segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Conhece a verdade e liberta-te num momento

"Assim o homem, depois de procurar em vão os vários deuses fora de si próprio, completa o ciclo e volta ao ponto do qual iniciou sua busca - a alma humana. E descobre que aquele Deus procurado sobre montes e vales, que buscava encontrar em cada livro, em cada templo, nas igrejas e nos céus, aquele Deus que ele imaginava sentado no paraíso, a governar o mundo, era seu próprio Eu. Eu sou Ele, e Ele é Eu. Só Eu era Deus e o pequeno "eu" jamais existiu.

Entretanto, como pode iludir-se esse perfeito Deus? Nunca o foi. Como poderia um Deus perfeito estar sonhando? Nunca sonhou. A verdade jamais sonha. A própria indagação de onde surgiu essa ilusão é absurda. A ilusão surge apenas da ilusão. Não haverá ilusão desde que a verdade seja vista. A ilusão sempre repousa na ilusão, jamais repousa em Deus, na Verdade, no Atman. Jamais estais em ilusão, é a ilusão que está em vós, diante de vós. Uma nuvem aqui está. Outra vem, expulsa a primeira e toma o seu lugar. Vem uma terceira, que por sua vez expulsa essa. Assim como diante do céu eternamente azul nuvens de várias tonalidades e colorações surgem, permanecem por um pequeno espaço de tempo, e desaparecem, deixando o mesmo e eterno azul, vós sois, eternamente, puros, perfeitos.

Sois os verdadeiros Deuses do universo. Não, não há dois, só há um. É um engano dizer "vós" e "eu". Sou eu quem está comendo através de milhões de bocas. Portanto, como posso ter fome? Sou eu quem trabalha através de um número infinito de mãos. Como posso estar inativo? Sou eu quem vive a vida de todo o universo. Onde está a morte para mim? Eu estou acolá da vida, acolá de toda a morte. Onde procurarei a liberdade, se sou livre por minha natureza? Quem pode constranger-me, a mim, o Deus do universo? As escrituras do mundo não passam de pequenos mapas, desejando delinear a minha glória, pois sou a única existência do universo. Então, que representam esses livros para mim? Assim fala o advaitista.

"Conhece a verdade e liberta-te num momento." Toda a treva desaparecerá, então. Quando o homem se tiver visto como um com o Ser infinito do universo, quando toda a separação cessar, quando todos os homens e mulheres, todos os deuses e anjos, todos os animais e plantas, e todo o universo, se tiverem desvanecido nessa Unidade, então o medo desaparecerá. Posso magoar-me? Posso matar-me? Posso injuriar-me? A quem posso temer? Podeis temer a vós mesmos? Então, todo o desgosto desaparecerá. Quem me pode causar desgosto? Eu sou a Existência única do universo. Então, todos os ciúmes desaparecerão. De quem terei ciúmes? De mim próprio? Então, todos os maus sentimentos desaparecerão. Contra quem terei maus sentimentos? Contra mim mesmo? Não há ninguém no universo a não ser eu.

Esse é o único caminho, dizem os vedantistas, para o conhecimento. Matai as diferenciações, matai essa superstição de que existem muitos. "O que está neste mundo de muitos, vê aquele Único. O que está nesta massa de inconsciência, vê aquele único Ser consciente. Quem está neste mundo de sombras, aprende aquela Realidade - e nela está a paz eterna e em ninguém mais, em ninguém mais"."

(Swami Vivekananda)

sábado, 4 de junho de 2016

Meditação ...

"Vamos agora investigar o que é a morte - eu, pelo menos, o vou investigar, expor; mas vós só compreendereis a morte, só podereis com ela viver completamente, conhecer-lhe a profundeza, o significado pleno, quando não tiverdes medo e, por conseguinte, nenhuma ilusão. Estar livre do medo é estar vivendo completamente no presente, e isso significa que não se está funcionando mecanicamente no hábito da memória. De modo geral, estamos interessados na reencarnação, ou em saber se continuaremos a viver após a morte do corpo - e tudo isso é muito fútil. Já compreendemos a futilidade desse desejo de continuidade? Percebemos que é, cinicamente, o "processo" do pensar, a máquina do pensamento, que exige continuidade? Uma vez tenhais percebido esse fato, compreendereis a extrema superficialidade, a estupidez de tal exigência. O "eu" subsiste após a morte? Que importa isso? E que é esse "eu" que desejais continue existente? Vossos prazeres e sonhos, vossas esperanças, desesperos e alegrias, vossas posses e o nome de que sois portador, vosso insignificante caráter e o conhecimento que adquiristes em vossa vida angustiada, estreita, conhecimento que foi acrescentado pelos professores, pelos literatos, pelos artistas. E isso que desejais subsista, só isso.

Ora, quer sejais velho, quer moço, tendes de acabar com tudo isso - extirpá-lo radicalmente, "cirurgicamente", à maneira do operador com seu bisturi. A mente se torna então sem ilusão e sem medo; por conseguinte, é capaz de observar e de compreender o que é a morte. O medo existe por causa do nosso desejo de conservar o "conhecido". O "conhecido" é o passado vivente no presente e a modificar o futuro. Assim é nossa vida, dia após dia, ano após ano, até morrermos; e como pode essa mente compreender aquilo que não tem "tempo", que não tem "motivo", que é totalmente desconhecido? 

Compreendeis? A vida é o desconhecido, e vós tendes ideias a respeito dela. Evitais encarar a morte, ou tratais de racionalizá-la, dizendo-a inevitável; ou tendes uma crença que vos dá consolo, esperança. Mas, só a mente amadurecida, a mente sem medo, sem ilusão, e sem essa estúpida busca de "auto-expressão" e de continuidade - só essa mente pode observar e descobrir o que é a morte, já que sabe viver no presente.

Prestai atenção a isto, por favor: Viver no presente é viver sem desespero, porque não há apego ao passado, nem esperança para o futuro; por conseguinte, a mente diz: "O hoje me basta". Ela não foge ao passado, nem fecha os olhos ao futuro, porém compreendeu a totalidade da consciência, que não é só individual, mas também coletiva, e, por conseguinte, não existe nenhum "eu" separado da multidão. Com a compreensão total de si própria, compreendeu a mente tanto o "particular" como o "universal"; por conseguinte, rejeitou a ambição, o preconceito, o prestígio social. Tudo isso desapareceu da mente que está vivendo toda no presente e, por conseguinte, morrendo, a cada minuto do dia, para tudo o que se torna conhecido. Vereis, então, se tiverdes chegado até ai, que a morte e a vida são uma só coisa. Estais vivendo totalmente no presente, completamente atento, sem escolha, sem esforço. A mente está sempre vazia, e desse vazio vós olhais, observais, compreendeis, e, por conseguinte, viver é morrer. O que tem continuidade nunca pode ser criador. Só o que finda pode saber o que é criar. Quando a vida é também morte, existe a Verdade, há criação; porque a morte é o desconhecido, como o são a Verdade e o Amor."

domingo, 29 de maio de 2016

Liberdade

O Amor

“Podeis sentir o amor com todas as suas benções, seu perfume, sua delicadeza, mas só se “vós” deixardes de existir, só se “vós” deixardes de querer alcançar ou de querer tornar-vos alguma coisa. Só esse amor pode transformar o mundo.“

Liberdade

“Liberdade significa não condenar nada do que vedes em vós mesmo. Em geral o condenamos, ou o explicamos, justificamos. Nunca olhamos sem justificação ou condenação. Por conseguinte, a primeira coisa que cumpre fazer — e esta é talvez a última coisa — é observar sem nenhuma espécie de condenação. Isso vai ser muito difícil, porque é nossa cultura, nossa tradição, comparar, justificar ou condenar o que somos. Dizemos “isto é certo e isso é errado; isto é verdadeiro e isto é falso, isto é belo,, etc.”, e isso nos impede de observar o que realmente somos.

Escutai: O que vós sois é uma coisa viva, e quando condenais o que vedes em vós mesmos, o estais condenando com uma memória morta, que é o passado. Há, por conseguinte, uma contradição entre o viver e o passado. Para se compreender o viver, o passado deve desaparecer; então, pode-se olhar. É isso o que estais fazendo agora, enquanto falamos; não ireis refletir em casa sobre o assunto, porque no momento em que começardes a fazê-lo estareis liquidado. Não estamos aqui para fazer terapia em grupo e tampouco confissões em público; isso seria infantil. O que vamos fazer é uma exploração de nós mesmos, como cientistas, sem dependermos de pessoa alguma. Se dependeis, seja de vosso analista ou vosso sacerdote, seja de vossa memória ou experiência, estais perdido, porque tudo isso é o passado. E se estais olhando o presente com os olhos do passado, jamais descobrireis o que é a coisa viva." 

Da Perceção Vem a Energia 

"A questão é certamente libertar a mente de forma total para que ela se encontre num estado de atenção que não tem limites, que não tem fronteiras. E como pode a mente descobrir esse estado? Como pode ela chegar a essa liberdade? 

Espero que estejam a colocar esta questão a vós mesmos com toda a seriedade, porque eu não a estou a colocar a vós. Não estou a tentar influenciar-vos; estou tão-somente a salientar a importância de nos colocarmos a nós mesmos esta questão. O facto de outra pessoa colocar a questão por palavras não tem qualquer significado se vocês não a colocarem a vós mesmos com insistência, com urgência. A margem de liberdade está a tornar-se mais estreita a cada dia, como devem saber se forem minimamente observadores. 

Os políticos, os líderes, os padres, os jornais e os livros que vocês leem, o conhecimento que adquirem, as crenças a que se agarram — tudo isto está a tornar a margem de liberdade cada vez mais estreita. Se vocês estiverem atentos a este processo que está a ter lugar, se perceberem verdadeiramente a estreiteza da mentalidade, a crescente servidão da mente, então descobrirão que da perceção vem a energia; e é esta energia que nasce da perceção que irá dissolver a mente mesquinha, a mente que vai ao templo, a mente que é receosa. Portanto, a perceção é a via da verdade."

sábado, 2 de abril de 2016

Do Ato de Observar - Krishnamurti


"Parece-me que não tentastes compreender o significado da palavra “participar”. No participar não há autoridade, pois não há nem vós nem eu. Não há consciência de dar ou de receber; só há o ato de participar, que não confere importância nem a quem dá nem a quem recebe. E, participar implica muitas coisas: que ambas as partes — o orador e vós — se acham num estado de espírito no qual só há aquela tendência, ou sentimento, ou afeição, ou amor que, impremeditadamente e sem identificação com nenhuma personalidade, estabelece a participação (comunhão). Nesse participar não há instrução. Não há instrutor nem discípulo, não há quem dá nem quem recebe, porém, tão-só, um ato de completa comunhão. Não sei se já alguma vez conhecestes esse sentimento de completa união, de completa comunhão existente no ato de participar, que é com efeito um ato de grande afeição e compaixão. Vamos considerar um assunto que não exige uma mera explicação verbal ou dialética, ou troca de opiniões, ou oposição de uma idéia a outra idéia, pois, quando tais coisas existem, o ato de participar se torna muito fraco. Queremos falar, nesta tarde, sobre a questão da ação. Mas, para compreendê-la, não apenas verbalmente, não apenas intelectualmente, porém com a totalidade de nosso ser, temos de ultrapassar as palavras. Só então pode haver comunhão, participação, só então podemos tomar parte juntos em algo de suma importância. E esta questão da ação requer, não só uma explicação verbal, mas também, e muito mais, que marchemos juntos, explorando cuidadosamente o nosso caminho para a compreensão desta questão da ação.