem em detalhes os estados que não são meditação Dzogchen e que com ela não devem ser confundidos. Num desses estados você perambula por uma terra de ninguém da mente, onde não há pensamentos ou memórias; é um estado obscuro, embotado e apático, onde você está mergulhado na base da mente ordinária. Num segundo estado há certa quietude e leve claridade, mas é uma quietude estagnada, ainda enterrada na mente ordinária. Num terceiro você experimenta a ausência de pensamentos, mas está "em outra" , apenas num estado vazio de encantamento. Num quarto estado sua mente vagueia, ansiando por pensamentos e projeções. Nenhum desses é o verdadeiro estado de meditação e o praticante deve observar habilmente o que ocorre para evitar ser iludido por esses caminhos.<br />
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A essência prática da meditação no Dzogchen está contida nesses quatro pontos:<br />
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I - Quando um pensamento passado cessou e ainda não surgiu um pensamento futuro, há uma brecha. Nesse preciso instante, não há uma consciência do momento presente, fresca, virgem, em nada alterada por conceitos, uma atenção luminosa e pura?Pois bem isso é Rigpa!<br />
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II - Entretanto a mente não fica neste estado para sempre, porque outro pensamento subitamente surge, não é assim? Essa é a auto-irradiação de Rigpa.<br />
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III - No entanto, se você não reconhece esse pensamento pelo que de fato ele é, no instante em que surge, ele se transformará em um pensamento comum, como antes. Essa é a chamada "cadeia da ilusão", e é a raiz de samsara. <br />
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IIII - Se você é capaz de reconhecer a verdadeira natureza do pensamento logo que ele surge e o deixa em paz, sem persegui-lo, então quaisquer pensamentos que surjam se dissolvem automaticamente, retornando à vasta extensão de Rigpa, e são liberados.<br />
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É preciso uma vida inteira de prática para entender e realizar a profunda riqueza e a majestade desses quatro pontos tão simples e tão fundamentais, e tudo o que posso fazer aqui é dar a você uma amostra da vastidão que é a meditação Dzogchen.<br />
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Talvez o ponto mais importante é que a meditação Dzogchen vem a tornar-se um contínuo fluxo de Rigpa, como um rio que se move constantemente, dia e noite sem interrupção. Claro que isto é um estado ideal, uma vez que esse atento repouso na Visão, já introduzida e identificada, é a recompensa de muitos anos de prática permanente.<br />
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A meditação Dzogchen é sutilmente poderosa na lida com os movimentos da mente, apresentando uma perspectiva única sobre eles. Tudo o que surge é visto na sua verdadeira natureza, não como coisa separada de Rigpa, e não antagônica a ele, mas - e isso é muito importante - verdadeiramente como nada mais que a sua auto-irradiação, a manifestação de sua própria energia.<br />
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Digamos que você se encontre num estado de profunda quietude; ele não costuma durar muito, porque logo um movimento ou um pensamento surge, como uma onda no oceano. Não rejeite o movimento nem se apegue à tranqüilidade, mas deixe seguir o fluxo da sua pura presença. O estado penetrante e sereno da sua meditação é o próprio Rigpa e tudo que surge nada mais é que a auto-irradiação de Rigpa. Esse é o coração e a base da prática Dzogchen.<br />
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À medida que incorpora a firme estabilidade da Visão, você não é mais enganado nem distraído pelo que quer que possa surgir, e assim não cai vítima da ilusão. Claro que no oceano há ondas violentas e ondas suaves; surgem emoções fortes como raiva, desejo e inveja. O verdadeiro praticante as reconhece não como perturbação ou obstáculo, mas como uma grande oportunidade. O fato de você reagir ao que aparece com as tendências habituais de apego e aversão é sinal não somente que está distraído, mas também de que não tem o reconhecimento e perdeu a base de Rigpa. Reagir as emoções desse modo significa reforça-las , prendendo-nos ainda mais fortemente às cadeias da ilusão. O grande segredo do Dzogchen é ver bem através delas, tão logo aparecem, percebendo-as pelo que de fato são: a vívida e elétrica manifestação da própria energia Rigpa. À medida que você aprende a fazer isso, mesmo as emoções mais turbulentas já não conseguem dominá-lo e se dissolvem como ondas bravias que aparecem e retrocedem, mergulhando de volta na calma do oceano.<br />
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O praticante descobre - e essa é uma visão revolucionária, cuja sutileza e poder vão além do que podemos entrever - que as emoções violentas não precisam necessariamente precipitá-lo no turbilhão de suas próprias neuroses; elas podem ser usadas para aprofundar, estimular, avivar e fortalecer Rigpa. Essa energia tempestuosa torna-se matéria-prima para a energia desperta de Rigpa. Quanto mais forte e ardente a emoção, mais Rigpa se fortalece. Sinto que esse método peculiar ao Dzogchen é uma força extraordinária para libertar até os problemas emocionais e psicológicos mais inveterados e mais profundamente enraizados.<br />
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No Dzogchen, a fundamental e inerente natureza de tudo é chamada "Luminosidade Base", ou "Luminosidade Mãe". Ela permeia todas as nossas experiências e é inclusive, embora não a reconheçamos, a natureza inerente também dos pensamentos e emoções que surgem em nossa mente. Quando o mestre introduz à verdadeira natureza da mente, ao estado de Rigpa, é como ele ou ela nos desse uma chave mestra. No Dzogchen chamamos essa chave, que vai abrir a porta do conhecimento total, de "Luminosidade Caminho", ou "Luminosidade Filha". A Luminosidade Base e a Luminosidade Caminho são fundamentalmente as mesmas, é claro, e é só para fins de explanação e prática que elas são categorizadas dessa forma. Mas uma vez que temos a chave da L. Caminho. dada pela introdução do mestre, podemos usá-la à vontade para abrir a porta da natureza inata da realidade. Este abrir a porta se chama na prática do Dzogchen "o encontro da Luminosidade Mãe e Filha". Outro modo de dizer isso é que, assim que um pensamento ou emoção aparece, a Luminosidade Caminho - Rigpa - reconhece-as imediatamente pelo que são, reconhece sua natureza inerente, a Luminosidade Base. Nesse instante de reconhecimento, as duas Luminosidades se fundem e os pensamentos e emoções são liberados em sua própria base.<br />
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É fundamental o aperfeiçoamento dessa prática de fusão das duas Luminosidades e da auto-liberação daquilo que surge na sua mente enquanto você está vivo, porque o que ocorre para todos no momento da morte é isto: a Luminosidade Base desponta com seu imenso esplendor, trazendo com ela uma oportunidade de liberação total - se, e somente se, você tiver aprendido a reconhecê-la.<br />
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Talvez fique claro agora que essa fusão das Luminosidades e da auto-liberação dos pensamentos e das emoções é meditação no seu nível mais profundo. De fato, um termo como meditação não é verdadeiramente apropriado para a prática Dzogchen porque, em última análise, implica meditar "sobre" algo, enquanto que no Dzogchen tudo é apenas e para sempre Rigpa. Desse modo, não existe meditação separada do simples ficar na pura presença de Rigpa.<br />
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A única palavra que talvez pudesse descrever isso é "não-meditação". Nesse estado, dizem os mestres, mesmo se você procurar a ilusão, não encontrará nenhuma. Mesmo se você procurar pedrinhas comuns numa ilha de ouro e jóias, não terá oportunidade de encontra-las. Quando a Visão é constante, o fluxo de Rigpa é inesgotável e a fusão das duas Luminosidades é contínua e espontânea, toda a ilusão possível é liberada em sua própria raiz e toda a sua percepção aparece como Rigpa, sem interrupção.<br />
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Os mestres enfatizam que para estabilizar a Visão na meditação é essencial, primeiro, realizar essa prática num ambiente especial, de retiro, onde todas as condições favoráveis estejam presentes; entre as distrações e a correria do mundo, as experiências verdadeiras, por mais que você medite, não surgirão na sua mente. Segundo, embora não haja diferença no Dzogchen entre meditação e vida cotidiana, até que você tenha encontrado a verdadeira estabilidade pela prática em sessões a isso dedicadas, não conseguirá integrar a sabedoria da meditação na experiência da vida diária. Terceiro, mesmo se você pratica e é capaz de assentar no fluxo de Rigpa com confiança na Visão, mas não consegue manter esse fluxo todo o tempo, em todas as situações, combinando sua prática com a vida cotidiana, isso não servirá quando circunstâncias desfavoráveis surgirem, e você será desviado para a ilusão pelos pensamentos e emoções.<br />
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AÇÃO<br />
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À medida que a familiaridade com o fluxo de Rigpa vai se tornando realidade e permeia a vida cotidiana, as ações do praticante começam a mudar e geram estabilidade e confiança profundas.Dudjom Rinpoche diz:<br />
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"Ação é estar verdadeiramente atento aos seus próprios pensamentos. Bons ou maus, olhando para a verdadeira natureza de qualquer pensamento que surja, sem evocar o passado ou convidar o futuro, sem permitir qualquer apego a experiência de alegria nem se deixar dominar pelas situações tristes. Assim fazendo, você tenta atingir e permanecer num estado de grande equilíbrio em que bom e mau, paz e angústia, são desprovidas de verdadeira identidade".<br />
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Atingir a realização da Visão transforma de maneira sutil, porém completa, o modo como você vê as coisas. Mais e mais eu percebi o quanto pensamentos e conceitos são tudo o que nos impede de estar sempre, muito simplesmente, no absoluto. Agora vejo com claridade porque os mestres dizem com tanta freqüência: "Procure com afinco não criar muita esperança ou medo", porque só engendram mais tagarelice mental. Quando a Visão está presente, os pensamentos são percebidos como de fato são: fugazes, transparentes e apenas relativos. Você pode enxergar através de tudo, como se tivesse olhos de rios-X. Não se apega aos pensamentos e emoções, nem os rejeita, mas acolhe-os todos no vasto abraço de Rigpa. O que levava muito a sério antes - ambições, planos, expectativas, dúvidas e paixões - já não tem nenhum poder profundo sobre você nem o deixa ansioso, uma vez que a Visão o ajudou a perceber a futilidade e a insensatez de todas as coisas, e fez nascer em você um espírito de verdadeira renúncia.<br />
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Permanecer na claridade e na confiança de Rigpa permite que todos os seus pensamentos e emoções se liberem naturalmente e sem esforço em sua vasta extensão, qual escrever na superfície da água ou pintar no céu. Se você aperfeiçoa verdadeiramente essa prática, não há jeito de acumular carma; e nesse estado de entrega despreocupada e sem intencionalidade, que Dudjom Rinpoche chama de tranqüilidade aberta e desnuda, a lei de causa e efeito já não pode sujeitá-lo de modo algum.Não presuma que isso é fácil ou poderia de algum modo sê-lo. É muito difícil repousar sem distrações na natureza da mente, mesmo por um instante, e permitir que um pensamento ou emoção se auto-libere espontaneamente quando surge. Via de regra assumimos que apenas porque compreendemos algumas coisas intelectualmente, ou pensamos que compreendemos, nós de fato as realizamos. Essa é uma enorme ilusão. A tarefa exige a maturidade que somente anos de audição, contemplação, reflexão, meditação e prática contínua podem trazer. E nunca é demais enfatizar que a prática continuada do Dzogchen sempre requer a direção e a instrução de um mestre qualificado. <br />
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De outro modo há um grande perigo, que a tradição chama "perder a Ação na Visão". Um ensinamento tão elevado e poderoso como o Dzogchen comporta um risco extremo. Ao iludir-se de que está liberando pensamentos e emoções, quando de fato não está nem próximo de conseguir isso, e ao imaginar que está agindo com a espontaneidade de um verdadeiro yogue Dzogchen, tudo o que você faz é acumular enormes quantidades de carma negativo. Como dizia Padmasambhava, e esta é a atitude que todos devem ter:<br />
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Embora minha visão seja tão vasta quanto o céu<br />
Minhas ações e meu respeito pela causa e efeito<br />
São refinados como o grão de farinha.<br />
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Os mestres da tradição Dzogchen enfatizam incansavelmente que, sem um conhecimento completo e profundo da "essência e método da auto-liberação", através de longa prática, a meditação somente incrementa o caminho da ilusão. Isso pode parecer severo mas este é o caso, porque só a auto-liberação constante dos pensamentos pode de fato acabar com o domínio da ilusão e proteger o discípulo de mergulhar outra vez no sofrimento e na neurose. Sem o método da auto-liberação você não estará apto para enfrentar desventuras e circunstâncias infelizes quando elas surgirem, e mesmo se você já tem o hábito de meditar vai perceber que emoções como raiva e desejo estão presentes, tão fortes quanto antes. O perigo de outros tipos de meditação que não tem esse método consiste em que eles se tornam como a "meditação dos deuses", extraviando-se com facilidade em uma suntuosa auto-absorção, num transe passivo, ou numa inanidade de espírito de um tipo ou de outro, e nada disso ataca e dissolve a ilusão na sua raiz.<br />
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O grande mestre Dzogchen, Vimalamitra, falou de maneira muito precisa sobre os graus de crescente naturalidade nesse caminho de liberação: quando você domina a prática pela primeira vez, a liberação acontece simultaneamente ao que surge na mente, e aí é como reconhecer um velho amigo na multidão. Aperfeiçoando e aprofundando a prática a liberação virá junto com o surgimento das emoções e pensamentos, como uma serpente desenrolando-se. E, no estado final de mestria, a liberação é como um ladrão que entra numa casa vazia; nada do que surge traz males nem benefícios para o verdadeiro yogue Dzogchen.<br />
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Mesmo nos maiores yogues, a alegria e o sofrimento, a esperança e o medo, ainda aparecem exatamente como antes. A diferença de uma pessoa comum e o yogue está em como eles vêem suas emoções e reagem a elas. Uma pessoa comum, de maneira instintiva, irá aceitá-las ou rejeitá-las, suscitando assim apego ou aversão que resultarão na acumulação de carma negativo. Um yogue, no entanto, percebe tudo o que surge no seu estado natural e originalmente puro, sem permitir o apego, ou qualquer pensamento superveniente. Como diz Dudjom rinpoche:<br />
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Em qualquer percepção que surja, você deve ser como uma criança que entra num templo lindamente decorado: ela olha, mas o apego não entra de modo algum em sua percepção. Então você deixa tudo ali, fresco, natural, vivo e intocado. Quando você deixa tudo no seu estado próprio, a forma não muda, a cor não esmaece, o brilho não declina. Tudo o que surge não é maculado por nenhum apego, e assim todas as coisas que você percebe surgem como a desnuda sabedoria de Rigpa, que é a inseparabilidade entre luminosidade e vacuidade.<br />
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A confiança, o contentamento, a vasta serenidade, a força, o profundo humor e a certeza que advêm da realização direta da Visão de Rigpa são o maior tesouro da vida, a maior das felicidades, que uma vez obtida nada pode destruir, nem mesmo a morte. Dilgo Khyentse Rinpoche diz:<br />
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"Uma vez que você obtém a Visão, embora as percepções ilusórias do samsara possam surgir na sua mente, você será como o céu: não fica particularmente lisonjeado quando surge nele o arco-íris, nem particularmente desapontado quando as nuvens o encobrem. Há uma profunda sensação de contentamento. Você ri por dentro quando vê a fachada do samsara e do nirvana; a Visão o manterá constantemente maravilhado com um suave sorriso interior se esboçando, todo o tempo".<br />
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Como diz Dudjom Rinpoche: <br />
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"Tendo purificado a grande ilusão, que é o lado escuro do coração, a luz radiante do sol não-obscurecido nascerá continuamente".<br />
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Quem leva a sério as instruções sobre Dzogchen e sua mensagem sobre o morrer, contidas nesse livro, irá se sentir inspirado, espero, para buscar, encontrar e seguir um mestre qualificado, e para comprometer-se a passar por um completo treinamento sob orientação dele ou dela. O coração do treinamento Dzogchen consiste em duas práticas, Trekchö e Tögal, que são indispensáveis a uma compreensão profunda do que ocorre durante os bardos. Só posso dar aqui uma brevíssima introdução a ambas. A explicação completa só é dada de mestre a discípulo, quando este já se comprometeu de todo o coração com os ensinamentos e atingiu certo estágio de desenvolvimento. O que expliquei neste capítulo - "A Essência Mais Profunda" - é a essência da prática do Trekchö.<br />
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Trekchö significa atravessar a ilusão essencialmente com força irresistível da visão Rigpa, como uma faca corta manteiga ou um mestre de karatê quebra uma pilha de tijolos. Todo o fantástico edifício da ilusão desmorona, como se você tivesse pulverizado seus alicerces. A ilusão é atravessada e a pureza primordial e a natural simplicidade da mente são desveladas.Somente quando o mestre determinar que você tem uma base firme na prática do Trekchö é que ele ou ela o introduzirá na prática avançada do Tögal. O praticante do Tögal trabalha diretamente com a Clara Luz - que habita de modo inerente em todos os fenômenos e está "espontaneamente presente neles" - usando exercícios específicos e muito poderosos para revela-la dentro de si mesmo.<br />
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O Tögal tem a qualidade de ser instantâneo, de trazer realização imediata. Em vez de viajar por uma cordilheira para alcançar um pico distante, o Tögal leva-o até lá num salto. O efeito de Tögal é tornar alguém capaz de efetivar todos os diferentes aspectos da iluminação em si próprios no decurso de uma vida. Por isso é considerado o método único e extraordinário do Dzogchen; enquanto o Trekchö é a sua sabedoria, o Tögal são seus meios hábeis. Exige imensa disciplina e é geralmente praticado em retiro. <br />
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O livro tibetano do viver e do morrer - Sogyal Rinpoche </div>Eze Anthttp://www.blogger.com/profile/11552920512749405769noreply@blogger.com0