sábado, 2 de abril de 2011

O que é Vedanta?

“Aquilo que permeia tudo, que nada transcende, e o qual, como o espaço universal à nossa volta, preenche completamente tudo, por dentro e por fora, esse Brahman Supremo não-dual – isso és Tu.” Shankara

A corrente filosófica na qual o pensamento de Nisargadatta Maharaj se insere é acadêmicamente conhecida como Vedanta Advaita.

Para essa corrente filosófica, o conhecimento fundamental é Atman é Brahman. Atman é o Self e Brahman significa a Alma universal ou Consciência Universal. Os Vedas falam da união mística como sendo a compreensão de que Atman é Brahman.

Advaita é uma palavra em sânscrito cujo significado literal é “não-dois”. A interpretação moderna do Advaita é algumas vezes apresentada como “Não-dualidade” ou mesmo como o final dos Vedas ou “Não-dualidade além do conhecimento”. Outro nome ainda para o estudo do Advaita é Jnani Yoga (Yoga do Conhecimento). No século 20, os mestres modernos do Advaita Ramana Maharshi e Nisargadatta Maharaj quebraram o caminho tradicional, de trasmitir o ensinamento por via escrita, e falaram diretamente de sua experiência.

Gaudapada, pensador do século VII, autor do tratado Mandukya-karika, defende que não há dualidade; a mente, acordada ou sonhando, move-se através de Maya (ilusão ou transitoriedade); apenas a não-dualidade é a verdade final. Esta verdade é obscurecida pela ignorância da ilusão. Não há o tornar-se, seja de uma coisa por si mesma, ou de uma coisa vinda de outra coisa. Na verdade não há Self individual ou alma, apenas o Atman (Consciência Universal).

O filósofo indiano medieval, Shankara (700? – 750?) desenvolveu ainda mais os fundamentos de Gaudapa, principalmente nos seus comentários aos sutras do Vedanta, os Sari-raka-mimamsa-bhasya (Comentários sobre os Estudos do Self). Shankara, em sua filosofia, não parte do mundo empírico e o submete a uma análise lógica, mas, ao invés disso, parte diretamente do Absoluto (Brahman). Se interpretado corretamente, ele questiona, os Upanishads ensinam a natureza de Brahman. Ao construir seu argumento, ele desenvolve uma epistemologia completa para contabilizar o equívoco humano de tomar o mundo fenomênico como sendo real.

O fundamental para Shankara, é o postulado de que Brahman é Real e o mundo é irreal. Qualquer mudança, dualidade ou pluralidade é uma ilusão (no sentido de que é ilusório, é momentâneo, transitório, não-permanente. Já o que é Real, não muda, é permanente e constante). O Self não é outra coisa senão Brahman. O insight dessa identidade resulta na libertação espiritual. Brahman está fora do tempo, do espaço e da causalidade, as quais são simplesmente formas de experiência empírica. Não é possível nenhuma distinção em ou de Brahman.

Origens do Advaita (não-dualidade) nos textos Védicos :

O Self que é livre do pecado, livre da velhice, da morte e do pesar, da fome e da sede, que não deseja nada além do que deseja, e que não imagina nada, além do que imagina, isso é o que devemos procurar, isso é o que devemos tentar compreender. Aquele que descobriu esse Self e o compreende, obtém todos os mundos e todos os desejos. (Chandogya Upanishad 8.7.1)

Tudo isso é Brahman. Deixe um homem meditar nisso (no mundo visível) como começando, terminando e respirando nele (Brahman)... ( Chandogya Upanishad 3.14 1, 3)

O Self separado dissolve-se no mar da pura consciência, infinita e imortal. A separatividade provém do identificar o Self com o corpo o qual é feito de elementos; quando a identificação física se dissolve, não pode haver mais um Self separado. É isso que eu quero dizer a vocês. (Brihadaranyaka Upanishad. Chapter 2, 4:12)

Assim como os rios que fluem para o leste e para o oeste se fundem no oceano e se tornam um com ele, esquecendo que eles eram rios separados, assim também todas as criaturas perdem sua separatividade quando se fundem finalmente no puro Ser. (Chandogya Upanishad. 10:1-2)

O que os sábios procuravam eles finalmente encontraram. Nenhuma pergunta a mais eles têm a fazer para a vida. Com a vontade própria extinta eles estão em paz. Vendo o Senhor do Amor em tudo a sua volta, servindo ao Senhor do Amor em tudo a sua volta eles estão unidos com ele para sempre. (Mundaka Upanishad. 3:2:5)

…Mas aqueles que me adoram com Amor vivem em mim, e eu passo a viver neles. Aquele que me conhece como seu próprio Self divino se desvencilha da crença de que ele é o [seu] corpo e não renasce como uma criatura separada. Este está unido comigo. Libertos do apego egoísta, medo e raiva, preenchidos de mim, rendidos a mim, purificados no fogo do meu ser, muitos alcançaram o estado de unidade comigo. (Bhagavad Gita 4:9-10)

E este Self, que é pura consciência, é Brahman. Ele é Deus, todos os deuses: os cinco elementos – terra, ar, água, fogo, éter; todos os seres, grandes ou pequenos, nascidos de ovos, nascidos de úteros , nascidos do calor, nascidos do solo, cavalos, gado, homens, elefantes, pássaros; tudo que respira, os seres que andam e que não andam . A realidade por detrás de tudo isso é Brahman que é pura consciência. Todos estes enquanto estão vivos e depois que deixaram de viver, existem nele. (Aitareya Upanishad)

Quando identificado com o ego, o Self parece outra coisa diferente do que ele é. Pode parecer mais fino que um fio de cabelo. Mas saiba que o Self é infinito. (Shvetashvatara Upanishad. 5:8-9)

O Self supremo nem nasce nem morre. Não pode ser queimado, movido, perfurado, cortado ou seco. Além de todos os atributos, o Self supremo é a eterna testemunha, sempre puro, indivisível, único (não-composto), muito além dos sentidos e do ego... Ele é omnipresente, além de todos os pensamentos, sem ação no mundo externo, sem ação no mundo interno. Separado do externo e do interno, esse Self supremo purifica o impuro. (Atma Upanishad. 3)

Apesar de todas as galaxies emergirem dEle, Ele não tem forma e é incondicionado. (Tejabindu Upanishad. 6)

Medite e compreenda que esse mundo é preenchido com a presença de Deus. (Shvetashvatara Upanishad. 1:12)

Você é o Brahman supremo, infinito, e mesmo assim escondido no coração de todas as criaturas. Você permeia tudo. (Shvetashvatara Upanishad. 3:7)

“Aquilo em quem residem todos os seres e que reside em todos os seres, aquele que é o doador das graças para todos, a Alma Suprema do universo, o ser ilimitado – eu sou Aquilo." Amritbindu Upanishad

“Aquilo que permeia tudo, que nada transcende, e o qual, como o espaço universal à nossa volta, preenche completamente tudo, por dentro e por fora, esse Brahman Supremo não-dual – isso és Tu.” Shankara

2 comentários:

  1. Amigo Dim-Dim,
    Conquanto venha já há alguns anos pesquisando e buscando, meus estudos muito mais se enraizam na tradição ocidental. Os conhecimentos que tenho da tradição esotérica do Oriente só me vêm quando nela resvalam textos de HPB ou da pouca leitura que venho, mais recentemente, fazendo de Yogananda.
    O texto acima é bastante didático. MUITO OBRIGADO.
    Um abraço!

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  2. Olá,

    Isso aí é a própria Filosofia Oriental. Ver mais: http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20100314014753AAG9UPu

    É que no oriente a filosofia é mista com a religião.

    A principal diferença entre ambas é que, enquanto a filosofia ocidental gera a dualidade sujeito-objeto, para a filosofia oriental, o objeto não existe.

    o Atman se funde com Brahman, a realidade absoluta.

    De outro modo, enquanto a filosofia ocidental estuda o mundo exterior, dando origem à ciência que remonta aos gregos, a filosofia oriental estuda o interior, ou seja, ela é mais uma "psicologia" q busca compreender o Ser, do que uma ciência que procura entender o mundo que nos cerca.

    A filosofia oriental começa com os Vedas e Upanishads, com o Bagavad-gita, com Krishna. É retomada por Shankara no século VIII aprox., e é finalmente restaurada no século XIX com Sri Ramakrihsna e Swami Vivekananda, após a invasão da cultura ocidental pelos ingleses na Índia.

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