domingo, 10 de abril de 2011

Liberdade aqui e agora, já.

S. Papaji - Fim dos conceitos; nascimento e morte.

Fique quieto, não pense, não faça esforço algum. Para estar aprisionado é necessário algum esforço, mas não para ser livre. A Paz está além do pensamento e do esforço. Não pense e não faça nenhum esforço, porque isso apenas obscurecerá Aquilo, mas não o revelará. É por isso que permanecer em silêncio é a chave do oceano de amor e paz.

Essa quietude é a não mente; esse não-pensamento é a liberdade. Identifique-se com este Nada, esse Silêncio, mas tome cuidado para não fazer disso uma experiência, pois aí seria a mente aplicando-lhe um truque com a armadilha da dualidade.

Quando você se questiona “quem está pensando?” você interrompe o processo mental e retorna à sua verdadeira natureza.

O despertar perfeito é possível aqui e agora, para todos os seres humanos, independente da sua educação, prática, ou circunstâncias pessoais. Você já é livre! Qualquer coisa nova que seja obtida será perdida. O que é interno está sempre dentro de você, como seu Eu Real. Este é o substrato imutável sobre o qual suas esperanças e desejos são refletidos. São essas esperanças e desejos que ocultam a sempre-pura Consciência. O Eu Real revelará a si mesmo para si mesmo em um piscar de olhos assim que você abandonar toda esperança e desejo, que são doenças da mente. Mantenha-se em silêncio. Não deixe que surja nenhum pensamento. Não faça nenhum esforço e então em um instante descobrirá que você sempre foi livre.

Você é aquilo dentro do qual todos os acontecimentos acontecem. O que acontece deve acontecer, então permaneça enquanto Paz, não afetado por nada. Seja pacífico e esta Paz se espalhará.

A melhor posição a tomar é aquela de não esquecer-se. Cumpra seu papel no mundo, mas não esqueça que tudo é apenas uma peça no palco. Se você viver assim, sabendo que você é o Eu Real, poderá agir em qualquer lugar. Se você souber disso, todas as suas atividades serão muito bonitas, e você nunca irá sofrer. Quando você tiver um insight, uma experiência desse vazio, você estará feliz o tempo todo, pois saberá que toda a manifestação, todo samsara, é a sua própria projeção.

Para alcançar a felicidade, simplesmente não pense, não deseje, mantenha-se em silêncio, porque pensamentos são o cemitério.

Se o desejo por liberdade é contínuo, todos os hábitos mentais e distrações cairão por terra. Pense apenas na Liberdade e você se tornará Liberdade, porque você é o que pensa. Pense no Ser com a mesma persistência de uma dor de dente.

Dentre seis bilhões de pessoas e inúmeros bilhões de animais, quantos realmente desejam a liberdade? Quantos? Eu diria que vinte seria uma estimativa generosa. É um número muito pequeno. Eles são pessoas de sorte. Eles têm uma montanha de sorte, uma montanha de méritos passados. Apenas quando você tem uma montanha de méritos você realmente desejará a liberdade.

Se você não pedir nada e não desejar nada, tudo lhe será dado.

Este ciclo interminável é alimentado pelo desejo, o desejo de desfrutar de objetos sensoriais em um corpo. Quando cessa o desejo, o ciclo também cessa. Este aparentemente interminável ciclo de nascimentos e mortes cessa com a cessação do desejo. Não apenas o nascimento e morte cessam. Quando cessa o desejo, o universo mesmo cessa, como se nunca houvesse existido. É assim que é.

Os desejos serão um problema quando deixarem traços na mente. Os traços é que são perigosos, e não os desejos em si. Quando um pássaro voa, ele não deixa marcas no ar. Quando um peixe nada, ele não deixa qualquer marca na superfície da água. Se nós pudéssemos viver sem deixar quaiquer traços ou marcas na mente, nós não teríamos problema algum.

Silêncio é abandonar todo o tornar-se, todos os pensamentos, todas as intenções, todos os conceitos. Simplesmente fique em silêncio.

A autoinquirição é a verdadeira meditação, concentração na Consciência. Esta Consciência revelará a verdade para si mesma: nenhum sujeito e nenhum objeto. A decisão “Apenas o Ser é real” é meditação. Não direcione a sua mente ao passado ou futuro, mas deixe-a permanecer no aqui-agora sem vacilar, e medite. Medite apenas sobre quem é o meditador. Meditação significa não fazer esforço algum, não agitar nenhum pensamento. Não é uma busca, porque a busca o faz perdê-la. Meditação é conduzir sem esforço a mente em direção àquela Energia que vivifica a mente.

A suprema devoção é não despertar qualquer pensamento.

Podemos dizer que existem duas formas de expressar o que o Eu Real é: amor (bhakti) e sabedoria (jnana). Estas são também as formas de conhecê-lo. Na vichara, autoinquirição, você busca a fonte do pensamento. Você retorna à fonte, mergulha nela e permanece enquanto Fonte. Isto é vichara. Esta investigação é chamada de “conhecimento”, jnana. Devoção é amar a sua Fonte. Quando você a ama com amor supremo, extremo, você será levado à Fonte e a conhecerá.

Maya (ilusão) tem uma grande rede com a qual ela pega peixes para si de diversas formas. Quando um homem rejeita o mundo, o samsara (ciclo de renascimentos, vida ilusória), existem inúmeras armadilhas à sua espreita. Ele pode ser pego de várias maneiras. Ele pode até deixar seus amigos, família e comunidade, mas pode acabar na armadilha de uma nova comunidade, um ashram. Ou ele pode cair na armadilha de ler livros espirituais. Ficar perdido nesses livros é uma grande armadilha. Onde quer que você vá, maya tem uma armadilha lá esperando por você. Você pode ser um devoto que entoa mantras o dia todo, mas então seu rosário acabará sendo sua armadilha. Você pode pensar “Estou contando contas todos os dias. Estou indo bem!”. Quem está livre dessas armadilhas? Ninguém. Porque qualquer coisa que você faça ou pense, qualquer coisa que você imagine, é uma armadilha de maya.

Entretanto, deixe-me dizer que todas essas armadilhas são imaginárias. Uma vez que você saiba que elas são todas armadilhas, saberá que elas estão todas em sua imaginação. Não há porta que esteja lhe trancando. Você é livre para sair de qualquer armadilha na qual se encontre.

Qualquer coisa que você experimente, rejeite. Onde quer que você esteja, rejeite este lugar. Qualquer coisa que você perceba, conceba ou veja, rejeite tudo como “não isso, não isso”. Separe-se de todas essas coisas. No final você chegará a algum lugar, a um certo conhecimento, um conhecimento que não pode ser rejeitado. Finalmente, o “eu” individual permanecerá desassociado de qualquer outra coisa, e então ele desaparecerá. E a dualidade desaparecerá com ele.

Para ser o que você é, para permanecer como o que você É, porque você precisaria de um mapa ou guia? Você já está lá. Qual exercício o trará mais perto? Qual caminho espiritual? Sob qual árvore bodhi você precisa sentar-se?

Eu lhe digo: ninguém está preso. Não há prisão. Ninguém é um buscador da liberação porque ninguém existe. Até mesmo a liberação não existe. Quem é você? Que é aquele que irá meditar?

O ser Iluminado não nasce mais porque não há destino para ele. O destino é apenas para aqueles que não se iluminaram, e eles estão inescapavelmente sob seu poder. Mas para o ser Realizado não há destino desde o momento em que ele Realizou.

Se você souber e entender que é esta Luz, esta Consciência, que está lhe animando, e que é esta Luz que faz todas as suas ações, então você não mais terá qualquer responsabilidade pessoal pelas ações que o corpo fizer. Apenas seja o instrumento para essa Consciência fazer o seu trabalho. Deixe seu corpo agir de acordo com as instruções dessa Consciência. Saiba que você é apenas um instrumento. Se você viver na Consciência, como Consciência, sem tomar nada – tal como um corpo – como “meu”, você viverá uma vida muito livre. Você será a própria liberdade. Você viverá muito bem, muito feliz, sabendo que você é a Consciência que está por trás de tudo, e não nenhum dos dramas que se manifesta nela. O sofrimento pode surgir, a felicidade por surgir; eles podem surgir ou desaparecer, mas você não ficará chateado ou exaltado, pois conhecerá a verdade, que é a Consciência, e estará vivendo nela.

Enquanto houver sujeito-objeto, ou qualquer dualidade, você está sonhando. Quando você acordar perceberá que nada jamais existiu.

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