sábado, 30 de abril de 2011

Quem Sou Eu?

O pensamento-eu é a fonte de todos os pensamentos.

A mente só vai se dissolver através da autoinvestigação "Quem sou eu?". O pensamento "Quem sou eu?" destruirá todos os outros pensamentos e depois destruirá a si mesmo também. Se outros pensamentos surgirem, devemos perguntar a quem esses pensamentos ocorrem, sem tentar completá-los. Que importa quantos pensamentos surgem? Na medida em que cada pensamento surgir, devemos estar vigilantes e perguntar para quem ele ocorre. A resposta será "para mim".

Se você perguntar "quem sou eu?", a mente então voltará à sua Fonte. O pensamento que surgiu também desaparecerá. À medida que você praticar dessa forma mais e mais, o poder da mente de permanecer em sua Fonte aumentará.

O Atiyoga do Dzogchen

Com o Atiyoga alcançamos a culminância dos caminhos da realização: o Dzogchen - “a Perfeição Total” - cujo caminho característico, baseado no conhecimento da auto-liberação, não demanda qualquer outra transformação. De facto, quando entendemos o princípio da auto-liberação, reconhecemos que nem mesmo o método transformador do tantra é o caminho final. O ponto fundamental da prática do Dzogchen, chamado de tregchöd, o “relaxamento das tensões”, é repousar no estado da contemplação, enquanto que o caminho de permanecer neste estado é chamado chogshag, “deixando como está”.

A meta do Dzogchen é o redespertar do indivíduo para o estado primordial de iluminação que é encontrado naturalmente em todos os seres.

(A Natureza da Mente)
Namasté

sexta-feira, 29 de abril de 2011

A Percepção da Beleza

Meditação é a atenção em que existe um estado de consciência, sem escolha, do movimento de todas as coisas – o grasnido dos corvos, o serrote elétrico, cortando a madeira, a agitação das folhas, o riacho barulhento, o menino gritando, os sentimentos, os motivos, os contraditórios pensamentos, e, indo mais para o fundo, a percepção da consciência total. Nesta atenção deixa de existir o tempo, como o dia de ontem, que tem continuidade no dia de amanhã, as distorções e movimentos da consciência aquietam-se e silenciam. Neste silêncio, há um imenso e incomparável movimento; movimento imperceptível, que constitui a essência do sagrado, da morte e da vida. Impossível é segui-lo, pois não deixa vestígio algum e é estático e silencioso, ele é a essência de todo movimento.

O fluxo exterior e interior da existência forma um único movimento. Com a compreensão do mundo exterior inicia-se o movimento interior, mas não em oposição ou em contradição entre si. Cessando o conflito, o cérebro, ainda que altamente sensível e alerta, aquieta-se. Somente então torna-se válido o movimento interior.

Deste movimento surge uma generosidade e uma compaixão que não resultam da razão ou do auto-sacrifício intencional.

A força e a beleza da flor estão em sua total vulnerabilidade. Os ambiciosos desconhecem o belo. A beleza está na percepção da essência de todas as coisas.

O pensamento é matéria e pode ser transformado em qualquer coisa, bela ou feia.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Amor Beleza e Morte

Krishnamurti

Será que podemos investigar, a fundo e com seriedade, se é possível ficar com o problema sem fugir dele? Suponhamos que perca meu filho e, sofrendo com isso um grande choque, experimentando uma dor imensa, descubra que sou um ser humano extremamente solitário. Não consigo encarar nem suportar a situação e, por isso, fujo dela. Há inúmeras formas de fuga - religiosas, mundanas ou filosóficas. Mas será que posso permanecer com o que aconteceu, com essa coisa chamada sofrimento, sem procurar, de modo algum, fugir da dor, da angústia, da solidão, da aflição, do abalo? Será que podemos observar um problema, observá-lo apenas, sem procurar resolvê-lo, olhar para ele como se fosse uma jóia preciosa, de fino acabamento? Para uma coisa bonita olhamos sem parar, sem qualquer desejo de fugir dela; sua beleza nos atrai tanto e tanto prazer nos proporciona que ficamos olhando para ela o tempo todo. Se, da mesma forma, pudermos observar nosso sofrimento, sem um movimento sequer de julgamento ou fuga, ficar com a tristeza... nesse caso, a própria ação de ficar com o fato nos liberta completamente daquilo que produziu a dor. Voltaremos a isso depois.

Desejamos também considerar o que é a beleza - não a beleza de uma pessoa nem de quadros e estátuas de museus, nem os mais remotos esforços do homem para transmitir seus sentimentos através da pedra, da pintura ou de um poema, mas indagar a nós mesmos o que é a beleza. Talvez a beleza seja a verdade. Talvez seja o amor. Sem compreendermos a natureza e a profundidade dessa coisa extraordinária que é a beleza, jamais chegaremos ao que é sagrado. Examinemos, portanto, a questão da beleza.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Aprender a Morrer

Pergunta: Quando considero minha verdadeira natureza, fico no "EU SOU", invade-me um sentimento de amor sem causa. Esse sentimento é correto ou ainda é uma ilusão?

S. Ranjit: É o êxtase do Ser. Você sente a presença do "EU SOU". Você se esquece de tudo, dos conceitos e da ilusão. É um estado não-condicional. Essa felicidade aparece quando você se esquece do objeto, mas na felicidade ainda há um pequeno toque do eu. Afinal, é ainda um conceito. Quando você se cansa do mundo externo, você quer ficar só, para estar consigo mesmo. É a vivência de um estado mais elevado, mas ainda faz parte da mente. O Ser não sente prazer nem desprazer. O completo esquecimento da ilusão significa que nada é, nada existe. Ela ainda está aí, mas para você ela não tem realidade. É a isso que se chama de Constatação, ou Auto-Conhecimento. É a constatação do Ser sem o eu.

Se alguém o chama, você diz "Estou aqui", mas antes de dizer "Estou aqui", você estava. A ilusão não pode colar mais alguma coisa na Realidade. Não pode colar algo extraordinário na Realidade, porque a Realidade está na própria base de tudo que existe. Tudo que existe, tudo que você vê, os objetos da sua percepção, tudo se deve à Realidade. A ignorância e o conhecimento não existem. Então, como é que você poderá expressá-los?

terça-feira, 26 de abril de 2011

Naturalidade - Vacuidade

"Momento após momento, cada um emerge do nada. Esta é a verdadeira alegria da vida."

Há um grande mal-entendido sobre o que seja naturalidade. A maioria das pessoas que vem a nós, acredita em certa liberdade ou naturalidade, mas a concepção que elas têm nós denominamos de jinem ken gedo ou "naturalidade herética". Jinem ken gedo significa que não há necessidade de ser formal - uma espécie de "deixar o policiamento de lado" ou "ficar à vontade". Naturalidade é isso para a maior parte das pessoas. Mas essa não é a naturalidade à qual nos referimos. É um pouco difícil de explicar, mas penso que naturalidade é um certo sentimento de ser independente de tudo, ou alguma atividade que não se baseia em coisa alguma. Naturalidade é algo que emerge do nada, como uma semente ou planta brotando do solo. A semente não tem a menor idéia de ser uma determinada planta, mas tem forma própria e está em perfeita harmonia com o solo, com o ambiente. Com o decorrer do tempo, à medida que cresce, expressa sua natureza. Nada existe sem forma e cor; tudo tem alguma forma e cor. E ambas estão em perfeita harmonia com os outros seres, sem problema. Eis o que queremos dizer por naturalidade.

Para uma planta ou uma pedra, ser natural não é problema. Mas, para nós, há algum problema; de fato, um grande problema. Ser natural é algo pelo qual temos que trabalhar. Quando o que você faz emerge do nada, você experimenta um sentimento inteiramente novo. Por exemplo: naturalidade é comer quando se está com fome. Você se sente natural ao fazê-lo. Mas, quando se tem expectativas demais, comer algo não é natural. Você não tem um sentimento novo. Você não o aprecia.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O que é o Zen?

Zazen - Meditação

O Zen não é decididamente um sistema fundado na lógica e na análise. É algo antípoda da lógica e do modo dualístico de pensar. Pode haver um elemento intelectual no Zen, pois ele é a mente total onde encontramos muitas grandes coisas. Mas a mente não é um composto, que deva ser dividido em tantas faculdades, nada deixando após a dissecação. O Zen nada tem a ensinar, no que diz respeito à análise intelectual, nem impõe qualquer conjunto de doutrinas aos seus seguidores. A esse respeito, o Zen é caótico, se assim o quiserem chamar. Seus adeptos podem formular conjuntos de doutrinas, formulando-os porém por sua conta e para benefício próprio, e não do Zen. Portanto, não há, no Zen, livros sagrados ou assertivas dogmáticas, nem qualquer fórmula simbólica através da qual se obtenha um acesso à sua significação. Se me perguntassem o que ensina o Zen, responderia que ele nada ensina. Qualquer ensinamento que exista no Zen vem mediante nossa própria mente. Ensinamo-nos a nós mesmos. O Zen meramente aponta o caminho. A menos que consideremos este apontar como um ensinamento, nada há no Zen propositadamente estabelecido como doutrinas cardeais ou filosofia fundamental.

domingo, 24 de abril de 2011

"Bhagavad-gita Como Ele É"

S. Maharaj Prabhupada

Mas o que é o Bhagavad-gita especificamente? O propósito do Bhagavad-gita é liberar a humanidade da ignorância da existência material. Entre tantos seres humanos que sofrem, há poucos que realmente inquirem sobre sua posição, sobre o que são, por que foram colocados nesta situação complicada e assim por diante. A menos que a pessoa desperte para essa posição de questionar seu sofrimento, a menos que realize que não quer sofrer e em vez disso realizar uma solução para todos seus sofrimentos, não pode ser considerada um ser humano perfeito. Humanidade começa quando esse tipo de questionamento desperta dentro da mente.

A consciência suprema é similar ao ser vivo da seguinte maneira: ambas consciências do Senhor e dos seres vivos são transcendentais. Não é que a consciência é gerada pela associação com a matéria. Essa é uma idéia errada. A teoria de que a consciência se desenvolve sob certas circunstâncias da combinação material não é aceita pelo Bhagavad-gita.

Quando estamos contaminados pela matéria, somos considerados condicionados. A consciência falsa se exibe com a falsa impressão de que sou um produto da natureza material. Isso se chama ego falso. A pessoa que está absorta no pensamento das concepções corpóreas não pode entender essa situação. O Bhagavad-gita foi falado para liberar a pessoa do conceito corpóreo de vida, e Arjuna se pôs nessa posição a fim de receber esta informação do Senhor. A pessoa tem que se livrar do conceito corpóreo de vida; essa é a atividade preliminar do transcendentalista. A pessoa que deseja ser livre, que quer ser liberada, deve primeiro aprender que não é este corpo material.

Ashtavakra Gita - desapego

Ashtavakra:

Enquanto um homem de inteligência pura pode alcançar a meta por mais casual instrução, outro pode buscar o conhecimento por toda sua vida e ainda permanece confuso.

Libertação é desgosto para os objetos dos sentidos. Escravidão é o amor dos sentidos. Este é o conhecimento. Agora, faça como quiser.

Esta consciência da verdade faz um homem eloquente, inteligente, enérgico, burro, estúpido e preguiçoso, por isso é evitado por aqueles cujo objectivo é o prazer.

Você não é o corpo, nem o seu corpo é o executor das ações ou o ceifador das suas consequências. Está eternamente na pura consciência a testemunha, não precisa de nada - por isso viva feliz.

O desejo e a raiva são objetos da mente, mas a mente não é sua, nem nunca foi. Está sem escolha, a própria consciência é imutável - assim viva feliz.

Reconhecendo-se em todos os seres, e todos os seres em si mesmo, seja feliz, livre do sentido de responsabilidade e sem preocupação com o 'eu'.

sábado, 23 de abril de 2011

Ser livre...

Visitante: Se eu sou livre, porque estou em um corpo?

Maharaj: Voce não está no corpo, o corpo está em você! A mente está em você. Acontecem a você. Existem porque os acha interessantes. A sua própria natureza tem a capacidade infinita de desfrutar. Está cheia de animação e afeto. Ela derrama seu brilho em tudo o que entra no seu foco de consciência, e não exclui nada. Não conhece nem o mal nem a feiúra; ela espera, confia, ama. Você não sabe quanto perde por não conhecer seu próprio ser real. Você não é nem o corpo nem a mente, nem o combustível nem o fogo. Eles aparecem e desaparecem segundo suas próprias leis.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A Presença Consciente

M = Maharaj   -   V = Visitante

M: Agora, diga-me, você está sentado diante de mim aqui e agora. O que exatamente pensa que ‘você’ é? 

V: Sou um ser humano do sexo masculino, quarenta e nove anos, com certas medidas físicas e certas esperanças e aspirações.

M: Qual sua imagem de si mesmo dez anos atrás? A mesma de agora? E quando você tinha dez anos de idade? E quando você era uma criança? E mesmo antes disto? Sua imagem de si mesmo não mudou o tempo todo?

V: Sim, o que considero como minha identidade mudou todo o tempo.

M: E, no entanto, não há alguma coisa, quando pensa sobre si mesmo – no fundo do coração –, que não mudou?

V: Sim, há, embora eu não possa especificar o que é exatamente.

M: Não seria o simples sentido de ser, o sentido de existir, o sentido de presença? Se você não estivesse consciente, seu corpo existiria para você? Haveria qualquer mundo para você? Teria, então, qualquer pergunta sobre Deus ou o Criador?

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O Presente da Águia

Cinco Proposições Explicativas

1 — O que percebemos como mundo são os comandos da Águia.

Dom Juan explicou que o mundo que percebemos não tem existência transcendental. Nossa familiaridade com ele nos leva a acreditar que o que percebemos é um mundo de objetos existentes como os percebemos, quando na verdade não há um mundo de objetos, mas sim um universo dos comandos da Águia.

Esses comandos representam a única realidade imutável. É uma realidade que engloba tudo o que existe, o perceptível e o não-perceptível, o conhecível e o não conhecível.

Os observadores que vêem as emanações da Águia chamam-nas de comandos por causa da sua força compulsória. Todas as criaturas vivas são compelidas a usar as emanações, e usam-nas sem nunca saberem o que elas significam. O homem padrão interpreta-as como realidade. E os observadores que vêem as emanações interpretam-nas como o regulamento.

Rumo À Meta Suprema

Até que o Amor e Devoção a Deus cresçam, não se pode ter consciência da natureza transitória e sem substância do mundo. O mundo é apenas um e não pode ser dividido em compartimentos, uma parte dada a Deus e outras partes cheias de desejos por fama, nome e objetos sensórios. Deus não pode ser realizado a menos que a mente inteira seja dada a Ele. A menos que se possa fazer isto, terá que se nascer repetidas vezes no mundo e sofrer misérias sem fim.

Para renunciar ao mundo não se necessitam tornar-se monge ou se retirar para a floresta. A verdadeira renúncia é da mente. Se você abandonar ao mundo mentalmente, será a mesma coisa permanecer no mundo ou ir à floresta. Se você for para a floresta, sem renunciar completamente ao seu apego mental pelos objetos mundanos, o mundo o seguirá até lá e o atormentará do mesmo modo; não há escapatória disto.

domingo, 17 de abril de 2011

A descoberta da Verdade

Aumente e alargue seus desejos, até que nada menos que a realidade possa preenchê-los. Não é o desejo que é errado, mas sua pequenez e estreiteza. Desejo é devoção. Por todos os meios seja devoto do real, o infinito, o coração eterno do ser. Sua aspiração de ser feliz está ali. Por quê? Por causa de seu Amor por si mesmo. De todas as maneiras, Ame a si mesmo - sabiamente. O que é errado é Amar a si mesmo de maneira estúpida, de tal maneira que faça você sofrer. Indulgência é a maneira estúpida, austeridade é a maneira sábia. Uma vez que você tenha passado por uma experiência, não passar por ela de novo é austeridade. Descartar o desnecessário é austeridade. Não antecipar prazer ou dor é austeridade. Ter as coisas sob controle o tempo todo também é austeridade. O desejo em si mesmo não é errado. São as escolhas que você faz que são erradas. Imaginar que alguma pequena coisa - comida, sexo, poder, fama - vai fazer você feliz, é decepcionar-se. Apenas algo vasto e profundo como o seu ser real pode fazê-lo verdadeira e permanentemente feliz.

Apenas se afaste de tudo que ocupa a mente; faça todo o trabalho que tiver de ser completado, mas evite novas obrigações; mantenha-se vazio, mantenha-se disponível, não resista ao que vier sem ser solicitado. No final, você alcançará um estado de desapego, de alegre não-dependência, uma liberdade e um bem-estar intensos, indescritíveis mas, mesmo assim, maravilhosamente Real.

Estes momentos de silêncio interior queimarão todos os obstáculos sem falhar. Não duvide da sua eficácia. Experimente.

sábado, 16 de abril de 2011

Aprofunde na percepção do "Eu Sou"

 Luzes de Nisargadatta Maharaj

Aprofunde na percepção do “Eu Sou” e você encontrará. Como se encontra algo que você ignora ou se esqueceu? Você o mantém em mente até se lembrar. A percepção de ser, do “Eu sou” é a primeira a emergir. Pergunte-se de onde ela vem ou apenas observe-a em silêncio. Quando a mente permanece no “Eu sou”, sem se mover, você entra em um estado que não pode ser verbalizado mas pode ser experienciado. Tudo o que você precisa fazer é tentar e tentar novamente.

Eu vejo o que você também poderia ver, aqui e agora, se não fosse o foco errôneo de sua atenção. Você não dá atenção ao Ser. Sua mente está sempre com coisas, pessoas e ideias, nunca com seu Eu. Traga seu Eu para o foco, torne-se consciente de sua própria existência. Veja como você funciona, observe os motivos e resultados de suas ações. Estude a prisão que você construiu ao redor de si mesmo, inadvertidamente.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Reúnem-se os pássaros (5)

A conferência dos pássaros - Farid Ud-Din Attar

Continuação: Pergunta do vigésimo pássaro

Outro pássaro disse à Poupa:

“Ó Chefe do Caminho, que deverei pedir ao Simurgh se chegar ao lugar em que ele mora? Já que o mundo será iluminado por ele, não saberei o que pedir. Se eu soubesse qual é a melhor coisa a pedir ao Simurgh em seu trono, minha mente estaria mais tranquila.”

A Poupa replicou:

“Idiota! Não sabes o que pedir? Pede o que mais desejas. Um homem deveria saber o que deseja pedir, embora o próprio Simurgh seja melhor do que qualquer coisa que possas desejar. Queres aprender com ele o que desejas pedir?”

Compreensão - liberdade de Percepção

Quando falamos da observação silenciosa, referimo-nos a um modo de escutar, uma forma de ver, a qual permite o observar em sua expressão direta e não qualificada. No processo da escuta, você pode descobrir que o observador está sempre julgando, criticando, comparando e avaliando. Este discernimento o leva por si só a uma posição na qual você não está envolvido no percebido. Então, uma sensação de espaço se abre entre sua observação e o observado, suscitando a compreensão de que o percebido surge em você, mas você não está limitado a qualquer coisa perceptível. O silêncio é nossa verdadeira natureza.

Então, o próprio pensamento é a raiz do problema?

Geralmente, conhecemos a nós mesmos nas percepções, nos estados. Nós apenas conhecemos a consciência de alguma coisa, a escuta de algo, etc. Nós não conhecemos a consciência pura sem um objeto.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Reúnem-se os pássaros (4)

A conferência dos pássaros - Farid Ud-Din Attar

Continuação: Bayazid e Tarmazi


Um doutor erudito, eixo do mundo abençoado com excelentes qualidades, referiu o seguinte:

“Uma noite, vi num sonho Bayazid e Tarmazi, que me pediram para ser seu chefe. Fiquei muito curioso por saber por que esses dois xeques eminentes me tratavam com tamanha deferência. Lembrei-me então de que, certa manhã, arranquei um suspiro das profundezas do coração e, quando o sopro subiu, fez girar o martelo da porta do santuário, de modo que esta se abriu para mim. Entrei, e todos os mestres espirituais e seus discípulos, falando sem palavras, perguntavam-me qualquer coisa — todos, exceto Bayazid Bistami, que desejava encontrar-se comigo mas não queria perguntar-me coisa alguma. Disse ele: ‘Quando ouvi o chamado do teu coração compreendi que não preciso de mais nada senão obedecer às tuas ordens e ser guiado pela tua vontade. Como não sou nada, quem sou eu para dizer o que desejo? Basta ao servo cumprir os desejos do amo’.

“Foi por isso que os xeques me trataram com respeito e me deram precedência. Quando caminha em obediência, o homem age de acordo com a palavra de Deus. Não é servo de Deus o que se gaba de o ser. O verdadeiro servo revela sua qualidade no tempo do ordálio. Sujeita-te, pois, a provações, para que possas conhecer-te.”

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Reúnem-se os pássaros (3)

A conferência dos pássaros - Farid Ud-Din Attar

Continuação: A história de Rabi’ah

Se bem fosse mulher, Rabi’ah era a coroa dos homens. De uma feita, levou oito anos numa peregrinação à Caaba medindo no chão a própria altura. Quando, afinal, chegou à porta do templo sagrado, pensou: “Agora, finalmente, executei minha tarefa”. No dia consagrado, quando ia entrar na Caaba, suas mulheres a desertaram. Em vista disso, Rabi’ah voltou sobre seus passos e disse:

“Ó Deus, possuidor da glória, durante oito anos medi o trajeto com a altura do meu corpo e, agora, quando o dia tão almejado surge em resposta às minhas preces, pondes espinhos em meu caminho!”

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Reúnem-se os pássaros (2)

A conferência dos pássaros - Farid Ud-Din Attar

Continuação: A história do xeque San’An

O xeque San’an era no seu tempo um santo homem que se aperfeiçoara em alto grau. Durante cinquenta anos permanecera em seu retiro, em companhia de quatrocentos discípulos, que trabalhavam dia e noite o próprio espírito.

domingo, 10 de abril de 2011

Reúnem-se os pássaros

A conferência dos pássaros - Farid Ud-Din Attar

Reúnem-se os pássaros

Benvinda sejas, ó Poupa! Ó tu, que foste guia do rei Salomão e o verdadeiro mensageiro do vale, que tiveste a boa fortuna de chegar aos confins do reino de Sabá! Tua fala gorjeada com Salomão foi deliciosa; por teres sido sua companheira granjeaste uma coroa de glória. Precisas pôr a ferros o demônio, o tentador e, feito isso, entrarás no palácio de Salomão.

Liberdade aqui e agora, já.

S. Papaji - Fim dos conceitos; nascimento e morte.

Fique quieto, não pense, não faça esforço algum. Para estar aprisionado é necessário algum esforço, mas não para ser livre. A Paz está além do pensamento e do esforço. Não pense e não faça nenhum esforço, porque isso apenas obscurecerá Aquilo, mas não o revelará. É por isso que permanecer em silêncio é a chave do oceano de amor e paz.

Essa quietude é a não mente; esse não-pensamento é a liberdade. Identifique-se com este Nada, esse Silêncio, mas tome cuidado para não fazer disso uma experiência, pois aí seria a mente aplicando-lhe um truque com a armadilha da dualidade.

sábado, 9 de abril de 2011

Farid Ud-Din Attar

A conferência dos pássaros - Farid Ud-Din Attar

A conferência dos pássaros (Mantiq ut-tair) foi escrita pelo poeta persa do século XII Farid ud-Din Attar, um dos maiores sufis de todos os tempos. Conquanto pouco se saiba, com certeza, a respeito da sua vida, parece que nasceu em 1120, perto de Nishapur, no noroeste da Pérsia. Durante quase quarenta anos viajou por muitos países, estudando em mosteiros e colecionando os escritos de sufis devotos, juntamente com lendas e histórias. Diz-se que possuía um conhecimento mais profundo das idéias sufistas do que qualquer outra pessoa do seu tempo. A tradução para o inglês de C. S. Nott baseia-se na conhecida edição francesa, em prosa, de Garcin de Tassy, a versão que melhor transmite “o sabor, o espírito e os ensinamentos do poema de Attar”.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Invocação a Deus...

A Conferência dos Pássaros - Farid Ud-Din Attar

Louvado seja o Santo Criador, que colocou o seu trono sobre as águas e fez todas as criaturas terrestres. Aos Céus concedeu o domínio e à Terra, a dependência; aos Céus deu o movimento e à Terra, o descanso uniforme.

Ergueu o firmamento acima da terra como uma tenda, sem colunas para sustentá-la. Em seis dias criou os sete planetas e com duas letras criou as nove cúpulas dos Céus.

No princípio, iluminou as estrelas para que, à noite, os Céus pudessem jogar triquetraque.

Dotou a rede do corpo de diversas propriedades e despejou poeira na cauda do pássaro da alma.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Ser uma Pessoa é estar adormecido

S. Nisargadatta Maharaj

Todos os três estados, vigília, sono e sonho, são sono para mim. Meu estado de vigília está/é além deles. Eu olho para vocês, e vocês todos parecem adormecidos, sonhando seus próprios mundos. Eu estou consciente, porque eu não imagino nada. Não é samadhi, o que é apenas um tipo de sono. É apenas um estado não afetado pela mente, livre do passado e do futuro. No seu caso, ele é distorcido pelo desejo e medo, por memórias e esperanças; no meu, ele é como é - normal. Ser uma pessoa é estar adormecido.

A totalidade disso é imaginação. Mesmo o espaço e o tempo são imaginados. Toda existência é imaginária.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O Karma ... + Pink Floyd - Time


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Karma

O Karma é apenas um armazém de energias não utilizadas, de desejos não realizados, e medos não compreendidos. O armazém está sendo continuamente alimentado com novos desejos e medos. Não precisa ser assim para sempre. Compreenda a causa raiz dos seus medos - o estranhamento de si mesmo; e dos desejos - a ânsia pelo Self, e seu Karma se dissolverá como um sonho.

Porta para O Infinito...


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Porta para o Infinito

A autoconfiança do guerreiro não é a autoconfiança do homem comum. O homem comum procura certeza nos olhos do observador e chama a isso autoconfiança. O guerreiro procura impecabilidade aos próprios olhos e chama a isso humildade. O homem comum está preso aos seus semelhantes, enquanto o guerreiro só está preso ao infinito.

Há muitas coisas que um guerreiro pode fazer, em determinado momento, que não poderia ter feito anos antes. Essas coisas não mudaram; o que mudou foi a idéia do guerreiro sobre si mesmo.

Uma Estranha Realidade...


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Uma estranha realidade

Um guerreiro sabe que é apenas um homem. Ele só lamenta que sua vida seja tão curta que ele não possa agarrar todas as coisas que gostaria. Mas, para ele, isso não é um problema: é só uma pena.

Sentir-se importante faz a pessoa tornar-se pesada, desajeitada e vaidosa. Para ser um guerreiro, é preciso ser leve e fluido.

Quando são vistos como campos de energia, os seres humanos aparecem como fibras de luz, como teias brancas de aranha, fios muito finos que circulam da cabeça aos pés. Assim, aos olhos do vidente, um homem parece um ovo de fibras circulantes. E seus braços e pernas são como espinhos luminosos que explodem em todas as direções.

terça-feira, 5 de abril de 2011

(HD) - Quem Somos Nós ? 08 / 12


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Está na natureza da manifestação que o bom e o mau sigam um ao outro em medidas iguais. O verdadeiro refúgio está apenas no imanifesto.

Os gurus com estilo próprio falam em amadurecimento e esforço, em méritos e conquistas, em destino e graça; tudo isso são meras formações mentais, projeções de uma mente viciada. Ao invés de ajudar, elas obstruem.

Está na natureza da consciência sobreviver aos seus veículos. É como o fogo. Ele queima o combustível, mas não a si mesmo. Assim como o fogo pode sobreviver a uma montanha de combustível, da mesma maneira, a consciência sobrevive a inumeráveis corpos.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

(HD) - Quem Somos Nós ? 07 / 12


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Essas coisas, matéria e espírito, são uma coisa só, ou duas, ou três. Sob investigação, as três se tornam duas,e as duas se tornam uma. Veja o exemplo da face-espelho-imagem. Qualquer um dos dois pressupõe o terceiro, que une os dois. Na sadhana (prática) você vê os três como dois, até que você compreenda os dois como um.

(S.Nisargadatta Maharaj)

O Fogo Interior

C. Castañeda - (D. J. Matus) - Extratos

Não há totalidade sem tristeza e saudade, pois sem elas não há sobriedade nem bondade. A sabedoria sem bondade e o conhecimento sem sobriedade são inúteis.

A auto-importância é o maior inimigo do homem. O que o enfraquece é sentir-se ofendido pelos atos e omissões de seus semelhantes. A auto-importância exige que se passe a maior parte da vida ofendido por alguma coisa ou por alguém.

Para seguir a senda do conhecimento é preciso ter muita imaginação. No caminho do conhecimento nada é tão claro quanto gostaríamos que fosse.

O Poder do Silêncio

C. Castañeda - (D.Juan Matus)- Excertos

Não é que, à medida que o tempo passa, o guerreiro aprenda xamanismo; antes, o que ele aprende enquanto o tempo passa é economizar energia. Esta energia vai capacitá- lo a manipular alguns campos de energia que são normalmente inacessíveis a ele. Xamanismo é um estado de consciência, a capacidade de usar campos de energia que não são empregados para perceber o mundo cotidiano que conhecemos.

Há no universo uma força incomensurável e indescritível que os xamãs chamam intento, e absolutamente tudo o que existe em todo o cosmo é ligado ao intento por uma conexão. Os xamãs estão interessados em discutir, compreender e usar essa conexão. Estão especialmente interessadas em limpá-la dos efeitos paralisantes que resultam das preocupações comuns com a vida cotidiana. O xamanismo, neste nível, pode ser definido como um procedimento de limpeza da conexão com o intento.

domingo, 3 de abril de 2011

Vedanta - Citações

S. Nisargadatta Maharaj‏ - Eu sou um, mas apareço como muitos.

Você tem de desaprender tudo. Deus é o fim de todo desejo e conhecimento.

Seu próprio pequeno corpo também é cheio de mistérios e perigos e, mesmo assim, você não tem medo dele, porque você o toma como sendo seu. O que você não sabe é que o universo inteiro é o seu corpo, e você não precisa ter medo dele. Você pode dizer que você tem dois corpos: o pessoal e o universal. O pessoal vai e vem, o universal está sempre com você. Toda a criação é o seu corpo universal. Você está tão cego pelo que é pessoal, que você não vê o universal. A cegueira não terminará por si mesma - ela deve ser desfeita habilidosa e deliberadamente. Quando todas as ilusões são compreendidas e abandonadas, você alcança o estado perfeito e sem-erros, no qual todas as distinções entre o pessoal e o universal não existem mais.

sábado, 2 de abril de 2011

O que é Vedanta?

“Aquilo que permeia tudo, que nada transcende, e o qual, como o espaço universal à nossa volta, preenche completamente tudo, por dentro e por fora, esse Brahman Supremo não-dual – isso és Tu.” Shankara

A corrente filosófica na qual o pensamento de Nisargadatta Maharaj se insere é acadêmicamente conhecida como Vedanta Advaita.

Para essa corrente filosófica, o conhecimento fundamental é Atman é Brahman. Atman é o Self e Brahman significa a Alma universal ou Consciência Universal. Os Vedas falam da união mística como sendo a compreensão de que Atman é Brahman.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

A Subida ao Monte Carmelo XIII

S. João da Cruz - O estado da alma para entrar na noite do sentido

1. Resta agora dar alguns avisos sobre a maneira de saber e poder entrar nesta noite do sentido. Para isto devemos observar que a alma, ordinariamente, entra nesta noite sensitiva de duas maneiras, ativa e passiva. Ao que pode fazer e faz por si mesma para entrar, denominamos noite ativa e dela trataremos nos avisos seguintes. Na passiva, a alma nada faz e limita-se a consentir livremente no trabalho de Deus, sob o qual se há como paciente. Será na Noite Escura, quando nos referirmos aos principiantes, que trataremos dela. E como ali, com o favor divino, darei muitos avisos aos principiantes, a respeito das numerosas imperfeições em que costumam cair neste caminho, não me estenderei agora sobre este assunto. Aliás, não é aqui o lugar próprio para esses conselhos; agora queremos somente explicar por que se chama noite esta passagem, em que consiste e quais as suas partes. Todavia, no receio de ser muito resumido e de prejudicar o progresso das almas, não lhes dando imediatamente alguns avisos, indicar-lhes-ei aqui um meio breve que as poderá iniciar na prática desta noite dos apetites. E, no fim de cada uma das outras duas partes desta noite, das quais tratarei mais tarde com o auxílio do Senhor, usarei o mesmo método.

Upanishads - Mundaka

Swami Prabhavananda

OM . . .
Com nossos ouvidos, ouçamos o que é bom.
Com nossos olhos, contemplemos vossa integridade.
Tranquilos no corpo, possamos nós, que vos veneramos,
encontrar descanso.
OM . . . Paz - paz - paz.
[...]

    Como dois pássaros de plumagem dourada, inseparáveis companheiros, assim o Eu individual e o Eu imortal se empoleiram nos galhos da mesma árvore. O primeiro prova as frutas doces e amargas da árvore; o último, nada experimentando, observa calmamente.